INTERNADAS (2)
SÃO PAULO (baratinho) – Não sei se as pessoas se importam mais com as notícias de verdade do que com aquilo que genericamente chamam de “bastidores”. “Os bastidores da notícia”, bradam os programas de TV. Ou, quando a gente faz um projeto de qualquer coisa em jornalismo, qualquer coisa mesmo, programas, cadernos especiais, sites, revistas, blogs, é fatal: em algum momento vai estar escrito que “o programa X ou o site Y vai trazer os bastidores do esporte Z, aquilo que só a gente vê”.
Não gosto do termo, assim como abomino “circo da Fórmula 1”, expressão usada por dez entre dez jornalistas que falam de F-1 uma vez por ano — esta semana.
Mas vá lá, vamos aos bastidores da notícia para abrir os trabalhos.
Desde sei lá quando, acho que 2006, quando Massa virou titular da Ferrari, a equipe promove, na quarta-feira da semana do GP do Brasil, um almoço para alguns jornalistas mais assíduos e tal.
Em geral são muito agradáveis, porque a maioria é gente boa, Felipe é gente boa, os assessores de imprensa da Ferrari sempre foram gente boa (gentes boas?) e o restaurante é sempre o mesmo, e bom.
E caro. Meu amigo Menon, vizinho de mesa, viu no cardápio que dois ovos caipiras com trufas, ou trutas, algo que começa com “tru”, certeza, custam 300 mangos. 300 mangos por dois ovos e umas trutas, ou trufas, ou ambos. Ovos caipiras, ainda. Sertanejos, tipo Leandro & Leonardo. E estava cheio, o restaurante, inclusive com uma mesa daquelas de família, que a gente reúne, quando muito, em cantinas baratas do Bixiga no Dia das Mães ou no Dia dos Pais. Uma família muito arrumadinha, todos de camisetas polo com brasões no peito e gel no cabelo, provavelmente falando mal do Genoino e do Zé Dirceu, e reclamando dos altos impostos cobrados no Brasil, cada vez mais difíceis de sonegar. Tive ganas de parar na cabeceira, erguer o punho e mandá-los à merda, mas me contive. Não iria agregar muito à mesa.
Aí que foi hoje o tal almoço, claro, e sempre tem assunto com Felipe, este ano mais ainda porque, afinal, o rapaz está se despedindo da equipe. O que me levou imediatamente a questioná-lo se no contrato com a Williams ele incluiu uma cláusula que obriga o novo time a realizar o almoço todos os anos, e ele não soube responder. Conhecida a austeridade da Williams, receio que no ano que vem tal boca-livre aconteça no Habib’s, com comandas individuais.
E papo vai, papo vem, entrada, prato principal e sobremesa escolhidos, e percebo que a bebida mais forte na mesa era uma Coza zero, o que me deixou razoavelmente indignado, porque em anos anteriores alguém sempre pedia um bom vinho. Fiz o comentário com outro colega, que aceitou ser cúmplice, e chamei o garçom com sua carta de vinhos, depois de comunicar ao piloto e ao simpático novo assessor ferrarista que iria pedir vinho, afinal era a Ferrari que estava pagando, e de pobreza chega eu.
Fui nobre na escolha, fiz como faço sempre que peço vinho em restaurantes, escolhi o mais barato, que no caso da carta de vinhos em questão era caro, mas nada que vá afetar o desempenho de Alonso e Raikkonen no ano que vem. Ninguém vai ter de usar asa diferente do outro por conta desse vinho. Fiquem tranquilos.
Éramos dois para derrubar uma garrafa, mas obviamente a maioria na mesa aceitou também quando o garçom ofereceu, e assim deitamos duas garrafas, e Felipe tomou seu golinho porque propus um brinde ao futuro e ao passado do rapaz, e brindar com água com gás, sem chance. O brinde foi estratégico, transformou todo em participantes ativos da bebedeira, e sentou, sorriu, a conta dividiu. Não iria ficar eu sozinho com a culpa por aquelas duas garrafas.
Não sei quanto saiu a conta, mas quem vai pagar é o Luca di Montezemolo, então problema dele.
hauauu vc é doente meu…. mto bom este texto
não sou puxa saco. mas vale dar os parabens,
abraço
Kkkk ! Parabéns Flávio pelo otimo texto hilário! Vc é a nova versão do Regi das décadas de 80/90 no Sinal Verde só q com um otimo toque de humor!
