DICA DO DIA

googlecar

SÃO PAULO (me acordem quando acabar) – Tenho observado com alguma curiosidade os primeiros movimentos desta que deve ser a nova grande revolução tecnológica (e comportamental) do planeta: o advento dos carros que não precisam de motorista.

A ideia não é nova, no século passado já se imaginava que no futuro isso poderia acontecer, mas a gente achava que era apenas literatura, algo distante demais, ficção científica à qual não teríamos acesso nunca, não viveríamos para ver. Afinal, diziam também que no ano 2000 estaríamos voando entre os prédios como os Jetsons e não aconteceu porra nenhuma, continuamos engarrafados nas avenidas. O futuro ficou meio desmoralizado.

[bannergoogle] Só que os meios para que isso finalmente se transforme em realidade estão aí. Basta pegar seu smartphone e clicar no Google Maps. Ele sabe exatamente onde você está. Essa incrível (e para mim quase incompreensível) rede de satélites e sensores capazes de te localizar com margem de erro de centímetros levou ao caminho óbvio. Um automóvel com sistema de navegação preciso, num mundo em que qualquer beco é mapeado do alto, é capaz de sair de A e chegar a B sem que ninguém encoste nos seus comandos. De certa forma, com os aviões já é assim — a diferença é que o tráfego é substancialmente menor e o espaço, mais generoso.

A novidade é que você não vai mais precisar do carro na garagem para ir de A a B. Pelo seu celular, você vai pedir um carro, qualquer carro, de um desses serviços que estarão disponíveis através de aplicativos — hoje a gente já faz isso com táxis e funciona inacreditavelmente bem. Ele vai chegar na sua casa em questão de segundos, você entra, já informou previamente para onde quer ir, ele te leva, e sai para catar outro passageiro. Ou outros passageiros, que possam rachar a conta e vão para o mesmo lugar.

As montadoras de ponta já possuem tecnologia para fabricar e vender carros que andam sozinhos. Mas quem vai querer uma porcaria dessas pagando preços altíssimos se, sei lá, o Google pode te mandar um carrinho elétrico que vai custar apenas a corrida, e que ainda pode ser dividida com alguém? Se o objetivo final de um automóvel é exclusivamente levar uma pessoa de um ponto a outro, e se teremos frotas monstruosas de carrinhos que andam sozinhos e cumprem esse objetivo por um custo baixíssimo, para que ter um carro?

Ah, mas hoje já é assim, quem não quiser ter carro não precisa, é só usar ônibus, metrô e táxi, pode argumentar alguém. São serviços semelhantes, é verdade, com a diferença de que precisam de quem os conduza. OK. Só que táxi custa caro — tem imposto, combustível, desgaste de peças e um cara que precisa ganhar para dirigir. Ônibus e metrô não te levam exatamente de A a B, te levam de mais ou menos perto de A para mais ou menos perto de B, se você tiver sorte de morar em regiões bem servidas pelo transporte público.

E o que vai acontecer quando o mundo for infestado por carrinhos coletivos controlados pelo Google ou pelo Uber? O que farão as montadoras, as fábricas de peças, a indústria do petróleo? E os estacionamentos, as seguradoras, os motoristas profissionais de tudo que anda? Carros particulares serão realmente necessários? Ou apenas as grandes corporações capazes de operar sistemas de compartilhamento de veículos terão necessidade de possuí-los?

É uma discussão interessante, que o blogueiro Evin Moretti propõe a partir da (ufa!) dica do dia, o artigo de um certo Zack Kanter — descrito no fim do texro como “empreendedor, futurista, palestrante, escritor, fundador de algumas startups, chefe de cozinha amador e nerd em geral”. Não o conheço, não sei se é famoso, se as pessoas o levam a sério, mas o que ele vislumbra a partir da disseminação de veículos autônomos faz sentido.

No fundo, acho que o que será determinante no futuro para assegurar a sobrevivência de todo o universo que gira em torno do automóvel é exatamente a visão que o ser humano terá do… automóvel. Na medida em que ele passa a ser visto apenas como algo inanimado e desprovido de qualquer interesse ou atrativo particular, cuja única função é transportar uma pessoa de um lugar a outro, seu valor diminui. De bem durável e sinal de status, passa a ser um estorvo permanente — precisa abastecer, pagar imposto, estacionar, fazer manutenção, licenciar, paga multa, consertar quando quebra, arrumar quando bate. Qual seria uma boa razão para ter um negócio desses — caro, dispendioso, irritante, às vezes — para ir de casa para o trabalho, se serviços gigantescos de compartilhamento podem te atender por uma fração ínfima do valor, fazendo a mesma coisa e assumindo o ônus de todas as dores de cabeça que a posse de um automóvel acarreta?

