WILLIAMS FW40

SÃO PAULO (alalaô) – Ah, legal. Desde o século passado, se tem uma equipe que segue uma linha, uma lógica, um conceito, um princípio, uma ideologia, um pensamento, uma convicção, uma norma, uma ideia, um juízo, uma visão, uma regra, um cânone, um preceito, um modelo, uma premissa, uma crença, um padrão, enfim, para designar seus carros, esta é a Williams.

Lei pétrea: a partir do FW01, cada carro seguinte seguirá a ordem de chegada após as iniciais de Frank Williams até o infinito. Muito bem. Ano passado, foi o FW38. Neste ano?

FW40.

Puta que pariu.

Leio que é para comemorar os 40 anos do time. Jura? Nossa, que emocionante. SEMPRE FOI UM ATRÁS DO OUTRO, POR QUE MUDAR AGORA?

[bannergoogle]Porque tradição é uma estátua que anda, já decretou um dia Buñuel. Sendo assim, dobro-me à decisão da Williams de pular o FW39 e digo: foda-se.

Realmente não tem nenhuma importância e o mundo não vai parar de girar porque ficará faltando um 39 para sempre na galeria de carros da fábrica de Grove. Aliás, deve ter sido a medida mais radical que a equipe tomou em sua história, pular o 39. Porque se tem uma equipe conservadora nesta categoria, ela se chama Williams.

Talvez porque esse jeito de ver a vida tenha sido muito bem-sucedido no passado. A Williams é a terceira maior vencedora da história, com 114 troféus (atenção: troféus, não troféis; assim como degraus, não degrais; mas se fala pedais, e não pedals) de primeiro lugar, atrás apenas da Ferrari, com 224, e da McLaren, com 182. É muita coisa.

O problema é que a distribuição dessas vitórias é bem irregular. Na década de 70, foram 5. Na de 80, anos de parceria com a Honda e sucesso com Mansell e Piquet, 37. Na de 90, quando o casamento com a Renault se tornou um dos mais prósperos da história, nada menos do que 61.

Aí veio o século 21, que talvez Frank não desejasse que chegasse um dia, tradicionalista que é, e as coisas começaram a degringolar. Na primeira década, tempos de BMW, Montoya e Ralf, dez vitórias. Na segunda, apenas uma. E estamos no fim dela.

A Williams venceu um GP pela última vez em 2012, com Maldonado na Espanha. Foi um ponto muito fora da curva, quase inexplicável. E foi vitória-vitória, ganhou na pista, não porque todo mundo quebrou. OK, Hamilton deveria largar na pole e foi punido, mas não importa, o venezuelano foi lá e fez seu trabalho muitíssimo bem. Antes dessa, porém, a última vitória tinha acontecido em 2004, com Montoya no Brasil.

É muito tempo no ostracismo. Que parecia começar a ser deixado de lado em 2014, quando entraram em campo os motores híbridos e a equipe trocou a Renault pela Mercedes. Em 2013, último ano dos motores aspirados V8, a Williams terminou o Mundial num patético nono lugar, com 5 pontos marcados em 19 corridas — uma média de 0,26 por GP. Maldonado e Bottas eram seus pilotos.

Veio 2014, com a Mercedes chegou Massa — Bottas permaneceu –, e o resultado foi excepcional: terceiro entre os construtores com 320 pontos (16,8 por corrida), nove pódios, uma pole, três presenças na primeira fila do grid. Mais pódios do que nas nove temporadas anteriores, melhor classificação desde o vice-campeonato de 2003. Era o início de uma nova e vitoriosa fase, todos apostavam.

Mas…

Mas sempre tem um mas, e em 2015 o desempenho começou a cair. O terceiro no Mundial de Construtores foi mantido, OK, mas a pontuação despencou para 257, média de 13,5 por GP. A quantidade de troféus caiu de nove para quatro, e não se viu um Williams na primeira fila do grid nenhuma vez. Ano passado, a curva descendente se acentuou. A equipe despencou para quinto no campeonato, foi superada pela Force India, marcou apenas 138 pontos (6,5 por prova) e só conseguiu um pódio e uma primeira fila.

[bannergoogle]Alerta vermelho? Que nada. Não mexe muito, porque Frank não gosta. Se chegou gente nova no staff técnico (não escrevo “estafe”, nem “estande”), foi por necessidade, não vontade. E entre eles está Pat Symonds, envolvido no Cingapuragate de 2008. Não é o tipo de gente com quem eu trabalharia.