Obrigado por nos deixar a par do q realmente acontece intimamente nesses encontros c os pilotos! Abraço
O trecho no qual o Flavio inicia, in verbis, “Uma família muito arrumadinha, todos de camisetas polo com brasões no peito e gel no cabelo”, me fez lembrar cena similar que presenciei em um final de semana de 2012, ocasião no qual fui buscar uma namorada no clube de golfe. Se por um lado, o jornalista imaginou eventual conversa do grupo sobre políticos e os altos impostos, no meu caso, garanto que ouvi muito bem a conversa – por sinal, típica de pessoas ricas: “Tenho dinheiro e não sou feliz”. Ok, não foi exatamente a frase proferida por um cidadão beirando os 35, 40 anos. Mas, é fato, enquanto esperava o ‘barman’ me trazer um suco de laranja, ouvi um dos ‘yuppies’ dizer algo como “(…) sei lá, viu? Eu comprei meu tão sonhado Audi, quitei prestações do prédio na praia, e, mesmo que eu venha a ser demitido, os valores dos alugueis que ganho mensalmente, me ajudarão a continuar vivendo sem grandes problemas. Só que… não me sinto feliz. Algo está errado…”
Sim, é verdade: algo está errado. Aonde já se viu um cidadão que possui Audi e os demais quesitos ter motivos para estar ‘infeliz’? Como ele então iria se sentir, se estivesse na pele de minha ex-namorada que, na época, além de enfrentar pesada barra com a mãe enferma, ainda buscava se reerguer após ter a casa saqueada? Na boa: quem é que ‘treina’ pessoas ricas para dizerem a besteira de que ‘bens materiais não significam nada?’
Tenho uma tese: as pessoas ricas, ou, mesmo aquelas que possuem carros (importados ou não), ficam proferindo tal frase, para que ninguém ouse pedir ‘algum’ emprestado. Só pode ser isto!
Por ultimo mas, não menos importante. E se naquele parágrafo o Flavio citou, in verbis, sua vontade de “parar na cabeceira, erguer o punho e mandá-los à merda”, confesso que, a exemplo dele, igualmente me contive: Porque, se no caso do fundador do GRANDE PRÊMIO, “não iria agregar muito à mesa” garanto que, no meu caso, o problema seria pior: é que um dos integrantes da mesa, integrava (ou ainda integra) a diretoria do ‘Country Club’. Tenho certeza que, em represália, ele iria demitir minha namorada. E se isto acontecesse, iria sobrar para mim: além de ter que sustentar Marlene durante o período de desemprego, iria ainda ter que aguentar as cobranças dela para que tivéssemos filhos. Noto n my watch! Afinal, ao contrário dos ‘chorões’ daquela mesa, não tenho verba para me preocupar com filho (não, não tenho ‘vergonha’ em admitir que não tenho dinheiro para criar filho: vamos combinar que no mundo de hoje, voce precisa ser RICO – mas RICO mesmo! – para criar filhos. Ainda mais se levarmos em conta que nenhum emprego do mundo é ‘seguro’ e que demissões acontecem diariamente, em qualquer setor, estando ‘livres’ desta sombra apenas os ricos…).
Kind regards,
Paulo McCoy Lava
O tal Guilherminho tb usa polo com brasões e gel na cabeleira, não usa trem nem metrô, isso coisa de podre (aqui, pq em NY e Paris eles andam e sorriem), e esses meios de transporte só servem mesmo pra dar uma boa desviada na milionária verba pública, mas não é roubo, são apenas uns deslizes.
Muito show esse post…vida boa essa de jornalista…tem vaga aí pra um empregado FG?
kkkkkkkkkk Seu senso de humor é fenomenal, parabéns por todos os textos.
O … agregar muito à mesa… foi simplesmente hilário!
Tenho um apreço todo especial pelo Felipe, por conta das coisas “de bastidores” que contas dele.
Aliás, se ainda tens o teu livro à venda, seria MUITO LEGAL tê-lo autografado. Na hipótese de ainda disponível, poderias colocar um link para que comprássemos direto de ti. Que ta? Taliquali?
Muito bom texto. Aliás, todos que vc trata com humor são bons.
devia ter jogado uma taça de vinho na cara do filhinho mais reacionário daquela familia.
que ódio que tenho desse tipo de playboy brasileiro. devemos ter a pior elite do mundo. só sabem sonegar e reclamar. depois vão pras ruas se ‘manifestar’, sabendo que se falta $$ pra saúde a culpa é da sonegação
Quer dizer que todo rico é ladrão! Pena de vc!!!
