Blog do Flavio Gomes
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O homem de gesso

SÃO PAULO (aos que escreveram a história, que se escrevam suas histórias) – Acho que todos se lembram aqui da coluna Retrovisor que contou a saga de Marcos Veiga Jardim e seu protótipo DKW de gesso. O texto circulou na internet e caiu no grupo de vemagueiros do qual participo no Yahoo!. Hoje nosso decano […]

SÃO PAULO (aos que escreveram a história, que se escrevam suas histórias) – Acho que todos se lembram aqui da coluna Retrovisor que contou a saga de Marcos Veiga Jardim e seu protótipo DKW de gesso. O texto circulou na internet e caiu no grupo de vemagueiros do qual participo no Yahoo!. Hoje nosso decano José Mattos nos enviou um outro texto, de autoria de Napoleão Ribeiro, que venho acompanhado de várias fotos.

É mais uma homenagem ao bravo Jardim, que fez tanto das suas no Planalto Central. Reproduzo abaixo, com imagens que haverão de deixar pelo menos um dos nossos, o Joaquim, de queixo caído. Porque se ele procurar bem, vai se achar nessas fotos que têm quase 40 anos. Ali na calçada, vibrando com o homem de gesso.

No dia 23 de outubro de 1966 foi organizada uma competição automobilística nas ruas de Goiânia, os “100 Km de Goiânia”.

Foi uma prova disputada num circuito improvisado com largada na Av. Anhanguera, seguindo à esquerda pela Av. Tocantins, contornando em forma de arco a rua 81, depois a Av. Araguaia, até retornar à Anhanguera.

Essa prova, destinada a pilotos estreantes e novatos, marcou o retorno das corridas a Goiás. Foi vencida pelo brasiliense Tito Passarinho e marcou a estréia do Marcos Jardim ao volante do seu DKW-Vemag nº 12.

Em 1967 e 1968, Jardim participou de outras provas em Goiânia e Brasília e, empolgado, resolveu construir um protótipo com mecânica DKW-Vemag. Teve a “brilhante” idéia de fazer a carroceria em gesso para torná-la mais leve. Isso, evidentemente, não deu certo pois, além de se desgastar com o contato com a água, trincava toda com a vibração do carro.

Como não funcionou, Jardim acabou construindo uma carroceria tradicional e estreou o seu protótipo em 28 de julho de 1968 no Circuito de Anápolis, onde obteve um excelente 5º lugar.

Essa prova merece um relato: à época, as corridas disputadas em Goiás eram organizada pela FADF, num esquema muito amador para os dias de hoje. A cronometragem era manual e o “palanque” destinado ao pessoal que “apontava” as voltas ficava na reta de largada com os boxes nos fundos. No tumulto da corrida, esqueceram de anotar as voltas dos carros que entravam nos boxes, e como um deles foi o protótipo do Jardim, ao final ele reclamou, dentro da sua “fleugma”, com o Jorge Morais que tinham deixado de registrar uma das suas voltas.

Em princípio, o Jorge não deu importância, mas diante da insistência, tempos mais tarde, já em Brasília, verificou o engano. Dentro do ótimo clima que se vivia nas corridas à época, Jorge apanhou um pedaço de papel e anotou “VALE UMA VOLTA”. Quando se encontrou com o Marcos, entregou o papel. Marcos se divertiu muito com o episódio e sempre que se encontravam ele cobrava a “tal” volta.

Para os Mil Km de Brasília de 1970, Marcos Jardim apareceu em dupla com o Dezinho em outro protótipo, que aproveitava a mecânica do Malzoni que havia sido destruído em Salvador, Bahia, no ano aterior.

Heroicamente o carro permaneceu na prova até quase o seu final, mas, apesar disso, percorreu apenas 62 das 180 voltas. Ocorre que o carro tinha o motor quase inteiramente exposto e este não resistiu ao volume de água acumulada nas ruas de Brasília, numa prova disputada debaixo de uma chuva fraca, mas contínua. Com isso, parava a cada duas ou três voltas funcionando em um ou dois cilindros.

Esse carro também merece um pequeno registro: no final de 1970 ele recebeu um motor de VW refrigerado a ar no lugar do DKW-Vemag. Assim transformou-se no único protótipo nacional com motor VW a ar dianteiro. Ele correu em Goiânia no dia 18/10/1970 em prova na qual Jardim também correu com seu protótipo com motor DKW-Vemag.

Depois dessa prova, Marcos Jardim só retornaria às corridas depois da inauguração dos autódromos de Brasília e de Goiânia, correndo de Maverick e Opala. Por volta de 1975, Jardim se envolveu na criação e lançamento do Fórmula VW 1300 da Govesa, um ótimo carro que teve muito destaque na categoria, sagrando-se campeão brasileiro de 1976 com Plácido Iglesias e paulista com Chico Serra.

Este foi o automobilista Marcos Jardim, um entusiasta, um esportista, uma abnegado, um gentleman e acima de tudo um exemplo de ser humano.

Pode ser que as datas não batam com o relato da dupla Brandão-Joaquim, mas isso não tem a menor importância. Legal é ver os protótipos de Jardim, saber do “vale uma volta”.

A ele, nossas reverências.