TCHAU, SALINHA. FOI UM PRAZER

Por EVELYN GUIMARÃES*

Eu nem lembro direito a razão ou quando exatamente foi. Só sei que eu e uma grande amiga, a Celi, juntamos um dinheiro e fomos passear em São Paulo em um fim de semana qualquer. Era uma época divertida, só escola, nenhuma grande pretensão. A gente só queria conhecer bem a cidade e, especialmente, o Flavio Gomes, que meses antes havia nos ajudado com um trabalho sobre rádio e coberturas jornalísticas.

Saímos no ônibus das 23h de Curitiba. É claro que eu dormi a viagem inteira e a Celi, não. Coitada. Nunca conseguia dormir em viagens de ônibus. Chegamos cedinho em São Paulo e ficamos perambulando pelo centro e, depois, pela Paulista. Deslumbradas, confesso – acho que foi a primeira viagem totalmente paga por mim.

Perto da hora do almoço, a gente encontrou com o Flavio lá no prédio da Jovem Pan, em frente ao primeiro McDonald’s do Brasil (a gente comeu lá no fim da tarde). Quando ele abriu a porta do escritório, no conjunto 802, me chamaram a atenção os quadros, os jornais, as paredes coloridas e o computador preto na mesa dele, no fundo da sala. Sim, eu sentei na poltrona amarela. E lembro de ter pensado: ‘Nossa, não me importaria de trabalhar em um lugar como esse, em plena avenida Paulista ainda…’.

Por lá ficamos conversando por mais de uma hora, enquanto ia decorando o espaço e as coisas nele. Acho que fizemos tantas perguntas que o Flavio não via a hora de mandar a gente embora. Mas ele foi demais. Respondeu tudo com paciência, contou histórias das viagens, mostrou as credenciais, fotos e acabou com algumas ilusões também. Quando saí de lá, só fiquei imaginando se um dia voltaria.

Isso porque foi ali também, olhando os jornais na parede da salinha, que decidi que queria mesmo ser jornalista. Não necessariamente de automobilismo, mas jornalista. O tempo passou, a faculdade também, terminei a especialização. E aí surgiu a chance de enfim morar em São Paulo, que era algo que eu queria muito e desde muito tempo.

Depois de mudar para lá e de alguns ‘nãos’, veio a oportunidade de trabalhar no Grande Prêmio. E lá fui eu para o escritório na Paulista, em junho de 2007, para tentar uma vaga — mandei um e-mail no melhor estilo: ‘Ei, lembra de mim… ’.

O Flavio me chamou no escritório, que estava praticamente igual como na primeira visita, me fez fazer algumas notinhas com base em um release da BMW – ainda tenho os textos impressos em algum lugar. Poucos dias depois, eu já estava fazendo notinhas no site, sempre sob a avaliação do Victor. E fui ficando. Parecia algo natural, apenas.

Depois de algum tempo, começamos a ir mais ao escritório, que se tornou redação e agora virou salinha. Lá, fizemos planos, um sem número de notas,fechamos matérias importantes, montamos a revista, fizemos reuniões, rimos à beça, bebemos, comemos bolos e docinhos, avaliamos candidatos do Grande Estagiário. Fomos felizes, afinal.

Aprendi tudo sei desta profissão com o Flavio e com o Victor. Conheci Spa, Monza, Hungaroring, Hockenheim, Indianápolis. Cobri ‘in loco’ F1, Indy, MotoGP, Stock Car, F-E… Tudo por conta do trabalho que começou naquela salinha. Teve dias em que quis largar tudo e teve dias que nunca me orgulhei tanto de fazer parte do Grande Prêmio. Não mudaria nada. Nem a salinha. Só queria ter ido mais à redação, queria ter me despedido.

Mas me sinto agradecida por tudo que vivi lá dentro, pelo Flavio ter me deixado fazer parte desta história e por ter conquistado o direito de ter a chave da salinha. Então, só posso dizer que foi um prazer. Um grande prazer.

Adeus, salinha.

evelynesalinha* Na série de textos sobre a salinha na Paulista que foi sede da Warm Up por 20 anos, hoje é dia da Evelyn Guimarães, a Suprema — que ajudou o dono do site a comprar uma DKW Caiçara em 2001 e é uma das maiores descobertas deste site.

