Breve momento de ternura

SÃO PAULO (ainda dá para ser feliz) – Eu não ia escrever mais nada hoje, nada parece fazer muito sentido. Saí de casa feito um zumbi, tinha de passar no iG antes de vir para cá, a cidade estranha, silenciosa e acuada. Na Nova Faria Lima olho pelo espelho e vejo um TL azul claro chegando, sempre noto carros velhos nas ruas.

Ele pára do meu lado e lá dentro, Anísio Campos, mestre dos mestres, o maior designer de carros da história do Brasil.

Abro o vidro e me concedo um sorriso, tão raro nestes dias, ô Anísio, o que você tá fazendo nesse carro? E o Anísio com a camiseta do III Blue Cloud, ele foi ao nosso encontro ano passado, feliz como uma criança, Flavinho, vou restaurar isso aqui!

Anísio com seus cabelos brancos, seu rabo-de-cavalo, seu sorriso juvenil num TL azul claro, sob o sol cálido deste outono gelado, uma criança alheia à desgraça, Anísio me fez sorrir. A vida não pára, afinal.

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Marcos
Marcos
17 anos atrás

TL azul diamante 1971.
Que saudade !!!
Corri na 25 horas de 1974 com um !
O carro era um relógio: 4m10s por volta, uma em cima da outra !
Não troquei nem pneus.
Andava 42 voltas sem abastecer !
Terminei na frente de muitos Opalas e Mavericks !

VELOZ-HP
VELOZ-HP
17 anos atrás

Nos anos 70 eu não saía dos arredores do Autódromo de Interlagos, indo pelo menos 2 vezes na semana por lá e em todos os fins de semana, quer nas oficinas de carros e karts, quer nas escolas de pilotagem, quer nas corridas ou na Represa Guarapiranga onde tinha o meu barco.
Uma dessas visitas obrigatórias que fazia toda semana era na Equipe Z, depois Equipe Hollywood, do Anísio Campos que ficava na mesma rua da oficina do Avallone, Av. Rio Bonito, que começa ao lado daquele posto de gasolina em frente ao Portão 2 do Autódromo.
Imaginem o delírio que era chegar lá e vêr os 2 Porsches 908 e 910, o Opala div. 3. o Fusca Div. 3, o F.Ford, e depois o Maverick Berta e o protótipo Berta Div. 4 sendo montados. Um paraiso, sem dúvida.
E acima de tudo isso, ser recebido com alegria, educação e extrema simpatia pelo Anísio, que mesmo no meio de tanto trabalho e obrigações, nunca me negou a entrada lá e às vêzes parecia até mais emocionado que eu com tudo aquilo.
Ele tinha plena consciência da paixão que aquele jovem maluco sentia e sabia compreender o quão importante eram aqueles momentos vividos alí, pois antes de sêr o que era, também tinha sido como nós.
Sua mulher Dulce quando estava por lá agia da mesma forma, um doce de pessoa, e apesar de já ser uma fotógrafa de renome e uma pessoa famosa no meio, tinha, como ele, zero de arrogância, zero de prepotência e 100.000 de simpatia e educação.
Se tivesse nascido nos EUA o Anísio seria hoje o mesmo que é Carol Shelby e seguramente mais milionário, porque tem muito mais talento que ele.
Uma grande salva de palmas para o Anísio. Com louvor.

Ana
Ana
17 anos atrás

Já disse aqui algum dia desses que conheci São Paulo no feriado de 1º de Maio.Tudo em São Paulo é impressionante.A quantidade de prédios; de carros; os preços ( meu Deus minhas economias voaram); as pessoas, sempre com pressa, sempre trabalhando. Por isso fiquei triste ao ver a cidade parada.Minha prima que mora aí falando que o patrão dela a dispençou às 19:00. Essa não é a cidade que nós dos outros estados conhecemos.
Se conselho fosse bom a gente não dava, vendia. Por isso não aconselho, mas desejo que vocês possam seguir em frente, vencendo os medos e ensinando aos mais jovens valores como a honestidade, respeito e amor ao próximo. E como diria Renato Russo “Quando tudo está perdido sempre existe uma luz”
Bjim e paz

Vinicius
Vinicius
17 anos atrás

Puxa, parar em um semáforo ao lado do mestre Anisío Campos… Acho que não teria reação, ou simplesmente perguntaria: “E o Carcará?” ehehee =)

Abraços.!

