CLAMOROSO

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SÃO PAULO (pode fechar, não fará falta) – Eu ainda não estava na Pan, portanto foi antes de 1994. Possivelmente em 1993, porque o personagem citado era Schumacher e a equipe, a Benetton.

A Pan costumava mandar pelo menos narrador para as corridas de F-1 no fim dos anos 80 e nos anos 90 — depois, apenas repórter, eu –, com exceção dos GPs da Austrália e do Japão, porque as viagens eram caras demais e a audiência, segundo o dono da emissora, era baixa por causa dos horários. Não sei dizer se por conta deste curioso critério a rádio não mandou ninguém para Suzuka em 1987, 1988, 1990 e 1991, anos dos últimos quatro títulos mundiais conquistados por brasileiros. Se não mandou, não lembro, obviamente se equivocou.

Vamos assumir, então, que o ano era 1993, e a corrida, no Japão. Apesar de muito modernos para a época em que foram construídos, lá por 1976, os estúdios no alto do edifício Sir Winston Churchill, na Paulista, não eram muito equipados no quesito aparelhos de TV naqueles tempos. Assim, para fazer alguma transmissão “off-tube”, o “tubo” (assim chamada porque narrador, repórter e comentarista transmitiam a partir daquilo que viam no tubo da TV — TV tinha tubo, pesquisem), era preciso montar a linha no aquário da chefia, que ficava no meio da redação e tinha lá umas duas ou três TVs.

Por alguma razão, o dono da rádio escalou Nilson Cesar e Claudio Carsughi, a dupla da F-1, para transmitir o treino que definiria o grid daquela corrida, na madrugada de sábado — não eram comuns transmissões de treinos. O problema é que na época não existia TV a cabo, ou, se existia, não tinha cabo no aquário da chefia, e as imagens eram muito ruins, com fantasmas, a cor que ia e vinha, um horror. As anteninhas internas não seguravam a onda. Fui convidado para dar uns pitacos, porque naquele ano também não fui a Suzuka e trabalhava na “Folha”, era repórter de F-1, um especialista, sabem como é. Mesmo assim, com aquelas imagens horrorosas, Nilson se virava para narrar a classificação e, lá pelas tantas, acionou o Carsughi. “Claudio, Claudio, mas que volta do Schumacher, o que é que você achou, meu caro Claaaudio Carsughi?”, perguntou. A resposta veio no tom de sempre, com o inconfundível sotaque italiano que ele nunca perdeu, embora vivesse no Brasil desde 1946: “Non achei nada. Estou vendo um carro com oito pneus e dois pilotos, enton é impossível dizer qualquer coisa porque com estas imagens deste aparelho de TV non consigo distinguir quem está pilotando o quê”.

As palavras podem não ter sido essas, exatamente. Mas eu quase caí da cadeira de tanto dar risada, tanto quanto no dia em que o Carsughi, fazendo posto num jogo do Santos na Vila (“posto”, no rádio, é quando o sujeito não participa da transmissão principal, apenas informa o andamento de algum jogo que está sendo realizado em outro lugar) durante um Corinthians x Palmeiras, foi chamado no intervalo pelo José Silvério, que estava com o tempo apertado para girar todo mundo da equipe, espalhada por vários estádios. “Agora vamos à Vila Belmiro, onde Santos e Noroeste empatam em zero a zero. Rapidinho, meu caro Claudio Carsughi, porque estamos em cima da hora, é justo o resultado do primeiro tempo, Claudio?”, perguntou o Silvério, e do outro lado do microfone, na cabine da Pan na Vila Belmiro, Carsughi fez o mais breve e incisivo comentário da história do rádio mundial. “É”, disse. E acabou.

Nascido em Arezzo em 13 de outubro de 1932, Carsughi trabalhou na Jovem Pan por quase 60 anos. Entrou em 1957, saiu em 1960, voltou em 1963 e lá ficou. Foi demitido hoje depois do programa esportivo da hora do almoço. Especializado em Fórmula 1, foi também um dos grandes nomes da história da “Quatro Rodas”, dono de um texto elegante e tecnicamente perfeito, conhecedor profundo de mecânica e de automóveis. Gostava de futebol, também, e comentava jogos com frequência, sem nunca reclamar de uma escala. Se a rádio iria transmitir São Caetano x Marília às dez da noite e designava Carsughi para trabalhar, ele não emitia um único muxoxo, apresentava-se na hora certa e comentava o jogo com a mesma seriedade e dignidade que dedicaria a uma final de Copa do Mundo.