O carro como o conhecemos está vivendo seus últimos dias?

É possível. Kanter fala que em 2025, daqui a dez aninhos, apenas, já estaremos vivendo num mundo que vai se mover de outro jeito — e, como consequência, terá toda sua economia redefinida graças a esses veículos autônomos que não precisam ser de ninguém, serão de todos, e farão tudo sozinhos. O planeta não precisará de tantos carros queimando gasolina e borracha, um para cada motorista, a frota diminuirá monstruosamente e ninguém olhará para um treco que anda sobre quatro rodas como símbolo de porcaria nenhuma.

Kanter está sendo precipitado? Não sei… Quem imaginaria, há dez anos, sistemas de navegação tão sofisticados como os que temos hoje? Quem é capaz de duvidar do avanço da indústria da conectividade global quando, com qualquer celularzinho mequetrefe, se pode hoje colocar no ar em tempo real (já ouviram falar do Periscope?) imagens em vídeo? Vejo essas coisas e fico sinceramente chocado. Transmitir qualquer coisa ao vivo com imagens é algo que, há pouco tempo, só era possível fazer com uma unidade móvel montada num caminhão, antenas enormes, microondas, cabos infinitos… E o Skype, que te coloca para falar com alguém do outro lado do mundo com vídeo e áudio, sem gastar nada? Você imaginava, no ano 2000, que isso seria possível em 2015 quando se conectava à internet pela linha telefônica? Quando morria de medo de fazer um interurbano porque custava os olhos da cara? Uma ligação internacional, então, era um evento.

Diante de tantos avanços tecnológicos, e tão rápidos, por que é que não se pode imaginar que daqui a dez anos um carro deixará de ser o que é hoje — um objeto de desejo, um símbolo de status, liberdade, prosperidade, potência, velocidade?

Sim, pensando bem, é possível que estejamos vivendo seus últimos dias. Acho que daqui a dez anos vamos olhar para 2015 e dar risada de algumas coisas que hoje nos causam espanto, inclusive de um texto como este. O futuro talvez seja muito mais espantoso do que podemos imaginar.

Por isso, vou aproveitar meus carrinhos o máximo que puder, antes que eles se transformem em vilões da Nova Ordem Mundial.

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edison
edison
8 anos atrás

Google = Umbrella ?

Ed
Ed
8 anos atrás

A melhor resposta sobre esse movimento de carros autônomos li hoje, no Carplace: “Em entrevista recente ao portal Automotive News Europe, o diretor de desenvolvimento de produto da Jaguar Land Rover, Wolfgang Epple, afirmou que a empresa jamais lançará um carro com tecnologia de condução autônoma. De acordo com o executivo, a decisão foi tomada pelo fato da a companhia não considerar como “carga” aqueles que estão dentro do veículo. “Nós não queremos construir um robô que entrega uma carga de um destino A para um destino B”, explicou.

Fabio Tust
Fabio Tust
8 anos atrás

Oi Flávio! Gostei muito do post. Me fez pensar. Ficamos um bom tempo eu e minha esposa falando sobre o que tu descreveu e organizou no teu texto. Deixa, por favor, eu te sugerir um outro texto, de outro Gomes, o Marco. Não tenho nada com ele, só gosto dos textos e opiniões. É um guri empreendedor ai em SP:
O texto é sobre o mundo com mais maquinas e menos empregos. Na verdade é um comentário longo sobre um artigo do The Atlantic:
https://www.facebook.com/omarcogomes/posts/10153474931663373

FPS3000
8 anos atrás

A resposta para saber se os carros serão demonizados ou não pela sociedade, qualquer que seja a novidade que vá desbancá-los, é sempre a mesma: enquanto quisermos autonomia para ir onde desejarmos, sem ter que usar roteiros pré-programados, veículos particulares, de duas ou quatro rodas, serão necessários.

