SOBRE ONTEM À TARDE

A IMAGEM DA CORRIDA

Pontos para Zhou: milagre em sua penúltima corrida na F-1

SÃO PAULO (só mais uma!) – Pode colocar Guanyu Zhou como “imagem da corrida”? Ah, pode, vai! Afinal, o chinês se despede da F-1 daqui a uma semana e na sua penúltima prova na categoria conseguiu tirar a Sauber do zero em 2024. Esse carro verde e preto apareceu raramente aqui. Na maioria das vezes, para que falássemos mal dele. A resiliência do time, porém, não pode ser ignorada. Esforço, dedicação, paciência… Embora a Sauber tenha ficado em penúltimo e último na maior parte dos treinos, classificações e corridas do ano, nunca foi uma coisa muito discrepante. O pelotão está achatado, as distâncias, no cronômetro, são menores do que eram no passado.

Mas numa F-1 tão competitiva, em que um segundo pode separar o primeiro do último, não dá para ser mais ou menos. Tem de ser bom. Zhou foi bom, domingo. Oitavo lugar, quatro pontos, e os abraços de todos no time. Inclusive Mattia Binotto, chefe recém-contratado que vai comandar o projeto da Audi. Ano que vem essa equipe terá um brasileiro, Gabriel Bortoleto. Por isso, os olhos do país estarão nela.

Não sobrou muita coisa para falar sobre o GP do Catar, então vamos logo à principal notícia de hoje, já antecipada ontem: Esteban Ocon não vai mesmo correr pela Alpine em Abu Dhabi. É oficial. Seu contrato foi rescindido para permitir que ele participe dos testes pós-temporada com a Haas — devidamente paramentado com as marcas que representará em 2025. São testes que começam na terça-feira depois da prova, no mesmo circuito de Yas Marina. Jack Doohan, que estava escalado para o primeiro treino livre, fará seu GP de estreia na categoria. O australiano será o companheiro de Pierre Gasly no ano que vem.

Ocon chegou à Renault para a temporada de 2020, depois de um ano sabático em 2019. Em 2017 e 2018, emprestado pela Mercedes — sua patroa desde priscas eras –, correu pela Force India. Naquele ano, o da pandemia, terminou o campeonato em 12º e fez um pódio, com o segundo lugar no GP do Sakhir. Em 2021, com o time rebatizado como Alpine, foi 11º e ganhou uma corrida, na Hungria — uma das maiores zebras de todos os tempos. Na sua melhor temporada pelo time azul, em 2022, não levou nenhum troféu, mas fechou o campeonato em oitavo. No ano passado foi 12º e ganhou uma taça em Mônaco, com uma surpreendente terceira colocação. Neste ano, o ponto alto foi o segundo lugar em Interlagos, quase um milagre. Está em 14º no campeonato com 23 pontos. Gasly tem 36.

Falemos agora da Mercedes e de Lewis Hamilton. Ele deixa o time no próximo domingo, encerrando uma longa jornada de 12 anos — desde 2013 é titular dos prateados. Nas seis primeiras temporadas na F-1, de 2007 a 2012, também correu de motor Mercedes, mas defendendo a McLaren. No ano que vem, pela primeira vez vai acelerar um motor de outra marca na categoria.

Pena que os últimos capítulos sejam tão melancólicos. Ontem, levou duas punições: queimou a largada e não acionou o limitador de velocidade nos boxes. “Foi minha culpa nos dois casos. Eu e esse carro não temos nos dado bem desde o início”, falou. Hamilton terminou a prova de Lusail em 12º. Em todos esses anos de Mercedes, só três vezes tinha recebido a bandeira quadriculada acima da 11ª colocação. A quarta foi ontem.

O NÚMERO DO CATAR

400

…GPs completou Fernando Alonso na F-1, com uma bela sétima posição. O espanhol estreou em 2001 pela Minardi, foi bicampeão em 2005 e 2006 pela Renault, defendeu McLaren, Ferrari e Alpine, e aos 43 anos segue firme e forte na Aston Martin. É um fenômeno de longevidade e talento.