Nos anos 70, Claudio foi um pioneiro, no rádio, do uso das estatísticas para explicar o andamento de uma partida, em contraponto com o achismo que permeava os comentários da turma da velha guarda — gente mais nova que ele, inclusive, mas que via futebol de um jeito meio esquisito, pouco científico, meio chutado, transformando qualquer jogo num festival de clichês e lugares-comuns que, definitivamente, não combinavam com o que o velho Mestre pensava.

Até uns 20 anos atrás, Carsughi andava pela cidade num Karmann-Ghia vermelho. Morava aqui perto (eu ainda tenho escritório no mesmo prédio da Pan, é daqui que escrevo agora, 16 andares abaixo dos estúdios) e muitas vezes vinha a pé para a rádio. Outras, com algum carro bacana, que as montadoras emprestavam para que ele avaliasse. Na última vez em que o encontrei na garagem, estava com um Cinquecento Abarth. “É um carrinho bem interessante”, me disse, sempre vestido impecavelmente, de terno e gravata. Quando vendeu o Karmann-Ghia, guardou o manual e me deu de presente.

Durante os oito anos em que trabalhei na Pan, tive uma relação muito cordial com Carsughi, sem maiores intimidades porque a certas pessoas devoto uma reverência acima do normal, e com ele era assim. Eu mais ouvia e aprendia do que qualquer outra coisa. Transmitimos juntos algo em torno de 130 GPs, Nilson narrando, ele comentando (ambos em São Paulo), eu reportando nos países onde aconteciam as corridas.

A Pan sempre foi a cara de seu dono, o “seu” Tuta, que infelizmente adoeceu e, nos últimos tempos, se afastou do dia a dia da emissora. Seu filho, Tutinha, o criador da Jovem Pan 2, que revolucionou o FM no rádio brasileiro nos anos 70, assumiu o AM e tem promovido mudanças radicais na programação e no elenco que, de certa forma, encerraram um ciclo de décadas que fez da emissora um patrimônio da cidade. A trilha do “Jornal da Manhã”, por exemplo, é uma espécie de hino paulistano. Chama-se “Amanhecendo” e faz parte da “Sinfonia Paulistana” de Billy Blanco (1924-2011), composta por 15 canções que louvam “a capital de todos os paulistas” — neste link aqui, ela está aos 17min30s; se quiser ouvir apenas a trilha do jornal, clique aqui.

“Amanhecendo” tocava todos os dias exatamente às 7h. Um dia me escalaram para apresentar o “Jornal da Manhã” (parece que ainda existe, soube até que aquele rapaz que é comediante e tem um programa no SBT bem tarde da noite faz comentários, putz…). Era um sábado. Eu já tinha alguma bagagem, fazia a “Hora da Verdade” todos os dias no fim da tarde, e não era qualquer coisa que me deixaria nervoso na vida. Mas acordei às 4h para estar na rádio às 6h e não correr risco nenhum de atrasar (cheguei às 4h30…) porque, juro, falar “repita” para o Franco Netto e para o Antonio Freitas quando eles dessem a hora seria algo marcante demais na vida daquele mocinho que cresceu ouvindo os dois dando a hora certa no rádio do carro do meu pai quando eu ia para a escola, quase 20 anos antes. E eram eles, os mesmos que me davam a hora certa no carro do pai a caminho da escola, que só dariam a hora certa naquele sábado se eu dissesse “a hora” e, depois, “repita”.

