SÃO PAULO(cheguei) – Podem falar o que quiserem, mas em classificação Rosberguinho está arrebentando. Fez a quarta pole seguida, hoje no México. Agora, resta não ser bundão na largada. Em todas Hamilton parte para a dividida e não tira o pé. Nico afina. Está na hora de virar homem, rapaz! Veremos mañana.
Mas já falamos da classificação. Antes, tiremos o chapéu para o torcedor mexicano. O que era aquele autódromo lotado até a tampa, bicho? Alguém ainda fala “bicho”? As imagens das arquibancadas do velho estádio de beisebol, onde ficava a Peraltada, eram impressionantes. Não cabia mais ninguém, gente saindo pelo ladrão. Bonito de ver. E quando Pérez passava, “oooohhhhh!”. Maior barato. Os mexicanos estavam com saudades. Fazia 23 anos que a F-1 não passava por lá. Estão tirando o atraso.
364,4 km/h. Foi o que Massa alcançou no fim da reta dos boxes no Q1, a maior velocidade da F-1 na temporada, superando a marca de Hamilton ontem. Já expliquei, explico de novo. O ar mais rarefeito, por causa da altitude da Cidade do México (2.250 m acima do nível do mar), ajuda nessas horas, já que sua resistência é menor. Mas apesar disso, o brasileiro passou no sufoco. Eliminados: Button, que nem treinou, Alonsito, Stevens, Rossi e Felipe II, que amargou mais uma derrota para o espevitado Sonyericsson. Nenhuma surpresa. São sempre os dois da Manor-Marussia, a dupla da McLaren e um da Sauber. Desta vez, coube a Nasr ficar pelo meio do caminho.
Detalhe que me parece relevante. Button trocou tudo que tinha direito no carro, menos o carro propriamente dito. Foi motor, foi câmbio, foram os dois motores elétricos, o turbo, os instrumentos, o filtro de óleo, o cinto de segurança, o CD (por um MP3 mais moderno), o vidro elétrico, o ar-condicionado, o extintor e o triângulo. Perdeu 50 posições no grid. Cinquenta. Larga de Cancún.
No Q2, Hamilton deu uma animadinha e conseguiu ficar em primeiro. A decepção foi Kimi Deu Essa Pimenta, 13º depois que um problema no último treino livre levou a Ferrari a trocar motor e câmbio de seu carro — por isso perdeu cinco posições no grid e larga em 18º; o finlandês completou 100 GPs desde sua última pole, em 2008. Caíram a dupla da Lotus, Maldanado e Grojã, Sainz Idade e Marânus, o sueco da Sauber. Tudo normal de novo.
E Rosberg, no Q3, retomou as rédeas da brincadeira mexicana e não deu chances a Hamilton, que fez cara de quem comeu guacamole e não gostou. Vettel ficou em terceiro, seguido pela dupla da Red Bull que andou surpreendentemente bem no Hermanos Rodríguez, com K-Vyado em quarto e Ricardão em quinto. Sapattos, Massacrado, Verstappinho, Maria do Bairro (para alegria dos muchachos) e o Poderoso Hulk fecharam a lista dos dez primeiros no grid.Aproveitando que a Force India ficou com a quinta fila, é legal registrar que está cada vez mais próximo um acordo de seu proprietário, o gorducho e simpático Vijay Mallya, com a Aston Martin para rebatizar o time com o nome da famosa montadora inglesa. A Mercedes, que tem forte participação na marca, poderia inclusive usar o nome Aston Martin nos motores que vende para a Force India. Pelo diz-que-diz dos últimos dias, arriscaria dizer que é uma questão de tempo para que isso aconteça. O nosso Rodrigo Berton, inclusive, já fez até uma simulação de como poderia ser a pintura de uma eventual Aston Martin F-1, com os mesmos patrocinadores da Force India, claro.
Bem, a corrida não vale nada, porque o título está decidido e na F-1 não tem G4 que classifica para a Libertadores, nem zona de rebaixamento. Os pilotos tendem a se divertir em corridas assim. Mas para um deles em especial este GP tem importância acima do normal: Rosberg. Desprezado, humilhado, engolido e zoado por Hamilton há meses, está na hora de o alemão mostrar algum brio. Mostrar para a Mercedes que não é um zé-ninguém condenado a ser trucidado por um companheiro de equipe que chegou ao time depois dele. Mostrar para o público em geral que merece alguma admiração e respeito.
E, sobretudo, mostrar a si mesmo que é capaz de bater Hamilton.
Ah, a foto de hoje é da Toro Rosso, que também quase nunca aparece aqui, coitada. Manja a multidão no estádio. Demais.
Como disse, pingando as coisinhas na medida em que vou recebendo. A foto é de Nico Hülkenberg no setor onde ficava a Peraltada e, hoje, é um estádio de beisebol. Bonito, mas pouco interessante, do ponto de vista técnico. Falaram em 89 mil pessoas no autódromo hoje. A ver.
SÃO PAULO(hoje vai ser assim, só pingando) – A Haas anunciou Esteban Gutiérrez como seu segundo piloto para o ano que vem. Vai se juntar a Romain Grosjean na equipe americana, que estreia na próxima temporada empurrada por motores Ferrari. Não é exatamente uma surpresa. Gutiérrez leva patrocinadores mexicanos e já tem uma certa experiência com as unidades de força de Maranello. Não muita coisa, mas é melhor que nada.
SÃO PAULO (de carne e de frango) – Falemos do México. Desculpem o atraso, estava em reunião longe, o trânsito deu uma travada monstro, só agora consegui sentar ao computador.
Hermanos Rodríguez… Adoro o autódromo e a Cidade do México. Estive nas duas últimas corridas disputadas lá, em 1991 e 1992.
Aproveito para contar uma historinha, que já devo ter contado, mas tudo bem.
Em 1991, pela primeira vez levei um laptop para trabalhar. Até então, eu resistia bravamente com as máquinas de telex. Mas como o fuso horário era desfavorável, nossa marmitinha (era assim que chamávamos o Toshiba T1000 igual a esse da foto aí embaixo) seria necessária. O fim dos treinos e da corrida coincidia com o horário de fechamento do jornal. Era preciso mandar as matérias rápido, para não atrasar a bagaça. Por telex, o envio demoraria muito. Eu teria de escrever, picotar a fita, entrar na fila do operador, enviar para a máquina no Brasil, o texto chegaria a São Paulo e teria de ser digitado, não ia dar tempo.
Fiz um breve treinamento na Redação (eu não curtia muito essa modernidade, adorava telex e achava que essas coisas informatizadas davam pau demais) e levei o Toshiba. Não fiz nenhum teste, mas não era muito complicado. Basicamente a gente tinha de escrever o texto como faz hoje em qualquer Word da vida, salvá-lo, conectar o pequeno computador numa linha telefônica e configurá-lo para ligar para um negócio chamado Infonet, que tinha números locais em tudo que era cidade importante do mundo — assim a ligação ficava barata, porque fazer um telefonema internacional custava os olhos da cara.
Quando conectava com a tal Infonet, a gente dava um comando qualquer e o texto era transmitido para um servidor sei lá onde, que por sua vez o retransmitia para o jornal. A vantagem é que chegava rápido, à estonteante velocidade de 2.400 bytes por segundo (ou seria por minuto? Vocês que entendem disso me digam), e já entrava no sistema de edição, sem ter de passar por um digitador. Tudo muito rápido e limpo. Ninguém sujava os dedos no carbono dos rolos de telex.
Só que naquele tempo a gente não alugava linha telefônica no autódromo, porque era muito caro. Então, o negócio era escrever o texto, pegar o Toshiba, levá-lo à central telefônica da sala de imprensa, pedir uma linha para fazer uma ligação local, conectar o laptop nessa linha (rezando para que a entrada na parede fosse igual à do cabo que levávamos; na verdade, eu tinha uma maleta só de plugs telefônicos do mundo inteiro, se fosse preciso, porque cada país tinha um padrão diferente), e, se tudo desse certo, o computador pegava a linha, identificava que aquilo era um telefone, discava o número (sim, porque se a linha fosse antiga, de pulso e não de tom, ele tinha de discar, mesmo), conectava com a Infonet e mandava o texto.
Bom, eu estava com pressa. Na quinta-feira, por conta do horário, nem usei o Toshibinha. Não tinha treino, escrevi mais cedo e mandei tudo por telex, mesmo. Depois de fechar o dia é que pretendia testar a traquitana. Mas no fim nem testei nada, porque a turma estava saindo para jantar e fui na balada. No dia seguinte resolveria a parada.
