ALÁ MEU BOM ALÁ (3)

Max e Helmut: amigos leais

SÃO PAULO (bum!) – O que que tá acontecendo?

O processo de implosão da Red Bull parece em pleno andamento, apesar da paz que reina na pista quando Verstappen entra no carro.

Vamos lá.

Depois da classificação de hoje em Jedá, Helmut Marko, consultor da equipe e guru de Verstappen, deu uma entrevista à ORF, emissora austríaca. Lá pelas tantas, comentou que corre o risco de ser suspenso pela Red Bull porque haveria uma investigação interna (mais uma) para apurar se foi ele, Marko, quem vazou para a imprensa que havia outra investigação interna, esta a já conhecida que tem Christian Horner como pivô.

Diante do espanto geral, o repórter quis mais detalhes. “É uma possibilidade teórica, é difícil explicar, é uma situação complexa”, falou o veterano ex-piloto, que depois pediu “paz na equipe” diante de uma temporada “longa que tem mais 23 corridas”. Já há rumores de que ele pode não estar no paddock na Austrália.

E se isso acontecer?

Se isso acontecer, preparem-se. Porque Verstappen também deu entrevista depois de fazer a pole e jurou lealdade a Marko. “É importante que permaneça, minha lealdade a ele é total. É importante sua presença aqui para o que vou decidir sobre meu futuro. Sem ele aqui, acredito que teremos um problema também para mim, porque sempre confiei muito nele. Helmut precisa ficar, sim, com certeza.”

E aí?

Aí que Verstappen teria em seu contrato — e aqui uso no condicional, porque nunca vi nem verei esse contrato — uma cláusula que o liberaria da Red Bull se Marko sair. Acho difícil isso constar em contrato, mas vá lá. Ainda que não conste, ficou claro que se Marko sair Verstappen considera ir embora também. E se der na sua veneta, faz isso tendo ou não cláusula no contrato. O que não vai faltar é gente para pagar uma eventual multa.

Oi, Mercedes.

Há uma disputa escancarada, neste momento, entre a facção austríaca da equipe — à qual pertencem Marko, Verstappen e boa parte do time, que tem sede na Áustria e fábrica na Inglaterra — e o braço corporativo tailandês, pouco conhecido porque pouco aparece. Mas 51% da Red Bull pertencem à família de Chaleo Yoovidhya, o criador da bebida. E a turma da Tailândia curte Horner.

A história é conhecida, mas não custa lembrar, para que vocês entendam essa conexão tailandesa. Dietrich Mateschitz era diretor de marketing de uma marca de pasta de dente, estava na Tailândia sofrendo com o “jet lag” e tomou uma latinha de uma bebida chamada Krating Daeng (que até onde me lembro significa “bisão vermelho” ou algum outro chifrudo parecido; vermelho sei que é). Isso foi em 1984. Viu potencial naquele elixir, foi atrás do fabricante e conheceu Chaleo Yoovidhya. Fez uma sociedade com ele, levou a ideia para a Áustria e em 1987 lançou o Red Bull, a bebida que todos nós conhecemos. Ficou com 49% da empresa.

Mateschitz morreu em 2022. Os tailandeses da família Yoovidhya — o patriarca Chaleo morreu em 2012 — nunca se meteram muito nos negócios esportivos da Red Bull, mas agora parece que as coisas mudaram. É na proximidade com os asiáticos que Horner se escora para não perder o poder na equipe. É a Tailândia que tem sustentado o dirigente inglês, ainda que na corda bamba.

É importante sublinhar que quem está investigando as questões internas envolvendo Horner e, agora, Marko é a empresa Red Bull, e não a equipe. A empresa, como já explicado, pertence majoritariamente aos tailandeses. E aqui vai uma observação minha, eivada de maldade. Tailandeses não se importam muito com putaria — quem já foi para lá algumas vezes, como eu, sabe bem disso. Horner foi investigado por algo análogo e os advogados contratados pela empresa para investigar o caso rejeitaram a denúncia da funcionária da equipe. Pior, ela foi afastada do trabalho — embora essa informação careça de confirmação oficial. Liguem os pontos.

Agora, aparece essa outra investigação. Da Red Bull empresa, não da Red Bull equipe. Voltada para Helmut Marko, suspeito de vazar os podres de Horner para a imprensa. Marko que pode, aos 80 anos de idade, levar uma suspensão, como na escolinha. Algo que, convenhamos, soa meio ridículo.

No meio desse tiroteio está Verstappen. Que já escolheu um lado, isso ele já deixou evidente.

Respondendo à pergunta lá de cima, é isso que tá acontecendo. Jos Verstappen tem razão. A equipe corre o risco de implodir. E entre Horner e Verstappen, qualquer empresa sensata, ainda mais diante das denúncias contra o chefe do time, ficaria com o piloto.

Mas bom senso, ao que parece, está passando longe da Tailândia, neste momento.

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ALÁ MEU BOM ALÁ (2)

Bearman: chance de estreia caiu no colo

SÃO PAULO (virado pra lua) – A sexta-feira que definiu o grid para o GP da Arábia Saudita pelo menos teve uma novidade. A pole ficou com Max Verstappen, ele vai ganhar e blá-blá-blá. Mas o holandês não foi o principal personagem do dia em Jedá.

Por volta das 13h30 locais, o inglês Oliver Bearman foi avisado pela Ferrari de que seu macacão de piloto reserva estava limpinho e passado e que ele não iria mais largar na pole para a corrida de F-2 de amanhã. Como os dois primeiros reservas da equipe italiana – Antonio Giovinazzi e Robert Shwartzman – não estavam no país, sobrou para o garoto de 18 anos a missão de correr no lugar de Carlos Sainz, que teve uma crise de apendicite e foi operado hoje mesmo.

“Sobrou” é modo de falar. Na verdade, foi um presente que caiu no colo do menino. Estrear na F-1 com 18 aninhos (faz 19 em maio) e numa Ferrari? É, e mais sonho do que missão.

E ele não decepcionou. Foi para o último treino livre antes do GP, andou bastante (22 voltas), fez bons tempos, não cometeu erros e terminou a sessão em décimo. Bearman, piloto da Prema, uma equipe de F-2 associada à Ferrari, está em seu segundo ano na categoria. Em 2023, ficou em sexto no campeonato e ganhou quatro corridas: duas em Baku, uma em Barcelona e outra em Monza.