Puta que pariu. Eles não viram, o estúdio sempre foi meio escuro e metido a futurista, ficávamos lado a lado na bancada, mas meus olhos se encheram d’água quando falei “repita” pela primeira vez, e mais ainda quando, às 7 em ponto, o operador (Arthur Figueroa, um gênio) soltou a música e, no momento exato, quando o coro diz “vambooooraaaa” num lamento pela última vez, o Franco empostou a voz, a maior voz do rádio e, com solenidade e potência, informou: “Aqui, no espigão da Paulista, sete horas”. E eu, quase gaguejando, a vozinha de taquara rachada embargada, mandei um “repita” inaudível, e o Franco, percebendo minha emoção tola e juvenil, virou para meu lado, piscou o olho e repetiu, “sete horas”, e jamais me esqueci disso, jamais.

Na nossa vida, neste ofício, entramos e saímos dos lugares, é normal que uma empresa demita alguém, troque pessoas, busque novos caminhos. Não é um problema em si. Mas certas coisas não deveriam acontecer. Uma coisa é mandar embora o Flavio Gomes, foda-se, quem é esse cara na hora do Brasil, ninguém, mas outra, bem diferente, é dispensar o Claudio Carsughi, que existe desde sempre, nascemos, crescemos e morremos ouvindo o Carsughi, certas coisas, desculpe, não deveriam acontecer.

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Hilton V Pezzoni
Hilton V Pezzoni
3 meses atrás

Reli hoje, 07.12.2023.
Im-per-dí-vel !
Belíssima homenagem ao grande Carsughi !

Leonardo
Leonardo
6 anos atrás

Caros amigos por acaso alguém sabe por onde anda o jornalista Chico Falcão que chegou a ser âncora do jornal da manhã da jovem pan e também da hora da verdade?

Edélcio Thenório
7 anos atrás

Vim procurar notícias sobre o paradeiro do Claudio Carsughi, pois deixei de ouvir a PAN há muitos anos. Eis que me deparo com essa obra de arte.
Não costumo comentar posts, mas desta vez não teve jeito. Me emocionei. Parabéns!

Fábio
Fábio
8 anos atrás

Ouvi diariamente a jovem pan por mais de 40, quando ela ainda existia. Atualmente é apenas sua múmia mal dirigida e arcaica. Parafraseando a própria, eu não ovo mais a jovem (?) pan.

Paulo César
8 anos atrás

Flávio, li todo o texto acima, com o mesmo nó na garganta, aperto no coração que você deve ter sentido ao escrever!!!!!!!
Já faz muito tempo a saída do Mestre. Acontece que soube somente hoje porque resolvi procurar “Aonde anda Claudio Carsughi” . Tenho a mesma simpatia por todas as pessoas que você citou, e sou sinceramente solidário a você.
Grande abraço.

paulo augusto parra
paulo augusto parra
8 anos atrás

“Parabéns” à JP. Dispensam o Carsughi e contratam o Vampeta…

Cláudio Ratto
Cláudio Ratto
8 anos atrás

Concordo plenamente contigo Flavio, que perdeu foi a JP, que deixou de ter em seus quadros um dos mais brilhantes profissionais de rádio que conheci nestes meus 50 anos de ouvinte, e principalmente da JP, que ouço desde o tempo em que o locutor oficial era Osmar Santos. Grande abraço.

marcio campos
marcio campos
8 anos atrás

Lamentavel que uma empresa como a radio jovem pan trate profissionais de alto gabarito como o MESTRE CLAUDIO desta forma, demiti-lo neste momento nos mostra o rumo errado que a empresa esta tomando, cresci ouvindo esta radio e sinceramente estou super chateado com esta noticia, e pior de tudo eh ter que ouvir um tal de fernando sampaio que acha que o mundo gira ao redor dele, lamentavel e indignado, farei de tudo para mudar o habito e comecar a ouvir outra emissora

PAULO
PAULO
8 anos atrás

Que grande texto. É de encher os olhos dos leitores, pois você mostrou o quanto o Cláudio representa para você e para nós que passamos anos e anos ouvindo seus comentários não tão longos mais sempre precisos. E você Flávio Gomes é sim um cara espetacular. Gratidão não tem preço. O que mais me deixou chateado foi que tiraram o mestre Cláudio CArsughi e deixaram aquela topeira do Flávio Prado junto com o Vampeta. É lamentável ver a burrice do seu Tutinha.

rogerio gret
rogerio gret
8 anos atrás

Carsughi é o máximo e gosto mais dele do que da maioria dos jornalistas esportivos, mas a rádio tem contas pra pagar.