Especificamente nesse caso, creio que é mais fácil o carro elétrico se tornar comum (ou o ônibus movido a cocô se tornar viável) ser do que um veículo sem motorista dar certo. Os custos de sistemas automatizados serão astronômicos, e deverão ser bancados por alguém (que com certeza não será a iniciativa privada).

Não vai demorar muito tempo para se comprovar que o sistema será inviável, e tudo o que vai restar são esses “carrinhos de bate-bate” caríssimos – mas sem uso.

Gastão
Gastão
8 anos atrás

Na minha opinião, é um processo irreversível, pelo menos a pequena escala, inicialmente,

Uma nave espacial chegou sozinha a Plutão há uns dias atrás, sem chocar com nada, sem desviar-se da sua trajetória, etc. Hoje, os aviões poderiam voar sem pilotos, os trens sem maquinistas, etc.

Como dizem os espanhóis, “la pregunta del millón es”: Com tanta tecnologia disponível e fiável, vocês entrariam num avião sem pilotos?

Eu não entraria num carro sem motorista.

Alexandre
Alexandre
8 anos atrás

Tanto faz. Adoro dirigir, independentemente de dividir estradas com googlinhos ou motoristas humanos. Devo ser um flagelo do século XX na futura nova ordem…

Müller
Müller
8 anos atrás

Pois eu acho o oposto, o automóvel vai continuar a ser cultuado.
O carro como necessidade, de fato, vai ser aos poucos substituído – como já o está sendo pelas bicicletas, basta dar uma olhadinha nos centros das grandes cidades do mundo – e quem pensaria em comprar um somente pela necessidade de deslocamento, de si e da família, poderá mudar de idéia.

Mas o carro como objeto de desejo, esse sim continuará sendo produzido, vendido, gerando lucro e tendo demanda. Aos poucos, vai acontecer o mesmo que ocorreu com vários outros “utensílios”, passando a ser considerado mercado de “nicho” (conceito chato, mas já faz parte do dia-a-dia).

Vai vender menos? Vai. Vai mudar a economia? Vai. Mas ainda vai ter muuuuita gente interessada em gastar dinheiro pra dirigir sua própria máquina ao levá-la de A pra B.

Anselmo Coyote
Anselmo Coyote
8 anos atrás

Haverão corridas de automóveis sem pilotos.

Dú
8 anos atrás

Problema do GPS é um só; Como aconteceu na Guerra do Golfo. Os Made In USA alteram os dados para o inimigo não utilizar. Agora, a mídia falar que o carro do Google bateu, que houve feridos…

Mario Sarot
Mario Sarot
8 anos atrás

Sou engenheiro e trabalho desde sempre no ramo automotivo. Nasci viciado por carros.

Mas sou o primeiro a defender que é uma maluquice total o fato de que o mundo e a economia mundial giram em torno do automóvel. Uma droga, uma praga moderna.

O surgimento de possíveis alternativas como carros elétricos autônomos e compartilhados talvez faça com que a população acorde para a realidade de o quanto é maluco pagar uma fortuna em máquinas ultra ineficientes, com índices absurdos de acidentes e nas quais passamos presos boa parte de nossos dias.

Andre Nascentes
Andre Nascentes
8 anos atrás

Acredito que o futuro do carro é o mesmo do cavalo. Um meio de transporte ultrapassado que tem vida na mão de entusiastas. Nos EUA já tem tem vários e aqui já está começando a ter os condomínios com pistas, que são para os carros o que os haras são para os cavalos.

Ed
Ed
8 anos atrás

Sei não.. há décadas que ´também se fala em carros voadores. Tirando alguns protótipos que alguns malucos fizeram por aí, nenhum se tornou comercial. Quanto aos carros autonomos. o Jeremy Clarkson escreveu um artigo bem legal onde ele pergunta: ” os modernos aviões de passageiros já são capazes de voar sozinhos. Mas, você viajaria num avião sem piloto?”.

Hélio
Reply to  Ed
8 anos atrás

Se vc só mudar o nome da “caixa”, de avião para elevador XYZ, fica fácil de encarar… Agente se acostumará fácil. Mas quando der m., vai ser de arrepiar, hein.

Mas fiquei curioso com um aspecto: a marginália, que faz do auto o seu alvo de maior valor, vai migrar pra que tipo de ilicitude?

