O GRANDE IRMÃO

PEQUIM (watching you) – Ao contrário do que muita gente imagina, o retrato de Mao não está em todos os cantos. Ao menos não nas cidades chinesas que conheci, Pequim e Xangai. Mas está lá, como todo mundo sabe, na Praça Tian’anmen, a Praça da Paz Celestial, olhando aquele povo todo, aquele bilhão e uns trocados de pessoas, olhando para a república que fundou em 1949 depois de expulsar os nacionalistas para Taiwan, onde continuam.

Hoje, para ser honesto, Mao é uma espécie de Che — um ótimo retrato para estampar camisetas, bonés, pôsteres e relógios. Eu mesmo comprei dois. Um de pulso, que incrivelmente continua funcionando desde as 13h daqui, com o Mao fazendo tchauzinho com a mão, e outro de bolso, que deve quebrar até o fim dos Jogos. Isso, claro, para consumo rápido. A História, maiúscula, é muito mais que uma camiseta do Che ou um relógio de Mao.

O Grande Timoneiro, que morreu em 1976 aos 82 anos, tem biografia controversa. Alguns acham que graças a ele a China deixou de ser um país feudal controlado por grandes proprietários para se transformar na terceira potência mundial; outros se apegam a detalhes escatológicos de sua vida, como a mania de não escovar os dentes que o deixou banguela na velhice e as doenças venéreas que espalhou por centenas de concubinas, para defini-lo como um tirano desprezível. Cada um que escolha o mais fácil de entender.

Eu apenas me impressiono, como me impressionei hoje ao pisar a Tian’anmei pela primeira vez e dar de cara com o retrato de Mao lá no alto, aquele mesmo retrato que vi pela TV nos meus 44 anos de vida, desde quando a China era um enorme mistério para o Ocidente, temível e assustadora, a grande nação vermelha pronta para engolir todos nós.

Hoje não há mistério algum aqui. Não em Pequim. Mas a China continua metendo medo em todo mundo.

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Claudio Ceregatti
Claudio Ceregatti
15 anos atrás

Pode me botar nessa lista.
Entre admiração e medo, fico com o segundo.
Essa China enorme, essa população que é um quinto do planeta, essa cultura radicalmente diferente muito mais me assusta do que admira.
Tenho medo da China.

Valmir Passos
Valmir Passos
15 anos atrás

É verdade, cada um vê a história como quer, ou como lhe for mais conveniente. Para alguns, a ideologia justifica tudo, até assassinatos em massa, e outras atrocidades. Fazer o que……

Sérgio
15 anos atrás

Mas as “lendas urbanas” e a “hidolatria” são assim mesmo….. Veja que o grande Che, que na verdade não teve nada de revolucionário, ele sim foi um grande assassino, um “guerrinheiro” que só semeou a morte dos seus, hoje é um “MARTIR”……….. Uma das figuras mais “REVOLUCIONÁRIAS” da história de nossa civilização!!!!!! É adorado, hidolatrado, mas muitos poucos sabem quem foi o Che de verdade…Para não falar de Fidel Castro……Stalin…… Hitler…….Só o Zé “mensalão” Dirceu para adorar Cuba…… Um crápula, um sacripanta, e um assassino……. Assim como Mao…… Toda a raça humana dá mais valor a desgraça do que a bondade, o amor e a paz…….. Os nossos heróis são normalmente os vilões de nós mesmos……. Temos o péssimo hábito de cultivar o pior de nós mesmos………. Isto se chama HUMANIDADE!

Roberto
Roberto
15 anos atrás

Ele gerou uma revolta popular divulgando e propagando o livro vermelho, o comunismo iria dar uma luz para a sociedade chinesa.
Mataram vários intelectuais e empresários da época e queimaram vários livros. Praticaram o canibalismo a luz do dia.
A foto dele na cidade proipida é como se fosse um memorial perpétuo. Como um imperador imortalizado na foto. Como se a China Comunista nunca deixará de existir! Será???

Gustavo
Gustavo
15 anos atrás

Eu lembro ele como o grande timoneiro que levou milhares a morrerem de fome na Grande Marcha – crianças, velhos, homens e mulheres à míngua – que percorreu milhares de km pela China agrária. Existe um belo livro que reconta o trajeto feito agora por dois jornalistas. A questão da fome é objeto de estudo, milhares ou milhões de mortos na gestão Mao, será que a não existência desse líder controverso pouparia mais gente ainda desse destino cruel? É de se fazer esta pergunta!