Chegaram a conclusão que mais gente quer ouvir o Vampeta ou seja lá quem for do que o Carsughi. Pode ser chato, mas é natural. Assim como o Carsughi contribuiu com a Jovem Pan por 60 anos, a Jovem Pan contribuiu com o Carsughi por 60 anos (assumo que ele recebeu todos os seus salários). Assim como o Carsughi poderia deixar a rádio, como qualquer profissional, a rádio poderia deixá-lo, como qualquer empresa.

Quem acha o Carsughi realmente top pode contratá-lo. Ou pode fazer lobby para que outra emissora, jornal, site ou rádio o contrate.

Prefiro o Carsughi, mas o ouvinte da rádio gosta do Vampeta. Tomara que o pessoal celebrando o Carsughi visite seu site e demonstre com atitudes o prestígio que estão clamando ter por ele.

E em resposta ao cara que comentou do diploma de jornalismo, vale notar que o diploma de jornalismo é o começo do início da carreira de bons profissionais, mas também de profissionais horrorosos – há não jornalistas com bastante conhecimento e embasamento – não jornalistas que escrevem para publicações como The Economist e outras… Goste-se ou não deles, Bill Clinton, FHC e Tostão produzem conteúdo mais interessante do que o de muitos jornalistas recém-formados. Carsughi é espetacular por ser espetacular e não por ser jornalista. Jornalistas temos aos montes – Carsughi temos um

Gerson Chagas
Gerson Chagas
8 anos atrás

Flávio Gomes, parabenizo-o por ser o porta-voz de tantos ouvintes, leitores e espectadores indignados, acostumados há tanto tempo com a fidalguia e competência do jornalista Claudio Carsughi. Infelizmente, o mundo corporativo é sórdido e hipócrita, pois tem o hábito de tratar como “colaboradores” todos os que ajudam a edificar e sustentar uma empresa, mas de repente esses mesmos ditos “parceiros”, sejam por algumas semanas ou décadas – como é o caso do provecto jornalista, são descartados como lixo. Neste triste cenário, concordo plenamente que a Jovem Pan é emissora que tem a cara não só de São Paulo, mas do Brasil e do mundo , onde a exploração dos seres humanos , a derrocada dos valores éticos, o aniquilamento da solidariedade, gratidão e respeito nunca estiveram tão em alta. E parabenizo-o também por ter presenteado seus leitores com um texto tão delicioso, uma crônica que reverencia a memória afetiva em meio a esta selva de concreto e crueldade.

Diego Amar
8 anos atrás

Excelentes palavras Flavio. Não tem o que discutir, mandar um cara com esse conhecimento é não dá valor ao talento que tem na rádio.

Fabio Marques
Fabio Marques
8 anos atrás

Texto simplesmente impecável!
O Caraughi comentou jogo meu na Copa Jovem Pan.
Essa rádio é a caricatura do mal jornalismo.

Leonardo ONO
Leonardo ONO
8 anos atrás

Flávio, essa matéria me fez lembrar hà quase 40 anos atrás, quando tinha 9 anos, que, com meu rádio de pilha só am marca evadindo, não perdia um jogo do São Paulo, com narração de José Silvério ou edmar anunzeki (não sei se e assim se escreve), e comentários do Carsugui e Israel Jimpeu . E depois, quando comecei a trabalhar, escutava essa música de manhã todos os dias na Pan. Não sei se estou sendo saudoso ou ficando velho, mas uma coisa e certeza, estamos chegando perto do fim.

Eric Monteiro
Eric Monteiro
Reply to  Leonardo ONO
8 anos atrás

É Annuseck a grafia certa do nome do Edemar.

