VENDE A MÃE (1)
SÃO PAULO (30 e contando) – Com tanta gente do Grande Prêmio trabalhando nesta cobertura, creio que ficarei apenas nas amenidades. O que é ótimo. Acabo sendo o observador de irrelevâncias. Como, por exemplo, da sagacidade do pessoal da segurança na entrada do autódromo. Faça-se a ressalva de que o trabalho é estressante e tem muita gente perturbando. Mas não deixa de ser engraçado. Apontei o automóvel devidamente credenciado no portão, um deles fez sinal para parar e o outro, que parecia ser o chefe, postou-se diante do carro e perguntou ao primeiro: “Ele vai onde?”.
Não sei se me tomou por estrangeiro, talvez tenha achado esquisito meu tipo físico, quiçá o próprio veículo, incomum. Mas aonde eu poderia estar indo? Pensei em dizer “almoçar”, me antecipando à nobre intenção do alcaide de transformar Interlagos num polo hoteleiro, gastronômico e turístico interplanetário. Ou, então, em sugerir que estava passando, notei a movimentação e resolvi parar para ver do que se tratava. Considerei a possibilidade de informar à distinta autoridade que este é o horário em que costumo vir fazer exercícios, correndo em volta daquilo que parece ser uma pista de corrida — apenas uma desconfiança.
[bannergoogle]Não disse nada, porém. O rapaz observou com perspicácia que minha credencial estava no pescoço e a viatura, por mais exótica que pudesse parecer, ostentava no para-brisa um adesivo verde chamativo onde se lia “car pass”, que pode ser traduzido como “carro passa”, se quisermos respeitar a ordem direta das palavras, sem preocupações com traduções desnecessárias, e ocultando sem grande cerimônia o pronome demonstrativo “este”.
O fato é que o carro passou, encontrei meu lugar no estacionamento e, pela 30ª vez nos útimos 30 anos, adentrei o recinto onde se realiza o GP do Brasil de Fórmula 1.
O autódromo está bonito e colorido, como de costume. Os tempos de voltas no primeiro treino livre foram registrados na casa de 1min09s, uma notável evolução em relação a 1990, quando este traçado foi usado pela primeira vez — Senna fez a pole na ocasião em 1min17s277, colocando 0s611 no segundo colocado, seu companheiro de McLaren Gerhard Berger, e 1s354 em Alain Prost, da Ferrari, seu grande rival à época, que ficou apenas em sexto no grid; sim, a F-1 já foi chatinha antes.
Almoçamos na Mercedes, um frugal pedaço de salmão grelhado com salada, de pé. A equipe gentilmente nos convidou para sentar fora do escritório climatizado, já que convidados mais ilustres eram esperados às diversas mesas, e debaixo do sol tivemos de comer de pé, pois as banquetas plásticas estavam quase derretendo de calor. Não foi um problema, o almoço foi rápido.
Pior, bem pior, foi na vizinha Ferrari, onde o café expresso pós-refeições é já uma tradição. Ao chegarmos diante do pequeno balcão onde a máquina italiana estava disposta, havia um funcionário da equipe que parecia operar o dispositivo. Pedimos, em bom e educado italiano. O rapaz, não sem alguma impaciência, disse que não poderia nos ajudar, pois era mecânico.
Se não sabe nem tirar café de uma máquina simples como essa, pensei, como vai mexer num carro de Fórmula 1, com toda sua sofisticação e tecnologia? Não à toa vossos carros vivem a quebrar, cogitei responder, tentado eu mesmo a ensinar ao rapaz como fazer: olha, enfia esta pequena cápsula aqui, aperte este botão e não esqueça de colocar uma xícara sob este pequeno bico, que lembra uma torneirinha, caso contrário o líquido cremoso e aromático se perderá.
Felizmente, pouco depois da negativa do mecânico, acorreu ao balcão uma simpática colaboradora da equipe aparentemente especializada no manuseio daquele aparato e extraiu os cafés solicitados.
Por enquanto, foi isso que aconteceu.
1 mês atrasado, mas não poderia deixar de dizer: escreva mais sendo esse “observador de irrelevâncias”, por favor!
Flávio, você tem um Warburg?!!! Dois tempos? Sou da Bulgária e já vi e andei muito neles. Mas ver um desses no Brasil eu nunca imaginei. Qual a história do carro? Já contou no blog?
Flavio,
Comento neste porque foi o primeiro da deliciosa “série” (Vende a Mãe), mas quero mesmo é responder à sua pergunta feita lá no final do segundo “episódio”…
— Será que alguém ainda se interessa por essas histórias?