Quando foi para a pista hoje, tinha na memória a volta de 1min42s217 que havia feito com o carro da F-2 para conseguir a pole. Com um F-1, teria de andar algo entre 10 e 15s mais rápido. Não é uma adaptação fácil, ainda mais quando se considera a dificuldade de lidar com um carro tão diferente, a pressão sobre ombros – é uma Ferrari –, a ansiedade, a infinidade de coisas para aprender em pouco tempo.

Querem saber? Foi bem pra cacete, falando português bem claro. Vai largar em 11º amanhã. No intervalo entre o treino livre e a classificação, o jovem britânico se reuniu com os engenheiros e teve um curso intensivo de F-1. Não deve nem ter feito um lanche. Absorveu o que dava. E foi à luta.

Na hora em que os boxes foram abertos para a definição do grid da segunda etapa do Mundial, o primeiro a ir para a pista foi justamente Bearman, que tinha dado apenas uma volta com pneus macios no final do treino livre, quando a pista foi reaberta após o resgate do carro de Zhou – o chinês bateu forte quando faltavam 17 minutos para o fim da sessão. Era preciso dar quilometragem para o guri.

Alonso: vai forte para a corrida

A Aston Martin, que fechou a quinta-feira na frente com Alonso, mostrou de cara que tinha um bom carro para Jedá. Ele e seu companheiro Stroll abriram o Q1 em primeiro e segundo, com o espanhol já entrando na casa de 1min28s. Depois Leclerc se colocou entre os dois.

Bearman não foi muito bem em sua primeira tentativa, ficando mais de 1s atrás dos ponteiros. Mas a Ferrari o colocou na pista de novo sem enrolar muito e o garoto subiu para quarto. Detalhe: àquela altura, à frente de Leclerc, já que a McLaren colocou sua dupla em primeiro e segundo.

Aí foi a vez de a Red Bull apresentar suas armas, que geralmente ficam guardadinhas num armário durante os treinos livres. Verstappen, de primeira, foi para a ponta com 1min28s491. Leclerc também melhorou e colocou a Ferrari a 0s177 do tricampeão. Depois apertou ainda mais o pé em nova tentativa, assumindo a liderança com 1min28s318.

Faltando dois minutos para o fim do Q1, Zhou conseguiu ir para a pista. A Sauber teve muito trabalho para consertar seu carro, mas não tem milagre nesse negócio. Sem tempo para abrir uma volta, o chinês acabou ficando em último no grid. Foram eliminados com ele Bottas, Ocon, Gasly e Sargeant. É a segunda vez em duas corridas que os dois carros da Alpine empacam no Q1. A crise é braba.

Lá na frente, Verstappen voltou a superar Leclerc – a briga pela pole parecia destinada aos dois – e Stroll ainda subiu para o segundo lugar, 0s079 atrás de Max. Bearman fechou a primeira parte da primeira classificação de sua vida na F-1 em nono. Não foi ruim, não. Muito pelo contrário. Avançou ao Q2 sem grandes sustos.

O Q2 começou, mas logo no início o carro de Hülkenberg quebrou e a direção de prova teve de parar a sessão para remover a viatura. Faltavam 10min58s para o final. Os tempos, até ali, não eram lá muito representativos. Apenas quatro pilotos tinham fechado voltas.

A retomada foi rápida. Todos voltaram à pista – com a óbvia exceção do alemão da Haas – e foram à luta. Verstappen virou 1min28s078 e trouxe Alonso com ele, a 0s044. Pérez, o terceiro, estava longe pacas, 0s461 atrás do companheiro. Bearman tinha cometido um erro em sua primeira volta e abortou a tentativa. Passar ao Q3 era sua meta. Ambiciosa para um estreante, claro, mas factível para quem tem uma Ferrari nas mãos.

Pena que não deu. E, convenhamos, seria uma façanha e tanto na primeira classificação da vida entre os adultos se colocar entre os dez primeiros. O resultado final para ele ficou de bom tamanho. Acabou em 11º, a 0s036 do décimo. Albon, Magnussen, Ricciardo e Hulk foram eliminados junto com ele. Pediu desculpas pelo rádio. Nem precisava. A equipe o aplaudiu quando ele chegou aos boxes.

Tsunoda: na frente de Ricciardo

Na briga dos grandões, Verstappen, Leclerc e Alonso fecharam o Q2 nas três primeiras posições, separados por meros 0s089. O tempo final de Max: 1min28s033. A destacar: Tsunoda enfiando tempo em Ricciardo e passando ao Q3 e as reclamações de Hamilton. Que têm sido recorrentes: traseira solta, instável, sem aderência. Vai ser um ano de resiliência e fastio, o último do inglês na Mercedes. O carro não é bom. De novo.

Um duelo Verstappen x Leclerc pela pole era o que se esperava no Q3. Mas não aconteceu, tamanha a superioridade do #1 da Red Bull. Charlinho foi o primeiro a abrir volta, mas tirou o pé de repente. “Tentamos uma coisa que não deu certo”, explicou. A Red Bull acionou seu modo “destruir a concorrência” e os dois pilotos entraram na casa de 1min27s em suas primeiras tentativas. Max fez 1min27s472. Pérez ficou 0s335 atrás. Deu até pena dos rivais. Leclerc fechou sua primeira volta a 0s800 do holandês e se colocou em quarto. Reclamou que seu carro, com pneus novos, ficou “estranho”. Alonso também não fez milagre e ficou a 0s514 do líder, em terceiro.

O grid em Jedá: 34 poles para Verstappen, a primeira dele no circuito

A pole de Verstappen estava garantida. Ninguém conseguiria baixar seu tempo. Nem ele, diga-se; mas, aí, porque não carecia, mesmo. Leclerc até tentou, subiu para segundo, mas ficou 0s319 atrás. Pelo menos desbancou Pérez, que caiu para terceiro. Alonso melhorou um pouco e ficou em quarto, a 0s374 da pole. Piastri, Norris, Russell, Hamilton, Tsunoda e Stroll (que fez um tempo horrível, 1s1 pior que a pole) fecharam a turma dos dez primeiros no grid.