Aí, na sexta-feira, não é que o diabo do cara me capota na Peraltada? Puta que la mierda. No domingo anterior, ele já tinha tomado um tombo de jet-ski e machucou feio a cabeça. Senna dava esses sustos na torcida e na imprensa. A McLaren de cabeça para baixo seria manchete em todos os jornais no dia seguinte. Foi no primeiro treino oficial, que valia para formar o grid. Só sei que a correria foi enorme. O horário era muito ruim para todo mundo. Os europeus, coitados, ficavam desesperados. Consegui escrever tudo, deu até para pegar uma palavrinha de Ayrton e do doutor Sid Watkins, mandei bala no Toshiba e, com tudo pronto, corri para a sala onde ficavam os telefones.
Puta que la mierda de novo. O mundo estava naquela sala. Todos os jornalistas do planeta enlouquecidos atrás de uma linha para despachar suas matérias, e no centro dessa sala duas pobres operadoras mexicanas diante de uma daquelas mesas dos anos 40 cheias de entradas e saídas, cabos elásticos, fones no ouvido, um caos. Parecido com isso aí do lado. Igual, eu diria. Com a diferença de que elas, coitadas, eram só duas. E só falavam espanhol.
Obviamente eu não conseguiria nunca uma linha naquela bagunça incontrolável. Catei o laptop, desci da sala de imprensa, encontrei um orelhão, liguei a cobrar para o Brasil e pedi o redator mais rápido no teclado para que eu pudesse ditar as matérias. Acho que foi o grande Constantino Ranieri o incumbido da missão. Ele era um foguete. Deu certo. Fechou na hora. Sempre fecha. Para quem tiver curiosidade de ler os textos, estão aqui.
Depois daquilo, desisti do Toshiba. Achei muito precário, as corridas seguintes seriam na Europa, cinco horas na frente do horário brasileiro, as máquinas de telex estavam lá, lindas e maravilhosas, não queria nem ouvir falar de laptop.
Mas foi só naquele ano, porque em 1992 a FIA mandou tirar todas as máquinas de telex das salas de imprensa e tive de me render ao Toshibinha. No GP da África do Sul, abertura do Mundial, levei o bichinho na bagagem. Funcionou direitinho. Principalmente depois que descobri que a tomada para aparelho de barbear, no banheiro, não carregava a bateria.
Putz, que história longa.
Sobre os treinos de hoje, vi tudo meio picado. Notei que a pista é bonita, que o público está entusiasmado, que o asfalto é muito escorregadio, que a altitude contribui para reduzir ainda mais a pressão aerodinâmica e o “grip” (apesar de todo mundo carregar nas asas), e que o trecho do estádio de beisebol, onde ficava a Peraltada, é visualmente impressionante, mas inútil. Os carros passam por lá quase parando, acho difícil acontecer qualquer coisa de relevante naquele trecho. Depois, a entrada da grande reta estava um sabão só. Neguinho vai se perder lá — Verstappinho bateu logo no começo do segundo treino, pobrecito, ele que fora o mais rápido de manhã, tornando-se o mais jovem piloto da história a cravar um P1 numa sessão oficial de treinos da categoria.
A reta e o ar rarefeito, aliás, proporcionaram a maior velocidade absoluta registrada na F-1 em uma década: 362,3 km/h, de Hamilton, embora a média do circuito não seja muito alta. Rosberg foi o mais rápido do dia, a Red Bull andou bem e a McLaren surpreendeu, com Alonso em oitavo e Button em nono. O relato está aqui, com tudo que aconteceu na sexta-feira — que teve pista molhada pela manhã e chuva fraca no final do treino vespertino.
Mas apesar do assassinato da Peraltada, é México, a enorme reta dos boxes está lá, os “esses”, a reta oposta, e as lembranças dos anos 80 e 90, também. É legal demais quando uma corrida acontece onde o povo é apaixonado por velocidade. Arriba, México!
E pra fechar, uma foto de Alexander Rossi, coitado, já que a Manor nunca aparece aqui.
SÃO PAULO(caramba) – O Tiago Oliveira mandou a dica aí nos comentários e fui ver do que se tratava.
E se tratava de uma história inacreditável. O protótipo de uma espécie de buggy que a Nasa desenvolveu em meados da década de 60 para ser levado à Lua foi encontrado num ferro-velho no Alabama.
Ele tinha desaparecido havia anos, até que em 2014 um sujeito que fora da US Air Force o viu no quintal de uma casa na cidade de Blountsville. Tirou fotos e avisou a Nasa, que foi atrás. Mandou uma carta para o dono para pedir o veículo lunar de volta. Quando o carteiro chegou, porém, o sujeito tinha morrido e o buggy, vendido como sucata.
Ocorre que o cara que comprou resolveu fazer um leilão da bagaça. Ao que parece, a Nasa não ofereceu nem um centavo a ele.
O buggy está meio baleado, perdeu algumas peças como o banco do astronauta, a antena e os instrumentos de navegação. Mas dá para restaurar, se você conhecer alguém na Nasa.
SÃO PAULO (bem-vindo!) – Primeiro se chamava “Blog do Saloma”. Depois de algum pau homérico de servidor, troca de URL, portal e provedor, renasceu como “Saloma do Blog”.
E eis que meu manager Luiz Salomão volta à rede, colocando de novo seu blog no ar. O novo nome: “Saloma Connection”, com domínio próprio, “arquitetura” original, visual limpo e organizado. Um blog essencial, diga-se. Que começou sua trajetória mais ou menos na época deste aqui, e se tornou referência em automobilismo nacional dos anos 50, 60, 70, 80, 90, 2000, 2010, 2020 e de todos os outros anos que ainda virão.
Muita gente chegou aqui pelas páginas do Salomão, e creio que muita gente conheceu seu trabalho passando por aqui antes. Quem bom que voltou!
Na verdade, mais simpático do que esquisito. A parte traseira foi enxertada de uma Kombi. Não sei onde foi feito. Tem cara de Estados Unidos, pela vegetação do local.
SÃO PAULO(errado, tudo errado) – O engenheiro Chico Rosa é uma das figuras mais importantes da história do automobilismo brasileiro. Arriscaria dizer que, pilotos à parte, porque ele não pilota, é o cara mais importante da história do automobilismo brasileiro.
Sim. O cara mais importante da história do automobilismo brasileiro. Não preciso repetir aqui tudo que já foi escrito sobre ele, como neste excelente perfil no “Nobres do Grid”.
Chico foi se meter com corridas em 1958, quando ainda era estudante em São Paulo. Passou a frequentar Interlagos graças à amizade com Cyro Caires. Trabalhou para a equipe Willys comandada por Luiz Antônio Greco, era amigo do peito de Paulo Goulart, da Dacon, e no final dos anos 60 passou a ser o principal elo entre pilotos brasileiros e a Europa.
Foi Chico quem levou Emerson Fittipaldi para a Inglaterra.
Foi Chico quem levou José Carlos Pace para a Inglaterra.
Foi Chico quem apresentou Nelson Piquet a Bernie Ecclestone.
Chico Rosa tem participação direta em cinco dos oito títulos mundiais conquistados por pilotos brasileiros na Fórmula 1.
Em 1975, passou a trabalhar na administração de Interlagos. Nos últimos 40 anos, nada aconteceu no circuito sem passar por suas mãos. É uma espécie de “prefeito do autódromo”. Todas as reformas, sejam elas no traçado, sejam na área de infraestrutura — box, escritórios, centro médico, paddock, torre, tudo, absolutamente tudo –, foram de sua responsabilidade.
Há alguns anos, na gestão de José Serra, a administração de Interlagos passou para uma empresa de capital misto, a SPTuris, que tem como sócia majoritária a Prefeitura da cidade. É na SPTuris, que também cuida de outros eventos e equipamentos da cidade, como o complexo do Anhembi, o Carnaval, Virada Esportiva, Virada Cultural, que Chico Rosa passou a trabalhar deste então.
Só que a empresa é deficitária, tem problemas de caixa, sei lá o quê. Aí assumiu um presidente novo, que não sei quem é, e foi orientado a cortar despesas.
Como todo executivo que não entende nada de nada, o cara pegou a lista dos salários dos funcionários da empresa e foi riscando aqueles que ganhavam mais. Cortar custos, na maior parte das vezes no Brasil, significa cortar gente — o que é uma sandice.
E Chico Rosa foi demitido da SPTuris.
E Chico Rosa não vai mais trabalhar no autódromo.
E Chico Rosa, 40 de seus 73 anos de idade dedicados a Interlagos, não será mais seu “prefeito”.