Eduardo Ragone
Eduardo Ragone
8 anos atrás

A unica razão para continuar ouvindo a PAN já não está mais lá. Lamentável

Fernando Ordones
Fernando Ordones
8 anos atrás

Meu, que coisa linda! :-)

NILSON DAYA
NILSON DAYA
8 anos atrás

PARABENS, FLAVIO GOMES, RESUMINDO PARTES DAQUILO DO
QUE EU IRIA ME EXPRESSAR – A PAN JA FAZ UM TEMPO QUE NAO
A OUÇO. TALENTO, COMO O DO SR. CLAUDIO, FACILMENTE ARRUMAM
UMA COLOCAÇÃO.
FICA AQUI OS MEUS AGRADECIMENTOS, PELOS SEUS ENSINAMENTOS

Fred
Fred
8 anos atrás

Nunca tinha me emocionado tanto com um post de algum blog de jornalismo como esse daqui. Histórias lindas e contadas de uma forma verdadeira e genuína. Parabéns pela escrita e principalmente quero dizer algo: que inveja a minha dessas suas histórias. Um abraço.

Rodney L. Mariano
8 anos atrás

Inacreditável!!
Mestre Carsughi é a voz do comentário correto, direto, técnico e extremamente confiável; realmente uma pena.
Sinceramente não sei o que a JP pretende com essa atitude…infelizmente só continua perdendo.
É lamentavel e triste.

Danilo A.
Danilo A.
8 anos atrás

“A rádio está passando por uma mudança de perfil. Ela assumiu uma postura de direita, que nunca tinha tido. Sempre se ouvia os dois lados. Hoje tem uma posição frontalmente contrária ao PT, à Dilma, ao Lula. Talvez com isso espere o retorno publicitário com empresas do mesmo perfil”, disse o comentarista.

http://uolesportevetv.blogosfera.uol.com.br/2015/04/13/carsughi-e-demitido-da-pan-e-lamenta-postura-de-direita-da-radio/

Danilo A.
Danilo A.
8 anos atrás

Um comentário que certamente vai ficar perdido entre os outros mais de mil e quinhentos, mas registro:

Era 1988, ou 89, eu tinha uns 7 pra 8 anos. A atenção dada à F1 já tinha passado do semi-interesse infantil e caminhava para a obsessão – que durou até a vida daquele rapaz acabar (hoje posso dizer que era um rapaz, pois tenho 34 anos, a idade que ele tinha quando morreu). Havia começado a colecionar revistas Grid, aquelas que se desdobravam em posts gigantes. Naturalmente, comecei a me familiarizar com os nomes dos jornalistas que cobriam o esporte na imprensa escrita, como o Lemyr e o Reginaldo. Um dia apareceu na TV, num canal obscuro, um sujeito careca, muito estranho, que falava de um jeito mais esquisito ainda, falando sobre Senna, Prost, McLaren, Honda. Do alto de minha autoridade de connoisseur da F1 de 7 ou 8 anos, desqualifiquei internamente o que aquele homem falava, principalmente porque, acho, ele havia falado que Senna, o Bom, cometia mais erros do que Prost, a Encarnação do Mal na Terra. No mesmo momento em que eu pensava algo como “velho burro”, meu pai soltava um “graaaaaaaande Claaaaaaaudio Carsughi”, como um narrador de futebol. “Dão, esse homem é um dos maiores jornalistas esportivos do Brasil”, ele me disse. Na minha cabeça uma coisa não colava na outra: aquela imagem esquisita, aquele sotaque estranho, e a estatura que meu pai pintava. Mas, como em tudo, confiei no que meu pai dizia. A partir daí, a cada vez que cruzava com um texto do Carsughi, lia. Acho que ele me ajudou a valorizar a sobriedade textual, que às vezes falta no mundo acadêmico.

Escrevi tudo isso porque você, Gomes, acertou quando disse que ele “existe desde sempre, nascemos, crescemos e morremos ouvindo o Carsughi”. A sensação é mais ou menos essa. Carsughi demitido aos 83 é a bigorna ACME da realidade abjeta do sistema caindo na cabeça de cada um de nós.

jose carlos dos santos
jose carlos dos santos
Reply to  Danilo A.
8 anos atrás

Toda a reverencia e solidariedade ao mestre Claudio Carshugui.

Fabio Marques
Fabio Marques
Reply to  Danilo A.
8 anos atrás

Parabéns!