São 34 poles agora na carreira de Verstappen, que se isola na quinta colocação das estatísticas, deixando Jim Clark e Alain Prost para trás. À frente dele estão Hamilton (104), Schumacher (68), Senna (65) e Vettel (57). Amanhã vai passear pela Corniche, palavra francesa que está sendo usada para nomear a pista de Jedá. Corniche em francês é outra coisa, está mais para estrada ladeada por montanhas e penhascos, mas serve, vá lá, para vias litorâneas — o que a gente chama de orla. Seja como for, na orla ou na Corniche, o holandês não deve ter nenhuma dificuldade para vencer a prova. Seu ritmo de corrida é muito forte. É prova para apenas uma parada, se nada de anormal acontecer.

Resumindo, não esperem muito desse GP da Arábia Saudita.

TUDO DOMINADO – Vocês leram aqui ontem, e em vários outros lugares, que hoje a Audi iria anunciar a conclusão da negociação de compra da Sauber, adquirindo 100% de suas ações. Pois foi o que aconteceu. A equipe muda de nome em 2026 para Audi F1 Team. O anúncio foi feito por Gernot Döllner, CEO da montadora alemã. Oliver Hoffmann será nomeado como comandante geral da operação das quatro argolas na categoria, com uma atuação forte na fábrica de motores em Neuburg, e Andreas Seidl, que já está na Sauber, será o CEO da equipe.

DE QUEM É? – A Sauber hoje pertence a um fundo de investimento chamado Islero Investments, que por sua vez é de propriedade do milionário sueco Finn Rausing. Hoffmann passará a presidir o conselho de administração de todas as empresas do Grupo Sauber. Não vai aparecer tanto quanto Seidl, que será “a cara da Audi” na F-1. Mas tem experiência na área. Sob sua gestão, a Audi ganhou bastante coisa no DTM, na Fórmula E e, recentemente, venceu o Dakar com um jipe elétrico conduzido por Carlos Sainz, o pai.

QUEM SERÁ? – Agora, a única coisa que resta a seber é: quem vai pilotar os carros do novo time alemão? É a pergunta de um milhão de dólares, e minha resposta é: não sei. Mas tenho alguns palpites. Acho que Sainz, o filho, esse da Ferrari que todos conhecemos, será um deles. E não se espantem se Zhou continuar. A China é o principal mercado global da Audi.

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SUDERJ INFORMA

Bearman: o mais jovem ferrarista

SÃO PAULO (uau!) – A Ferrari informa: sai Carlos Sainz, entra Oliver Bearman em Jedá! Pole-position para a prova principal da F-2 pela Prema, o britânico de apenas 18 anos (faz 19 em maio) substitui o espanhol, que foi diagnosticado com apendicite e terá de ser operado.

Bearman será o 776º piloto a largar num GP de F-1 e o 97º a vestir o macacão de Maranello em corrida. O mais jovem ferrarista de todos os tempos. Desde o início do ano ele é piloto reserva da equipe italiana e também da Haas.

Bearman estreou na F-2 no ano passado e, embora não tenha lutado pelo título, venceu quatro corridas. Participou de dois treinos livres na F-1 pela Haas, no México e em Abu Dhabi. Por conta da escalação de última hora, Bearman não participará das demais atividades da F-2 na Arábia Saudita.

É uma fogueira? É. Mas qualquer piloto do mundo queria estar queimando nela agora.

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ALÁ MEU BOM ALÁ (1)

Alonso, o mais rápido da quinta: em segundo plano

SÃO PAULO (alalaô) – Começamos por onde? Pelo melhor tempo do Alonso, fechando a noite saudita em primeirão, para alegria da Aramco, dos camelos, de Maomé e dos xeiques?

(“Xeique” é forma aceita na língua portuguesa para “sheik”; pode-se usar “xeque”, também, mas aí me lembro de meus cheques pré-datados, dos quais morro de saudades, e bate uma nostalgia…)

Não, foi só uma quinta-feira. Nem sexta, foi só uma reles quinta, mesmo. Como no Bahrein, em função do início do Ramadã no domingo, o GP da Arábia Saudita, em Jedá, será no sábado. Assim, os treinos começaram hoje, num dia em que ninguém diz “quintou”, como se fala “sextou”.

Amanhã as coisas clareiam e Alonso não fará a pole. Uma pena, porque se fizesse teríamos notícia. Mas não fará.

E como diria o apresentador das notas do caranaval do Rio, Jorge Perlingeiro, eis os tempos!

Eis os tempos: Verstappen em terceiro, mas só pensa na corrida

O que realmente importou nas duas sessões de treinos livres de hoje foi ver o ritmo de corrida de Verstappen com pneus médios. Principalmente à noite, porque a prova será noturna. Ritmo que impressionou a concorrência e indica que ele vai ganhar de novo, se não bater na classificação amanhã como fez no ano passado — a vitória, numa corrida bem chatinha, foi de Sergio Pérez, que só não saiu de Jedá liderando o campeonato porque Max fez a volta mais rápida.

O holandês foi o melhor no primeiro e quase inútil treino sob a luz do sol andando na casa de 1min29s, mas os tempos baixaram bem no segundo, com os pneus macios tirando quase 1s por volta dos médios. Alonso fechou a noite com 1min28s827, 0s230 à frente de Russell, o segundo. Verstappen ficou em terceiro.

A segunda sessão atrasou dez minutos porque alguém notou uma tampa de bueiro solta em frente aos boxes e tiveram de verificar todas ao longo dos mais de 6 km do circuito. As tampas de bueiro têm sido protagonistas na F-1 desde Las Vegas no ano passado. Em homenagem a elas, segue abaixo um pequeno ensaio fotográfico.

Como vocês devem ter notado, a última foto destoa um pouco das duas primeiras. Um pouco de maldade da parte deste escriba.

Falo de Christian Horner e dos últimos desdobramentos do caso envolvendo o chefe da Red Bull. Ele foi convocado para a coletiva dos dirigentes hoje e, claro, só fizeram perguntas ao cidadão. Os outros três nada disseram. Resumindo a ópera bufa, que é a grande atração deste início de temporada, Horner disse que não poderia dar detalhe nenhum envolvendo as investigações sobre seu comportamento inadequado “em respeito à empresa e, claro, à outra parte”, que têm de ser preservados. “É assim em qualquer organização”, justificou.