É uma burrice fenomenal. Chico não trabalha no autódromo por caridade de ninguém. É um funcionário exemplar e, sobretudo, o sujeito que mais conhece aquele palco no Brasil. É figura de confiança de Bernie Ecclestone e de Tamas Rohonyi, organizador do GP do Brasil. Se Interlagos ainda existe, não é exagero nenhum afirmar que deve isso a Chico Rosa — à sua competência, ao seu conhecimento, ao respeito que desfruta de pilotos, donos de equipe, dirigentes, engenheiros, gestores públicos.
Como é que se manda embora alguém como Chico Rosa? Qual critério o presidente da SPTuris seguiu para dispensar seus serviços? Apenas salário? Olha, que me desculpem, nem sei quanto o Chico ganhava, mas certamente está longe, muito longe de resolver os problemas financeiros de qualquer empresa.
Não sei o que vai acontecer agora. Sei que gente importante está sabendo da demissão absurda. Gente muito importante, diga-se. Agora cabe ao prefeito Fernando Haddad — que, em última análise, é o chefe da SPTuris — corrigir a burrada. Revogar a demissão. Passar um pito no presidente da empresa. E recolocar Chico Rosa no posto que lhe cabe. De novo, não por caridade. Mas por merecimento e necessidade.
Interlagos sem Chico Rosa vai virar uma zona, terreno fértil para cagadas monumentais de gente que não entende nada de corridas, nem de autódromos.
Abrir mão de alguém como Chico Rosa é simplesmente uma estupidez.
SÃO PAULO(que bom, que bom!) – Está no forno “Eu queria ser Chico Landi”, um longa-metragem/documentário que vai contar a história de um dos principais pioneiros do automobilismo brasileiro, “herói de Emerson Fittipaldi e de tantos outros pilotos”, como diz o texto que acompanha o trailer acima. “Um filme inspirado na paixão de ‘Seu Chico’ por carros, mecânica e pela velocidade. Pilotos, mecânicos, jornalistas esportivos, amigos e familiares irão conduzir o filme por locações marcantes da trajetória do herói: o ambiente da oficina, o autódromo de Interlagos (São Paulo) e as cidades do Rio de Janeiro, Buenos Aires e Bari (Itália) que o consagraram como piloto em seus circuitos de rua.”
Estou dando uma força indireta aos seus realizadores, Paulo Pastorelo e Guga Landi. Pelo aperitivo, está na cara que vai ficar excepcional. Algumas imagens foram feitas com meu ídolo e mestre Miguel Crispim na oficina da LF, minha equipe de corridas. Muito orgulho de ver o Crispim participando. O cara é uma lenda viva. E nossa oficina é demais, que me desculpem as outras.
Aguardem novidades sobre o filme. Vou contar tudo aqui.
SÃO PAULO(mais um capítulo) – A novela dos motores da Red Bull teve mais um capítulo nos últimos dias e eu não tinha registrado aqui ainda, para vossos comentários. Lembram da aproximação com a Honda? Já era. A McLaren vetou.
SÃO PAULO (dia idem) – Leio agora que Maurizio Arrivabene andou falando mal da turma que brincou de dançar, andar de barco e simular competição de remo debaixo de chuva no pit lane, sábado em Austin. Tudo para que o público desse algumas risadas, sem carro na pista.
Com mau humor desnecessário, o chefe da Ferrari disse que “isso aqui não é um circo”. Raikkonen concordou.
Gente, qual o problema de se divertir? Vai caçar sapo, vai, Arrivabene.
SÃO PAULO (que dó) – Recebo e-mail com a foto do Felipe Garcia Gomes. “Desculpe pela foto, eu estava em um ônibus indo para a posição remota em que o avião estava, e me deparo com essa Kombi jogada fora em uma espécie de galpão da TAP. Já deve estar ali há um tempo, estava empoeirada e com um calço em uma das rodas.” Ô, dona TAP! Vamos dar um jeito na Velha Senhora? O aeroporto é o do Galeão, no Rio.
Não viram ontem ao vivo? Então vejam agora, porque o programa está espetacular. O cardápio, vasto: tricampeonato de Hamilton, a briga Márquez x Rossi, a abertura da Fórmula E… Apresentação de Victor Martins, com participação das lindas Juliana Tesser, Nathália de Vivo e do sorridente Gabriel Curty — além do Pedro Henrique Marum, direto do Rio. Vejam!
SÃO PAULO(faria o mesmo) – É o maior barato a história contada por Mauro César Reis e Lima no “Autoentusiastas”, dica do Mário César Buzanfan. Em 1995, em Belo Horizonte, larápios roubaram seu primeiro carro, um Gol 1988 preto. Inconformado, ele seguiu uma pista e foi buscá-lo de volta no Paraguai. Tem de ler. O texto é delicioso.
SÃO PAULO(olhem para isso) – No grid, 38 carros. Para guiá-los, 87 pilotos. Depois de quatro horas de corrida, 22 dos que largaram viram a quadriculada. Isso foi a Cascavel de Ouro, a prova de longa duração mais tradicional do Paraná, disputada domingo no oeste do Estado.
Não importa quem ganhou — mas se vocês tiverem muita curiosidade, o resultado está aqui. Em provas como essa, o que importa é entender o que aconteceu. E como aconteceu. E que tipo de sentimento essas corridas provocam (leiam o texto do comunista Luciano Monteiro aqui; escreve muito bem, o garoto, tanto que noto algumas referências literárias contrabandeadas numa frase ou outra).
Grid de 38 carros é coisa rara no Brasil. Com nove modelos diferentes, produzidos por seis fábricas, todos dentro do mesmo regulamento técnico, não existe, simplesmente. Estavam lá a Ford (Ka e Fiesta), a Fiat (Palio), a GM (Celta, Corsa e Classic), a VW (Gol), a Peugeot (207) e a Renault (Clio). Aí eu olho a foto lá embaixo, do Vandré Dubiela, e me pergunto: por que diabos não temos um verdadeiro campeonato de Marcas com a participação das montadoras no Brasil?
Esqueçam esse que hoje é chamado de Brasileiro Marcas. É legal, os carros se parecem com carros de verdade, mas a motorização é a mesma para todo mundo, custa caro, é quase proibitivo para a moçada que bota a mão no bolso para correr. Faz parte de um outro universo do automobilismo nacional, aquele que envolve pilotos e patrocinadores de alguma forma ligados à Stock, é outra história. Falo de algo parecido com o que havia nos anos 80 e 90 — Escort enfrentando Passat, encarando Chevette, desafiando Voyage, brigando com Uno.
Está cheio de fábrica de automóvel no Brasil. Todas elas têm modelos semelhantes, sejam com motores 1.0, sejam com motores 1.6. Fico imaginando um grid com todas elas — VW, Ford, Fiat, GM, Hyundai, Peugeot, Citroën, Renault, Honda, Toyota, Nissan, e devo estar esquecendo alguma. Regulamento simples, preparação limitada, torcidas nas arquibancadas (na Argentina é assim), modelos de rua identificáveis pelo público, TV, pilotos jovens e velhos, automobilismo de raiz.
É papel da CBA pensar nisso com seriedade. Dá para fazer. É só ter vontade. Dá trabalho. Mas é possível.
* O vídeo é uma dica do Paulo Peralta, do grande Bandeira Quadriculada. O moço ao volante, vocês já repararam, é Fritz d’Orey, 77 anos, brasileiro que disputou três GPs na F-1 em 1959 (um décimo na França, em Reims, foi o melhor resultado). O vídeo é do ano passado, na subida da Rampa do Caramulo, em Portugal. Está tudo explicadinho no blog do Peralta. Assim como lá está o perfil completo de D’Orey, lenda viva das pistas brasileiras e europeias.
SÃO PAULO(vão sentir saudades) – Preciso acabar isso logo, antes de chegar novembro. Depois, não terei tempo. Então, vamos à luta. Depois deste lote de perguntas da blogaiada, restarão apenas dois. Tentarei responder tudo amanhã e depois.
Hoje, dando uma rápida olhada, vi que os assuntos estão bons. Não que sejam muito diferentes, mas as perguntas estão bem elaboradas. Algumas, pelo menos. Lembro (sempre) que não edito as questões.
Lá no fim das respostas está o link para quem quiser ler as demais postagens da série. Então, sem mais delongas, vamos em frente. E comentem, canalhas! Vocês andam muito lerdos.