Beto Camps
Beto Camps
8 anos atrás

Cláudio Carsughi. Esse é o cara. Entende muiiiiiiiiiito.

Rubens Tapié
Rubens Tapié
8 anos atrás

Sai Carsughi, entra Vampeta…Parabéns Jovem Pan

Eric Monteiro
Eric Monteiro
Reply to  Rubens Tapié
8 anos atrás

Tu tens razão.Uma rádio não pode ser levada a sério mandando embora um baluarte do rádio e manter um cara que nem formação em jornalismo.Mediocridade,teu nome é Jovem Pan AM 620,chefiada por A.A.A de Carvalho Filho.

Edgar Guediguian
Edgar Guediguian
8 anos atrás

Aviltante. Trocar o Anchieta Filho por um comediante medíocre a custo de quê? Demitir o mestre Carsughi foi um dos atos mais imbecis e ingratos que tomei conhecimento. Só mesmo uma mente perturbada, escrota e debilóide poderia tomar uma decisão dessas.

A Jovem Pan está demitida do dial do meu rádio. Aliás, aquilo ali virou palanque da ultra-direita e suas boçalidades. Pra nunca mais!

adriano marques
adriano marques
8 anos atrás

Flavio belo texto, gostava muito dos comentários do Carsughi,

FERNANDO
FERNANDO
8 anos atrás

Todos sabemos que as emissoras de rádio e televisão estão passando por dificuldades, mas a Pan está atirando no proprio pé, dispensando aqueles que lhe deram suporte para se manter no ar. O Carsughi que dispensa comentários, possivelmente ficou na casa até hoje por consideração a esta emissora. Só faltava agora eles dispensarem o Vanderlei Nogueira, Flávio Prado e outros do mesmo nivel de profissionalismo. Aí melhor fechar!!

Gilson Gomes
Gilson Gomes
8 anos atrás

É ….. Quando passamos dos renta, a faca fica mais afiada. E parece que ninguém a não ser Museus querem os velhinhos. Bem diferente de certos países, que não são líderes mundiais por acaso. O que se passa hoje no brasil, com b menor mesmo, porque não merece B, tanto por seu povo, como da classe politica dominante, é que experiência, conhecimento, maturidade, não é mais mérito. Aqui o mérito é para a corrupção, vantagem pra si, narcisismo, boa oratória e outros valores que um dia os vermes e bacterias irão comer. Estamos indo para um caminho em que no futuro não haverá memória. Serão poucos, muito poucos.

René
René
8 anos atrás

desde quando soube da notícia, me encontro triste, magoado, com raiva….. “ninguém pode” demitir alguém como o Mestre Cláudio Carsughi, o Anchieta Filho, o Roberto Müller, o Vander Luiz e facilitar a entrada de um bosta como o gentili….. pessoas assim mudam de emissora, assumem outros cargos, penduram as chuteiras, morrem, mas nunca deveriam levar um-pé-na-bunda! sinceramente, quero que esses engravatados que vivem em suas salas com ar-condicionado e brincam de fazer MKT, vão pra PQP! nem ao menos para dar uma justificativa mentirosa/educada… com esse tipo de conduta imagina como fica a cabeça dessa molecada de está no início do jornalismo…. é uma merda mesmo!

Julio Moreira
Julio Moreira
8 anos atrás

Acredito que uma figura emblemática como o Carsughi quando chega numa determinada idade deveria ter o direito de escolher onde ficar. Ninguém deveria ter o direito de mexer com ele, a não ser ele mesmo.

Liliane
Liliane
8 anos atrás

Parabéns pelo texto. Eu gostaria de tê-lo escrito! :)
Poucos são geniais como Carsughi. Jornalista como você, com passagem pelo mundo esportivo, só aprendi com ele. Não dá para entender a tremenda estupidez dessa demissão….Such is life…

Jose Carlos (Araçatuba-SP)
Jose Carlos (Araçatuba-SP)
8 anos atrás

Parabéns Flávio pelo texto. Sentiremos muito a falta do Mestre, como sempre disse o Nilson César. Lamentar pela atitude da JP em demitir tão ilibado profissional. E desejar muita saúde e paz ao nosso mestre Cláudio, esperamos ouvi-lo em breve em outra emissora.

