SOBRE ONTEM À TARDE
A IMAGEM DA CORRIDA
SÃO PAULO (só mais uma!) – Pode colocar Guanyu Zhou como “imagem da corrida”? Ah, pode, vai! Afinal, o chinês se despede da F-1 daqui a uma semana e na sua penúltima prova na categoria conseguiu tirar a Sauber do zero em 2024. Esse carro verde e preto apareceu raramente aqui. Na maioria das vezes, para que falássemos mal dele. A resiliência do time, porém, não pode ser ignorada. Esforço, dedicação, paciência… Embora a Sauber tenha ficado em penúltimo e último na maior parte dos treinos, classificações e corridas do ano, nunca foi uma coisa muito discrepante. O pelotão está achatado, as distâncias, no cronômetro, são menores do que eram no passado.
Mas numa F-1 tão competitiva, em que um segundo pode separar o primeiro do último, não dá para ser mais ou menos. Tem de ser bom. Zhou foi bom, domingo. Oitavo lugar, quatro pontos, e os abraços de todos no time. Inclusive Mattia Binotto, chefe recém-contratado que vai comandar o projeto da Audi. Ano que vem essa equipe terá um brasileiro, Gabriel Bortoleto. Por isso, os olhos do país estarão nela.
Não sobrou muita coisa para falar sobre o GP do Catar, então vamos logo à principal notícia de hoje, já antecipada ontem: Esteban Ocon não vai mesmo correr pela Alpine em Abu Dhabi. É oficial. Seu contrato foi rescindido para permitir que ele participe dos testes pós-temporada com a Haas — devidamente paramentado com as marcas que representará em 2025. São testes que começam na terça-feira depois da prova, no mesmo circuito de Yas Marina. Jack Doohan, que estava escalado para o primeiro treino livre, fará seu GP de estreia na categoria. O australiano será o companheiro de Pierre Gasly no ano que vem.
Ocon chegou à Renault para a temporada de 2020, depois de um ano sabático em 2019. Em 2017 e 2018, emprestado pela Mercedes — sua patroa desde priscas eras –, correu pela Force India. Naquele ano, o da pandemia, terminou o campeonato em 12º e fez um pódio, com o segundo lugar no GP do Sakhir. Em 2021, com o time rebatizado como Alpine, foi 11º e ganhou uma corrida, na Hungria — uma das maiores zebras de todos os tempos. Na sua melhor temporada pelo time azul, em 2022, não levou nenhum troféu, mas fechou o campeonato em oitavo. No ano passado foi 12º e ganhou uma taça em Mônaco, com uma surpreendente terceira colocação. Neste ano, o ponto alto foi o segundo lugar em Interlagos, quase um milagre. Está em 14º no campeonato com 23 pontos. Gasly tem 36.
Falemos agora da Mercedes e de Lewis Hamilton. Ele deixa o time no próximo domingo, encerrando uma longa jornada de 12 anos — desde 2013 é titular dos prateados. Nas seis primeiras temporadas na F-1, de 2007 a 2012, também correu de motor Mercedes, mas defendendo a McLaren. No ano que vem, pela primeira vez vai acelerar um motor de outra marca na categoria.
Pena que os últimos capítulos sejam tão melancólicos. Ontem, levou duas punições: queimou a largada e não acionou o limitador de velocidade nos boxes. “Foi minha culpa nos dois casos. Eu e esse carro não temos nos dado bem desde o início”, falou. Hamilton terminou a prova de Lusail em 12º. Em todos esses anos de Mercedes, só três vezes tinha recebido a bandeira quadriculada acima da 11ª colocação. A quarta foi ontem.
O NÚMERO DO CATAR
400
…GPs completou Fernando Alonso na F-1, com uma bela sétima posição. O espanhol estreou em 2001 pela Minardi, foi bicampeão em 2005 e 2006 pela Renault, defendeu McLaren, Ferrari e Alpine, e aos 43 anos segue firme e forte na Aston Martin. É um fenômeno de longevidade e talento.