Bem, o FW40 é esse da foto mais abaixo. Massa, como todos sabem — e souberam primeiro no Grande Prêmio, porque nóis é zika mano –, suspendeu a aposentadoria antes do Natal, foi chamado de volta para o lugar de Bottas e topou seguir a carreira. Lance Stroll, um moleque bilionário de 18 anos, com histórico irregular nas categorias de base, será o segundo piloto. Felipe terá a missão de ensiná-lo a ser gente. Creio que conseguirá.

O pai do canadense é um dos homens mais ricos do mundo — dono de grifes importantes e jecas, como Tommy Hilfiger e Calvin Klein, me contaram — e sempre gastou os tubos para o filhote ser campeão de alguma coisa. Comprou equipes e simuladores, até um carro de F-1 da Williams foi vendido a ele para que o menino pudesse se acostumar com o tamanho da pica.

Conseguiu, afinal Lance tem títulos e vitórias no currículo. Mas se envolve em muitos acidentes e é meio estabanado — isso foi visível na F-3 Europeia. Por outro lado, trabalha sério e demonstra uma surpreendente maturidade para a idade, de acordo com quem convive com ele.

A meta da Williams em 2017 tem de ser, pelo menos, voltar a se classificar na frente da Force India no campeonato. Massa pode se dar bem com esse tipo de carro que gasta menos pneu, não precisa economizar tanto combustível e anda no cacete o tempo todo. Sobre ele, o carro, pouco a dizer. Tem uma barbatana enorme, como se esperava, e a pintura é praticamente igual à de 2014, quando a Martini passou a ser sua principal patrocinadora — não muda, não mexe, não encosta! Pelo menos é bonita, e acho a mais bela de todas, para dizer a verdade.

williamsfw40

O problema para falar desse carro é que as fotos divulgadas foram tão ruins, tiradas no escuro, dentro de uma garagem, que precisei ligar para uma fonte na equipe para saber mais. A seguir, a íntegra da conversa.

Flavio Gomes (FG) – Não dá pra ver nada nessas fotos.
Fonte da Williams que Segue Trabalhando (FdaWST) – Também não enxerguei direito.

FG – No seu caso, talvez seja a idade.
FdaWST – Bom, pelo menos ainda tenho emprego.

FG – Eu também, e nem pensei em parar. Aliás, nem posso.
FdaWST – É verdade que aposentadoria aí, agora, só com 50 anos de trabalho?

FG – É o que andam dizendo. Idade mínima de 80, ou 90.
FdaWST – Eu podia ter parado com 35 de boa. Mas vou continuar.

FG – Faz bem. Ficar sem fazer nada é um saco.
FdaWST – Quem te disse isso? É muito bom. Nossa vida é muito difícil e sacrificante.

FG – Tá, tá bom, vamos mudar de assunto. E o carro novo, o que te pareceu?
FdaWST – Não me pareceu nada, já disse que não enxerguei direito. Levaram a gente para aquela garagem escura, disseram “esse aí é o carro” e mandaram todo mundo sair rapidinho. O Frank inclusive perguntou onde estava a mãe daquele moleque.

FG – Que moleque?
FdaWST – O Lance. Mas ele veio sozinho, ele já faz as coisas sozinho. Quer dizer, menos passar fio dental, a mãe tem sempre que ajudar.

FG – Entendi. Mas o menino é bonzinho, pelo menos?
FdaWST – Sim, e é muito rico. Deu presente para todo mundo na equipe. Eu ganhei um pacote de cuecas. Três, uma cinza, uma branca e uma preta.

FG – E isso lá é presente de rico?
FdaWST – Por isso que é rico, zé bão, rico não gasta dinheiro à toa.

FG – Verdade. E o que mais?
FdaWST – Ele não pode beber.

FG – Por isso contrataram um piloto veterano, que pode beber?
FdaWST – Se fosse por causa de bebida chamavam o Kimi.

FG – Bem, e quais as outras novidades na equipe para esse ano?
FdaWST – Ah, um monte. Na sala do Frank mudaram um quadro de lugar, trocaram o cinzeiro da recepção que ainda tinha Canon escrito e tiveram de comprar uma TV de led para o refeitório porque a antiga de tubo quebrou.

FG – Era de tubo?
FdaWST – Era. Gradiente. O Piquet que deu, parece. Olha, vou ter de desligar porque estão chamando para todos experimentarem os macacões. Vamos usar os do ano passado mesmo, e quem engordou que emagreça.