O Gomes tem um talento pra histórias divertidas. Contou uma boa no Jô Soares, envolvendo o Galvão Bueno.
Pena que ninguém postou no You Tube. Mas foi a um bom tempo atrás, né Gomes?
Hahaha você não vale nada, FG!
Beber vinho caro, em horário de trabalho, e ainda pago pela Ferrari, não é para qualquer um!
Flavio Gomes, cogita algum dia escrever um livro?
Outro, você quer dizer.
Já escreveu, Ricardo, “O Boto do Reno”. Pesquise com o pessoal ou com o próprio Flávio se ainda tem exemplares à venda. Se tiver, aproveite e compre.
O livro do Piquet “Eu me lembro Muito Bem”, por exemplo, eu não comprei, e sobrei. Agora só pelo Mercado Livre, a uns bons cento e poucos reais…
Eu, sinceramente, não sabia. Procurarei.
Com a venda de 1 ou 2 unos a Fiat paga essa conta…
Boca livre a parte, digo que apesar de todas as criticas que muitos fazem ao Felipe d’ele não ter ganhado campeonatos e tudo mais, na F1 desconheço caso semelhante de um piloto que trocou a cor do macacão ou fez uma coisa diferente do padrão, diga-se antes de uma corrida, para homenagear sua torcida, foi lá e ganhou! Sorte? Acho que não. Teve autoconfiança, bancou e fez. Achei esse fato da carreira d’ele bem marcante. Fica como sugestão para o brinde do ano que vem no almoço oferecido pela Williams.
A Ferrari autorizou, antecipadamente, a troca do macacão.
Minha nossa, Flavio….Em tantos anos acompanhando seu blog, nunca vi você escrevendo tanto, sem dizer nada…hahahaha
Já é meio caminho para entrar na politica…
Domingo fui à casa de um amigo para fazermos um nhoque de mandioca, muito gostoso, mas econômico. A casa dele é simples, comprada e reformada no fim do ano passado com muito esforço depois de uma herança do parceiro; a vida dele anda bastante complicada financeiramente com pouco serviço apesar de muita motivação.
Enfim, um almoço de domingo em uma casa de dois quartos parcialmente de madeira sem forro, porque o que tinha estava infestado por cupim e até agora não há grana pra colocar um novo. Pobre, mas limpinho.
E falamos mal do Genoíno e Zé Dirceu e reclamamos dos altos impostos cobrados no Brasil. Domingo que vem talvez façamos outro prato — igualmente gostoso, mas econômico — e você está automaticamente convidado a comparacer para erguer seu punho e nos mandar à merda. Ao que reagiremos provavelmente com uma gargalhada por sua ingenuidade e credulidade que enxerga um mundo cor-de-rosa só porque um partido outrora vermelho está se refestelando no poder federal.
Vai dizer que a culpa pelos cupins é do Genoino também?
Não foi nem de longe esse tipo de ilação que pretendi. E você, inteligente que é, nem de longe cogitou que estou atribuindo a ele culpas que não lhe cabem. Apenas tampouco o estou eximindo das que lhe cabem.
E nos poupemos de opiniões políticas sobre um julgamento jurídico, o qual os dois não temos base para defender ou questionar sem cair em achismos e projeções. Apenas me parece razoável aceitar como verdadeira uma sentença da corte suprema do país — retificada após extensas análises de recursos mesmo após o ingresso de novos membros.
Não me enche, rapaz. Se você não tem base para defender ou questionar, problema seu. Eu tenho.
Ideologia é argumento jurídico.
Só por ideologia, também tem quem ache o Fernandinho Beira-Mar preso político injustiçado pela oposição. Se o Genoíno é da sua patota e por isso você acha inadimissível que ele seja preso por crimes pelos quais o STF o condenou, sinto muitíssimo que considere isso base para defendê-lo. Gente esclarecida apagando a luz por preferir a treva é triste de ver.
Corrija-se: ideologia NÃO é argumento jurídico.
Eis um que vestiu a carapuça.
O que impressiona na foto é o Blackberry largado na mesa, sem gravar nada do que o rapaz fala; aí que vem a pergunta: é assim que tratamos aqueles que fizeram sucesso um dia atrás ?
Hoje não faria a mínima diferença, simples assim!
São os telefones dele (Massa, quer que eu desenhe?) jacaré….
Gomez, moro na Italia, italiano nunca paga conta, prima o poi ti fa pagare, attento…
hahahaha….