ENTREVISTA COM O BLOGUEIRO (9)

SÃO PAULO (uma hora acaba, garanto) – Demorou bastante para retomar a maior entrevista coletiva do mundo, cujas perguntas foram formuladas por dois dias, 1º e 2 de julho, E NÃO PODEM MAIS SER FEITAS! Maiúsculas para o pessoal desavisado entender. Para quem está chegando agora, abri o blog para perguntas sobre qualquer assunto e estou respondendo em partes. São 18, no total – o número de páginas preenchidas no WordPress com as perguntas da blogaiada. Comecei de trás para a frente, das últimas para as primeiras. Hoje é dia da página 9. Ficam faltando as oito primeiras.

Cardápio, como sempre, variado: Senna, carros antigos, vida pessoal, Fórmula 1, redes sociais, jornalismo, arrancada… De novo há perguntas que já foram respondidas, e por isso quem se interessar vai ter de procurar nas outras postagens. Para encontrá-las, é só colocar “entrevista com o blogueiro” no mecanismo de busca, aí na coluna da direita.

Vamos ao trabalho, então, lembrando pela milionésima vez que as perguntas não estão editadas, estão sendo publicadas exatamente como foram formuladas. Cortei apenas os bons dias, boas noites, boas tardes e abraços.

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Julho de 1991, Silverstone: a única foto que tenho com Senna

Nelson Barreiros Neto – Já tinha percebido nas entrelinhas mas ficou explícito em um post que você fez sobre uma reportagem que a televisão japonesa fez sobre Ayrton Senna, para a qual pediram sua participação que eu diria que você tem algo que não lhe agradava na pessoa Ayrton Senna (pessoa ok, pois como piloto já te vi elogiá-lo dezenas, centenas de vezes), quando você disse para os japoneses que não era a pessoa indicada para endeusar o cara… Pois bem, você disse quando quando sugeriu que perguntássemos e você me parece ser sincero, SEM MIMIMI, o que lhe desagradava na pessoa Ayrton Senna (se é que tem algo)? Seria as esnobadas nos repórteres que não fossem globais, os xiliques que ele só tinha quando não havia câmera por perto??? Aguardo ansioso porque é a maior curiosidade que tenho sobre o pequeno grande jornalista que és. Grande abraço de Piracicaba.
RESPOSTA – Antes de responder, é bom esclarecer que nunca coloco questões pessoais à frente de profissionais. Portanto, gostar ou não de determinado personagem pessoalmente não é algo que tenha influência no que digo ou escrevo sobre a figura profissionalmente. Exemplificando: se eu acho o piloto X um chato, idiota ou qualquer coisa do tipo, quando tenho de falar sobre o que ele faz na pista minha opinião não tem a menor importância. Isso posto, falemos de Senna. Sendo muito honesto, eu não achava nada muito dramático sobre ele. Nem que era um sujeito excepcional, nem que fosse um pobre de espírito. Não o conhecia o suficiente para emitir julgamentos sobre caráter, personalidade, intimidade. Nossos contatos se davam exclusivamente num ambiente profissional, ele correndo, eu reportando. Mas sempre teve uma coisa que me incomodou: esse esforço para se mostrar um bom moço, alguém diferente de todo mundo, detentor de um certo “monopólio das virtudes”. E isso era algo que a imprensa em geral alimentava. Em determinado momento, Senna era o único cara na F-1 a quem podiam ser atribuídos adjetivos como “determinado”, “esforçado”, “obcecado”, e quem não se referisse a ele como um herói infalível estava, automaticamente, falando mal do cara. O Ayrton gostava dessa aura que ele mesmo criou. Eu achava uma babaquice, essa coisa de atribuir qualquer vitória a alguma divindade, o negócio do “sou eu contra todo mundo”, a história de enxergar inimigos onde não havia – estávamos falando apenas de corridas de carros, não de uma cruzada do Bem contra o Mal. Essa imagem fazia dele alguém imune a críticas, e ele não gostava de ser criticado. Mas em nome da justiça, devo dizer que nunca, em nenhuma oportunidade, Senna me cobrou sobre algo que eu tenha dito ou escrito. Sempre foi muito honesto no relacionamento comigo, pelo menos. Não posso falar em nome de todos, obviamente. O fato é que eu nunca tratei Senna – nem ninguém – como emissário do Paraíso enviado à Terra para nos redimir de nossos pecados. Para mim, era apenas um piloto. Um excelente piloto, evidente, talentoso e vitorioso, um personagem importante do esporte que eu cobria. Mas não era meu ídolo, jornalista não tem de ter ídolos, e tampouco eu torcia por ele – jornalista tem de saber separar as coisas, e a partir do momento em que estou cobrindo F-1, posso até ter uma ou outra preferência no íntimo, simpatizar com um piloto mais do que com outro por diversas razões, mas jamais isso pode contaminar o produto do meu trabalho. Resumindo, é claro que eu tinha uma ou outra opinião sobre o sujeito – a gente sempre tem, sobre quase todo mundo –, mas isso nunca fez com que eu mudasse uma vírgula do que escrevia, ou dizia sobre ele como piloto. Ganhava, fazia uma puta corrida, era elogiado. Fazia alguma cagada, era criticado. Mas nunca caí na tentação fácil de transformar o cara em um ser sobrenatural, que é o que muita gente fazia na época. Nada contra, se um jornalista acha que um piloto, ou jogador, é um extraterrestre, OK, cada um age como achar melhor. Apenas é minha forma de trabalhar.

