BRASIL COM “L”

PEQUIM (longe do alvo) – Um arco como esse aí da foto (crédito a quem merece: o clique é do “Zero Hora”) custa 2.500 dólares. Mais os impostos, porque o aparato é importado. Brincar de Guilherme Tell não é barato, pois. Levar a brincadeira a sério, menos ainda.

Por isso que Luiz Gustavo Trainini, o Brasil com “L” da nossa série olímpica, só foi mirar o alvo depois que resolveu sua vida profissional. Tem três anos e meio de carreira. Sábado passado, estreou em Olimpíadas participando de sua primeira série, cujo resultado definiria o emparceiramento na fase seguinte. Entre 64 concorrentes, terminou em 61º, à frente de um egípcio, um iraniano e um cara das ilhas Samoa. Não sei como se chama quem nasce em Samoa. Tinha um chinelo chamado Samoa no Brasil, se bem me lembro. Horroroso.

A classificação colocou em seu caminho ninguém menos que Kyung-Mo Park. Quem?, perguntará você. É um sul-coreano que, segundo consta, tem a mira em dia: é o primeiro colocado no ranking mundial de tiro com arco, o esporte escolhido por Luiz Gustavo há três anos e meio “depois que eu já estava com tudo encaminhado na vida”. Trainini, 30 anos, é biólogo, vive em Canoas, na Grande Porto Alegre, e conseguiu encaminhar bem as coisas na vida. Tanto que, embora vinculado ao Sogipa, treina em casa. O quintal deve ser grande.

Hoje ele voltou ao estande para enfrentar Kyung-Mo Park no mata-mata. A partir da segunda fase, no tiro ao arco (arco e flecha, para quem ainda não sacou), um elimina o outro. O sul-coreano eliminou o brasileiro. Fez 116 pontos, contra 99 de Luiz Gustavo. Logo depois de se despedir de seus primeiros Jogos, Trainini, apelidado no meio de “Gavião”, falou com este blog.

O que dizer da sua primeira Olimpíada?

Acho que poderia ter ido um pouquinho melhor. Mas fui pegar bem o número 1 do mundo. A gente fica meio desnorteado, com toda a torcida da Coréia lá… Mas para quem começou há três anos e meio, está bom.

Você disputa uma modalidade pouco popular no Brasil…

Desde criança eu gostava de tiro com arco [seu perfil no guia do COB diz que Trainini viu a modalidade nos Jogos de Barcelona, em 1992, se interessou e resolveu que um dia faria aquilo]. Nunca fiz nenhum outro esporte seriamente. Só que eu não tinha oportunidade. Aí tive de trabalhar, comprei um arco, depois outro, até chegar a ter condições.

É um esporte caro?

Para começar, não. Mas depois tem de investir, comprar um arco bom, outro melhor, é como todo esporte. Um bom arco custa uns 2.500 dólares. E tem de ser importado, porque no Brasil não tem nenhuma fábrica.

E é também um esporte solitário. Onde você treina?

Os treinos mais intensos eu faço em casa, mesmo. Meu técnico é italiano, ele passa um bom tempo aqui. No último ano eu me dediquei exclusivamente ao tiro com arco.

E não foi à falência?

Não.

Você também se dedica à falcoaria, li aqui no seu perfil no guia do COB…

É, eu tenho um criadouro, registrado no Ibama. Trabalho num projeto para controle de aves em torno de aeroportos, essa é a minha especialidade.

Tiro ao arco, falcoaria… Você tem uns hobbies diferentes.

É, tenho umas preferências meio exóticas.

Para terminar, três perguntinhas metidas a engraçadas. Primeira: se você fosse um cupido, mandava uma flecha no coração de quem?

Da minha namorada, Aline.

Qual o alvo que você gostaria de acertar?

O da sabedoria.

E de qual flecha você gostaria de desviar?

Dos impostos.

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Fowler T. Braga Filho
Fowler T. Braga Filho
15 anos atrás

Paga impostos por incompetência da Federação, que deveria fazer ela a importação diretamente e sem pagar impostos.
Pergunte aos atletas do tiro ao alvo se eles pagam impostos pelas suas armas e verão a diferença.
Muito boa mesmo a cobertura Gomes.