Ele, no entanto, não tem sido muito preservado. Por isso, falou que está na hora de colocar um ponto final no assunto porque a Red Bull rejeitou as denúncias da “outra parte”, que sua família — mulher e três filhos — está sofrendo muito, que é hora de “olhar para a frente e manter o foco nas corridas e na equipe” e que tem gente na F-1 “querendo se beneficiar da situação” num ambiente muito competitivo que “nessas horas mostra que não é lá muito bonito”.

Até aí, mais do mesmo. A notícia do dia, de verdade, foi publicada pela imprensa inglesa, BBC à frente. A “outra parte”, identificada como uma mulher, teria sido suspensa de suas funções na Red Bull depois que o advogado contratado para conduzir as investigações “inocentou” Horner. A empresa não confirmou — alegou que não comenta questões internas. O “The Race”, site bem informado que acompanha a F-1, apurou que as denúncias teriam traços de “desonestidade” por parte de quem acusou o dirigente. Não estou desqualificando as acusações, por óbvio — até por desconhecê-las. Estou apenas noticiando um fato.

Horner também comentou os boatos sobre o interesse da Mercedes em Verstappen. Falou que o piloto “vai cumprir” seu contrato até o fim de 2028 e que se acertou com seu pai, Jos Verstappen — que no domingo disse que a Red Bull vai “explodir” se ele permanecer no cargo. Se nada de extraordinário acontecer nos próximos dias, como algum novo vazamento de prints de supostas conversas por WhatsApp, a partir de amanhã o caso sai da pauta para voltar à ordem do dia apenas depois da corrida de sábado.

Vamos a umas caixinhas?

Max: “Meu pai não é mentiroso”

BOB FILHO – Previsivelmente, nas sessões de entrevistas de que participou Verstappen foi questionado sobre Mercedes, Horner, contrato, Helmut Marko, papai etc. O que disse: que está feliz na Red Bull, não se vê em outra equipe (“Mas Hamilton também não se via”, ressalvou) e que tudo, no fim das contas, diz respeito a ter um carro competitivo. Ou, como se diz hoje, “é sobre” carro. Quanto às declarações de Jos, foi econômico e, de certa forma, enigmático: “Meu pai não é um mentiroso”.

LIVRE E SOLTO – A novela vai longe, e será alimentada pelos envolvidos que certamente se divertem jogando milho aos pombos. Marko, por exemplo, comentou um boato publicado na imprensa europeia, de que Max teria uma cláusula permitindo romper seu contrato com a Red Bull se o veterano consultor deixar a equipe. Ele não confirmou, nem negou. Apenas disse que “não vai atrapalhar” o caminho do jovem piloto.

MARTELO BATIDO – Deve ser oficializada hoje a compra de 100% da Sauber pela Audi, que ingressa no Mundial de F-1 de 2026 com equipe própria. Em janeiro de 2023 a montadora alemã comprou 25% das ações do time suíço e pretendia adquirir mais 25% neste ano e outros 25% em 2025, para chegar ao controle de 75% da organização. Decidiu arrematar o lote todo, acabando de vez com as bobagens de redes sociais — “ai, mudou o chefe de oficina da concessionária aqui perto de casa, é sinal de que a Audi está desistindo da F-1, aaaaahhhh maluco!”, dizem e escrevem os influencers.

QUEM VEM? – Claro que não foi por causa dos “produtores de conteúdo” que a casa de Ingolstadt resolveu comprar tudo. É decisão corporativa, no fim isso aconteceria cedo ou tarde, para assumir toda a operação. O futuro dos homens que atualmente vestem verde e preto, clones da torcida do América Mineiro, é incerto a partir de agora. Vão todos tentar salvar o emprego, enquanto a Audi terá dois anos inteiros para moldar o que hoje é Sauber à sua filosofia de trabalho, produção e competição.

O ÚLTIMO APAGA – Depois de substituir sua cúpula técnica na semana passada, logo após o fracasso no Bahrein, a Alpine perdeu mais um nome importante na sua estrutura: o veterano Bob Bell, 66 anos, que deixou o cargo de diretor-técnico da Renault (dona da equipe). Bell foi um dos principais dirigentes da equipe francesa nos tempos de Schumacher & companhia bela. Vai para a Aston Martin.

PERIGO-PERIGO – É o que diria o robô de “Perdidos no Espaço” ao Dr. Smith se tivesse de correr nessa porcaria de pista de Jedá. A quantidade de curvas cegas é uma ameaça a qualquer piloto nessa pista de rua que não é de rua coisa nenhuma, pois as ruas onde se corre não existiam como ruas antes de inventarem esse GP (e vai piorar em 2028, como vocês viram no último post). Hoje quase deu uma merda federal com Sargeant e Hamilton (vejam o vídeo aqui). A Mercedes não avisou que o americano estava em volta rápida, Lewis foi desviar de uma Ferrari e quase que o menino foi pra lá de Bagdá. A equipe foi multada em 15 mil euros.

Sargeant quase bate em Hamilton: pista absurda

ENFIEM OS MUROS – O fato é que essas velocidades numa pista estreita com muros colados não faz nenhum sentido. É diferente de correr em Mônaco, onde as médias são infinitamente inferiores. No ano passado, a melhor volta de Max Verstappen no GP da Arábia Saudita teve média superior aos 241 km/h — quase a mesma de Monza, que foi de 245 km/h em 2023, de Piastri. Hamilton, que fez a melhor volta em Monte Carlo na última temporada, teve a média de 158 km/h. Esse circuito é uma irresponsabilidade.

E é isso. Abaixo, a programação do fim de semana com os horários das atividades e também do meu canal iutúbico. Espero vocês lá às 19h.

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O EXAGERO

SÃO PAULO (respirem) – Eis o circuito de Qiddiya, que segundo o governo da Arábia Saudita será construído numa cidade que ainda não existe e que pretende ser uma espécie de Las Vegas das arábias. O país sabe que em algum momento seu petróleo acaba e que o planeta está trabalhando para substituí-lo por outras fontes de energia. Resolveu investir em eventos esportivos e culturais, jogatina, hotelaria vinte estrelas, cidades nababescas, projetos mirabolantes, limpar a barra de sua cultura autoritária, misógina e homofóbica, uma loucura total.