Nelson Barreiros Neto
Nelson Barreiros Neto
8 anos atrás

Olha, não digo 10 anos… Mas vamos colocar em 50 anos e vou explicar por que 50… Vou traçar um paralelo com um hábito que quem não tinha, que era o de fumar, há 50 ou 60 anos estava por fora.

Hoje fumar é quase um sacrilégio, e proibido (acertadamente ao meu ver) em locais públicos fechados…

Quem sabe daqui há 50 anos quem estiver passando dirigindo um carro a combustão vai ter vários olhares de reprovação sobre si…

Como nosso pequeno grande blogueiro diz, o mundo está chato, e na minha opinião caminha para ficar pior…

Nando Figueiredo
Nando Figueiredo
Reply to  Jammal
8 anos atrás

Por favor, leiam as matérias não apenas as manchetes.

Viva o pais dos Hommer Simpsons.

perna quebrada
perna quebrada
Reply to  Nando Figueiredo
8 anos atrás

Vamos combinar que essa é uma manchete caça cliques, né?

Jammal
Jammal
Reply to  Nando Figueiredo
8 anos atrás

Li a matéria e mesmo assim achei interessante postar aqui. Não entendi seu comentário e nem sua grosseria.

Bkist
Bkist
8 anos atrás

Os donos de cavalos e carroças ficaram p… no início do séc. XX. Será que o lobby das petroleiras e da indústria automobilística será melhor que os deles?

rama
rama
8 anos atrás

Esses estudos são sempre muito mecânicos e presos a números, esquecendo algumas variáveis básicas das necessidades humanas.

Essa revolução tende a acontecer em regiões mais desenvolvidas, principalmente na Europa e talvez em NY, que tem uma densidade maior e outra organização urbanística e rede de transporte público. Mas de forma geral é fácil apontar motivos para que ao menos nos Eua e Brasil isso não aconteça de forma assim tão rápida.

Na Europa se tem, de forma geral, uma grande rede de transporte público, com minimercados pequenos espalhados pela cidade, muitos deles já self service e também contam com uma boa rede de trens para transportes intermunicipais, facilitando a adaptação à esta revolução/conceito. NY e Boston também.

Já em cidades como LA, as distâncias são enormes, tudo é feito pra carro, o metrô é ruim, não tem trens para passeio entre cidades, a cultura do automóvel é arraigada à organização urbanística. Mesmo com baixo custo, a conta é outra. Os supermercados são mega, ultra, no meio do nada, em locais baratos entre o subúrbio e o centro. O povo precisa de carro pra levar criança, trazer criança, fazer feira, levar a mudança pra casa de praia.

O Brasil, infelizmente, quis ser EUA. A gente não tem transporte público, não tem trens, não tem segurança. Em algumas cidades, esse negócio faz sentido. Faria pra mim, que mesmo de táxi em tempos atuais, gastaria menos do que mantendo um carro. Mas eu preciso viajar, levar malas, e pra cidades vizinhas visitar família. Eu, e muita gente nesses países, continuaremos a precisar de carro. Logo essa mudança não será tão radical assim, nem mesmo com esse preço citado artigo.

Alguém se imagina dentro de um veículo desses com esse povo mal-educado dirigindo outros carros?

Talvez a única coisa em que concorde plenamente é que os taxistas estarão lascados.

César
César
Reply to  rama
8 anos atrás

Tudo bem, respeito sua opinião, embora pense que ela não seja a mais próxima da realidade. A Europa tem uma grande e estruturada rede de transporte público, mas quem utiliza são os turistas. Os europeus utilizam muito pouco e cultuam o veículo particular (seja o carro ou principalmente o scooter) tanto quanto nós.
Ninguém gosta de depender de transporte público. Só mesmo para quem não tem mesmo outra opção. Seja no Brasil, nos EUA ou na Europa.

marcos
marcos
8 anos atrás

57 anos, acho que este mundo tá ficando cada vez mais sem graça. Saudades dos anos 70 um pouco dos 80. Como era bom, meninas (de verdade), festinhas, carros com escapamento barulhento, cerveja sem data de validade, cigarros, rock bom. Hoje um bando de mariquinhas bombados e ecológicos só querem saber de queimar a rosca. Barbaridade! Tão F…com este mundo.

Bruno Mantovanelli
Bruno Mantovanelli
8 anos atrás

Acho que em breve vão me proibir de andar com meu Fusca pelas ruas.