O Mundial de Pilotos está decidido desde Las Vegas, mas tem coisa para ser resolvida em Abu Dhabi, domingo. Uma delas, o vice-campeonato. Com o segundo lugar em Lusail, Charles Leclerc se aproximou de Lando Norris e agora a diferença entre eles é de apenas oito pontos. Segundo lugar é o primeiro entre os perdedores, diria o outro. Mas é melhor do que terceiro.
Já o título de Construtores ficou mesmo para a última rodada do ano. A McLaren lidera com 21 pontos de vantagem sobre a Ferrari. É muito difícil perder. O time papaia não ganha uma taça entre as equipes desde 1998. A Ferrari, desde 2008. É a primeira vez desde 2012 que a equipe italiana chega à última etapa de um Mundial lutando pelo título
A FRASE DE LUSAIL
“Perdi completamente o respeito por ele. Na frente das câmeras é um, por trás é outro. Hipócrita. Ele que vá se foder.”
Verstappen, sobre Russell
Max Verstappen disse que ficou “puto da vida” com George Russell porque, no sábado, o inglês da Mercedes foi à direção de prova reclamar que o holandês estava lento na sua frente na volta de preparação para a tentativa de fazer a pole. Resultado: os comissários tiraram uma posição do grid do piloto da Red Bull. Que era justamente a pole. E quem subiu para primeiro? Russell.
Verstappen tem razão na queixa. A punição foi absurda. Talvez não tenha tanta razão assim na reação com Russell — acho exagerada, e George não parece ser um “duas caras” daqueles traíras ardilosos que faz tudo pelas costas.
Mas talvez tenha apenas ficado muito puto, mesmo. É bem a cara de Max, um obcecado pela vitória que não desiste nunca (sim, há outros obcecados pelas vitórias que não desistem nunca, não é só o Senna, tá bom, pessoal?).
E o Sergio Pérez, hein?
O cara rodou sozinho numa relargada. Não dá mais para defender. Contei ontem: é a maior distância entre um campeão e seu companheiro de equipe desde 1994. Verstappen já confirmou o tetra e o mexicano está em oitavo no Mundial. Há 30 anos, pela Benetton, Michael Schumacher ganhou o título e seu parceiro Jos Verstappen terminou o campeonato em décimo. Ele mesmo, o pai de Max.
Christian Horner disse ontem que Pérez “é um grande cara” e que a Red Bull “vai apoiá-lo até a última volta do último GP do ano”. “Depois, o que ele decidir está decidido”, falou. “Checo foi maravilhoso para a gente em 2021, 2022 e 2023. Ele é adulto e sábio o bastante para chegar às suas conclusões.”
A Red Bull espera que ele conclua que deve pendurar o capacete. Não quer demiti-lo porque teria uma multa pesada para pagar — seu contrato vai até o fim de 2026. Hoje, a ESPN americana e o site “The Race” cravaram que o piloto se despede em Abu Dhabi. Vai parar de correr. E que seu substituto será Liam Lawson ou Yuki Tsunoda.
Aguardemos.
GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS
GOSTAMOS do quinto lugar de Pierre Gasly, piloto subestimado nesta F-1 cheio de afagos com a molecada e que fecha os olhos para a turma das equipes médias com um pouco mais de rodagem. Gasly, que foi da Red Bull, estaria hoje fazendo muito mais pela equipe dos energéticos do que Pérez.
NÃO GOSTAMOS do décimo lugar de Lando Norris, que estava em segundo até cometer um erro bobo sob bandeira amarela e receber um stop & go de 10s. “A equipe me deu um grande carro hoje, o mais rápido de todos, e eu estraguei tudo. Conheço as regras de bandeira amarela, sei que precisa tirar o pé, a gente aprende isso desde o kart. Por alguma razão, não fiz isso. É um soco no queixo… Só me resta pedir desculpas ao time até o fim do ano”, falou.