UKIKO? (4)

RIO (ninguém sacou a genialidade do título dos posts, desisto) – Me corrijam se eu escrever alguma besteira, porque, acreditem ou não, vi a corrida de dentro do estúdio, num monitor instalado especialmente para meus belos olhos azuis. Pode ser que tenha escapado algo.

E gostei bastante do que vi. Se o GP da Inglaterra não foi nenhum thriller, foi muito movimentado. Com algumas atuações que vou te dizer… A saber, pela ordem de espetáculo: Bottas, Ricciardo, Button, Vettel, Alonso e Hamilton, claro.

O Comandante Amilton viveu aquilo que a gente que é do samba, aqui no Rio, chama de “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima”. No sábado, saiu de Silverstone deprimido, pensando em formas não muito dolorosas de suicídio, por ter abortado sua volta quando achava que a pole estava garantida. Não só não estava, como viu Rosberguinho ficar em primeiro e mais quatro superarem seu tempo. Largou em sexto.

Mas ganhou. Ganhou pela quinta vez no ano, graças ao primeiro abandono de seu companheiro, que pelas minhas anotações parou na volta 30 com o câmbio travado em sexta. “Ah, mas o Senna ganhou uma corrida só em sexta!” Lembro, no Brasil, nas últimas seis voltas, com um minuto de vantagem para o segundo colocado tirar. No caso de hoje, Nico estava uns 7s na frente de Hamilton. E tinha ainda 32 voltas pela frente. Convenhamos que não seria uma tarefa muito fácil.

E assim Hamilton pôde sorrir, depois de uma classificação desastrosa. A diferença de pontos para Rosberg, que era de 29 e poderia se ampliar se o parceiro vencesse de novo, caiu para quatro, agora. É um Senna x Prost do século 21. Aí sim, um thriller.

Lewis fez por merecer, afinal. Largou bem e já ganhou duas posições de cara. A prova foi interrompida na segunda volta com bandeira vermelha por conta de um acidente violento de Raikkonen. Ele deu uma ligeira escapada na curva 5, mas quando voltou para o leito da pista pegou um degrau, possivelmente a zebra, perdeu o controle do carro e bateu de frente num guard-rail. A pancada foi muito forte e o carro voltou para o meio da pista. Massa, que tinha empacado na largada e caído para último (pelotão da merda, lembram?), desviou para não bater mas acabou acertando a roda traseira esquerda na Ferrari do finlandês.

Felipe foi muito hábil para não encher Kimi em T, na perpendicular. Conseguiu levar o carro de volta ao grid para a nova largada, mas não tinha mais jeito. Abandonou seu 200° GP. E para sua desgraça pessoal, Bottas fez uma corrida extraordinária, a começar pela largada. Saiu de 14° para nono logo na primeira volta, e uma hora depois, quando a prova foi reiniciada (o tempo gasto para arrumar o guard-rail de Raikkonen), veio jantando todo mundo com uma autoridade de veterano. Goste-se ou não do tema, é preciso que ele seja colocado à mesa: Sapattos já é o primeiro piloto da Williams, e justifica isso com grandes atuações. Terminou em segundo, e subiu ao pódio pela segunda vez consecutiva. Massa vai ter de remar muito para recuperar a autoestima e a confiança do time.

Quanto a Raikkonen, saiu manquitolando do carro, foi para o posto médico, o tornozelo ficou inchado, mas nada de mais grave. Corre normalmente na Alemanha.

A relargada, como eu dizia, ajudou Hamilton, que na quinta volta já estava em segundo, a 5s de Rosberg. A diferença seria mantida mesmo depois dos pit stops (19ª volta para o alemão, 24ª para o inglês), mas sempre com a perspectiva de um ataque a qualquer momento. O que acabou não rolando porque Nico quebrou.

Ricciardo foi outro que não economizou no quesito ultrapassagens e logo depois da metade da prova, com estratégia de apenas um pit stop, já era o terceiro. Ali terminou. Largou em oitavo e decidiu, ele mesmo, ficar na pista com apenas uma parada. “Foi o melhor terceiro lugar da minha vida em todos os tempos do universo!”, vibrou, com seus 64 dentes escancarados. Vou repetir: largou em oitavo e chegou em terceiro. Vettel largou em segundo e chegou em quinto, mas fez duas paradas. Só para constar.

Alonso e o já mencionado Vettel batalharam por umas dez voltas pelo também já mencionado quinto lugar, num duelo, como dizer, incrível, até o alemão passar. Ambos ficaram se xingando pelo rádio o tempo todo. O ideal seria que um pudesse ouvir o que o outro dizia. Estava bem divertido. Pode ser, não está confirmado, que tenham trocado mensagens pelo Whatsapp nesse tempo. ¡Hijo de puta!, teria escrito Alonso, com aquela carinha vermelha de raiva. Hurensohn, Querfotze!, teria respondido Sebastian, com um emoticon que mostra o dedo do meio, não sei onde ele conseguiu isso. Não é difícil mandar Whatsapp dirigindo um F-1, tem botão para isso no volante.

Deve-se lembrar aqui que Alonso, que parou apenas uma vez nos boxes, teve de ficar 5s esperando além do normal porque na largada colocou seu carro no lugar errado. Foi a punição estabelecida pelos comissários, algo como pit stop+5. Ele tinha parado o carro lá na Abbey, achando que ninguém ia ver. “Era minha única chance de chegar no pódio”, teria choramingado. Estou usando muitas frases no condicional porque, como disse, algumas coisas carecem de confirmação.

Button, com sua elegância discreta, fechou a prova em quarto. Hamilton ainda teria tempo para uma segunda parada, sem ninguém que ameaçasse sua vitória. Ele recebeu a bandeirada 30s na frente de Bottas, 46 antes que Ricciardo. Este ainda sofreu uma certa pressão do Bonitton. Tião, El Fodón de la Sexta Posición, Magnólia, Hulk (que já voltou à Granja Comary), K-Viado e Verme fecharam os dez primeiros.

Lewis fez muita festa, o que é compreensível. Ele já tinha vencido em casa em 2008. O público britânico delirou, até porque se dependesse de sua seleção para comemorar alguma coisa, teria de esperar pelo menos mais quatro anos. E não iria comemorar nada de novo.

Agora vou ler tudo que puder sobre a corrida no Grande Prêmio. Se algo mais merecer a atenção deste vosso anjinho, volto aqui para acrescentar.