Maurício Filho
Maurício Filho
8 anos atrás
Nando Figueiredo
Nando Figueiredo
Reply to  Maurício Filho
8 anos atrás

Você leu a matéria???
O carro do Google foi atingido por trás por outro carro quando estava parado num cruzamento.
Ou seja o causador do acidente foi o motorista que vinha atrás.

perna quebrada
perna quebrada
Reply to  Nando Figueiredo
8 anos atrás

Ok, mas ainda apresentam esses carros como a oitava maravilha do mundo. É óbvio que um vai dar pau um dia.

Se seu computador trava de vez em quando, porque não seria diferente com um carro desse?

Banana Joe
Banana Joe
8 anos atrás

Vamos falar a verdade, nós todos somos peças de museu.
O mundo que se desenha não é para nós.
Ficamos para trás.

Mike Fields
Mike Fields
8 anos atrás

Todos usando apenas um carrinho. O sonho de um comunista.

Brunolustosa82
8 anos atrás

Em 1996, eu tinha 10 anos, sentado no sofá da casa de minha avó, assistindo Power Rangers na hora do almoço, Zordon chamava seus rangers e aparecia sua imagem na tela de cada relogio de cada rangers.. e eu achando aquilo realmente coisa de super herói… hheheheh já hoje..

Eduardo
Eduardo
8 anos atrás
Aliandro Miranda
8 anos atrás

Uma ligação internacional era um evento. Sensacional isso! E era mesmo. Eu guardei a conta da primeira ligação internacional que fiz!

EduardoRS
EduardoRS
8 anos atrás

Flávio, a verdade é que os carros JÁ SÃO considerados um estorvo pela grande maioria da população. Manter um carro custa caro, considerando impostos, seguro, manutenção, depreciação… e todo esse dinheiro é gasto em um objeto que fica parado mais de 90% do dia! Deixando de lado a paixão pelos carros e pensando de forma completamente isenta, é algo que não faz sentido algum – literalmente, rasgar dinheiro.

Estamos assistindo ao início de uma mudança no sistema mundial, do capitalismo particular (aquele to TER) para o capitalismo colaborativo (o do USAR). Você Flávio, idealista de esquerda assim como eu, deveria estar saudando essa revolução. Quem critica o novo sistema é conservador, que quer que as coisas fiquem como estão. Todas as indústrias passarão por esse período de adaptação, e a automotiva não vai escapar. O capitalismo tradicional tem prazo de validade, pois se baseia em crescimento infinito, e nós vivemos em um mundo de recursos finitos. Então, uma hora será preciso mudar.

Carros como os de hoje continuarão existindo. Vai levar bem mais do que 10 anos para termos tráfego 100% autônomo. Eu apostaria em, no mínimo, uns 50 anos. É preciso a readequação de fábricas caríssimas, de pensamento, de infraestrutura… isso leva tempo. O automobilismo vai continuar existindo, como as corridas de cavalo existem até hoje e continuarão também existindo. Ninguém precisa cortar os pulsos.

E mesmo assim, no futuro ainda será possível pegar um carro e curtir a estrada. O que acontecerá é uma otimização do tráfego nos grandes centros, redução do número de acidentes, redução do número de carros estacionados ocupando espaço nas ruas, redução do custo de acesso a um carro (democratização do veículo). Só coisas boas. Eu não vejo graça nenhuma e ver uma avenida engarrafada cheia de Corollas prata, Palios brancos e Celtas pretos. Preferiria que eles fosse substituídos por modelos compartilhados, pelo menos seriam trapizongas úteis à sociedade.

André Micheloto
André Micheloto
8 anos atrás

Sim, mas vejo um problema nesse negócio…

http://tecnologia.uol.com.br/noticias/efe/2015/07/17/carro-sem-motorista-do-google-se-envolve-pela-1-vez-em-acidente-com-feridos.htm

À parte a diferença entre carros e aviões (que trafegam com aterrorizantes velocidades e altitudes), experimente vender passagens para um vôo sem pilotos e repare no fiasco. Tudo bem que isso já acontece com trens, mas eles andam em trilhos e a única ação necessária numa emergência é frear! Tá fácil de um sistema com umas quinhentas redundâncias fazer isso.

Não sei se nossos conhecimentos (e confiança) evoluirão tão rápido a ponto de não temermos não poder assumir o controle de uma máquina em movimento no caso de uma pane. Não se esqueça que elas podem ocorrer no veículo em que estivermos embarcados ou numa outra centena ao nosso redor.