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Meu primeiro carro: um Gol lindo de morrer

Glatonny Praxedes – Sou estudante e amante do automobilismo. Como todo apaixonado por carros, sonho com o dia que comprarei um. Por isso, te pergunto, qual foi seu primeiro carro? Ralou muito tempo para conseguir? Ainda sonha com algum modelo? Abraço.
RESPOSTA – Meu primeiro carro foi um Gol LS 1982. Ganhei do meu pai. O primeiro antigo, um Belcar 1962. Já falei sobre isso, os carros que ainda gostaria de ter. Cada dia a lista muda. Mas são sempre antigos. Não me interesso por carros novos. Meu carro mais novo é 1997.

Rene Fernandes – Bem, lá vai! O casório com Lady Aguena sai quando????
RESPOSTA – Estamos namorando há dois anos, e não achamos que temos a obrigação de nos casar, exigência boba que a sociedade faz a todo casal.

Marcos Tadeu – Flavio, conte suas aventuras na F1 com Nilson Cesar da Jovem Pan quando você trabalhava na rádio, não esquecendo as entrevistas com o grande Nelson Piquet.
RESPOSTA – Não houve muitas, nada muito emocionante. Uma ou outra coisa engraçada, uma ou outra meio… assustadora. Nilson é espírita, nunca escondeu isso de ninguém, e em alguns momentos aconteceram umas coisas interessantes nesse sentido, mas não sei se devo falar, porque é algo relacionado à fé de outra pessoa, e isso diz respeito a cada um. Não acredito em nada, mas levo muito a sério as crenças de qualquer indivíduo. Dividi as viagens com o Nilson por pouco mais de um ano, porque ele priorizou o futebol e depois de um tempo passou a narrar daqui. Já devo ter contado sobre a vitória de Barrichello em 2000, na Alemanha. Nilson estava afastado da rádio por motivos de saúde, e voltava aos poucos. Naquele dia, Vander Luís narrava a prova e como o Rubinho ia ganhar, ele telefonou de sua casa, em Sorocaba, para dar uma entradinha na transmissão. Estava na escuta, quando por alguma razão a linha do Vander caiu. O operador, Arthur Figueroa, entrou no telefone e falou para o Nilson, que obviamente estava vendo a corrida pela TV: “Nilson, narra você porque o Vander caiu!”. E assim ele narrou as últimas voltas e a primeira vitória do Rubinho. Foi um momento muito emocionante e depois disso ele voltou à rádio e segue firme até hoje como primeiro narrador da Pan. Teve uma história gozada uma vez em Paris, no aeroporto. O Nilson sempre queria voltar para o Brasil no domingo à noite, então a gente saía correndo dos autódromos para pegar um voo, quando dava. Saímos de Magny-Cours para Charles de Gaulle, um calor desgraçado, e o Nilson quis dar uma de malandro, entrou no free-shop e pegou o que achava ser um desodorante para dar uma disfarçada no bodum – sim, eu sei que é nojento, e ele vai me matar se ler isso aqui. Só que o tubo não era de desodorante, mas de espuma de barbear. Imaginem o que aconteceu… Quase me mijei de rir.