Ronaldo – O que você e o Seixas fizeram em Ímola??? RESPOSTA – Durante muitos anos, cobrimos o GP de San Marino. Faz tempo que não vamos para lá. Pena, era uma corrida legal. Eu sempre gostei do lugar.
Não sei o que fizemos em Imola, mas em Barcelona fomos jantar com Galvão, Miriam Dutra & cia.
Daniel Augusto – Minha pergunta é pessoal e profissional ao mesmo tempo. Nos tempos que você viajava para cobrir a F1, as emissoras de rádio, TV e jornais, davam hospedagem e diárias classe A ou essa conta é mais apertada e acaba-se tendo que gastar do próprio bolso? RESPOSTA – Isso depende de empresa para empresa. De maneira geral pode-se dizer que a Globo oferecia condições melhores aos seus profissionais, entre outras coisas porque o Galvão tem, por contrato, algumas regalias – como categoria de hotel, classe no avião etc. Pagar do bolso é maluquice, ninguém faz isso – aliás, hoje em dia faz, mas prefiro nem tocar no assunto porque não me diz respeito. Quando eu viajava, tinha uma diária da rádio, calculada em função dos gastos em cada país para hotel e alimentação. Dava tranquilo. Também tinha sempre verba para alugar carro, que era pago através de fatura de cartão. O tipo de acomodação também dependia do local da corrida. Tinha lugares em que era preciso alugar casas – Magny-Cours e Silverstone, por exemplo. Em outros, ficávamos em bons hotéis – Montreal, Melbourne, Sepang. Em outros, ainda, a gente procurava facilitar as coisas em função das distâncias para os autódromos – Nürburgring, Budapeste. Em Suzuka eu ficava na casa de amigos. Tudo depende da empresa e do esquema comercial que banca a cobertura. O que eu sempre fiz foi resolver tudo por conta, cuidando pessoalmente de passagens, reservas de hotéis etc. E é claro que havia alguns países mais caros que os outros. A verba para a Inglaterra não podia ser igual à da Hungria, porque os preços eram bem diferentes.
Fernando Passos – Flavio, espero que considere minha questão de forma respeitosa, pois te respeito bastante. Noto que sua visão política é de esquerda, a qual não sigo. Me aparenta que você expõe sua visão política de maneira apaixonada demais, como se torcesse por uma linha política assim como um fanático torce por um time de futebol, às vezes não respeitando quem tem visão diferente ou, simplesmente, não é de esquerda nem de direita. Você é realmente assim como eu o vejo? Caso realmente seja, não acha que isso pode atrapalhar sua vida (não em ser de esquerda, mas defendê-la cegamente)? Adoro seu trabalho e seu blog, mas passo reto por tópicos quando vêm assuntos políticos. Abraços e obrigado pela oportunidade. RESPOSTA – Sim, obviamente sou de esquerda, porque considero os valores daquilo que se chama de direita absolutamente desprezíveis. Basta dar uma olhada nos expoentes de cada corrente de pensamento político. A direita hoje tem Bolsonaro e Feliciano, por exemplo. Ou Reinaldo Azevedo, Lobão e Roger do Ultraje. Dá para pensar como esses caras sobre qualquer assunto? Dá para concordar com eles? Não, em hipótese alguma. Pessoas como essas eu não respeito, mesmo. E tendo a não respeitar quem compactua de suas ideias, ainda que parcialmente. Sim, sou apaixonado por aquilo que defendo. Qual é o mal nisso? Por que hoje, no Brasil, idiotas podem defender apaixonadamente pensamentos de direita e o mesmo não é aceito quando se trata de defender a esquerda? Por que tenho de achar legal imbecis hostilizarem políticos do PT em hospitais, restaurantes, aeroportos e livrarias? Isso é aceitável? Por que tenho de respeitar quem defende ideias homofóbicas, preconceituosas, racistas e segregacionistas? Você não vai encontrar defensores dessas aberrações entre aqueles que militam na esquerda. Mas encontra aos montes na direita. Só isso seria suficiente para abominar tal linha de pensamento político. Eu jamais dividiria a mesma passeata com um militar acusado de tortura e assassinato. Jamais vestiria a mesma camisa de um evangélico fundamentalista que não aceita que duas pessoas do mesmo sexo possam se amar e viver juntas. Tenho meus princípios, e um lado. Defendo-os com paixão, sim. E por que isso atrapalharia minha vida? Porque não rezo pela cartilha conservadora, reacionária, antiquada, elitista da direita brasileira? Sendo bem sincero, quero que a direita se foda. Não respeito a direita brasileira porque ela defende o indefensável. Simples.
Marcos – Certa vez você disse no Twitter que daria um tiro na cabeça se os simuladores e as competições virtuais tivessem futuramente um teor profissional. Com tantos bons exemplos, como GT Academy e eles sendo utilizados por diversos Coachs, por que você pensa isto? É desinformação ou realmente é contra? RESPOSTA – Talvez eu tenha exagerado, e esse programa da Nissan me desmente, de certa forma — acharam uns caras bons. Mas já falo dele. Antes, devo dizer que também acho exagerado afirmar que um cara que sabe brincar de videogame automaticamente será um bom piloto. Os simuladores são ótimos e cada vez mais precisos, mas não substituem a realidade. Voltando ao GT Academy (veja vídeo abaixo), eles selecionam gente entre 8 milhões de candidatos. Veja bem: 8 milhões. Se você pegar 8 milhões de advogados, provavelmente vai encontrar dois ou três que saibam pilotar carros, se tiver a chance de incluí-los num programa de aprendizado com tempo, professores e equipamento para tal. Se buscar caras capazes de guiar automóveis de corrida entre 8 milhões de engenheiros, também vai acabar achando dois ou três. O uso do PlayStation é apenas um ponto de partida para algo que vai além do videogame. Alguns desses selecionados se saem muito mal, inclusive, quando são colocados em carros de verdade. Outros se saem bem, já que são orientados por profissionais preparados. Talvez fossem bons se nunca tivessem jogado videogame, também. A única vantagem é que não partem do zero, chegam com algum conhecimento teórico de acerto de carro, noção de traçado etc. Videogame não é uma fábrica de talentos. Mas pode produzir alguns resultados. O que não significa que se você é o fodão do F-1 Plus Manager Mother Fucker será também capaz de sentar a bunda num carro de corrida de verdade e fazer o mesmo. No fundo, é um projeto de marketing muito bem-sucedido e com pouca chance de dar errado porque, de novo, se você usar um videogame para selecionar dois ou três entre 8 milhões, é bem provável que ensine esses dois ou três a pilotarem carros. Sejam eles atletas de videogame, garçons, jornalistas, arquitetos, analistas de sistema ou cozinheiros.
Rodrigo – Você se diverte malhando a F1 sem critério ou argumento sólido ou é só por sacanagem mesmo? RESPOSTA – Não entendi bem se é uma pergunta ou uma crítica. Eu me divirto escrevendo sobre Fórmula 1, seja para falar bem, seja para falar mal. Se meus argumentos não são sólidos, sugiro que leia outros colunistas, ou escreva para você mesmo.
Clóvis – Flávio, tua visão de jornalismo me motiva muito. Te pergunto se você pensa em lançar um livro em algum momento da tua vida, contado histórias pessoais. E segundo: Quantos carros você tem? E pra finalizar: O que você e Fábio Seixas fizeram em Ímola?? RESPOSTA – Já lancei um livro, “O Boto do Reno”, que pode ser encontrado em sebos virtuais. Eu tenho para vender, se quiser. Já falei dos carros. E já falei de Imola.
Márcio Rezende – Flávio, sou admirador do teu estilo de escrever e de seu modo de ver o mundo, Concordo em quase tudo com você. Mas queria saber se teu amor ao comunismo é realmente como demonstra ou não, porque acho muito utópico acreditar em um sistema em que todos tem que cumprir com usa obrigação pessoal para que o todo funcione. RESPOSTA – Nunca tinha lido uma definição de comunismo tão… diferente. Bem, já falei sobre minhas posições políticas várias vezes. É só procurar nas perguntas anteriores.