Sei lá…

Nando Figueiredo
Nando Figueiredo
Reply to  André Micheloto
8 anos atrás

Meu Deus, leiam a matéria.

O carro do Google foi atingido por um outro carro num cruzamento.

Não foi ele que provocou o acidente.

“Então, um veículo que vinha atrás não freou e bateu na traseira do Lexus do Google a uma velocidade de 27 km/h. A colisão provocou ferimentos leves nos pescoços das três pessoas que estavam carro da companhia americana e também no outro motorista.”

Rodrigo
Rodrigo
8 anos atrás

O marketing das montadoras nunca vai deixar os carros perderem seu status social.

O que realmente deve acontecer é uma mudança para elétricos e a busca por sistemas colaborativos.

Será como já é hj nos países mais ricos. A pessoa escolhe se quer um automático ou esportivo. No futuro, ela escolherá se quer um autônomo ou esportivo.

zeba
zeba
8 anos atrás

Deve ser a tendência, mas não da maneira como está descrito no texto. Qualquer cidade sem transporte público é impraticável.

Imagine em vez de carros eléricos sem motoristas, todos abandonassem ônibus e metrô e andassem de taxi? A cidade ficaria travada 24 horas. Totalmente inviável.

Outra: a necessidade de geração de energia elétrica teria que aumentar drasticamente assim como novos profissionais para mecânica (mecatrônica?) pois obviamente esses carros precisarão de manutenção.

Criar toda a infra-estrutura pra manter essa “nova realidade” demora muito mais do que criar carros sem motorista em série.

Thiago Cruz
Thiago Cruz
8 anos atrás

Hoje em dia já tem muita gente que vê um carro como uma mera ferramenta de locomoção, um mero equipamento tal qual uma máquina de lavar ou uma geladeira. Essas pessoas vão adorar essas porcarias de carros autônomos. Eu só espero que os carros normais continuem sendo uma opção. Mesmo que 90% das pessoas optem por essas porcarias, eu ainda quero ter o direito de dirigir meu carro.

Luiz Morais
Luiz Morais
8 anos atrás

Muito simples. Esses gurus especialistas em porra nenhuma, sempre destilam bobagens sem tamanho, sem nem mesmo pensarem noque estão alardeando. Pode ser um futuro, pode! As pessoas não precisarão mais ter um carro, pode ser, depende do tipo de vida de cada indivíduo.. Imagina existir uma rede de carros do Google por exemplo. Ninguém mais tem carro e os carros por sua vez são elétricos e pequenos para amobilidade melhorar. Eu, de férias, quero chegar ao aeroporto com minha esposa e meus dois filhos e toda a bagagem que carregamos, como faríamos em carros que não têm autonomia para o percurso e nem espaço para as pessoas e as bagagens? Ou ainda, eu mesmo de férias, resolvo ir para uma viagem na serra da canastra, ou em Laguna no Farol de Santa Marta, precisando passar por terrenos em que carros comuns tem dificuldades, como faria sem uma camionete por exemplo? No sítio da família?
Como sempre as especulações acerca do futuro, não passam de bobagens, por isso as pessoas ainda usam carros com pneus, queimando combustível fóssil e tem a propriedade do veículo.
Diziam sobre o celular a mesma coisa, hoje o celular virou despesa, sinal de status e custa mais do que uma linha telefônica na década de 90, tem de ser carregado em uma tomada todos os dias, tem que se preocupar com os bandidos que querem roubá-los, ou seja, foi um retrocesso em termos de custo e enchessão de saco.
Quanto aos combustíveis fósseis, esses mesmos especialistas não estudam o suficiente para descobrirem que carros elétricos existem desde 1890, porém pelo mesmo motivo de hoje, foram abolidos, ou seja a falta de eficiência acabou com os elétricos.. Hoje não é diferente. O carro elétrico é tido como ecológico, mas os especialistas em prra nenhuma ainda não deram uma solução para o descarte das inúmeras toneladas de metais pesados componentes nas baterias!!

Daniel Sanchez
8 anos atrás

Li um artigo do Bob Lutz, ex Presidente da GM, que fazia um paralelo entre o destino dado aos cavalos e o que será feito com os carros em um futuro próximo. Assim como os amantes do animal precisam ficar em um Hipódromo, quem gosta de automóveis terá que se limitar aos Autódromos. Você terá que alugar um espaço em uma garagem (será a cocheira do seu carro) em circuito ´para poder dirigir apenas lá dentro.

