TESTING, TESTING (2)

SÃO PAULO (falaremos mais) – Está aí a notícia mais importante do dia na F-1. A Haas, que na prática é bancada por Dmitry Mazepin, milionário russo que colocou seu filho para correr e patrocina o time através de sua empresa, a Uralkali, vai andar toda branca amanhã em Barcelona. Sem marca de patrocinador. Sem cores da bandeira russa.

A Uralkali vende fertilizantes venenosos para países desgraçados do Terceiro Mundo. Oficialmente, o estrume nacional ambulante com prisão de ventre esteve na Rússia alguns dias atrás para tratar do assunto — fertilizantes — e tirar uma foto com Putin, para poder colocar nos stories do Instagram, no Facebook, no Twitter e nos seus grupos do Telegram. Declarou-se “solidário à Rússia”. Depois foi a Budapeste para fazer selfie com Orbán e chamou a Hungria de “pequeno país”. Por óbvio, não sabia o que estava falando quando esteve em Moscou, nem tem a mais remota ideia sobre a situação na Ucrânia. Disse qualquer coisa porque é isso que sabe fazer: espalhar merda.

Bem, a Haas não foi solidária à Rússia e inclusive excluiu a patrocinadora do nome oficial da equipe. Nikita Mazepin vai treinar normalmente amanhã. Mas não se sabe o que acontecerá com a Haas diante das sanções impostas pelos EUA aos russos e a quem faz negócios com eles — a questão do conflito na ex-URSS será tratado aqui mais tarde, às 19h, no meu canal no YouTube e num “Gira mondo” que escreverei mais tarde. O piloto, claro, corre risco de ser despachado de volta para os Urais. Se a equipe tiver de rescindir seu contrato de patrocínio, o menino roda — ele é muito ruim, inclusive, e não fará falta nenhuma à F-1. Há um terceiro piloto com crachá do time, o brasileiro Pietro Fittipaldi. Mas ninguém deve esperar que ele seja elevado à condição de titular automaticamente no caso de Mazepin perder o lugar. A Haas precisa de dinheiro. O dinheiro de Nikita, este Fittipaldi não tem.

Günther Steiner, chefe da equipe americana, foi retirado das entrevistas coletivas de hoje, ao final do segundo dia da pré-temporada na Catalunha. Mazepin também não falou. A F-1 vai discutir se o GP de Sochi permanecerá no calendário diante da guerra iminente. A prova está marcada para 25 de setembro. Se for excluída, a candidata natural a substituí-la é a Malásia. Vettel foi o único a falar claramente sobre o assunto hoje. Disse que se tiver corrida no balneário de Putin, não vai.

A foto abaixo talvez seja a última de um carro da Haas com patrocínio e cores da Rússia. Funcionários do time já estão retirando a marca de todo o material do time, incluindo os adesivos dos caminhões.

Na pista, foi dia de Leclerc fazer o melhor tempo: 1min19s689, acima da marca obtida por Norris ontem — 1min19s568. A diferença é que Charlinho registrou sua melhor volta com pneus médios, contra os macios do inglês da McLaren no primeiro dia. Gasly foi o segundo colocado com a AlphaTauri, 0s229 atrás do monegasco da Ferrari. Foi quem mais andou hoje entre os 16 pilotos que treinaram: 146 voltas.

Na Mercedes, o dia não foi dos melhores. Pela manhã, Hamilton teve problemas em sensores de aquisição de dados, andou pouco e acabou o dia em último. Seu companheiro Russell falou que, pelo que viu até agora, Ferrari e McLaren estão “muito, muito competitivas” e seu time, neste momento, está atrás da concorrência. A Red Bull também enfrentou algumas dificuldades com o câmbio de Sergio Pérez.

O dia marcou a estreia oficial do chinês Guakyu Zhou na Alfa Romeo (foto abaixo). O primeiro chinês a correr na categoria falou que o carro da F-1 de 2022 é “diferente de tudo” que já pilotou na vida. Fez o décimo tempo, depois de 71 voltas.

Chamou a atenção uma imagem da Ferrari “ondulando” na reta, efeito chamado de “porpoising”, algo como o movimento de um boto nadando. Foi atribuído a uma anomalia do efeito-solo, quando a passagem do ar é interrompida rapidamente por baixo do carro e ele perde pressão aerodinâmica por alguns instantes e dá a impressão de saltar no asfalto. De acordo com Mattia Binotto, chefe da equipe italiana, será algo fácil de resolver. Veremos.