— Claro que sim, rapaz!
Do título (irretocável) ao ponto final, histórias que nos fazem ansiar cada vez mais por um livro…
Valeu!
Certa vez encontrei FG e seus filhos na Cruzeiro do Sul com este carro, acho que tinha jogo da Lusa, fiz a incomoda pergunta no semáforo da CMTC: Que carro é este? Deve ser mesmo um saco ficar respondendo toda hora.
Fui no treino ontem. Achei que a Liberty Media traria alguma melhoria para o público, mas não. A G está a mesma várzea de sempre, pouca coisa pra comer/beber (a “Coca Cola” orgânica é das piores coisas que já bebi), nenhuma sombra (todo mundo escondido nas passarelas sob as arquibancadas), poucas lojinhas de souvenir. Na verdade, teve coisa que piorou, como o fim das fichas para comida/bebida (usa-se um pouco prático cartão que se carrega no caixa) e a arquibancada de madeira com um platô no meio onde as pessoas ficam de pé, atrapalhando todo mundo que está atrás. Tem que gostar muito de F1 pra aguentar!
Belo carro e texto.
Foi puro preconceito do pessoal da segurança contra a máquina de Eisenach.
Para dissipar tal comportamento recomendo uma 313/1 Sportwagen, pois não há viatura mais bela produzida na terra de Bach.
Excelente! Leitura ótima. O carro é lindo. O título VENDE A MÃE não poderia ser mais pertinente, a propósito, li hoje que a Justiça havia barrado o projeto de privatizar Interlagos. Caro escriba, ah se todas as amenidades sobre Fórmula 1 fossem assim tão bem escritas. Bravo!
Esse é um DKW – 1976, correto? mais velho que eu e mais conservado que eu kkkkkk
Cuidado pra não queimar a mão no volante na saída. Vai ferver ficando nesse sol.
Adorei o título!
E o barulho dos carros ó…(fazendo sinal de polegares para baixo)
Que tristeza, que broxante
Lindo carro. É o famoso entorta pescoço.
Vende a mãe!? Esse aí vende mesmo viu, só não entrega claro, afinal malandro é malandro né.
Imagina se por acaso Vettel vê este lindo remanescente da Alemanha oriental de bobeira ali no estacionamento…. Renderia um papo fácil, fácil.
Waltinho arrasador
Seria engraçada e expressão, se a mãe do prefeito já não tivesse falecido…
Não é para ser engraçado.
Gostei da placa do carro. É uma homenagem ao título estadual da Lusa de 76?
A Portuguesa não foi campeã em 1976. É apenas uma placa.
Desculpe minha ignorância, que carro é esse?
Está parecendo um fusca 4 portas.
o cara vendo este veiculo querendo adentrar o autodromo deve ter pensado oque esse cara com esse carro velho esta fazendo aqui afinal parece que fazem de proposito sõ contratam seguranças e manobristas ´que não sabem reconhecer um classico antigo
A placa do Lada tem algum significa especial, ou apenas um numero aleatório?
Por que teria?
Alex, não é um Lada…
Kkkkk… Muito bom, essa série vende a mãe com cobertura das amenidades, se seguir o primeiro episódio será muito engraçada e mais interessante que a corrida que não vai valer mais nada mesmo! Viva as amenidades hahaha
Faz referência à “brilhante idéia” de privatizar Interlagos. Mais uma das propostas medíocres do prefeito coxinha.
Que puta carro lindo. Não tinha visto ainda fotos desse carro no blog.
Nesse link ele relata uma viagem a Poços de Caldas com o Wartburg: http://flaviogomes.grandepremio.uol.com.br/2010/10/fumacazul-1/
Se não me engano esse carro é único no Brasil. É um charme mesmo.
Gerson, aos 5:10 desse vídeo aparece a mega raridade
https://www.youtube.com/watch?v=8IhgLF9jSgU
“Vende a Mãe”….não entendi, mas tudo bem! O conteúdo é bom de ser lido.
É bem fácil entender: basta dar um Google sobre as reportagens do nosso inestimado prefake acerca do Autódromo José Carlos Pace.
Uau! Como eu sou cool escrevendo “prefake”. No Face, no Insta e Youtube. Estou na moda!
Temos aqui um admirador do prefake? Se sim, dispensamos.
Simples: O “jestor” da pauliceia desvairada quer privatizar Interlagos.
Que carro bonito !