Num mundo pobre e miserável, em que gente morre de fome e se mata ali do lado, acho tudo isso uma barbaridade. Mas às vezes fico me perguntando… Daqui a mil anos alguém vai encontrar as ruínas dessa coisa aí e dizer: oh, como os antigos faziam obras grandiosas! Talvez eu fosse contra o Coliseu se vivesse há dois mil anos. Quem esse Vespasiano acha que é? Imperialista de merda!

Hoje vejo e fico admirado. Por isso, não sei bem o que pensar desse negócio.

A pista foi imaginada por Hermann Tilke e Alexander Wurz, ele mesmo. É para ser sede do GP da Arábia Saudita a partir de 2028, no lugar de Jedá. Tem uma curva elevada a 70 metros de altura, numa espécie de viaduto, que passa sobre uma área de shows ou algo do gênero. É um projeto sem pé nem cabeça, que se inspira em videogames. Aliás, a cidade toda se parece com um videogame.

Acho que sei, sim, o que pensar desse negócio.

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ÁLBUM (SOBRE RODAS) DE FAMÍLIA

E agora? Quem foi que me mandou? E agora? Que Corcel é esse?

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ENCHE O TANQUE

SÃO PAULO (vá lá…) – Me mandaram pelo Twitter. Na Dinamarca, uma empresa está projetando e construindo estações de carregamento para carros elétricos com a estética de antigos postos de gasolina. Tudo com materiais que não agridem o meio ambiente e tal. Aqui tem mais fotos.

O que eu acho? Bonitos. Mas nunca serão!

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DICA DO DIA

SÃO PAULO (loucura, loucura!) – Diz a lenda que em 1980 algum passarinho contou a alguém na Williams que alguma equipe estava testando um carro sem… suspensão! E que seria muito rápido. A ideia, conceitualmente, era manter o carro a uma distância constante do chão o tempo todo. Conceito que, do ponto de vista aerodinâmico, fazia todo sentido — anos depois, com o desenvolvimento das suspensões ativas, chegou-se a algo assim.

Alan Jones foi o piloto escolhido. Previsivelmente, achou uma merda. Para fazer o teste, a Williams sacou as molas das suspensões do carro. “Se pudessem colocar uma suspensão no meu banco, pelo menos…”, falou o australiano, acrescentando que aquele troço iria quebrar seus ossos de tanto que pulava. O carro, duro que nem pedra, arrebentou a caixa de câmbio. O time desistiu da ideia.

Billy Silver mandou o vídeo.

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SOBRE SÁBADO À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA

Jos Verstappen e Toto Wolff: rumores

SÃO PAULO (pai é pai) – Uma foto, muitas vezes, é apenas uma foto. Em outras, um sinal, um indicativo, uma pista. Essa aí em cima pode ser qualquer coisa. Apenas uma foto de duas pessoas que se conhecem faz tempo, frequentam o mesmo ambiente 24 finais de semana por ano, se encontram de vez em quando e perguntam como estão as coisas, como vai a família, vamos jantar qualquer dia desses? Ou um indício de que algo maior está acontecendo.

O que leva a essa percepção é que não são duas pessoas quaisquer no ambiente chamado Fórmula 1. Ambas estão envolvidas em episódios recentes que mexem com o futuro das equipes às quais estão ligados, e essas equipes, por acaso, são a Red Bull e a Mercedes, que ganharam os últimos 28 títulos mundiais de Pilotos e Construtores na categoria. A saber: pela Red Bull, quatro de Vettel (2010 a 2013) e três Verstappen (2021 a 2023); pela Mercedes, seis de Hamilton (2014, 2015 e 2017 a 2020) e um de Rosberg (2016). Entre as equipes, a Red Bull ganhou seis (2010 a 2013, 2022 e 2023) e a Mercedes, oito (2014 a 2021).

A Red Bull está em chamas desde a eclosão no início de fevereiro do “Caso Horner”, episódio envolvendo o chefe da equipe desde 2005. Ele foi acusado por uma funcionária da equipe e passou a ser investigado internamente por “comportamento inadequado”. Na quarta-feira da semana passada, a Red Bull informou que os investigadores independentes rejeitaram a denúncia. Mas, um dia depois, vazaram prints de supostos diálogos por WhatsApp entre Horner e a denunciante que, até agora, não tiveram sua veracidade confirmada. Da mesma forma, ninguém negou que sejam verdadeiros.

A Mercedes está em chamas desde o dia 1º de fevereiro, quando Hamilton, 11 anos de casa, anunciou que não iria cumprir o segundo ano de seu contrato atual, que terminaria no final de 2025. Tinha uma cláusula que lhe permitia sair no final do primeiro ano, e exerceu esse direito para correr na Ferrari. Quem vem para seu lugar? Essa é a pergunta de um milhão de dólares que, a partir de uma declaração específica do chefe da Mercedes, Toto Wolff, pode ter várias respostas. A declaração? “Vamos precisar de ousadia neste momento”. Uma das respostas possíveis?

Max Verstappen.

Por isso, a foto acima é a mais importante do fim de semana do GP do Bahrein, que abriu a temporada da F-1 no sábado. Mais do que qualquer coisa que tenha acontecido na pista, é o que está rolando fora dela que importa.

Verstappen (dir.) com Pérez: dobradinha em segundo plano

Jos Verstappen não pertence à Red Bull, mas é pai do menino. E, no domingo, o “Daily Mail”, jornal inglês, publicou entrevista incendiária com o ex-piloto holandês. Jos abriu fogo sem muito pudor contra Horner. Para ele, a permanência do inglês na chefia da equipe pode despedaçar a Red Bull. Defendeu claramente sua saída, disse que Horner está se fazendo de vítima e que é o culpado de tudo. Tem um tempo que Verstappen-pai e Horner não se bicam. Jos não é flor que se cheire — sabemos bem disso nós que convivemos com ele nos anos 90 como piloto. Quando pisam em algum de seus calos, a besta-fera urra. Se o dirigente pisou em algum agora, ou se é algo que Verstappen-pai vem remoendo faz tempo, não sabemos.