A primeira bateria de testes da pré-temporada termina amanhã na Espanha. Depois, as equipes voltam à pista entre os dias 10 e 12 de março no Bahrein, onde começa o Mundial no dia 20. Até lá, os olhos do mundo estarão voltados para outra corrida. A da insanidade humana.

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TESTING, TESTING (1)

SÃO PAULO (vai, Lusa!) – Terei de ser muito rápido, porque daqui a pouco tem Portuguesa x XV no Canindé e já estou de saída. Na próxima postagem coloco o “Fórmula Gomes” de hoje aprofundando as análises — sem cagar regra — do primeiro dia da pré-temporada de 2022.

Foram 16 pilotos de todas as equipes na pista. Problemas, apenas com a Alfa Romeo e a Haas. Câmbio nas duas. Andaram pouco, mas acontece, teste é para isso mesmo. Só que com regras e carros totalmente novos, perder tempo em treino atrapalha muito.

As principais equipes andaram bastante, sem relatar defeitos mecânicos em seus carros. Verstappen foi quem passou mais tempo no cockpit, 147 voltas. A Red Bull finalmente mostrou seu carro, já que a apresentação do RB18 foi fake, com um modelo de computador, mockup para deixar em exibição em posto de gasolina.

O carro de verdade tem uma lateral bem diferentona, asa traseira também, soluções bem distintas das adotadas por Ferrari e Mercedes, por exemplo. A montagem abaixo, com alguns dos carros novos fotografados hoje pelo mesmo ângulo mostra como os times seguiram caminhos bem desiguais para projetar seus modelos novos.

Aí em cima estão faltando Alfa Romeo, Williams e Haas. Para vocês não ficarem sem imagens, seguem um pouco mais abaixo. O carro da Williams, na foto, está todo emporcalhado com “flow-vis”, corruptela para “visualização de fluxo”, uma tinta que os caras espalham no automóvel para que os fluxos de ar mostrem seus caminhos — uma forma de checar se os estudos em túnel de vento e computador batem com a realidade.

A Haas também revelou seu carro de verdade pela primeira vez, totalmente diferente do modelo mostrado no lançamento virtual, há alguns dias. Já a Alfa só vai apresentar sua pintura definitiva no domingo, dia 27. Por isso, pilotos e carro estavam camuflados.

A foto da Haas mostra como será a asa-móvel neste ano, nesses aerofólios futuristas de duas lâminas. Ficou muito claro, em todos os projetos, que os engenheiros procuraram, como sempre, otimizar os fluxos de ar. Que, neste ano, devem ser dirigidos ao assoalho, acelerando sua passagem para a criação do efeito-solo. As asas, tanto na frente quanto atrás, perderam importância na geração de “downforce” justamente para não deixar o ar atrás dos carros muito turbulento. Assim, eles poderão andar mais perto uns dos outros.

O melhor do dia foi Hamilton disfarçado de espião dos tempos da Guerra Fria passeando pelo paddock com sobretudo, gorro e máscara. Parou um tempinho diante dos boxes da Red Bull para ver o que a concorrência estava aprontando. No fim do dia, deu entrevista dizendo que quem pode estar um pouco na frente no desenvolvimento do carro novo é a Ferrari, que no ano passado largou o modelo de 2021 para pensar só em 2022. Faz algum sentido, mas não quer dizer que isso vai resultar em algum tipo de domínio.

Lando Norris fez o melhor tempo do dia: 1min19s568, com pneus macios. A pole do ano passado, de Hamilton, foi obtida em 1min16s741. Os tempos vão cair bastante, ainda. Teoricamente, os carros deste ano são um pouco mais lentos. Mas a gente sabe como é a F-1. No fim, ficam mais rápidos. Sempre.

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RÁDIO BLOG

And the papers want to know whose shirts you wear
Now it’s time to leave the capsule if you dare

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NAS ASAS

Vontade de montar uns aviõezinhos da Revell. Encontro esse fácil?

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FOTO DO DIA

Não sei onde (desconfio…), nem quando, como, por quê, nada. Mas que é uma baita foto, isso é.