Assim minha fonte desligou, porque austeridade é tudo nesse mundo.

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Felipe
Felipe
7 anos atrás

Continua Maneiro. Pena que vai acabar. Eu deduzi que o Williams do ano que vem vai ser o FW39 e o de 2019 vai ser FW41. Pronto assim vai ficar tudo cronológico de novo.
Correto?

Henrique
Henrique
7 anos atrás

Flávio,

Impressão minha ou o primeiro F1 com barbatana foi a Ferrari 312 B2, usada por Jacky Ickx e Arturo Merzario em 1972? Que já era uma coisa horrorosa e foi logo aposentada… Abs!

José Colméia
José Colméia
7 anos atrás

Q barbatana horrorosa !!!
Com tanta tecnologia na F1 esses engenheiros n tinham solução esteticamente menos tosca ?

Henrique
Henrique
7 anos atrás

Esta trocado no texto 2015 com 2016.

Zé Maria
Zé Maria
7 anos atrás

Antes que os politicamente corretos venham com 10 pedras na mão, melhor avisar que o modo sarcasmo está ativado, ok!
Grato.
“Não mexe muito, porque Frank não gosta.”
Verdade, desde 1986!

Jean Paul Jones
Jean Paul Jones
7 anos atrás

Ah, acho que pulou pq teve 2 FW14, de 91, e o de 92 que era 14B, se não a conta ia dar certinha… E pq o FW15C tinha o C, era o terceiro modelo, será? Onde estão o 15 e o 15B?

pedro araujo
pedro araujo
7 anos atrás

gomes, seus textos sao as melhores coisas dessa pré temporada!

moisesimoes
moisesimoes
7 anos atrás

– Como se sabe, a Williams tinha vantagem em 2014 porque o melhor motor era suficiente. Em 2015 e em 2016 ficaram pra trás porque, além da galera conhecer melhor os motores , puderam desenvolver melhor a aerodinâmica. A “conservadora” estacionou. E esse ano, não é difícil saber no que vai dar, porque o foco é quase que totalmente na aerodinâmica. Engraçado que desde quando Rubens e Maldonado saíram que eu nao consigo torcer pela Williams. Nada contra o rapaz da roupa e o Massa. E o Bottas mereceu a vaga na Mercedes.

Difícil torcer pela Williams. Se eles tivessem contratado o Pé de Lôui no inicio do ano passado, ainda dava um voto de confiança.

Bom feriado.

Rafael Rodrigues
Rafael Rodrigues
7 anos atrás

“Hamilton deveria larga na pole e foi punido”

FG, eu sei que foi um erro de digitação, mas por favor, corrija. Hoje em dia todo mundo come o “r” do infinitivo. Não fique parecido, nem por lapso.

;-)

Airton Silva
Airton Silva
7 anos atrás

A Williams segue um norte, uma trilha, uma via, um curso, uma toada, um diapasão …

Anderson
Anderson
7 anos atrás

TV Gradiente de tubo… Não podia ser melhor esta tirada!

Evandro
Evandro
7 anos atrás

Se fosse patrocinada pela Martini e Kibon, o Kimi estaria na porta com o CV em mãos. =D

Imagine se o Bottas continuasse lá e o Kimi entrasse..

Seriaumaqeuipecomfalasmuitoenigmáticas.

Celio ferreira
Celio ferreira
7 anos atrás

De todos os carros apresentados até agora, a Mercedes é a mais lisa , com
muito poucos penduricalhos, e sem barbatanas, e deve vir com um motorzão.
A unica esperança éa Red bull amanhã ,,,,, vamos aguardar

Marcelo
Marcelo
7 anos atrás

Boa noite Flavio!

Parabéns. É um prazer ler suas colunas.
Há anos é garantia de boas risadas e informação.
Nunca escrevi para elogiar, então, continue assim.
Abraço!

Marcelo

Carlos Henrique
Carlos Henrique
7 anos atrás

Felipe Massa gosta mesmo de arriscar. Se essa DEFORMA da Previdência passa, será que ele ainda consegue aposentar?

Alberto
Alberto
7 anos atrás

Cinzeiro escrito Canon ahuehuaheahhehahue

Todos os carros iguais, exceto um. Adivinhem quem dominará o campeonato.

Emerson Vieira
Emerson Vieira
7 anos atrás

Muito bom!