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Alexandre Santiago
Alexandre Santiago
7 anos atrás

Só uma correção Evelyn, a primeira loja de hamburguer do palhaço no Brasil foi no Rio de Janeiro.

Filipe
Filipe
7 anos atrás

Apenas uma pequena correção… O primeiro Mcdonald´s do Brasil foi inaugurado no Rio de Janeiro, mais precisamente em Copacabana, no de 1979.

A loja da Paulista foi a segunda, inaugurada em 1981.

João Ferreira
João Ferreira
7 anos atrás

Putz, não sabia que aquele Mcdonald era o primeiro do Brasil….

Marcelo Dalbelles
Marcelo Dalbelles
7 anos atrás

Acho que é de lei visitar a salinha do FG e comer no McDonalds ao lado do prédio, também fiz isso quando fui lá!

Luiz Carlos Cardoso
Luiz Carlos Cardoso
7 anos atrás

Muito legal deve ter sido a “salinha”
Só uma correção: o McDonalds da Paulista é o segundo do Brasil. O primeiro fica em Copacabana (http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/02/13/mcdonalds-faz-aniversario-de-35-anos-no-brasil.htm)
Abs Luiz

Issac Nemach
Issac Nemach
7 anos atrás

O primeiro Mc Donalds do Brasil fica no Rio de Janeiro, na Rua Hilário de Gouveia em Copacabana. tem até um plaquinha lá informando sobre isso.

http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2014/02/13/mcdonalds-faz-aniversario-de-35-anos-no-brasil.htm

Victor
Victor
7 anos atrás

Belíssimo texto de uma excelente reporter. Estou curtindo muito essa mudança de vocês.

Agora, vocês podiam parar de falar que o primeiro McDonald’s do Brasil é o da Paulista. Dois anos antes eles abriram em Copa.

DARCY VIEIRA FILHO
DARCY VIEIRA FILHO
7 anos atrás

Só uma correção prezada ..
primeiro McDonald’s do Brasil fica na rua Hilario de Gouveia em copa no Rio de Janeiro

Robertom
Robertom
7 anos atrás

Quando vi o título pensei que fosse algo sobre o Maurizio Sala…

Vinicius
Vinicius
7 anos atrás

Estou adorando estas histórias da salinha 802.
Sou formado em jornalismo pela Unesp e meu sonho sempre foi ser correspondente de Fórmula 1 para algum jornal. Desde adolescente eu e meu irmao brigavamos para ver quem iria ler primeiro o caderno de esportes da Folha. Nesta epoca, já fã de F1, não perdia uma coluna do Flavio Gomes. Quando tinha corrida então, não aguentava de ansiedade para ler o que o Gomes iria escrever no dia seguinte. E como eram fartas as coberturas! Me faziam sonhar com a carreira jornalística.
Mas o destino, a queda brusca no interesse do público pelo esporte a motor e a necessidade de trabalhar me separaram da profissão. Escolhi outro caminho em uma carreira mais fácil (afinal, após a morte de Senna, era um futuro obscuro para o jornalismo de esporte a motor), devido também em grande parte à grande pressão do meu pai para ganhar dinheiro logo na vida.
Hoje sou bem sucedido mas Infeliz na profissão. As vezes tenho vontade de largar tudo e começar do zero como jornalista de esporte a motor. E a minha grande inspiracão seria o Flavio Gomes (o melhor do país em jornalismo de esporte a motor) e sua equipe. Estas história da salinha 802, contadas aqui me inspiram mais ainda…. Quem sabe? Nunca é tarde para recomeçar. Pelo menos é o que diz o dito popular. Parabéns a todos deste site que entro diariamente para matar minha fome diaria por matérias sobre esporte a motor.

Luciano Balarotti
Luciano Balarotti
7 anos atrás

sem falar que a Evelyn é uma querida, em nada lembrando o estereótipo curitibano

Américo Teixeira Junior
Reply to  Luciano Balarotti
7 anos atrás

Não só QUERIDA. Ela é SUPREMA!!!