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WE ♥ RACE CARS

Não tem pintura mais bonita, desculpem…

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ALPINE A522

SÃO PAULO (falta uma) – É quase irresistível a tentação de brincar com a cretina da ministra e a histórica frase “agora meninas vestem rosa e meninos vestem azul”, declamada em estado anímico que se assemelhava a um orgasmo em praça pública — um dos primeiros atos dessa coisa que chamam de governo brasileiro. Mas essa mulher é tão asquerosa, nociva e perigosa que não consigo misturar humor com tamanha desgraceira que se abateu sobre nós. Seria como normalizar sua existência, quase legitimá-la, tratando o que sai daquela mente de esgoto com alguma leveza e graça.

Assim, fiquemos apenas nas informações disponíveis. A BWT, especializada em tratamento de água, filtros caseiros e industriais, passa a ser a principal patrocinadora da Alpine, que apresentou seu carro novo hoje em Paris. A empresa austríaca introduziu o rosa na F-1 em 2017, quando passou a patrocinar a Force India — e foi até o fim da equipe, já rebatizada como Racing Point. No ano passado, estampou seu logotipo, em tamanho menor, nos carros verdes da Aston Martin — sucessora da Racing Point. Agora, vai para o time francês.

O A522 será totalmente rosa nas duas primeiras etapas do campeonato, no Bahrein e na Arábia Saudita. Como na imagem abaixo.

Rosa nas primeiras duas corridas do ano: agrado à BWT

Depois, a Alpine reassume o azul como cor predominante, mas com laterais e asas em rosa, como nas fotos lá do alto, na galeria que abre este texto.

Na apresentação de hoje, mais do que os pilotos — Alonso e Ocon — a estrela do dia foi Otmar Szafnauer, recém-chegado da Aston Martin. Romeno de 57 anos criado nos EUA, Szafnauer começou na BAR em 1998, quase trabalhou na Jaguar (Bobby Rahal o contratou, mas foi mandado embora e ele nem recebeu crachá da equipe), foi para a Honda, ficou lá até 2008 e em outubro de 2009 desembarcou na Force India. Lá ficou até o ano passado, primeiro ano da equipe sob nova direção e nome, Aston Martin.

“Sei o quanto essa equipe é boa e quanto ela pode ser de novo”, disse Szafnauer. E tem razão. A gente tende a desprezar a Renault (acho que todo mundo sabe que a Alpine é a Renault, né? Alpine é uma divisão esportiva da montadora francesa com largo histórico nas pistas desde sempre) pelos resultados pífios dos últimos anos, mas não se pode ignorar um currículo de 12 títulos mundiais de Construtores e 11 de pilotos. Alguns desses com equipe própria, outros com times parceiros como Benetton, Williams e Red Bull.

No ano passado, o time venceu uma corrida com Ocon na Hungria, uma zebra do tamanho do mundo. A Alpine tropeçou muito, talvez por montar uma estrutura pouco convencional com muito cacique e pouco índio. Dividida entre a fábrica de Viry-Châtillon, na França, onde são feitos os motores, e Enstone, na Inglaterra, de onde saem os carros, ninguém sabia direito a quem pedir as coisas. “Quem encomenda o roquefort?”, perguntava um funcionário. “Pede pro Prost”, respondia alguém. “E as baguetes?” “Liga pro Pat Fry!” Era uma zona que a chegada de Szafnauer pretende organizar.

Alonso, que conseguiu um pódio no ano passado com o terceiro lugar no GP do Catar, era o mais animado hoje no lançamento do carro. Aos 40 anos, o espanhol disse que decidiu voltar à F-1 por causa dos novos carros e do novo regulamento. Para ele, é a chance de alguma surpresa acontecer na atual relação de forças da categoria, que só viu pilotos de duas equipes conquistando títulos nos últimos 12 anos — Mercedes e Red Bull. Pode ser? Pode. É provável? Não muito.

O A522 tem laterais com fendas como os carros da Ferrari e da Aston Martin e um cofre do motor menos bojudo que no ano passado. Os componentes internos foram rearranjados no espaço disponível e a configuração do turbo é parecida com a da Mercedes. Ninguém admite, mas há um certo temor com possíveis quebras. Saberemos se isso vai acontecer a partir de quarta-feira em Barcelona.

Sim, sei que vocês vão perguntar o que quer dizer esse código A522. Consta que Szafnauer, assim que chegou à fábrica, encontrou Alonso e perguntou qual carro ele tinha alugado no aeroporto para vir à primeira reunião com a chefia. “Um Audi”, respondeu Fernandinho. “Qual modelo?” “A5.” “Que ano?” — o chefe é muito detalhista. “22”, falou o piloto.

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