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SÃO PAULO (o cara) – Acabo de ver a exibição de Tony Tornado, 85, no Palco Sunset do Rock in Rio junto com o Ira! e outros músicos e cantores. Fiquei encantado. 45 anos depois, “BR-3”!
Tony Tornado ganhou o Festival Internacional da Canção de 1970, no Maracanãzinho, cantando “BR-3” com o Trio Ternura. A música quase foi proibida pela ditadura, porque cantar que “a gente morre na BR-3” incomodava os milicos. Como assim, morrer de acidente numa estrada federal construída pelo Brasil Grande? Esse negão aí é comunista!, deve ter pensado algum censor, seguindo a linha de pensamento pautada pela idiotia dos governantes da época.
Mas a canção foi liberada e Tony ganhou, com seu cabelo black power, seu vozeirão de cantor americano de soul, suas meninas psicodélicas, seu foguete rasgando o céu, seu Jesus Cristo de aço crucificado outra vez, e talvez a caserna tenha se sentido ofendida pelo motivo errado, melindrada por alguém ousar colocar em dúvida suas grandes obras de integração nacional. Duvido que tenham entendido o recado claro os últimos versos, esse sim motivo para pendurar Tony no pau-de-arara: “Há um crime/No longo asfalto dessa estrada/E uma notícia fabricada/Pro novo herói de cada mês/Na BR-3”.
Eles eram bem obtusos, felizmente.
Aliás, o que está faltando para alguém escrever uma grande biografia de Tony Tornado? O cara tem uma trajetória na música, cinema e TV que pouquíssimos artistas no mundo podem se orgulhar de ostentar. É um excepcional ator e humorista. Paraquedista, lutou na Canal de Suez, foi cafetão nos EUA, conviveu com Tim Maia nos anos mais loucos. Passou da hora. E aí, Fernando Morais?
O Som do Vinil, aquele programa do Canal Brasil, faz uma entrevista emocionante com o Toni Tornado falando da sua carreira musical: http://globosatplay.globo.com/canal-brasil/v/3405638/ (link pra assinantes da NET, Sky e afins que tenham o Canal Brasil no pacote).
Não chega a ser uma biografia completa, mas já vale.
(aliás, acho espetacular esse “O Som do Vinil”)
E pelo que contou numa entrevista, serviu como paraquedista com o Silvio Santos.
Sensacional! Valeu, escriba! Bravo!
Por que vc não escreve ? Falta de tempo não e desculpa, sempre se consegue um tempo pra se escrever sobre o que se gosta. Pense a respeito
É nessas que a gente percebe o quanto é bizarro alguém com mais que ande em duas patas e possua mais que três neurônios funcionais querer a volta dos milicos. O Tony Tornado era de esquerda, foi ativista e acabou exilado – mas a BR-3 da música (que não era dele) seria a BR-135, que sobe de BH para o norte e que pelo que me lembre já existia muito antes de 64.
Mas não foi a única… O mais engraçado é que o pessoal da tropa dos Três Patetas era tão sagaz que nunca percebeu que “Sabiá”, do Tom Jobim e que foi cantada pelo Quarteto em Ci em outro festival – acho que ganhou – falava justamente da volta dos exilados que tiveram que fugir do pau-de-arara…
Meu, viajaste profundamente na maionese!
1) A BR-3 à época é parte do que é hoje a BR-040 (RJ-BH).
Isso, se realmente a música se refere a uma estrada, pois pode ser que seja uma metáfora (já disseram aí embaixo de uma possível gíria com relação às drogas da época).
2) Sabiá não tem nada a ver com exilados, ditadura, o escambau. Inclusive muitos torciam contra, para que ganhasse Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, de Geraldo Vandré, esta sim uma música contestadora. Mas Sabiá (Chico Buarque-Tom Jobim) era mais bonita mesmo e mereceu ganhar.
Nada contra Tony Tornado, mas não acho essa música grandes coisas não. O Amor É O Meu País, de Ivan Lins, deveria ter vencido, ou outra melhor (citei essa pois a Hebe menciona no começo do vídeo).
Além de tudo isso, curte carros antigos, pois tem uma Caravan, um Dodge Magnum e um Audi A4 94 que diz a lenda foi comprado da frota da Senna Import. Parece que ele tinha uma Puma também.
clap clap clap clap (aplausos) para o vídeo, para o Tony e para você Flávio.
Ira! minha banda favorita, mas não sei o que aconteceu com Nasi…..irreconhecivel hoje….o que esta acontecendo…..
FB
É incrível como simples lembranças despertam tantas emoções. Comecei a te acompanhar com um texto sobre um certo posto de merda na Itália…
E não larguei mais.
Ah, e fecho com o Eduardo Britto, prefiro que seja o Ruy Castro, de Caratinga MG
abs
Ops é FG rsrsrs desculpa o descuido
Fernando Morais? No way.
Por que não?
BR3 era um coquetel de drogas da época. A música não tinha nada de contestação política. Era sim um lamento profundo sobre as perdas de amigos por overdose. Janis, Hendrix, Elis, Cazuza…
BR-3 é uma musica do Antonio Adolfo e Tiberio Gaspar, que foi cantada pelo Toni Tornado no Festival da Canção, com a Brazuca (Antonio Adolfo no piano), como banda de apoio.
O que se ouvia dizer na epoca, no Rio, é que a BR3 seria veia onde se aplicava drogas (ou um coquetel de drogas), e a musica teria a ver com a morte por overdose do ex-baterista da Brazuca, Vitor Manga, sobrinho do diretor de TV e cinema Carlos Manga, falecido essa semana.
Pode haver alguma confusão nisso, pois logo depois os mesmos compositores fizeram outra musica em homenagem a Vitor Manga.
Vitor era um excelente baterista, e um cara querido no meio.
Antonio
Valeu FG! Marcante, emocionante! Por volta de 1974 ele morava (ou passava temporada) num prédio da rua Dona Antônia de Queiroz, na Consolação, e tentávamos encontrar ele na saída, eu estudava no Marina Cintra ali ao lado… Pelos 2;30 do vídeo aparece um Gonzaguinha aplaudindo a fera, premeditando o Jackson… Todos no Mararacanãzinho na faixa dos 20, hoje pra lá dos 60, ainda esperando por um país decente… Ah, pra biografia eu preferia o Ruy Castro…