As denúncias contra Horner foram reveladas primeiro pelo jornal holandês “De Telegraaf”. Não é muito difícil imaginar quem tenha sido a fonte do jornal nesse caso, embora seja só uma suposição. E por que Jos e Horner não se bicam? O pano de fundo dessa história pode estar num passado distante, mas pode também estar ligado a algo bem atual: dinheiro. Papai acha que o filhinho merece um salário melhor e não é valorizado por Horner. Mas tem mais. Christian é muito próximo do braço tailandês da Red Bull — o energético nasceu na Tailândia nos anos 80 e a família de seu criador é sócia da empresa até hoje. É da Tailândia que Horner tem recebido apoio neste momento. Jos tem maior afinidade com a “divisão austríaca”, que tem como maior guru Helmut Marko, o veterano “consultor” do time que, por sua vez, desfruta da admiração e amizade incondicionais de Max, o filho.

É uma briga interna de poder. Que pode respingar na Ford, parceira técnica anunciada da Red Bull a partir de 2026. Na semana passada, a montadora pediu mais transparência da equipe na condução do “Caso Horner” evocando seus “valores éticos e familiares”, ou coisa que o valha. E já tem gente dizendo que haveria indicações de que o motor que a Ford está desenvolvendo com a Red Bull para 2026 não seria lá grande coisa, e que talvez seja a hora de Max picar a mula.

O tricampeão mundial tem contrato com a Red Bull até o fim de 2028. Contratos são quebrados, todos sabem. Perguntado sobre Verstappen, o filho, Wolff disse ao site “F1 Insider”: “Tudo é possível”.

Portanto, tudo é possível.

Agora vamos ao rescaldão do GP do Bahrein.

O NÚMERO DO BAHREIN

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…vitórias tem agora a Red Bull na F-1. A equipe, assim, empata nas estatísticas com a Williams na quarta colocação entre as equipes que mais ganharam corridas na categoria. A Williams não vence um GP desde a Espanha/2012. Ferrari (243), McLaren (183) e Mercedes (125) ainda estão à frente do time das latinhas. Mas é questão de tempo, não muito tempo, para que os rubrotaurinos entrem no top-3, deixando a Mercedes para trás.

Foi um massacre de Verstappen, que ganhou a prova com 22s457 de vantagem para seu companheiro Sergio Pérez. No ano passado, a dobradinha da Red Bull no Bahrein foi igual, mas o mexicano terminou 11s987 atrás.

O novo carro desenhado por Adrian Newey mostrou ser mais eficiente em algo que incomodava no modelo de 2023: curvas lentas. Quem viu a corrida com atenção de dentro do cockpit de Max percebeu a melhora, inclusive com o uso de marchas mais baixas — curvas que eram feitas em terceira passaram a ser feitas sem segunda; mais tração, maior velocidade na saída. “Estamos mais atrás deles do que imaginávamos”, disse Hamilton, apenas sétimo colocado. Acho que todos os outros pilotos tiveram essa impressão.

Mas quem expressou melhor a superioridade do holandês foi o chefe da Mercedes. É dele, pois…

A FRASE DE SAKHIR

“Max está em outra galáxia.”

Toto Wolff

HORNER & GERI – São raríssimas as aparições de Geri Halliwell, mulher de Christian Horner, em corridas. Ela esteve no Bahrein, e o marido fez questão de postar essa foto aí em cima na sua conta no Instagram. Mas seu casamento está no mesmo pé que o do Buda do BBB depois de seus avanços sobre a Pitel. Não tem mais como salvar.

“IMATURO” – Relatamos no sábado a ordem da Débito ou Crédito? para Tsunoda ceder a posição a Ricciardo. Ele ficou pistola, mas acabou entregando, depois de esbravejar no rádio. Após a bandeirada, quando os dois voltavam para os boxes, Yuki jogou o carro em cima do companheiro. A imagem pode ser vista aqui, aos 7min06s do vídeo. Ricciardo estrilou na hora, mas evitou soltar os cães sobre o japonês. Atribui a explosão do parceirinho à sua “imaturidade”. Tsunoda disse que iria conversar com a equipe e continuou reclamando nas entrevistas depois do GP. OK, a ordem da Quer Que Imprima Sua Via? foi sem sentido — estavam em 13º e 14º. Mas o chilique do japonês, mais ainda.

MUDA TUDO – A Alpine só terminou a corrida à frente de Bottas, que perdeu um ano num pit stop, e de Sargeant, que teve um apagão eletrônico em seu carro — problema atribuído ao novo volante da Williams. Resultado: caiu a cúpula técnica do time francês. Saíram o diretor técnico Matt Harman e o chefe da aerodinâmica Dirk de Beer. A equipe agora terá três diretores técnicos respondendo ao chefe Bruno Famin. São eles: Joe Burnell (engenharia), David Wheater (aerodinâmica) e Ciaron Pilbeam (performance). A crise é gigantesca. Já tem gente falando que a Andretti pode fazer uma oferta pela franquia — é disso que se trata, atualmente — que pertence à Renault. Não duvido.

MAIS UMA – A última do dia: o presidente da FIA, Mohammed Ben Sulayem, está sendo investigado internamente na entidade. Segundo a BBC Sport, ele teria interferido para que uma punição a Fernando Alonso fosse revertida no GP da Arábia Saudita do ano passado. O espanhol tomou uma punição de 10s depois de encerrada a corrida porque quando cumpriu um outro pênalti nos boxes (5s por ter alinhado na posição errada para a largada) um mecânico encostou em seu carro antes do tempo. A punição foi revertida pelos comissários e Alonso levou seu troféu de terceiro lugar. A Aramco, estatal saudita do petróleo, é patrocinadora da Aston Martin. E, também, patrocinadora global do Campeonato Mundial. Ben Sulayem é dos Emirados Árabes. Entendam como quiserem. Tomara que isso seja provado e que ele perca o cargo. Com suas posições conservadoras (sobre tudo) e seu perfil autoritário, esse cara é um mal para o esporte.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

Sainz: terceiro em seu último ano de Ferrari

GOSTAMOS da disposição de Carlos Sainz, que foi ao ataque e buscou um pódio suado, mesmo tendo seu companheiro em segundo no grid. “No ano passado ficamos o tempo todo administrando pneus, sem poder atacar ninguém. Com esse carro é bem diferente”, falou o espanhol. “Chegamos perto de uma Red Bull!”, comemorou, depois de receber a bandeirada a 2s653 de Pérez.