Speed Racer da Mooca
Speed Racer da Mooca
8 anos atrás

Numa visão mais abrangente, reparem que estamos falando de inteligência artificial, ainda hoje em computadores, cada vez mais em tablets e muito mais ainda em celulares inteligentes. Sendo assim, aquela velha previsão incerta de que “um dia as máquinas dominarão o planeta” acaba, no meu ponto de vista, rumando pra uma assustadora realidade, já que hoje o meu telefone (ainda chamo meus celulares de telefone) me diz onde eu estou, me diz inclusive quem está próximo à mim, chama taxi, me diz onde meu ônibus está passando e pede comida no restaurante que eu gosto.

Eltontoptec
Eltontoptec
8 anos atrás

Querendo ou não, algo terá que ser feito, alguma solução para a infestação de automóveis que tomou de assalto o planeta no século passado a ainda toma neste momento. Mas eu não sou tão otimista como o Sr Kanter quando ao curto período de transição que ele previu. As consequências econômicas para a indústria, para o comércio e para as pessoas seria trágica. Se considerar que apenas em dez anos essas mudanças sejam implantadas, a consequência do encolhimento do consumo de tudo que esta ligado direta e indiretamente a indústria e ao comércio de autos deverá gerar um impacto ecômico negativo sem precedentes. E ainda logo depois vem o efeito recessivo em cascata, que afeta todos os setores de produção, sem exceção.

Pode até acontecer, mas acho que será uma transição bem mais lenta, ao longo de várias décadas, confluindo com o definhamento da indústria do petróleo, não antes, e isso levará bem mais que dez anos.

Mateus
Mateus
8 anos atrás

Imagina se uma marmota dessas, por algum erro técnico, bate e mata os passageiros?

Mel Gibson
Mel Gibson
8 anos atrás

Tamus juntos … do meu fusca e da minha negra chamada Tereza eu não abro mão!!!

Jean
Jean
8 anos atrás
Nando Figueiredo
Nando Figueiredo
Reply to  Jean
8 anos atrás

Não leiam apenas a manchete, leiam a matéria.

Estar envolvido não é o mesmo que provocar o acidente.

“Então, um veículo que vinha atrás não freou e bateu na traseira do Lexus do Google a uma velocidade de 27 km/h. A colisão provocou ferimentos leves nos pescoços das três pessoas que estavam carro da companhia americana e também no outro motorista.”

Carlone Papa
Carlone Papa
8 anos atrás

“O futuro ficou meio desmoralizado.”.
Exato.

SAS
SAS
8 anos atrás

Relaxa Flavio, os carros como conhecemos hoje não vão acabar, pelo menos por uns bons anos ainda.
Quem é apaixonado por carros como você, vai preferir continuar dirigindo seu próprio automóvel. Os automáticos vão ficar pra quem não curte, não sabe, não quer dirigir, apenas quer se locomover. Será mais uma alternativa somente.
Pode virar só um hobby, mas sumir, duvido.

Paulo F.
Paulo F.
8 anos atrás

O único Zack que vale a pena ser ouvido é o do Black Label Society!
https://www.youtube.com/watch?v=zisGmnUGq7Y

GUS
GUS
8 anos atrás

Talvez isso venha tudo para melhorar no final das contas, a vida no planeta…não podemos mais suportar desperdício e fomentar uma economia claudicante, pensando nos que virão. Malgrado nossos gostos cada vez mais específicos – curtição de carros – talvez uma renovação total seja algo muito auspicioso mais adiante.

Guilherme Zahn
Guilherme Zahn
8 anos atrás

Fala Flávio,

só dois dedinhos nessa discussão… sabe que a “desromantização” do carro já está acontecendo… Na molecada de hoje não é difícil achar jovens que não sonham em tirar CNH logo que fazem 18, que acham carro uma coisa “velha” e “obtusa” (tá, eles não sabem o que é “obtuso”, mas deu pra entender a ideia).