[bannergoogle] Rafael – Lá vão algumas curiosidades que tenho a seu respeito: 1) Como foi seu início de carreira como jornalista? Quais os primeiros trabalhos, ainda quando jovem/recém-formado jornalista? E, o que (e/ou quem) exatamente, tirando a evidente paixão por automobilismo, te levou a atuar nessa área? 2) Cobrir a F-1 (e outras categorias) proporcionou que você conhecesse pessoalmente algum de seus ídolos do esporte? Se sim, quem e como foi? 3) Seja sincero!!! Você ainda sente vontade de levantar cedo aos domingos para assistir essa atual F-1? Eu sou um dos que perdeu o “tesão” de assistir essas corridas. Você assiste por obrigação (por ser parte do seu trabalho) ou realmente por que ainda gosta? 4) Alonso x Vettel x Hamilton x Button x Raikkonen – segundo seus critérios, faça uma lista do melhor para o pior dos atuais campeões. 5) To curtindo demais essa F-E! Sério! Acho que ela cumpre exatamente a proposta dela! Foi legal demais essa primeira temporada. Mas tenho ligeiras indagações, se puder me esclarecer: 5.1) todos os carros (motor e aerodinâmica) são exatamente iguais uns aos outros, correto? O que faz com que uma equipe se destaque em relação à outra? Só a habilidade dos pilotos? 5.2) para a próxima temporada, teremos carros diferentes uns dos outros? Li que algumas equipes estão desenvolvendo seus próprios carros. Teremos modelos diferentes no grid? Valeu, FG!!! Parabéns pelo ótimo trabalho, e por esse blog que me informa e me diverte diariamente!
RESPOSTA – Caraca, a gente dá a mão, neguinho quer o braço… Rafael, vou ter de resumir, porque meu currículo está aí na coluna da direita do blog, tudo que fiz na carreira. Vamos lá. 1) comecei escrevendo coluna de torcida organizada no “Popular da Tarde” em 1982. O jornal não existe mais. Depois fui para a SBPC fazer programa de rádio para a Cultura AM. Jornalismo científico. Depois, para a “Folha”. Foi onde comecei a fazer esporte, que sempre foi meu objetivo. 2) Como disse em outra resposta, não tenho grandes ídolos, e portanto nunca me senti ungido por ter tido a chance de conhecer certas pessoas. Mas é claro que a profissão me permitiu ter contato pessoal com gente que admiro, seja no esporte, seja em outras áreas. Conheci o Pelé, o que é legal. E o Maradona. E o Fangio. E o Lula. E até o George Harrison. 3) Sim, eu adoro F-1. 4) Pela ordem, Vettel, Alonso, Hamilton, Raikkonen, Button. 5.1) Na primeira temporada foi assim, agora cada um cuida de seu trem de força. Habilidade dos pilotos, acerto do carro (asas, calibragem de pneus, cambagem, cáster), estratégia, essas coisas. Nunca dois carros idênticos têm desempenhos exatamente iguais quando pessoas diferentes os pilotam. 5.2) Sim, como falei, cada equipe está desenvolvendo seu trem de força, mas os chassis continuam iguais.

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Monza S/R: desse eu gosto

Roberto Carlos – você gosta do Monza? me vende o seu, caso você tenha um…
RESPOSTA – Gosto, mas não tenho. Na verdade, gosto só do S/R.

Renato Gomes – FG, nos idos que o twitter era febre e eu usava redes sociais, você me bloqueou sem motivo, por quê? Sobre seu gosto por LADA surgiu de onde? Você acha que algum dia teremos a volta dos russos em solo brasileiro? Algum dia a CBA será séria ou continuará seguindo os passos da CBF?
RESPOSTA – São mais de 30 mil bloqueados, marca da qual me orgulho, e você acha realmente que eu vou lembrar por que bloqueei você? Mas se falou mal de Lada, DKW ou da Portuguesa, mereceu. Já falei sobre meu gosto pelos carros soviéticos. Não, não acho que a Lada vem para o Brasil. O mercado deles é outro. Não acredito que nenhuma entidade esportiva no Brasil será séria o suficiente em qualquer tempo.

Ricardo – A diferença entre Galvão e Gomes é clara. O primeiro é f1, fala por si só. O segundo é f-e, é legalzinho e mais nada. Mas vou perguntar pro Gomes, 1) quem ele odeia mais, Alonso ou Senna? 2) Se Senna não tivesse morrido, você ainda estaria na Folha? Abraço e vê se muda, ainda há tempo e ninguém é perfeito!
RESPOSTA – Puxa, muito obrigado por dedicar seu tempo a fazer perguntas. Deve ter demorado bastante para elaborá-las. Resposta à primeira: ele quem? À segunda: não. À última frase: nota-se.