Raphael Paiva – Olá Flavio! Primeiramente, gostaria de parabenizar você por essa iniciativa… muito legal isso… Quanto à pergunta, acho que ela é um pouco polêmica… mas vamos lá… Lembro que certa vez você fez um post sobre a morte do Ayrton Senna detalhando fatos que ocorreram naquele dia… Se não estou enganado, foi nos 20 anos da morte dele… enfim… ao ler aquele post, me pareceu existir dois Flavio Gomes bem diferentes: um antes e um depois da morte do Senna. E é exatamente isso que me leva à pergunta. Após a morte do Senna você, de certa forma, mudou a maneira de encarar a fórmula 1, principalmente no que diz respeito à torcer por pilotos Brasileiros? Um grande abraço meu querido! RESPOSTA – Não, acho que sua impressão é falsa. Sou o mesmo de antes, no geral. “After changes upon changes we are more or less the same”. O episódio mudou o rumo de minha carreira profissional, mas não foi a única vez que minha carreira mudou de rumo. Depois disso aconteceu várias vezes, por motivos diversos. Portanto, não divido minha vida em a.S. e d.S., como muita gente faz, inclusive – e acho meio ridículo. No que diz respeito à minha visão da F-1, muito menos. Jamais torci para os pilotos brasileiros, nem para os alemães, ingleses, canadenses ou finlandeses. Não é minha função torcer. Só torço, de verdade, para a Portuguesa. O resto, em qualquer esporte, não me interessa. Não faz diferença se o campeão é jamaicano, chileno ou lituano. De verdade, para mim tanto faz. Torcer é para torcedor. O jornalista que torce distorce, se é que você me entende. Acho a torcida desmedida por brasileiros na imprensa nacional uma coisa vergonhosa e constrangedora. Soube que ontem no “Fantástico” o título de Hamilton foi tratado como uma façanha de um cara que “igualou Senna”. Blergh. Mas reconheço que é assim em alguns outros países, também. Itália, Espanha e na maioria da América Latina, por exemplo. E, da mesma forma, acho vergonhoso e constrangedor. Nosso papel, do jornalista, não é esse. O jornalista que torce demais é um mau jornalista. Porque ele passa ao leitor/ouvinte/telespectador uma visão distorcida da realidade. Desculpe a repetição dos verbos — torcer e distorcer –, mas é que eles são realmente necessários nessa discussão. Como não torço para ninguém, muito menos por razões nacionalistas, não distorço a realidade. Em resumo é isso.
Palmiro Togliatti, que dá nome à cidade da Lada
Romanista Ferrarista 46 – Olá Flavio! pelo que entendi, você conhece muito bem a Itália. 1) você sabe que a Fiat um papel fundamental na “motorização” da Russia, onde contruiu a fabrica da teve Lada (em Togliattigrad) que comercializou o Zhiguli (Fiat 124). Porque nunca menciona quando fala da Lada? 2) você é um jornalista muito bem sucedido, famoso e reconhecido no Brasil. Na Italia você teria um reconhecimento 10 vezes maior, pelo mesmo motivo pelo qual o Piquet tem um caminhão de amigos e admiradores na Itália, em proporção muito, muito, muito mais do que aqui. É só assistir um video dele numa entrevista com o Zermiani para identificar isto com clareza. Sobre o Piquet, mas principalmente sobre você, poderia “opinar sobre esta minha opinião”? Concorda ou não tem nada a ver? Grazie mille pela oportunidade! RESPOSTA – Sim, conheço bem a Itália e adoro o país. Sim, claro que sei que o projeto do nosso Laika é o mesmo do Fiat 124 que os italianos venderam para a URSS em troca de aço. Venderam inclusive maquinário e ferramental. Sim, claro que sei que Togliatti, a cidade onde foi instalada a Lada, recebeu esse nome em homenagem a importante dirigente comunista italiano, Palmiro Togliatti. A cidade, inclusive, não existia. Foi erguida para a instalação da fábrica. Mas não preciso falar disso toda vez que citar a Lada, preciso? Creio que é episódio bem conhecido de quem entende da história da indústria automobilística mundial. E a Lada melhorou bem o 124, diga-se. Sobre a segunda parte da pergunta, não sei bem o que dizer. Acho que tenho o reconhecimento que mereço, nem mais, nem menos. A realidade brasileira é diferente da italiana. Não é algo que me incomode – ser mais ou menos famoso. Eu ando na rua sem ser importunado, pego ônibus e metrô, tenho uma vida absolutamente normal. Ainda bem. Quanto ao Piquet, concordo que ele pode ser mais reconhecido na Itália do que aqui. Mas isso tem a ver com a cultura esportiva dos italianos, que é bem diferente da dos brasileiros.
Fernando – Flávio, tudo bem?? Não sei se já perguntaram aqui, mas lá vai: Porque você parou de correr com o Lada na Classic?? Você pretende voltar a correr com outro carro que não seja um Lada?? Pergunto isso, pois curtia muito as descrições suas de antes e depois das corridas, principalmente os vídeos. Curto muito seu trabalho. Grande abraço. RESPOSTA – Quando aposentei o Meianov, expliquei as razões neste post aqui. Não tenho resposta ainda para sua segunda pergunta. O campeonato mudou muito, o autódromo está funcionando precariamente, ainda não sei o que vou fazer.
DANIEL ROCHA MACHADO – Vc tem algo contra motovelocidade? poxa, coloca mais post sobre assunto.. Como esse mundo ta virando gay né? Um grande VIVA à homofobia! RESPOSTA – Absolutamente nada. Nenhum site dá tanto espaço para a MotoGP quando o Grande Prêmio. Temos uma jornalista que praticamente se dedica a isso com exclusividade. Mas não dá para falar de tudo. Nesta semana, por exemplo, o assunto esquentou com a briga Rossi x Márquez. E postei sobre isso. O fim de sua pergunta é de uma estupidez atroz. Publico apenas para que as pessoas saibam como você é idiota. Aproveito para informar que você será bloqueado no blog. Cretino.
Rafael Bilibio – Gomes, eu também trabalho com geração de conteúdo para internet e tenho muita curiosidade da estrutura do Grande Prêmio. Como está o mercado de publicidade para vocês na “crise”? Que tipo de receitas o GP arrecada, só publicidade ou algum outro tipo? Ao que você atribui o sucesso do GP (além é claro, da qualidade do conteúdo)? Suas receitas mensais vem mais como colaborador da Fox ou mais do GP? (Não o valor, mas o percentual)…São curiosidades de tenho de um segmento na qual me espelho muito em você. RESPOSTA – Não falo sobre dinheiro. Apenas digo que o Grande Prêmio passou por bons e maus momentos, e estamos nos virando. O sucesso decorre exclusivamente do trabalho que fazemos, que é sério e de qualidade. A equipe é muito boa.
Mateus Gomes – Além da F1, qual outra categoria do automobilismo ou motovelocidade vc acompanha de perto? Do tipo que acorda na madruga para ver a etapa do Japão por exemplo? Qual figura do jornalismo seja ele esportivo ou não, vc admira e/ou procura se espelhar? RESPOSTA – Acompanho tudo, uai. Sobre ídolos no jornalismo, acho que já respondi anteriormente. Não tenho muitos. Admiro em especial dois com quem trabalhei, Matinas Suzuki Jr., na “Folha”, e José Trajano, na ESPN Brasil.
Silvana Castro – Se vc não fosse jornalista vc faria o quê???? Se não fosse torcedor da Lusa torceria pra quem??? Quem são seus jornalistas preferidos??? E qual a matéria que gostaria de fazer??? RESPOSTA – Acho que gostaria de ser arquiteto. Se não fosse torcedor da Lusa, não gostaria de futebol. Já respondi, sobre jornalistas. Por fim, tem um monte de assunto que me interessa. Para não te deixar sem resposta, gostaria de fazer uma série de reportagens sobre o que chamo de “futebol de raiz” pelo Brasil. Fora do circuito dos grandes times, da Série A, das arenas, dessa merda toda.
Carlos – Qual um carro clássico que você gostaria de ter em sua coleção? RESPOSTA – Já respondi, não? Vários, mas se não me engano elegi um DKW F102 em pergunta anterior.
Marconi Lima Teixeira – Por que você acha o Galvão Bueno incomparável? Ele é ufanista demais? RESPOSTA – Onde eu disse “incomparável”? Acho o Galvão ótimo. Ufanista, sim. Mas quase todos narradores são.
Bruno – Se voce fosse um chefe de equipe de f1 e pudesse contratar qualquer piloto, de qualquer geração (morto ou vivo), quem vc conrataria para ser seu primeiro e segundo piloto e por que? RESPOSTA – De novo, acho que já respondi. E, salvo engano, elegi Gilles Villeneuve e Nelson Piquet.