Cesar Costa
Cesar Costa
17 anos atrás

Bons tempos do TL. Tive um 73 azul marinho. Estava parado numa garagem em Ipanema e tinha té mofo no painel. Apesar dos três anos de vida estava zero. Coloquei um escapamento Kadron, console, volante Fórmula 1, um Motorádio AM/FM e um toca fita de cartucho com uma tampa na traseira, que funcionava como uma caixa de som para os dois alto-falantes.Pneus Pirelli Cinturato em rodas de 5,5 polegadas. A moda na época eram as rodas na cor do carro com um sobrearo de alumínio e as calotas originais. Ê tempo bão!

Eduardo Pereira
Eduardo Pereira
17 anos atrás

Tive um TL 71, não era um “Tomover Lindo”, infelizmente vendi antes de deixar do jeito que queria. Mas era muito legal, virava assunto onde quer que fosse.
Automóveis pra mim são uma coisa muito importante, por outro lado são sinomino de superfluo, destruidores da camada se ozonio, gastões, etc…
Mas é o resumo do dia de hoje, existe assunto sério pra discutir, mas os inuteis, utrapassados, feios TLs, Zes, DKWs, podem salvar o dia.
Eduardo Pereira

Silvestre Zanon
Silvestre Zanon
17 anos atrás

o pessoal aqui chama TL de Tô Lascado…

Airton
Airton
17 anos atrás

Adoro TL. Adoro Variant. Aquela cintura traseira com a grade é inigualável. O Anísio Campos, se não existisse, teria que ser inventado.

jcesar
jcesar
17 anos atrás

TL … ainda vou ter um … ah, isso me faz lembrar que a vw, até o final dos anos 80, fazia bons carros, além do fusca. Nos anos 60: o karmann-ghia. Na decada de 70: TL, Passat TS (farol redondo). Nos anos 80: Gol BX, Passat GTS Pointer e Gol GT, GTS e GTI, fora as versões especiais das Saveiros (p.ex. a Summer) …. Espero que um dia a VW volte a fabricar bons carros no Brasil ….

Engate é para imbeci
Engate é para imbeci
17 anos atrás

Carro antigo faz milagres, amigo.

joaquim
joaquim
17 anos atrás

Flávio, acabo de receber uns telefonemas de uns amigos meus que moram nos EUA alarmados com a situação em SP. E me perguntam o que estou fazendo aqui…eu que vivi seis anos lá fora, que porto um green card, cartão social ,e quando abro meus e-mails há invariavelmente ofertas de emprego pagos em dólar. Explico que minha opção foi voltar pro meu país, onde nasci, e criei meus filhos e onde pretendo ficar, a despeito de todas as mazelas que diariamente nos afetam. Respondo a esses marginais, aos desvalidos e aos que não tem oportunidade, da maneira que sei, devolvendo um pouco do que aprendi, com o intuito de tentar melhorar um pouco essas vidas miseráveis. Ensino inglês e espanhol em um curso profissionalizante para alunos carentes perto da minha casa, e não falo isso para me vangloriar pois já passei da idade de ceder ao elogio fácil, mas é a maneira que achei de combater a miséria que assola esses deserdados e essa é a arma que escolhi para lutar. Por mais que façam, não nos derrotarão, no pasarán. E, quando tudo parece perdido, esperanças abandonadas, eis que ela às vezes ressurge, dentro de um singelo TL azul, num senhor de bela cabeleira branca. Ânimo, rapaz .Abraços.

Tohmé
Tohmé
17 anos atrás

Como é bom, no meio de tanto caos, encontrar um Anísio, um TL, um DKW… calmanente andando pelas ruas de SP.

Cesar Costa
Cesar Costa
17 anos atrás

Sinal que há vida inteligente em Sampa. Nem tudo está perdido!