O Mundial de Pilotos está decidido desde Las Vegas, mas tem coisa para ser resolvida em Abu Dhabi, domingo. Uma delas, o vice-campeonato. Com o segundo lugar em Lusail, Charles Leclerc se aproximou de Lando Norris e agora a diferença entre eles é de apenas oito pontos. Segundo lugar é o primeiro entre os perdedores, diria o outro. Mas é melhor do que terceiro.

Já o título de Construtores ficou mesmo para a última rodada do ano. A McLaren lidera com 21 pontos de vantagem sobre a Ferrari. É muito difícil perder. O time papaia não ganha uma taça entre as equipes desde 1998. A Ferrari, desde 2008. É a primeira vez desde 2012 que a equipe italiana chega à última etapa de um Mundial lutando pelo título

A FRASE DE LUSAIL

“Perdi completamente o respeito por ele. Na frente das câmeras é um, por trás é outro. Hipócrita. Ele que vá se foder.”

Verstappen, sobre Russell
Max e George: acabou o amor

Max Verstappen disse que ficou “puto da vida” com George Russell porque, no sábado, o inglês da Mercedes foi à direção de prova reclamar que o holandês estava lento na sua frente na volta de preparação para a tentativa de fazer a pole. Resultado: os comissários tiraram uma posição do grid do piloto da Red Bull. Que era justamente a pole. E quem subiu para primeiro? Russell.

Verstappen tem razão na queixa. A punição foi absurda. Talvez não tenha tanta razão assim na reação com Russell — acho exagerada, e George não parece ser um “duas caras” daqueles traíras ardilosos que faz tudo pelas costas.

Mas talvez tenha apenas ficado muito puto, mesmo. É bem a cara de Max, um obcecado pela vitória que não desiste nunca (sim, há outros obcecados pelas vitórias que não desistem nunca, não é só o Senna, tá bom, pessoal?).

Pérez: depois de mais uma rodada, dificilmente fica na Red Bull

E o Sergio Pérez, hein?

O cara rodou sozinho numa relargada. Não dá mais para defender. Contei ontem: é a maior distância entre um campeão e seu companheiro de equipe desde 1994. Verstappen já confirmou o tetra e o mexicano está em oitavo no Mundial. Há 30 anos, pela Benetton, Michael Schumacher ganhou o título e seu parceiro Jos Verstappen terminou o campeonato em décimo. Ele mesmo, o pai de Max.

Christian Horner disse ontem que Pérez “é um grande cara” e que a Red Bull “vai apoiá-lo até a última volta do último GP do ano”. “Depois, o que ele decidir está decidido”, falou. “Checo foi maravilhoso para a gente em 2021, 2022 e 2023. Ele é adulto e sábio o bastante para chegar às suas conclusões.”

A Red Bull espera que ele conclua que deve pendurar o capacete. Não quer demiti-lo porque teria uma multa pesada para pagar — seu contrato vai até o fim de 2026. Hoje, a ESPN americana e o site “The Race” cravaram que o piloto se despede em Abu Dhabi. Vai parar de correr. E que seu substituto será Liam Lawson ou Yuki Tsunoda.

Aguardemos.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS do quinto lugar de Pierre Gasly, piloto subestimado nesta F-1 cheio de afagos com a molecada e que fecha os olhos para a turma das equipes médias com um pouco mais de rodagem. Gasly, que foi da Red Bull, estaria hoje fazendo muito mais pela equipe dos energéticos do que Pérez.

NÃO GOSTAMOS do décimo lugar de Lando Norris, que estava em segundo até cometer um erro bobo sob bandeira amarela e receber um stop & go de 10s. “A equipe me deu um grande carro hoje, o mais rápido de todos, e eu estraguei tudo. Conheço as regras de bandeira amarela, sei que precisa tirar o pé, a gente aprende isso desde o kart. Por alguma razão, não fiz isso. É um soco no queixo… Só me resta pedir desculpas ao time até o fim do ano”, falou.