Antônio Augusto Cruz
Antônio Augusto Cruz
15 anos atrás

Acho que quem nasce em Samoa é Samoano.

Ricardo Leite Lopes
Ricardo Leite Lopes
15 anos atrás

“custa 2.500 dólares. Mais os impostos, porque o aparato é importado”.
O cara é atleta olimpico e tem que importar equipamento que não é fabricado no Brasil, ainda assim paga imposto de importação.
Que o pais não ajuda a gente sabia, mas que ainda atrapalhava é novidade.

Daniel
Daniel
15 anos atrás

Tantas histórias de atletas sofridos e abnegados contadas por você, Gomes, e eu ainda tenho que ouvir no rádio o filho da pu.ta e ignorante do Flávio Prado dizendo que 90 por cento dos atletas foram para Pequim passear, que se não é para ganhar não deveriam ir, e o pior, vangloriando-se que ele fala do único esporte que realmente interessa no Brasil e que o resto é resto. Tirou um sarro, aliás, de um outro jornalista (não me recordo o nome), que gostaria de ver um fim a esta monocultura do esporte no Brasil.

Foi hoje, na Jovem Pan, naquele programa da hora do almoço que é uma zona.

Gomes, você deve conhecer ele, deveria enviá-lo esta maravilhosa série de sua autoria para ver se ele deixa de ser tão escroto e ignorante.

Eu espumava de raiva ao ver ele falando tanta bobagem em uma rádio com tamanha audiência.

nardo77
nardo77
15 anos atrás

Estas entrevistas estao muito legais!!! Aliás, a melhor cobertura dos jogos é aqui no seu blog Flávio! Muito bom mesmo, parabéns!!

Cadu
Cadu
15 anos atrás

Lembra que te perguntei se tinha ingressos ontem ? Pois é, fui tirar meu visto hoje e negaram sem mais nem menos… tenho visto pros Eua, emprego, bens, etc…. mas no melhor estilo chines disseram NAO

Dú
15 anos atrás

E não foi à falência?
Essa tirada foi ótima.

Lago
Lago
15 anos atrás

neste seguimento, vida resolvida mesmo!!!!! não tem erro, basta olhar os indicadores da infraero sobre acidentes com aves nos principais aeroportos do brasil. esperto o rapaz, como bem demonstrou na sacada dos impostos.

Rogério Magalhães
Rogério Magalhães
15 anos atrás

Pô, quando eu era criança pequena lá no Imperador, eu usava Samoa… e até que o chinelo durou bastante, hehehehehe…

Agora, Eric, você acertou o alvo, hein? O cara deve é estar de saco cheio da namorada, se bobear, a mina vira flecha, hahahahahaha…

Geraldo
Geraldo
15 anos atrás

FG, o Guilherme Tell não usava arco e flecha … ela usava uma “besta” (aquela arma que parece uma espingarda, mas que atira flecha). Quem usava o arco e flecha era o Robin Hood …..

Paulo
Paulo
15 anos atrás

Po Eric, vai provocar uma briga de casal assim, hehehe

Parabéns pela cobertura Gomes! Está fooda!

Abraços ai!

Ângelo Mello
Ângelo Mello
15 anos atrás

Mais um abnegado. Em um país com um projeto olímpico de verdade, ele começaria a se preparar ainda em 92… pois é isso que as potências olímpicas fazem, pegam talentos ainda crianças e vão lapidando. Mas o que os nossos dirigentes esportivos querem mesmo é fazer a olimpíada aqui e desviar algumas centenas de milhões de reais

Eric
Eric
15 anos atrás

Nos bastidores….FG diz:
“eu também tenho umas preferencias exóticas….amo os Ladas….”
hahahahahaaa gargalha Luiz Gustavo….vc deve estar brincando né???
Pô,voltando ao post….se a Aline já é a namorada dele ele então quer matá-la???
O cupido só jogava a flecha em quem teria que ser conquistado.
Certo???