NÃO GOSTAMOS da audiência da corrida na TV aberta. Segundo os dados preliminares, a Band deu apenas 1.2 ponto de média na Grande São Paulo, com picos de dois pontos. É quase nada. Cada ponto equivale a 191.477 pessoas na região metropolitana.

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HOT HOT HOT (3)

Verstappen: 55 vitórias na carreira, oitava seguida, tetra à vista

SÃO PAULO (com o pé nas costas) – A 55ª vitória da carreira de Max Verstappen, oitava seguida (venceu as últimas sete do ano passado), foi das mais tranquilas de sua vida. O holandês desfilou pelo circuito de Sakhir, no Bahrein, abrindo a temporada 2024 com um recado muito claro: será campeão de novo. Fez a pole, liderou todas as voltas, ganhou e fez a melhor volta da corrida. Isso se chama Grand Chelem, alguns chamam de Grand Slam. A gente diz que é barba, cabelo, bigode e, sei lá, sobrancelha. Passar a régua. Foi a quinta vez que Max fez isso na F-1. O recordista é Jim Clark, com oito, seguido por Hamilton, com seis. Verstappen está, agora, ao lado de Schumacher e Ascari nessa estatística.

As coisas são como são, não adianta inventar. Ano passado, no Bahrein, Verstappen venceu e Pérez foi o segundo, também. Na ocasião, o mexicano ficou 11s987 atrás do parceiro. Essa diferença hoje dobrou. A melhor Mercedes do ano passado, de Hamilton em quinto, terminou 50s977 atrás. A melhor hoje, de Russell também em quinto, a 46s788. A melhor Ferrari de 2023 em Sakhir foi a de Sainz, em quarto, a 48s052 de Max. Hoje, o mesmo Sainz ficou em terceiro 25s110 atrás. Alonso, terceiro no ano passado, recebeu a bandeirada 38s637 depois de Verstappen. Hoje, 1min14s887.

A conclusão? Seguem todos batendo cabeça, o cenário é idêntico ao de 2023 e o tricampeão será tetra. Fácil.

Mas vamos contar a historinha desse GP do Bahrein, sempre tem o que contar.

Sainz: terceiro, pódio para a Ferrari

Na largada, um toque de Hülkenberg em Stroll foi o único incidente a ser relatado. Verstappen pulou bem, seguro e firme, e foi embora. Na terceira volta, apenas, começaram os primeiros movimentos de ultrapassagens: Norris para cima de Alonso, assumindo a sexta colocação, e Russell passando Leclerc, pulando para segundo.

Max, em seis voltas, já tinha 4s de vantagem para o educadíssimo inglês da Mercedes. Leclerc vinha atrás deles, com Pérez em quarto e Sainz em quinto. Os dois carros da McLaren já haviam superado Alonso, que caiu para oitavo. Hamilton e Tsunoda fechavam a turma dos dez primeiros.

Todos os pilotos largaram com pneus macios, prevendo uma prova de pelo menos duas paradas. O asfalto come-borracha do Bahrein demandaria uma primeira janela de pit stops não muito tardia.

Quando a prova foi encontrando seu ritmo, Pérez, sem muita dificuldade, passou Leclerc e foi para terceiro. O monegasco começou a cometer erros bobos que, mais tarde, seriam certamente atribuídos aos seus pneus. Velho problema da Ferrari: andar bem na classificação, mal na corrida.

Na altura da décima volta, uma dobradinha da Red Bull já se desenhava com contornos nítidos. Verstappen tinha 7s de vantagem para Russell, com Checo se aproximando pouco a pouco. Atrás deles, a dupla ferrarista começou a se pegar perigosamente até Sainz passar Leclerc, que caiu para quinto. De segundo na largada para quinto em dez voltas. Não, não era um bom início de prova, de campeonato, de ano para Charlinho.

Na 12ª volta Russell e Leclerc foram para os boxes e colocaram pneus duros. Verstappen e Pérez se estabeleceram, então, em primeiro e segundo. Entre eles, um intervalo de 10s. A 29ª dobradinha da história da Red Bull estava consolidada.

Aberta a janela de pit stops, na volta 13 mais uma leva de carros foi para os boxes. Naquele momento, o que interessava era ver como voltariam à pista Pérez, que também parou, e Russell. O britânico retornou ainda à frente. Mas, agora, muito pressionado pelo #11 da Red Bull. Que precisou de apenas uma volta para ganhar a posição. Passou para sexto, mas era um segundo virtualmente. À frente dele e atrás de Verstappen, Sainz, Alonso, Tsunoda e Albon ainda não tinham trocado pneus.

Sainz parou na 15ª volta e perdeu a posição para seu companheiro. Teria de enfrentá-lo de novo na pista. Verstappen, enquanto isso, passeava. Na 16ª volta, todos tinham parado, menos ele – o único com pneus macios na corrida.

Depois das trocas (esqueçam Max, a corrida dele era contra ele mesmo), Verstappen tinha 30s sobre Pérez, com Russell em terceiro. Sainz passou Leclerc e voltou à quarta posição. O holandês, finalmente, parou na volta 18. “Poderiam trocar meus pneus?”, pediu. “Claro, amigo, alguma preferência?” “Pode ser esse com a faixa branquinha.” “Quer dar uma calibrada? Quantas libras o senhor coloca? 32?” “Pode colocar o de sempre, aí.”

Enquanto Verstappen voltava à corrida sem preocupações, mais atrás um endiabrado Sainz partia para cima de Russell. E passou, saltando para terceiro. “Tem certeza que vão me mandar embora e ficar com esse menino chorão aí?”, perguntou pelo rádio. “Como?”, espantou-se o chefe Frédéric Vasseur, com seu adorável sotaque francês. “Nada, nada, perguntei se o menino que entrega o pão está fora de hora ou já chegou ao Pari!” Ficou um silêncio no rádio. “É que às vezes penso em espanhol e falo em inglês e me confundo com as palavras”, justificou-se Sainz. “Oh, oui”, tranquilizou-se Vasseur.