Foto histórica do amigo Jorge Araújo no comício das Diretas na Sé, em 1984: um amador não faz isso
Harry BSB – O fotojornalismo está morrendo por causa do Iphone e demais celulares? O que vc acha de algumas empresas de comunicação que estão diminuindo a quantidade de fotojornalistas? O que vc acha de empresas de comunicação que estão obrigando os jornalistas a tirarem suas próprias fotografias? Sua empresa tem fotojornalista??? RESPOSTA – O ofício certamente sofreu algumas mudanças com a popularização das máquinas digitais e das câmeras nos celulares. Mas não acho que isso vai matar o fotojornalista. A foto jornalística demanda algum preparo, talento, noção da profissão. Não é todo mundo que sabe fazer uma foto boa. Acho que as empresas cometem um gigantesco equívoco ao dispensar os bons profissionais, que se assemelham a artistas em alguns casos. Conheci (e trabalhei com) vários. Excepcionais. Acho que usar os meios tecnológicos à disposição não é um pecado em si. Um jornalista de texto pode tirar uma foto, também. Não tem problema. Assim como um repórter fotográfico pode escrever um texto. Um não exclui o outro. Mas certamente uma foto de alguém mais experiente e preparado vai ficar melhor que uma foto tirada por alguém que é apenas um curioso no assunto. No Grande Prêmio usamos, sim, fotos tiradas por profissionais.
Marcelo – Comparação absurda! Não se compara cheiro de perfume com cheio de merda, e boca do Galvão é pura bosta, fede muito!!! Galvão é Chato, inconveniente, prepotente, arrogante e imbecíl! Sempre quer ser o dono da verdade, arruma confusão com todo mundo(se não for do jeito dele, ele frita o cara). No trabalho, o Gomes sempre foi extremamente profissional e ponderado nas palavras. Em termos de conhecimento esportivo, Flávio ganha de goleada! Gomes 10 x 1 Chatão *Leva 1 ponto por caridade!!! Gomes mostra a realidade, Galvão sempre quer mostrar um ‘mundo maravilhoso’ que não existe. Nunca o esportista brasileiro vai estar erraro. Ghatão é o eterno mau perdedor, e a pachecada vai na balada, o que não falta é mimimi quando perdem. RESPOSTA – Publico apenas porque jurei que ia publicar tudo. Não concordo com uma palavra que esse cara aí escreveu. Inclusive perdendo a chance de perguntar alguma coisa. É uma idiotice completa usar este espaço para ficar xingando os outros. Tonto.
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SÃO PAULO(muito bacana) – É impressionante o que as pessoas fazem com… papel! O blogueiro Pedro Perez me mandou esse presentinho. “Como tenho por hobby o modelismo em papel e a paixão por automobilismo, pensei em fazer meus heróis de infância. O processo de construção é lento e totalmente artesanal. Levo praticamente uma semana para finalizar um único piloto, mas a intenção é mostrar todos no blog Fábrica de Pilotos“, escreveu o artista numa carta simpaticíssima.
Agradeço de coração. O blog merece uma visita. Não sei se está fazendo para vender ou só para curtir, mas quem quiser entrar em contato com ele pode escrever na área de comentários de sua página para obter mais informações. O trabalho é muito bonito e merece todos os aplausos.
SÃO PAULO(tanta coisa…) – Bem, a poeira já baixou, as declarações pingam de um lado para o outro e mais uma vez fica claro que Rosberguinho está para Hamilton como Barrichello estava para Schumacher. Reclama de mais, faz de menos. Ambos bons pilotos, disso não há dúvida. Mas ambos condenados ao mesmo destino: estiveram (no caso de Nico, está) no lugar certo, na hora certa, mas com o cara errado como companheiro. Sempre, numa equipe, existe um melhor que o outro. Lewis é melhor que Rosberg, simples assim. Bem melhor, diga-se.
Mas o lance do boné foi desnecessário. É preciso respeitar os perdedores. Não sei o que vocês acharam. Eu achei que o inglês não precisava disso. Se Raikkonen jogasse um boné para Hamilton depois do GP do Brasil de 2007, ele ficaria puto, como Rosberguinho ficou.
Mas vamos ao resto.
- Ericsson x Nasr foi duelo que não passou em branco na equipe. A Sauber diz que vai conversar com os dois. Sinceramente, não dá para culpar Felipe II, que é um piloto limpo e, como estreante, não está na vibe de fazer bobagens para ganhar espaço. OK, conversem. Mas é bobagem iniciar uma inimizade por conta de um incidente comum em condições difíceis de pista. A Sauber, via Monisha Kaltenborn, disse que não ficou feliz com o resultado. Devia. Um nono lugar no 400º de sua história está de bom tamanho para aquilo que a equipe vem fazendo neste ano.
- Passou batido, mas vale registro. Bernie e Jean Todt (quem diria!) estão empenhados em inventar um novo motor para 2017. “Motor alternativo”, que possa ser comprado na banca da esquina. A configuração é parecida com os motores da Indy. A ver.
- Voltando à vaca fria de Austin e às queixas de Rosberg, o lance da largada é discutível. Hamilton exagera na agressividade quando a disputa é com o alemão. Parece que está sempre querendo testá-lo. Foi assim ontem. Eu, no lugar de Nico, deixava bater, um dia. Ou faria o mesmo, seria agressivo antes do outro. Ficar só reclamando, como fez depois da corrida, reforça a tese de que Hamilton não precisa ter medo do companheiro. E se Rosberguinho quiser um dia fazer frente ao inglês, precisa meter medo nele. Mostrar que se ele vier com graça, toma. Do jeito que as coisas andam, Hamilton já engoliu seu parceiro. A foto abaixo mostra o momento do toque.
- A respeito do toque, Toto Wolff percebeu que a maionese pode desandar de novo. Vai ter de chamar os dois para uma conversa séria. Mas eu chamaria Hamilton em particular e diria a ele: cara, não precisa ser assim.
- O pênalti para Sainz Jr. por excesso de velocidade no pit lane deu a Button o sexto lugar na corrida, sua melhor posição nesta temporada. Alonso, em compensação, perdeu o décimo lugar na última volta para Ricciardo. Mas disse que foi uma das melhores corridas de sua vida. “Eu estava mais de um minuto atrás do penúltimo colocado na segunda volta e consegui me recuperar até andar em quinto”, falou. Tem razão. Foi uma corridaça. No fim, perdeu potência por um problema provável na injeção de combustível. Foi uma pena.
- Já a Williams não teve muito a comemorar. Zerou de novo e os dois abandonaram com problemas semelhantes nos amortecedores. Chamem a Cofap.
- Alexander Rossi merece uma menção honrosa pelo 12º lugar com a Manor, igualando o melhor resultado do time neste ano. Apesar de ele ter batido no companheiro Stevens na largada. Acontece.
SÃO PAULO (ô, Nico…) – Hamilton tri. Dez vitórias no ano, 43 na carreira, título conquistado com três corridas de antecipação.
Num GP que compensou todas as agruras do público em Austin. Os torcedores americanos praticamente não viram treinos. Mas viram uma grande corrida. No balanço das horas, ficaram no lucro. Ainda viram a consagração de um campeão. Um tricampeão.
Alguém pode alegar que Rosberguinho bobeou no fim, que o campeonato poderia ficar aberto mais um pouco, pelo menos, que o alemão merecia vencer o GP dos EUA. Eu mesmo mentindo devo argumentar que isso é muito natural, Nico errar. Pouco, é verdade, mas quase sempre em momentos decisivos. E tanto faz onde o cara encerra a fatura. Era só uma questão de tempo.
Importante que a conquista tenha vindo em grande estilo numa prova muito boa, repleta de ultrapassagens e alternativas, com pista molhada e seca, com muitos pit stops, com vários abandonos, com disputas por posições e pontos até a última volta, com os aplausos para quem merece.
Rosberg estava com cara de bunda no pódio por culpa dele mesmo. Faltando sete voltas para o final, liderava com Hamilton em segundo, mas já sabendo que o inglês não tentaria nenhuma barbaridade desnecessária. Seus pneus eram quatro voltas mais velhos que os do inglês. Nico não teria problemas para vencer, recuperar um pouco da autoestima, buscar o vice com dignidade.
Mas deu uma escapada bisonha da pista, perdeu a ponta, teve de aguentar a tortura de ver o companheiro com seu sorriso brilhante no pódio, centro de todas as atenções. Poderia carimbar a faixa de Lewis com autoridade. Em vez disso, saiu de Austin como o pior dos derrotados.
A prova começou com pista molhada, todos de pneus intermediários, mas sem chuva, finalmente. Rosberguinho, na pole, largou mal depois de disputar, de novo, com Comandante Amilton, e chegou a cair para quinto na primeira volta. Toca daqui, esfrega dali, pedaços de carro ficaram espalhados pelo circuito e o safety-car virtual foi acionado — nesse período, há um tempo mínimo de volta que os pilotos podem fazer e as distâncias são mantidas. Foi na sétima volta que a pista foi liberada e Nico tratou de se recuperar, passou os dois Red Bull, foi atropelando, de repente estava em segundo de novo na décima volta.