Paulo Pinto
Paulo Pinto
8 anos atrás

As mudanças são a única certeza permanente em nossas existências. O sr. Carsughi, com todo o respeito à sua história de vida, passou do tempo de realizar uma dessas mudanças por vontade própria.

Anna Lucilia Prado Martuscelli
Anna Lucilia Prado Martuscelli
8 anos atrás

Sr.Flavio Gomes, vc e a primeira voz que se levanta para comentar a dispensa do Sr. Claudio Carsughi. E realmente lamentável que ele seja despedido nessa altura da vida e por que? Economia? tem mais filho de alguém precisando de emprego? Com certeza quem perdeu foi a Pan. Pessoas como o Carsughi são raras nos dias de hoje. Vai fazer muita falta. Lamentável também a dispensa de Roberto Miller, Rogério Assis e Anchieta Filho. Ele com certeza vai brilhar em qualquer lugar que assumir. E a JP vai ficar com os Danilo Gentli da vida.

Mario Siqueira
Mario Siqueira
8 anos atrás

Triste fim de uma rádio que eu ouvia desde a juventude, e era fã incondicional do Carsughi.

LucPeq
LucPeq
8 anos atrás

Carsughi é foda, a Pan já foi um dia…

Juliano
Juliano
8 anos atrás

Mito Carsughi! JP hoje é um lixo total, não merece ter em seus quadros alguém desse gabarito.

MarcosCesar
MarcosCesar
8 anos atrás

Carsughi, Osmar Santos e Fiori sedimentaram a trilha q segui sem nunca conseguir alcançá-los, mas feliz e realizado por estar ao menos no mesmo caminho. Vida longa, mestre.

voulembrar
voulembrar
8 anos atrás

Estou comentando apenas para homenageá-lo. Respeito é o que falta neste pais.

Edson Luis de Paula
Edson Luis de Paula
8 anos atrás

Essa JP é uma chata faz tempo.
Vida longa ao Carsughi.
FG uma curisosidade, temos um recorde de comentários aqui?

Cardoso Filho
Cardoso Filho
8 anos atrás

Carsughi uma linda voz que não calou , apenas vai ecoar em outros lugares. Conheço e reconheço essa voz pois a ouço desde menino quando morava em São Paulo na década de 60. Enfim, vamos envelhecendo para os outros, embora não nos sintamos assim, velhos. É vida que passa, como dizem por aí.
Em tempo, falei da voz , mas favor entender que ela saía expressando conteúdo.

Adilson Pereira
Adilson Pereira
8 anos atrás

Sua voz e seu sotaque italiano, me farão falta nas transmissões da fórmula 1 pela jovem pam

Adilson pereira
Adilson pereira
8 anos atrás

Cara, não me conformo com a saída do “mestre” Claudio Carsugui dos microfones da Jovem Pan…. Vai fazer muita falta…pode crer….

pedro araujo
pedro araujo
8 anos atrás

mais de 1500 comentarios

acho que nós leitores tambem conseguimos fazer uma homenagem ao carsughi…

sempre que algum acontecimento realmente importante aparece, voce saca da cachola um texto ou depoimento realmente bonito, Gomes

valeu!

Carlos Roberto da Silva Junior
8 anos atrás

Infelizmente o Brasil hoje não dá valor a nada e nem a si próprio!

Dorival
Dorival
8 anos atrás

A evolução faz bem p/ a humanidade, mas descartar pessoas do nível de um Carsughi é jogar no lixo a história dos veículos de comunicação. Carsughi você continuara´sendo um ídolo p/ muita gente.

jose henrique antunes
jose henrique antunes
8 anos atrás

Cresci ouvindo a Pan….Barão, Marcos Baby Durães, Brin Filho; aprendi musica com Zuza Homem de Melo. E o esporte ? Milton Neves, Orlando Duarte, José Silvério…e quando chamava o Rio ? Israel Gimpel…falava e sabia de tudo…Israel está lá em cima com o Narciso Vernizi….e as coisas vão se acabando….Valeu Carsughi….