Mario_Fpolis – Você disse que o Galvão é incomparável. Você ja disse n vezes que o Regi é seu amigo. Você, ao mesmo tempo, com educação, demonstra como é fraca a transmissão na rede bobo, ante o despreparo que só pode ser creditado ao Galvão, e nunca ao Regi. Com base nessa premissa, que eu acredito não estar redondamente enganada, gostaria de perguntar qual é grau de dificuldade que você enfrenta ao escrever sobre certos temas, tentando não ferir jornalistas amigos e conhecidos mas ao mesmo tempo tentando manter o máximo de sinceridade? Em um PS, cara, acho que tua postura merece ao mesmo tempo o máximo de elogios e o reconhecimento de que você é completamente pirado em prometer sinceridade total e absoluta.
RESPOSTA – O que vale para pilotos, vale para qualquer coisa: não deixo a amizade interferir no que penso, digo ou escrevo. Nunca falei em “despreparo” do Galvão, do Regi, de quem quer que seja. Eles são muito preparados. O que faço, muito de vez em quando, é analisar a linha editorial da Globo para o esporte – que interfere naquilo que o público pensa e leva as pessoas a questionarem outros jornalistas sobre determinados episódios. Em outras palavras: quando a Globo diz que o carro é verde e ele é amarelo, o público vem para cima de mim se eu disser que é amarelo, porque a Globo disse que é verde, então eu também tenho de dizer que é verde. É mais ou menos isso. Não tenho dificuldade para escrever sobre nada. Raramente comento o que meus colegas fazem, exceto quando percebo má-fé, e então me sinto na obrigação de fazer um ou outro esclarecimento.

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No extinto “Linha de Chegada” em 2004 com Lito, Regi e Seco: aos amigos, tudo; aos inimigos, nem mesmo a lei!

Beto – Por que o Reginaldo Lema deixou de escrever para o GP ?
RESPOSTA – Porque um dia eu fiz uma crítica qualquer a alguma transmissão da Globo, ou à tal linha editorial, e os caras da emissora, compreensivelmente, disseram para o Reginaldo que não fazia sentido ele escrever para o site de um cara que falava mal de seus patrões. Eles tinham razão, do ponto de vista corporativo – é assim que funciona o mundo. O Regi é empregado da Globo, recebeu uma determinação, acatou e fez muito bem. Entendi perfeitamente. Mas eu, se fosse o chefe do Regi, não teria agido assim. Sou pela liberdade de expressão. Se um dia o Victor Martins criticar uma transmissão da Fox, por exemplo, não vou demiti-lo, nem proibi-lo de se expressar como bem entender.

Rodrigo Freitas – Sobre a sua coleção de antigos: quantos e quais são?
RESPOSTA – Já respondi isso.

Johelmyr – Bom dia Flávio Gomes. Nessa carreira como Jornalista, qual você acha que tenha sido o seu melhor trabalho? Pode ser melhor cobertura, melhor “investigação” esportiva? E qual foi o pior trabalho? Acha que a tua cobertura sobre a morte do Senna tenha ficado abaixo do teu padrão de jornalismo?
RESPOSTA – Também já foi respondido. E achei minha cobertura da morte do Senna boa. Pior trabalho? Uma matéria sobre maçarico de plasma para o programa de rádio da SBPC. Até hoje não sei o que é um maçarico de plasma.

Anselmo Leite – Boa tarde Flavio, gostaria de saber se há a possibilidade de você fazer um programa sobre automóveis pela Fox Sports, Estilo “Indiana Gomes” mas com algumas evoluções e um padrão de produção com mais a cara da Fox Sports, juntamente com o seu conhecimento e desenvoltura televisiva é algo que faz falta à TV e teria público para uma produção de bom nível. Parabéns pela carreira.
RESPOSTA – Temos planos, mas essas coisas demoram um pouco. Vai sair.