No asfalto úmido, a Red Bull ia bem. Ricardão, na volta 13, passou seu companheiro e, logo depois, foi para cima de Rosberg. Assumiu o segundo lugar e na volta 15, ousadia das ousadias, passou Hamilton, também. Nico se animou e veio junto. A coisa ficou boa, como boa estava um pouco mais atrás, onde Verstappen acabava de passar Vettel pela sexta posição, levando o troco em seguida. Na volta 18, Rosberguinho partiu para o ataque ao companheiro mercêdico, passou, tomou e passou mais uma vez, e então Hamilton resolveu colocar pneus slick, na volta 19. Voltou em oitavo.
Foi a senha. Se o líder do campeonato resolveu fazer isso, os demais acharam por bem copiar — OK, tinha gente com slick na pista havia algum tempo, mas era a turma do segundo escalão, que tentava algo de diferente. Na volta 20, Kvyat, Ricciardo e Rosberg pararam. O australiano voltou em primeiro, seguido por Rosberg, pelo jovem soviético e por Hamilton. Todos com pneus para pista seca. Mas todo cuidado era pouco. Ainda havia pontos molhados. Raikkonen percebeu isso ao rodar, bater, arrancar uma placa de publicidade no peito para voltar aos boxes, trocar o bico e abandonar algumas voltas depois.
Os tempos de volta, que com pneus intermediários eram registrados na casa de 1min56s, caíram para a 1min48s. Os quatro primeiros andavam razoavelmente próximos, exceto Ricardão, coisa de 6s à frente. Na volta 21, Hamilton atacou Kvyat. Kvyat devolveu o ataque e passou de novo. E, então, Ricciardo escorregou no mesmo ponto em que Kimi bateu, perdeu toda a vantagem que tinha e na volta 22 Rosberg passou por ele como um foguete, assumindo a ponta. Hamilton fez o mesmo com Daniil e pulou para terceiro. Vettel fez o mesmo. Com a pista secando, os carros da Red Bull começaram a perder rendimento.
Foi na volta 25 que Hamilton colou em Ricciardo. Na 26ª, passou. Estava 8s atrás de seu companheiro prateado. Então, a barata de Sonyericsson quebrou no meio de uma retinha e o safety-car teve de entrar para que o Sauber pudesse ser removido. Nessa hora, 27ª volta, Vettel correu para os boxes e espetou pneus médios. Ideia: não parar mais. Sainz, Hülkenberg e Pérez, estrelas do segundo pelotão, fizeram o mesmo. Era uma aposta interessante. Os ponteiros, com pneus macios, não conseguiriam ir até o final com aquela borracha.
A relargada demorou, apenas na volta 33. Rosberg, Hamilton, Ricciardo e Kvyat eram os quatro primeiros, mas Vettel não especulou muito e foi para cima do jovem comunista, depois entubou o australiano, que devolveu a ultrapassagem, mas não resistiu muito. Na volta, 34, Tião Italiano já estava na escolta da dupla da Mercedes, sem ter de parar de novo para trocar pneus. Aparecia como candidato à vitória se nada de anormal acontecesse.
Mas sempre acontece. Na volta 36, Hülkenberg tentou passar Ricciardo, que em uma volta perdera a posição também para Verstappinho. Se tocaram, o carro da Force India ficou num lugar meio esquisito e tome safety-car virtual de novo. Todo mundo devagar, e Rosberg tomou a decisão de trocar os pneus mais uma vez, diante da ameaça de Vettel. Teria a chance de se recuperar contra o ferrarista com pneus médios, certamente. A dupla da Red Bull fez o mesmo. Nico voltou em quarto. Na volta 40, pista liberada, o alemão não perdeu tempo e passou Verstappen. Um pouco mais atrás brilhavam Button e Alonso, acreditem, em quinto e sexto.
Hamilton tinha 5s4 de vantagem para Vettel, o segundo colocado. Ambos com pneus velhos. Com a borracha nova, Rosberg virava 2s mais rápido. Sua decisão fora perfeita. Iria passar os dois. Na volta 42, passou por Tião. Lewis estava 6s à frente. Não iria conseguir se segurar muito tempo com aqueles pneus.
Um novo safety-car, com a batida de Kvyat na volta 43, permitiu que Hamilton trocasse seus pneus sem perder muito tempo. Vettel fez o mesmo para colocar macios. Ambos perderiam suas posições para Rosberg, mas não tinha outro jeito. A relargada veio na volta 47, e o platinado da Mercedes não deu chances a Hamilton. Vettel, rapidinho, passou Verstappen e reassumiu o terceiro lugar. Seria o pódio natural.
Só que na volta 49 Rosberg escapou numa curva besta e Hamilton pulou novamente para a liderança. E já era. Até o final da corrida, a ação ficou mesmo para a turma do não-estamos-nem-aí, com Button, Alonso, Nasr, Maldonado, Ricciardo e quem mais viesse para a festa ganhando uma posição aqui e outra ali. Vettel ainda chegou em Rosberg na penúltima volta, mas pelo menos isso Nico fez: não deixou passar, permitindo que o título ficasse matematicamente decidido.
Como se nota na tela acima, Alonso, nosso herói, não aguentou o tranco. Seu carro perdeu potência no fim e na última volta ele perdeu o pontinho do décimo lugar para Ricciardo. Quem não tem do que reclamar é a Sauber. Felipe II, com cinco pit stops, conseguiu salvar um excelente nono lugar. Maldanado em oitavo e Bonitton em sétimo também merecem nossos aplausos. Mas bem, mesmo, foram Sainz, o sexto, e Verstappen, o quarto — OK, incluam Pérez nisso, quinto colocado. É que o espanhol largou em último. E Max, com 18 anos recém-completados, mostra maturidade de veterano em todas as circunstâncias — inclusive em condições dificílimas como as deste fim de semana, sem tempo de treinar num circuito onde nunca tinha pisado antes. Na classificação final, por conta de um pênalti de 5s por excesso de velocidade nos boxes, Sainz acabou caindo para sétimo e Button herdou o sexto lugar. Um prêmio para a McLaren e para o inglês.
Hamilton é um gigantesco tricampeão, piloto que inscreve seu nome na história da F-1 com números incontestáveis. Junta-se a galeria bastante exclusiva, daqueles que ganharam três ou mais campeonatos: Schumacher (7), Fangio (5), Prost e Vettel (4) e Brabham, Stewart, Lauda, Piquet e Senna (3).
Entrevistado, vejam só, por Elton John no pódio, a primeira coisa que disse foi: “Não acredito que você está aqui!”. Gosto desse estilo. Hamilton é do tipo que reverencia ídolos — no esporte, na música, nas artes. Sabe que é um dos maiores de todos os tempos naquilo que faz, também. Mas mantém uma dose de humildade que todos deveriam ter, por melhor que sejam.
Parabéns, tricampeão. Mr. Dennis não errou quando identificou em você, lá atrás, ainda garotinho, alguém muito diferente. Por mais que muita gente não goste dele, é preciso reconhecer o olho clínico do velho Ron.
SÃO PAULO(nunca na história texana) – Gente, que corrida zicada. Depois de tudo que não aconteceu ontem, finalmente a turma foi para a pista na manhã de hoje, 9h locais, ainda com muita chuva e água demais na pista. Era preciso formar um grid, afinal, embora houvesse a possibilidade de largar com as posições do terceiro treino livre, realizado ontem em condições também ruins.
Elas não melhoraram no domingo. A chuva persistiu, ainda que não fosse uma tempestade que inviabilizasse o tráfego de automóveis. Dava para andar, tanto que andaram. Não estou entre os que defendem o cancelamento de corridas por causa de chuva, a não ser em casos realmente extremos. Deu para notar que estava difícil, mas não impossível.
Tanto foi assim que o Q1 rolou sem maiores problemas, exceto uma batida de Sainz Noção, que pediu desculpas à Toro Rosso pelo rádio. Sua rodada se deu mais por ter pisado na zebra molhada — pecado mortal em algumas pistas — do que por excesso de água na pista. O treino ficou parado por quase dez minutos e recomeçou sem grandes dramas.