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VAI TE CATAR (4)

Verstappen: 63 vitórias, nove na temporada

SÃO PAULO (falta uma) – Não basta ser campeão. Tem de ser campeão ganhando corrida. Talvez por isso hoje Max Verstappen tenha feito mais festa no Catar do que na semana passada em Las Vegas, quando conquistou seu quarto título mundial. É que lá foi com um quinto lugar. Em Lusail, ele venceu. É mais gostoso, na lógica cartesiana deste holandês que começou o fim de semana com um carro impossível de guiar e terminou alcançando sua nona vitória no ano, a 63ª na carreira. Isso um dia depois de ter sua pole-position tungada pelos comissários esportivos da penúltima etapa do campeonato.

O piloto da Red Bull dominou a prova com a categoria de sempre, passando por duas relargadas e contanto com o infortúnio de seu rival mais direto, Lando Norris, que foi punido com um stop & go e viu ruírem suas chances de um possível ataque na parte final da corrida. O inglês da McLaren terminou em décimo e agora vê seu vice-campeonato ameaçado por Charles Leclerc, segundo colocado no Catar, agora apenas oito pontos atrás na classificação — 349 x 341. A temporada, mais longa da história da F-1 com 24 etapas, acaba no próximo fim de semana em Abu Dhabi.

Lá também será definido o título de Construtores, com 21 pontos separando a líder McLaren, que não é campeã desde 1998, da Ferrari — esta, na fila desde 2008. Os italianos marcaram 35 pontos no fim de semana, contra 32 do time papaia. A McLaren, além de fazer uma dobradinha na Sprint, ontem, foi ao pódio hoje com Oscar Piastri em terceiro.

O GP do Catar teve outros destaques, como os primeiros pontos da Sauber com Guanyu Zhou em oitavo, e a ótima quinta colocação de Pierre Gasly, quinto com a Alpine. Seu companheiro de equipe, Esteban Ocon, provavelmente se despediu do time com o abandono na primeira volta. Deverá ser substituído em Yas Marina pelo australiano Jack Doohan, que será titular no ano que vem. O francês já acertou sua saída para a Haas em 2025.

Foi uma corrida divertida, apesar de alguns momentos de certa acomodação. As paradas para trocas de pneus e as entradas do carro de segurança acabaram agitando uma prova quase amistosa, disputada num certo clima de fim de festa.

Todos os pilotos escolheram os pneus médios para a largada, exceção feita a Nico Hülkenberg, da Haas, na rabeira do grid. A noite em Lusail estava fria, 19°C, bem diferente do ano passado — quando as temperaturas passaram dos 30°C na época da prova, início de outubro. Na largada, Verstappen foi muito bem e pulou na frente do pole George Russell, que ainda perdeu posição para Norris.

O safety-car foi chamado no final da primeira volta, depois de uma lambança de Hülkenberg lá no fundão. Ele tocou em Ocon, que levou junto Franco Colapinto. A corrida dos dois últimos acabou ali mesmo. O argentino vive um péssimo momento, depois de começar bombando sua trajetória na F-1 pela Williams. São quatro corridas sem pontuar com um punhado de acidentes. Não teve culpa hoje, é verdade. Mas quem larga no fundão está sempre mais sujeito a esse tipo de coisa. E o que fica para o cartel é mais um abandono. Ademais, se seu carro não está andando nada é porque a equipe está tendo de recorrer a peças usadas por Alan Jones e Nigel Mansell para reconstruir a viatura destruída em batidas recentes em treinos e corridas.

A relargada aconteceu na volta 5, com Verstappen, Norris, Russell, Piastri, Leclerc, Carlos Sainz, Sergio Pérez, Lewis Hamilton, Yuki Tsunoda e Kevin Magnussen nas dez primeiras colocações. Lewis queimou a largada e pouco depois recebeu uma punição de 5s. Foi a primeira de uma série interminável de pênaltis aplicados ao longo das 57 voltas da corrida, por diversos motivos.