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Os farnéis em Interlagos: foi, não será de novo, lembre

oCaioDeSantos – Sou da época do Farnel, como Roberto Brandão nos apelidava, matboys, os matuzas meninos, aliás da época ainda tenho os amigos Carlos Máximo e Marcos Bonilha, estivemos juntos a pouquíssimo tempo…Você já fez vários posts sobre essa fase, essa inclusão “farnel” que atrofiou… Não era sua obrigação nem deveria ter sua atenção, mas ficou chato? Ficou semi-profissional? Ficou político, não no Fla-Flu das ruas, mas dos egos ??? Permita-me, pena vc não ter corrido, pq o carro quebrou no sábado, mas o Domingo da Torre VIP que foram recolhidas doações para a organização da mãe do Gil de Ferran; Convite e credencial de Rodrigo Ruiz; Última aparição, que me lembro, do Veloz HP, canalha, com Red Label, outro whisky que não me lembro, e mais 2 garrafas de Merlot Premium, maledeto não bebida, mas ia se embriagando nas histórias junto; LucPeq, sumido MatBoy reatou casamento com mãe do primogênito lá! (já separou e antes de eu, padrinho, terminar de pagar o presente!); Comendador Cerega , de Celta, participar do regularidade, receber troféu mas de tanto que falava não ouviu sua convocação de ir ao Pódio… Que domingo foi aquele.. Tudo iniciado por um DKW, e VC…!
RESPOSTA – Caio, que confusão! Bom, pelo que entendi, você elencou várias lembranças de 2006 e 2007, os farnéis em Interlagos. Para quem não sabe, eram os encontros dos blogueiros que se conheceram aqui e passaram a frequentar o autódromo nas corridas da Classic, torcendo para o velho DKW #96. Tempos maravilhosos, sem dúvida! Cada um levava uma comidinha e uma bebida, tínhamos até espaço próprio, e a partir daqueles encontros muitas amizades nasceram, persistem até hoje, geraram filhotes – como não? As coisas acabam, porém. Não é culpa de nada ou de ninguém, elas simplesmente acabam. “Foi. Não será de novo. Lembre.” A frase é de Paul Auster, em “Invenção da Solidão”. Ou: não chore porque acabou; sorria porque aconteceu. Essa eu li numa placa num ferro-velho nos EUA. É exatamente isso. Foi, todos adoramos, aproveitamos, nos conhecemos, não vai acontecer de novo – não como há quase dez anos –, outras coisas virão, está tudo bem.

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Fangio e Schumacher: daria muito certo…

Marcelo – Flávio, se você fosse dono de equipe de Formula 1, com todo o dinheiro do mundo, qual seria sua dupla de pilotos (entre todos da história)? E por que?
RESPOSTA – Isso foi respondido no blog, acho, numa postagem recente. Se não me engano, escalei Piquet e Villeneuve. Seria uma equipe divertida. Mas o critério que usei não foi o de escolher os melhores. Se tivesse de fazer a dupla mais qualificada, talvez Schumacher e Fangio.

Rodrigo – Flavio, o jornalismo de carros e corridas sobrevive a essa transformação do jornalismo (no que se refere a anúncios, publicidade, linha editorial, gana por audiência)? Caminha para um precipício? É uma grande bobagem, com a qual ninguém se importa? E se acabar, vamos fazer o que com o que acumulamos de experiências e conhecimento? Hoje seu nome é uma espécie de grife, do meu modesto ponto de vista. Precisando de alguém pra comentar automobilismo? Chama o Gomes. Revista nova no pedaço com espaço pra coluna sobre antigomobilismo? Chama o Gomes. Futebol? Chama o Gomes também. Curso de Jornalismo sendo criado? O Gomes pode ser uma boa. Ao que você credita isso? É uma convergência de acontecimentos, ser a pessoa certa na hora certa e no lugar certo? Ou naturalmente a perseverança, a competência e a credibilidade se encarregam disso sozinhas? Você enxerga espaço para uma publicação mais especializada sobre autos antigos? Por fim, duas perguntas meio que pessoais: como vc faz pra guardar tantos carros (eu me fodo pra guardar um) e como você administra seu tempo? Sério: pense na possibilidade de dar palestras sobre como encaixar em 24 horas blog, Fox, site, dois filhos, namorada, amigos, família, 20 ou 30 carros, (tá dando aula ainda?), e ainda dormir.
RESPOSTA – Sobre os caminhos do jornalismo, acho que já respondi em uma das fornadas anteriores. Ninguém sabe direito o que vai acontecer. Nunca se produziu tanto conteúdo na história, porque hoje o espaço físico é ilimitado – por não ser físico, diga-se, e sim virtual… –, mas a maneira de financiar essa produção é ainda confuso e incerto. Existe público para tudo, automobilismo é um nicho como qualquer outro. Não vai acabar. Mas, se acabar, abrimos um food truck. A história de ser grife… Eu? Tá zoando. Não sou grife de nada. Sou apenas um jornalista que está há bastante tempo na estrada e na maior parte do tempo em veículos importantes de comunicação. Acho que tenho credibilidade e acho também que as pessoas sabem o que esperar de mim. Vejo, sim, espaço para publicações sobre antigos. No Brasil, apenas uma revista faz esse papel, a “Classic Show”, e gosto muito dela. Há igualmente muita coisa na internet. Eu queria fazer uma revista de clássicos, mas acho que meu tempo para isso já passou e não vou me aventurar em mídia impressa nos dias de hoje. Meus carros: ficam numa caverna secreta cercada por um fosso com jacarés, piranhas e ariranhas. Meu tempo: acordo cedo e durmo tarde. Mas não o administro muito bem, não. Sou meio atrapalhado, estou sempre atrasado e percebo que deveria dedicar mais tempo aos livros, ao cinema, à cultura, aos meus filhos, aos meus amigos, à minha família. Vou me virando do jeito que dá.