Acho que o carro como a gente conhece, em um futuro aí (25 anos? Menos? Mais?), vai virar coisa de gente “diferente”, mais ou menos como câmera fotográfica de filme e disco de vinil…

rogerio de carvalho
rogerio de carvalho
8 anos atrás

Pô, FG, deprê total…
Que futuro feio da porra!!!!
Vou até lá na garagem falar pro meu carro que isso tudo é mentira, vou dar umas aceleradas nele pra queimar bastante gasolina, fazer barulho, fumaça…..

Marcelo dos Santos
8 anos atrás

Acho 10 anos um pouco otimista demais. Não pela tecnologia disponível, essa sim a teremos prontinha certamente. Mas pelos recursos e pela estrutura. Se já hoje é difícil dar mobilidade inteligente e de qualidade para a maioria da população dos grandes centros, imagine fazer com que essa tecnologia chegue às periferias, às zonas rurais, que façam pequenas viagens intra-estaduais. A gente vai precisar de uma estrutura social melhor pra poder desfrutar dessa evolução.

Nando Figueiredo
Nando Figueiredo
Reply to  Marcelo dos Santos
8 anos atrás

O carro automato já é uma realidade, dezenas de empresas já tem a tecnologia para adaptar os atuais veiculos fabricados a ela sem grandes mudanças.

Na verdade o que impede já a adição dessa tecnologia em larga escala é que um carro automato produz em media 10 Terabytes de dados por hora.

Isso mesmo, eles enchem 20 hd do seu notebook de informações em apenas 1 hora, imaginem uma frota de carros gerando e enviando tantos dados ao mesmo tempo.

Ou seja, não se tem como transmitir tal quantidade de dados as redes de infraestrutura pelos meios atuais sem um gigantes delay.

Mesmo com a nova geração de transmissão 5G talvez não se permitira esse tipo equipamento ser 100% funcional.

E é tentando resolver essa questão o foco de todas as empresas de tecnologia envolvidas nesse processo, pois quem conseguir primeiro com sucesso definira o “padrão” conect car. E deitara nos ganhos mundiais de cessão da mesma.

Rod
Rod
8 anos atrás

Há pesquisas que indicam que a industria automobilística mundial será substituída pela industria de robôs pessoais.

Andre Decourt
8 anos atrás

Não é melhor transporte coletivo???? Carro sem motorista beira a estupidez, é o cúmulo do individualismo, disfarçado de algo cool e politicamente correto, se querem banir o carro de algumas cidades, que o façam de maneira eficiente!!!

Fernando Passos
8 anos atrás

Flavio, acho que nem tanto ao mar e nem tanto à terra.

Haverá sim uma revolução no sistema de transporte, afinal as metrópoles estão cada vez mais saturadas, porém creio que estes “carrinhos” dominarão somente este setor das metrópoles.

Creio que os carros particulares terão ainda muito apelo, principalmente porque muitas e muitas pessoas, como eu, adoram dirigir, pegar uma estrada, cambiar, fazer uma curva, sentir a liberdade de ir para onde quer ir e não onde precisa ir.

Acredito que estes carros terão cada vez mais auxílios tecnológicos para que não se acidentem e a viagem seja cada vez mais segura e prazerosa.

Concordo que o apelo de ter um carro vai diminuir muito e vai abalar o mercado como um todo, o que fatalmente fará com que as montadoras repensem seus lucros e investimentos, focando mais em carros de médio e alto padrão e, praticamente, esquecendo dos populares da vida, os quais fatalmente serão substituídos pelos carrinhos do Google e afins.

Ainda acho que a indústria automobilística não deixará seus lucros sumirem, assim como até hoje a indústria do petróleo faz de tudo para não deixar novos combustíveis entrarem em peso no mercado, apesar de estarem começando a perder essa guerra.

Eu, enquanto tiver carros sendo vendidos e eu tiver dinheiro para comprá-los e sustentá-los, continuarei comprando e dirigindo, talvez só em estradas.

Carol
Carol
8 anos atrás

O livre mercado diz: de nada

Andre
Andre
8 anos atrás

Mais prático, com certeza, mais barato? Nem tanto, acho que seria mais ou menos o custo de alugar um carro. Que não compensa pra todos, nem em todas as situações.

Norson Botrel
Norson Botrel
8 anos atrás

FG, apenas uma correção técnica: taxi não paga imposto algum. Eles tem isenção de IPI, IPVA e não recolhem ISS.

Leon Neto
Leon Neto
8 anos atrás

Como diria certo personagem:
“Santa modernidade, Batman!”