Hamilton foi o primeiro a andar abaixo de 2min no Q1, com Ricardão por perto e o resto a mais de um segundo de distância — alguns a dois, três, quatro, uma eternidade. A pista começou a “melhorar”, entre aspas porque parece meio irônico falar em melhora com aquela quantidade de água, e no fim os tempos baixaram, lá na ponta, para a casa de 1min56s. Ricciardo ficou em primeiro, seguido por Rosberguinho, Comandante Amilton e K-Vyado. A Red Bull estava bem no molhado. Foram eliminados Sonyericsson, Felipe II (a Sauber termina o ano fraquinha, fraquinha…), Primo Rossi, Cat Stevens e Sainz Idade.
No Q2, a chuva apertou. Vários pilotos aquaplanaram no mesmo ponto, sem bater, porém. Marquei no bloquinho Vettel (esse, no Q1), Hamilton, Button e Hülkenberg. Raikkonen também deu uma pirueta, mas me pareceu em outro trecho. Rosberg ficou em primeiro, ainda na casa de 1min56s, mas com um tempo pior que o de Ricciardo um pouco antes. Para ser preciso: 1min56s495 no Q1 para o australiano rubro-taurino, 1min56s824 para o alemão mercêdico. Degolados: El Fodón de La Eliminición, Sapattos (que decepcionou), Grojã, Bonitton e Maldanado.
E ficamos esperando pelo Q3. Hamilton e Rosberg saíram dos boxes e pelo rádio o chefe gritou “stop, stop, stop!”, porque apareceu a mensagem na tela de que o início da última parte da sessão seria atrasado em cinco minutos. Havia uma picape com uma turbina no rabo assoprando a água para fora da pista. A chuva aumentou e o diabo da turbina, evidentemente, não adiantava nada. A distância, achei que dava para colocar dez carrinhos na pista por dez minutos para uma voltinha cada. Mas a direção de prova, não. O Q3 foi cancelado e o grid acabou sendo determinado pelas posições até o Q2.
Assim, Rosberguinho larga na pole pela quarta vez no ano (terceira seguida) e 19ª na carreira, com Hamilton em segundo, Ricciardo em terceiro e Kvyat em quarto. A ordem final do treino teve Tião Italiano em quinto, mas ele perderá posições por troca de motor. Então, atrás da dupla da Red Bull largam Pérez e Hülkenberg. Raikkonen também trocou de motor e foi para trás, e assim Massa ficou em sétimo, com Verstappinho em oitavo, Alonso em nono e Bottas em décimo.
A corrida é daqui a pouco, largada às 17h de Brasília. Com pista molhada, claro. A previsão era de que a chuva desse uma trégua, mas até secar esse negócio, depois de dois dias de água sem miséria, é certeza que o asfalto só vai secar daqui a uns dois meses. O Renan do Couto lembra aqui que foi a quarta vez na história que uma classificação teve de ser adiada para domingo. Mas em 2005 isso era regra, pelo menos até a sexta etapa do campeonato. Havia uma espécie de pré-classificação no sábado e a definição do grid no domingo de manhã. Ideia de jerico de Bernie Ecclestone que caiu antes da metade da temporada.
Vai ser divertido, esse GP dos EUA. Pena que a TV aberta não vai mostrar, mas faz parte. Minha aposta? Na chuva, o tiro mais certo seria cravar Hamilton. Mas sei lá por quê, estou achando (torcendo, na verdade) que vai dar uma surpresa monumental.
SÃO PAULO(olha…) – Antes da classificação para Austin, falemos rapidamente de Sepang. Que foi isso, Valentino? Chutar o adversário assim, na cara dura?
Dani Pedrosa venceu, com Lorenzo em segundo e Rossi em terceiro. O italiano lidera o campeonato com sete pontos de vantagem para seu companheiro de Yamaha — companheiro é modo de dizer, já que os dois viraram inimigos oficiais.
Il Dottore já foi punido pela MotoGP e vai largar em último em Valência, na prova que define o campeonato. É um certo prejuízo, claro, mas em provas de moto a chance de recuperação é bem maior do que com carros. A Yamaha achou a pena “severa demais”. Lorenzo considerou leve.
O fato é que o campeonato está pegando fogo faz algum tempo e agora atingiu seu maior ponto de fervura. Difícil imaginar o que a Yamaha fará ano que vem, com dois pilotos que se odeiam. Rossi, um sujeito afável e amado por todos — quan do falo “todos”, me refiro ao público, à imprensa e a alguns pilotos –, virou um vilão tardio, na reta final de sua carreira. Nunca foi considerado exatamente um piloto sujo, embora seus rivais ao longo dos anos torçam o nariz para algumas de suas atitudes — mas sempre achei que mais por inveja do que qualquer outra coisa.
No caso específico da Malásia, a impressão que tive foi que ele chutou Márquez, com quem vem se estranhando há algum tempo, acusando-o de ajudar o patrício Lorenzo na disputa do título. A Honda achou o mesmo. Vale se defende. Falou que o jovem espanhol estava jogando sujo, pior do que na Austrália, e que quis apenas dizer que “já era o bastante”. “Ele tocou na minha perda e eu tentei fazer com que ele perdesse tempo”, disse, bem puto dentro do macacão.
Sem avaliar o resto da corrida, aquilo que Rossi chama de já ter sido o bastante, e ficando apenas no lance da queda, a minha percepção foi a de que o italiano deu um bico em Márquez. A direção de prova teve a mesma impressão. Não acho legal chutar um rival. Claro que isso não significa que Rossi é um cafajeste, o maior bandido da história das duas rodas, que não merece ser campeão etc. Acho até que merece, renascido depois de anos ruins na Ducati. Pode ter sido apenas um momento de raiva, um desabafo em forma de pontapé, e no limite ele até pode ter tido suas razões.
Flavio Gomes é jornalista, dublê de piloto, escritor e professor de Jornalismo. Por atuar em jornais, revistas, rádio, TV e internet, se encaixa no perfil do que se convencionou chamar de multimídia. “Um multimídia de araque”, diz ele. “Porque no fundo eu faço a mesma coisa em todo lugar: falo e escrevo.” Sua carreira começou em 1982 no extinto jornal esportivo “Popular da Tarde”. Passou pela “Folha de S.Paulo”, revistas “Placar”, "Quatro Rodas Clássicos" e “ESPN”, rádios Cultura, USP, Jovem Pan, Bandeirantes, Eldorado-ESPN e Estadão ESPN — as duas últimas entre 2007 e 2012, quando a emissora foi extinta. Foi colunista e repórter do “Lance!” de 1997 a 2010. Sua agência Warm Up fez a cobertura do Mundial de F-1 para mais de 120 jornais entre 1995 e 2011. De 2005 a setembro de 2013 foi comentarista, apresentador e repórter da ESPN Brasil, apresentador e repórter da Rádio ESPN e da programação esportiva da rádio Capital AM de São Paulo. Em janeiro de 2014 passou a ser comentarista, repórter e apresentador dos canais Fox Sports no Brasil. Na internet, criou o site “Warm Up” em 1996, que passou a se chamar “Grande Prêmio” no final de 1999, quando iniciou parceria com o iG que terminou em 2012. Em março daquele ano, o site foi transferido para o portal MSN, da Microsoft, onde permaneceu até outubro de 2014. Na sequência, o "Grande Prêmio" passou a ser parceiro do UOL, maior portal da internet brasileira. Em novembro de 2015, voltou ao rádio para apresentar o "Esporte de Primeira" na Transamérica, onde ficou até o início de março de 2016. Em 2005, publicou “O Boto do Reno” pela editora LetraDelta. No final do mesmo ano, colocou este blog no ar. Desde 1992, escreve o anuário "AutoMotor Esporte", editado pelo global Reginaldo Leme. Ganhou quatro vezes o Prêmio Aceesp nas categorias repórter e apresentador de rádio e melhor blog esportivo. Tem também um romance publicado, "Dois cigarros", pela Gulliver (2018). É torcedor da Portuguesa, daqueles de arquibancada, e quando fala de carros começa sempre por sua verdadeira paixão: os DKWs e Volkswagens de sua pequena coleção, além de outras coisinhas fabricadas no Leste Europeu. É com eles que roda pelas ruas de São Paulo. Nas pistas, pilotou de 2003 a 2008 o intrépido DKW #96, que tinha até fã-clube (o carro, não o piloto). Por fim, tem uma estranha obsessão por veículos soviéticos. “A Lada foi a melhor marca que já passou pelo Brasil”, garante. Por isso, trocou, nas pistas, o DKW por um Laika batizado pelos blogueiros de "Meianov". O carrinho se aposentou no início de 2015, dando o lugar a um moderníssimo Voyage 1989.
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