Vasseur: sempre muito delicado com seus pilotos

Na volta 25, uma mensagem chamou a atenção. Hamilton, que se arrastava em oitavo longe de ameaçar alguém ou ser ameaçado, avisou pelo rádio que seu banco estava quebrado. Ninguém lhe respondeu nada. “O banco, pessoal, meu banco está quebrado!” Toto Wolff, então, suspirou e chamou um ajudante. “Diz pro cara aí que se ele quiser um banco novo, é só pedir lá naquele box que tem as paredes vermelhas. E diga também que estamos ocupados lutando por um pódio com George, que costuma respeitar contratos.” O ajudante arregalou os olhos. “Vai lá e diz isso tudo, rapaz, e não esqueça da parte do contrato, agora me deixe em paz!”

As segundas paradas começaram na volta 28, com o pessoal do fundo do pelotão. Nada que mudasse a cotação do petróleo no mercado internacional. Na 30ª, Verstappen tinha 15s de vantagem para Pérez, que não era atacado por Sainz, o terceiro. Russell, Leclerc, Norris, Piastri, Hamilton, Alonso e Tsunoda seguiam nas dez primeiras posições. O tédio imperava.

Na 32ª volta, Russell parou e colocou um novo jogo de pneus duros. Uma tentativa de dar o pulo do gato quando Sainz fizesse sua troca. Mas não deu muito certo, não. Voltou no tráfego, perdeu tempo, acabou se enrolando.

Hamilton parou na 34ª. “E o banco? Meu banco quebrou!” Toto Wolff, lá de dentro da garagem, chamou o ajudante de novo. “Diz pro bonito aí que se ele quebrou o banco, vai ter de pagar. Que no contrato dele não diz que temos de trocar as coisas que ele quebra, e que respeitamos contratos.” O ajudante arregalou ainda mais os olhos. “Vai! Diz logo! E não esqueça da parte do contrato. Depois veja se George está precisando de alguma coisa e me avisa.”

Hamilton: “Estamos mais atrás da Red Bull do que esperávamos”

Carlos parou na volta 36 e, como se imaginava, voltou à frente de Russell com alguma folga. Ambos seguiram nos pneus duros. Já Pérez foi para os boxes na volta seguinte e colocou pneus macios. Na volta seguinte, foi a vez de Verstappen. Fez o mesmo. Ah, não colocou duros porque a equipe gastou tudo e não tinha nenhum, né? Precisou improvisar, né?

Não. Bobagem. Na verdade, a Red Bull foi a única que economizou pneus macios pensando na corrida, e não em fazer voltas voadoras nos treinos livres. Está explicado por que Max e Checo não lideraram a folha de tempos na quinta e na sexta, exceto na hora em que precisava? Espero que sim. A estratégia era exatamente essa: ter dois jogos de macios novos para a corrida, um para começar a prova, outro para terminar, com seus carros mais leves e em condições de fazer duas dezenas de voltas sem se preocupar com o desgaste da borracha menos resistente, mas mais veloz. Simples e brilhante. As ideias mais simples são as mais brilhantes.

Em sétimo entre os dois carros da McLaren, na volta 41, Hamilton entrou no rádio de novo. “Esses caras estão rápidos, parceiro!” Toto Wolff nem deixou o engenheiro responder. Apertou o botão e falou: “Você que é lento!”. Lewis não entendeu. “Como?”, perguntou. “Nada, Lewis, foi linha cruzada”, tentou abafar Bono, o engenheiro. “Ele disse lento?”, insistiu o piloto. “Não, Lewis, ele falou vento”, mentiu o engenheiro, disparando um olhar de censura em direção ao chefe, que devolveu com um gesto de mão como se dissesse “não me enche você também”.

Tinha motivos para estar irritado, o comandante da Mercedes. Era uma noite em que nada dava certo. Na volta 46, Russell, em quarto, já estava longe de brigar pelo pódio com Sainz e passou a ser atacado por Leclerc. Acabou perdendo a posição para a Ferrari #16 na entrada da reta dos boxes.

Na volta 52, lá no fundo do pelotão, a É de Aproximar? ordenou que Tsunoda trocasse de posição com Ricciardo. Eles estavam em 13º e 14º. Ordem que deixou o japonês irritadíssimo. “Vocês estão brincando?” Não deu mesmo para entender direito, nada estava em jogo ali. Azar deles. Arrumaram uma treta interna logo na primeira corrida do ano. Tsunoda ficou até o fim da corrida reclamando pelo rádio: “Valeu, hein? Adorei. E aí? Ele tá rápido, hein? E aí? Não vão falar nada?”. Ninguém falou nada.

Mas era algo absolutamente irrelevante. Verstappen, da equipe matriz, horas à frente, recebeu a bandeirada com impressionantes 22s457 sobre seu companheiro Pérez, o segundo colocado. Sainz completou o pódio. Pelo rádio, mandou ver: “Estão vendo, né? Eu aqui arrebentando, vocês ficam com o garotinho de Mônaco e contratam o Lewis que já tem quarenta anos, é um disparate!” “Como?”, assustou-se Vasseur novamente pelo rádio. “Nada, nada, disse apenas que estou pensando em arrebentar as paredes do meu apartamentinho em Mônaco e que quem vai fazer o serviço é o seu Luís que trabalha com isso há quarenta anos e sempre leva seu alicate.” “Oh, oui”, acalmou-se o chefe com seu encantador sotaque francês.

A zona de pontos teve ainda Leclerc em quarto, Russell em quinto, Norris em sexto, Hamilton em sétimo, Piastri em oitavo, Alonso em nono e Stroll em décimo. Todos os carros completaram a corrida.

Resultado final: domínio absoluto de Verstappen e nenhum abandono

Uma corrida ruim, diga-se. Mas mais uma aula de competência da Red Bull e de Verstappen. Uma ducha de água gelada em quem apostava num campeonato disputado e competitivo, aqueles que acreditam em qualquer besteira que escrevem por aí e se comunicam através de emojis e gritos histéricos em letras maiúsculas nas redes sociais.

Quem acompanha a coisa por aqui sabe que a realidade é bem diferente. A gente pode até torcer para que mude. Mas, como escrevi lá em cima, as coisas são como são. Semana que vem em Jedá vai ser igual.

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