Ronaldo Maia
8 anos atrás

Que pena, o rádio ficou mais triste e, sem o real.!Que azar JP !Perdeu um ouvinte !

Pedro
Pedro
8 anos atrás

Caro Flávio Gomes, parabéns pelo texto! Você conseguiu mostrar, com sinceridade, respeito e emoção, o excelente profissional e caráter que é Cláudio Carsughi, além do absurdo que é demitirem uma verdadeira lenda do jornalismo brasileiro! Existe uma raça chamada “novos empresários”, que acha que tudo no mundo tem de ser renovado! Só que o “renovar” deles é, por exemplo, aumentar o ibope da emissora, custe o que custar! Não importa o lixo que fique a programação! Ou demitir ótimos profissionais como Carsughi por questões de “redução de custos”. Óbvio que ele é mais caro que os outros, o melhor sempre custará mais, mas é o MELHOR! E o melhor segura audiência, e dá o que? Ibope! Afinal, muitos disseram que a partir de agora não vão mais ouvir a Joven Pan tanto quanto antes… Somente num país que aceita o lixo musical, a educação tosca, o humor idiota e a enorme corrupção que somos vítimas, que vão preferir ouvir um comentário do Vampeta ao invés de um do naipe de Cláudio Carsughi. A Bandeirantes do Luciano do Valle ERA o canal do esporte, agora é o canal do Merchandising. A Joven Pan está indo por esse caminho errado também.

Mario
Mario
8 anos atrás

Bom, imagino que serei xingado por muita gente. O fato é que nasci em meados da década de 60 e cresci na década de 70 dormindo toda quarta e domingo com o radinho no travesseiro ouvindo o Show de Rádio. Ouvi a Jovem Pan por 20, 25 anos. Mas já fazem alguns anos que deixei de ouvi-la. Por diversos motivos. Primeiro, quando começaram a fazer os debates criando brigas para dar audiência. É ridículo aquela mesa redonda com aquelas brigas todas que está na cara que são forçadas, é para dar audiência. Além disso, o narrador âncora hoje é o Nilson César. Pelo amor dos meus filhinhos, como esse cara é chato, é um mala, é insuportável. E quanto ao Carsughi, não sei falando de fórmula 1, mas falando de futebol, nunca vi um cara mais inóquo do que ele. Comentários típicos do Carsughi: “Se o Palmeiras forçar o jogo é capaz de conseguir um gol” dããã, jura? Se o Corinthians chutar mais à gol pode ter uma possibilidade maior de fazer um gol!!! Uau, profundo. E o jornalismo, ainda no formato Anchieta Filho, repita, sinceramente a Jovem Pan parou no tempo e eu acho que ela precisa se reinventar. O jornalismo da Band, por exemplo,é bem mais alegre, descontraído.

paul
paul
Reply to  Mario
8 anos atrás

Será xingado não…pessoas como vc. no máximo são ignoradas….

Adriano
Adriano
Reply to  Mario
8 anos atrás

Mario
Porque te xingar estamos “ainda” num pais democrático, não concordo com o que você escreveu respeito mas, falar que a Band é mais alegre só falam bobagem na Band tanto é verdade que olha a audiência que da esta Band.

Danilo A.
Danilo A.
Reply to  Mario
8 anos atrás

E descontração é categoria relevante para fazer juízo sobre a qualidade do jornalismo?

Plácido de Araujo
Plácido de Araujo
8 anos atrás

De arrepiar. Passou um túnel do tempo na minha mente. Lembrei até do Barão que às vezes (brincando ou não) gritava: “REPITA”, Antônio Freitas.. REPITTAAA”. Como se os locutores não tivessem ouvido, Muito legal mesmo. E do Wanderley Nogueira que dizia nos jogos: ” E o Corinthians, nêgo… aperrtttaaa.” A vinheta do início do jornal e a das 7 da manhã são inesquecíveis. Nem me lembrava mais da Hora da Verdade. E o Carsughi fez parte da minha infância e juventude. Que bom que, pelo menos, está vivo e pode ir para outra rádio.