Douglas – Não me interesso por arrancadas, mesmo morando aqui em Dubai onde isso é popular e há muita infraestrutura para tal. Achei muito interessante que o que você disse sobre ser o único esporte a motor em todos os Estados, o que é uma verdade. Imagino que seja muito mais controlável e barato do ponto de vista de organização e segurança, além de mais barato, pois basta ter uma reta plana e segurança no entorno. Talvez devêssemos dar mais importância para o mesmo como forma de promover o automobilismo como um todo.
RESPOSTA – Já falei longamente sobre arrancada em outra leva de perguntas.

Wbj – Tem resposta convincente, sem mimimi, lero-lero ou desculpinhas esfarrapadas pra isso ?
RESPOSTA – O “isso” do cara aí em cima era um link com alguma pesquisa do Ibope sobre popularidade da Dilma, creio. Não abri o link. Você não fez pergunta, meu caro, e sim uma provocação pueril. Resposta convincente eu dou quando me perguntam algo. Você perdeu sua chance, bobo que é.

tamburello
Os fundos da Tamburello em 2004: é disso que o rapaz quer saber?

Gabriel Araújo – Depois de ler seu livro, todas as suas colunas desde 1995 e trabalhar como auditor de suas eleições, acho que só me restou uma dúvida: o que você e o Seixas fizeram em Imola?
RESPOSTA – Quando?

Marco Saltini – Flávio, Você que é do meio jornalístico tem qual visão sobre o futuro da midia impressa? Em tempos de informações instantâneas há espaço para este tipo de mídia? Por quanto tempo?
RESPOSTA – Também já foi respondido. Não sei qual o futuro dos jornais e revistas. Eles são caros para fazer, gastam tinta, papel, energia, e não se pagam mais. Mas, como disse, elucubrações sobre o futuro da mídia eu já fiz em várias respostas anteriores.

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Marcelo
Marcelo
8 anos atrás

Perfeito, o perfil que você traçou sobre o Senna. Finalmente, alguém que pensa a mesma coisa que penso sobre ele. É muito chato essa babaquice de colocá-lo como “um enviado de Deus”, o “maior brasileiro de todos os tempos”, um “anjo”, e ai de quem pense o contrário. O cara foi “apenas” foi um grande piloto que faleceu como vários outros em um esporte de altíssimo risco. Ponto.

J Fernando
J Fernando
8 anos atrás

A entrevista sempre proporciona uma boa leitura, boas histórias.
E conhecimento, rsrs, afinal algumas respostas atiçam a curiosidade. Nunca li tanto sobre maçarico de plasma!!

Glatonny Praxedes
Glatonny Praxedes
8 anos atrás

Flávio, obrigado pela resposta. A priori, o seu primeiro carro é belíssimo, o qual deve guardar histórias bem legais. Parabéns pela iniciativa e pelo blog. Abraço do leitor de Natal/RN!

LucPeq
LucPeq
8 anos atrás

Não estou sumido não Caio, tô aqui todo dia.

TJ
TJ
8 anos atrás

Gigante Fox Golf,

Hoje na Vila Zelina, teve um evento dos países bálticos Lituânia, Letônia e Estônia.
Lembraram de algumas coisas passadas.
Foi legal.
O evento não as lembranças.