Roberto Brandão
Roberto Brandão
17 anos atrás

Alguém, por favor, pode peditr ao Carlos Máximo para replicar o e-mail que ele me mandou, pis dei uma apagada geral (aquele velho defeito na peça entre o monitor e acadeira) nos meus e-mail de hoje. A maioria de puro pânico.

vitão
vitão
17 anos atrás

Beleza FG, é isto mesmo. Não é um porqueirinha de traficante qualquer que vai estragar a minha vida e as coisas que eu gosto e as pessoas que eu amo e admiro. Volta e meia encontro o anisio no manekin pis, na
pedroso alvarenga. toda a terça a velha quarda se reune lá, já vi mesa com o AC, o DeLamare, e aposto que o Moco e o Grecco estava na cadeira vazia também. Eu prefiro o Vacaveia, na esquina de cima, da Manuel Guedes. Viu? a gente pode falar e viver sem deixar se impressionar por uns delinquentes, que mais cedo ou mais tarde vão sofrer um “acidente” . Quem merece nosso apoio são os policiais e as famílias que perderam os seus chefes, maridos, pais, etc.
Nào deixar se intimidar e não perder a esperança é o que devemos fazer.

Roberto Brandão
Roberto Brandão
17 anos atrás

Flávio,
Num dia em que fomos novamente derrotados, só você para me dar alguma esperança. Relembro a minha coluna Vai passar, no Retrovisor, quando eu comentava sobre os distúrbios da França e dos nossos Delúbios. Tive a certeza que minha geração lutara, mas sem capacidade adequada, perdera. Entregamos nosso país a aproveitadores de todas as correntes políticas, enquanto os idealistas e pensadores da revolução, desanimados, cuidavam de seus próprios afazeres e sucessos (boa parte das ótimas empresas de propaganda do país, utilizaram os talentos revolucionários), esquecendo-se da nação. Resultado : ficamos à mercê dessa gente que há anos nos governa. E, pior, só sabemos reclamar. Qunado chamados à atuar em postos oficiais, gentilmente recusamos, deixando indefesa nossa pátria mãe gentil….
Ainda bem que existem os FGs e outros cidadãos éticos e honestos para manter nossas esperanças.

Carlos Trivellato
Carlos Trivellato
17 anos atrás

Com certeza, um dos dias mais estranhos da minha vida, para onde ir? O que fazer? Já passei uma temporada fora do Brasil e voltei por convicção de que aqui é o meu lugar, minha terra, a casa ideal para criar meus filhos, e agora essa sensação de te tirarem o chão de seus pés, para onde vamos?

Askjao
Askjao
17 anos atrás

Infelizmente, temos que continuar vivendo e procurando um motivo para rir… mas eu não tenho nenhuma esperança no mundo atual, e muito menos em um país cujo o seu comando está atrelado aos interesses do tráfico (seja ele de drogas, madeira, equipamentos eletrônicos, etc..), aos interesses pessoais, ao descaso, etc, etc, etc… pobre da minha filha!

Marcelo Giordano
Marcelo Giordano
17 anos atrás

É isso aí Flavio, apesar de tudo o mundo não pára….
O Anísio te fez sorrir e você sem saber fez muita gente sorrir num estranho dia como esse…

Claudio Ceregatti
Claudio Ceregatti
17 anos atrás

Isso mesmo, Flavio.
A vida e o tempo não param.
Mais uma coincidencia feliz.
Encontrar o Anisio Campos – sempre um revolucionário – exatamente no dia da revolução no Brasil é o cúmulo.
Teria sido bem interessante tomar um café enquanto o Estado Brasileiro desmoronava…

Daniel Antunes
Daniel Antunes
17 anos atrás

Flávio, pra mim isso significa uma coisa: nem tudo está perdido!

joao
joao
17 anos atrás

Quem dera se ao sair na rua desse de cara com o Anísio, esta lenda viva do desenho automobilístico brasileuiro e ainda de TL, o primeiro carro que tive e se for aquele com a frente alta, melhor ainda. Mas é isso aí Gomes, a vida continua e tem hora que devemos nos desligarmos do mundo para não o levar tão a sério e assim podermos viver mais. Temos que ter controle e não deixar que a neura nos domine.

João

Alexandre
Alexandre
17 anos atrás

É, Flávio, ainda dá para ter um pouco de esperança no mundo. Enquanto existirem pessoas como você e o Anísio, além de Og Pozzoli e tantos outros preservadores da memória nacional, ainda dá para ter fé no mundo, apesar dos políticos.