Sanzio
8 anos atrás

Boa, Gabriel Araújo! kkkkkkkkkkkk….
Se nem a Gabriel Araújo’s inc. tem a resposta, também quero saber. O que, afinal, rolou entre você e o Seixas em Imola?!? xD

Sargento Garcia
Sargento Garcia
Reply to  Sanzio
8 anos atrás

acho q foi troca-troca…

Paulo Pinto
Reply to  Sargento Garcia
8 anos atrás

Se esse mato falasse…

…diria que ambos trocaram um abraço de pesar pela morte de Senna.

Simples assim.

Brabham-5
Brabham-5
8 anos atrás

“Mas sempre teve uma coisa que me incomodou: esse esforço para se mostrar um bom moço, alguém diferente de todo mundo, detentor de um certo “monopólio das virtudes”. E isso era algo que a imprensa em geral alimentava. Em determinado momento, Senna era o único cara na F-1 a quem podiam ser atribuídos adjetivos como “determinado”, “esforçado”, “obcecado”, e quem não se referisse a ele como um herói infalível estava, automaticamente, falando mal do cara. O Ayrton gostava dessa aura que ele mesmo criou. Eu achava uma babaquice, essa coisa de atribuir qualquer vitória a alguma divindade, o negócio do “sou eu contra todo mundo”, a história de enxergar inimigos onde não havia – estávamos falando apenas de corridas de carros, não de uma cruzada do Bem contra o Mal. Essa imagem fazia dele alguém imune a críticas, e ele não gostava de ser criticado.”

Eu sempre pensei assim também. O cara tinha muito talento como piloto, mas não me passava sinceridade, espontaneidade.
Então nunca superou, para meu gosto pessoal, Nelson Piquet como ídolo. E foi superado por Schumacher como maior da história, na minha opinião.
E esse endeusamento midiático e cego das “viúvas” só aumento o abismo para alguma simpatia com Senna e seus fãs.
Toda trollagem que é feita com Senna, não é propriamente para atingir o falecido ou sua família. É para provocar e irritar as viúvas, os seus fãs mais fanáticos e intransigentes, que não reconhecem que até alguém que foi melhor numa era pode ser superado um dia, que pode ter defeitos, pode ter cometido falhas, como todo ser humano, todo atleta e todo profissional.
O que Senna conquistou, ninguém tira dele. Nunca mais. Todos sabem e reconhecem isso, até seus maiores rivais. E que tinha suas falhas, seus defeitos humanos como todo mundo, todos esses sabiam. Mas só uma ou duas pessoas não tem o rabo preso ou medo de falar abertamente sobre isso.
Espero que minha sinceridade não provoque nenhuma revolução ou que venham com tochas durante a noite me queimar em praça pública aos gritos de “traidor” da pátria! rsrsrsrs

RENE FERNANDES
RENE FERNANDES
8 anos atrás

Meu interesse no casório é gastronômico e não social…( vide aquela parada com limão siciliano, seu bolo da Kombosa, Aperol, cigarros de chocolate da Pan, etc.. ) Curto suas viagens e degustes mundo afora, em boa companhia! Vivo e convivo a com minha “Suricatinha” a 25 anos, de forma relativamente harmônica e sem casar. Somos sócios, juridicamente falando. E despirocamos, vadiando por esse Brasil! ( Próxima parada é CAROLINA/MA) Mais chato que a cobrança de casório, é a de quando vem o primeiro filho…Isso é que é uma pentelhação Duka! Saudações!

Eltontoptec
Eltontoptec
8 anos atrás

Oloko, o Lito mede dois metros..

Fernando
Fernando
Reply to  Eltontoptec
8 anos atrás

Se os outros estivessem em pé, ficariam do tamanho do Lito.

Marcos Tadeu
Marcos Tadeu
8 anos atrás

Grande Flávio, sempre ouço a Jovem Pan, Nilson Cesar, tb sou de Sorocaba, a espuma de barbear foi de doer, kkkkk…. um abraço.

Fernando Delucena
8 anos atrás

Ora pois, uma das melhores definições sobre Senna que já li, foi você que deu: “exagerado”. Agora, vou ficar imaginando esses casos espíritas do Nilson Cesar até umas horas … Mas tá certo, não dá pra contar não.

Lucas
Lucas
8 anos atrás

Sempre aparece uma pergunta “misteriosa” sempre Ímola. hehe

O meu carro mais novo também é de 1997.