Max procurou abrir logo mais de 1s sobre Norris, para evitar ataques com a asa móvel. E conseguiu. A primeira parte da corrida foi morna. As ultrapassagens se davam mais para trás. Tsunoda começou a ser superado por todo mundo: Magnussen, Gasly, Fernando Alonso, Zhou e Valtteri Bottas passaram o japonês até a 20ª volta. Lá na frente, nada de muito empolgante acontecia. Lusail é um circuito rápido sem freadas fortes, o que acaba reduzindo as possibilidades de ultrapassagem. Por isso todos esperavam pelo momento de trocar pneus para ver o que seria possível fazer.

Antes de abrir a janela de pit stops Piastri resolveu atacar Russell pelo terceiro lugar. Mas George parou na volta 24 para não levar um risco na carenagem de seu carro na batalha direta. E a Mercedes se atrapalhou com um pneu, o traseiro direito, demorando demais para devolvê-lo à pista. Voltou em 11º. Ali suas chances de pódio foram para o vinagre. Na pista ainda, Hamilton perguntava pelo rádio por que estava tão lento. “O carro está quebrado?” “Não, Lewis, é ruim mesmo”, respondeu seu engenheiro.

Na volta 30, as câmeras flagraram um espelhinho retrovisor largado no asfalto no fim da reta dos boxes. Era do carro de Albon. “Um motoboy! Um motoboy chutou meu espelho!”, gritou o tailandês. “Não, Alex, voou sozinho”, informou o rádio. Uma bandeira amarela num painel eletrônico foi indicada ali. Max percebeu, mas a equipe já se antecipou: “Não precisa tirar o pé”.

Piastri: salvando o fim de semana da McLaren

Já estava chegando a hora de todo mundo parar, mas ninguém quis arriscar antes de a direção de prova decidir o que fazer com aquele espelho. Um safety-car virtual, por exemplo, poderia ser acionado. Na dúvida, ficaram todos na pista. E Verstappen socou ainda mais o pé, abrindo mais de 2s5 sobre Norris.

Então, na volta 34, Bottas passou em cima do tal espelhinho, espalhando cacos de vidro e farpas de fibra de carbono por todo lado. Resultado: Hamilton e Sainz passaram por cima e furaram seus pneus. Na volta 35, antes de qualquer safety-car, Piastri se antecipou, parou e fez sua troca. Só então a direção de prova colocou o carro de segurança na pista. E todo mundo foi para os boxes. Inclusive Russell, para um segundo pit stop. A Mercedes colocou um novo jogo de pneus duros em seu carro, o que deixou o inglês abespinhado: “Senhores, por que insistiram nestes pneus mais resistentes e rígidos? Por que não aqueles mais fofinhos, aderentes, mais apropriados para as condições climáticas desta região do planeta? Sim, compreendo o aquecimento global. Não sou um negacionista. Mas está frio, vejam vocês… São esses fenômenos extremos, estamos presenciando catástrofes no mundo inteiro. O que dizer das chuvas na Espanha, da seca na Amazônia, das enchentes no Big River do South?”, questionou, demonstrando grande conhecimento das tragédias naturais recentes. “Precisamos falar sobre isso, claro. Entendo perfeitamente. Mas, voltando aos pneus, CARALHO, POR QUE COLOCARAM ESSES PNEUS DE MERDA DE NOVO?” Não houve resposta.

Enquanto os fiscais tiravam os restos do espelhinho da reta, o pelotão teve de passar por dentro do pit-lane. Com todas as trocas feitas, a ordem para a relargada era Verstappen, Norris, Leclerc, Piastri, Pérez, Gasly, Russell, Sainz, Zhou e Alonso. Na volta 40, bandeiras verdes e pé no porão.

Pérez fora: só passa vergonha

E a corrida, que estava demorando para pegar no breu, animou. Norris mergulhou para cima de Max, que não deu a menor moleza. Agarrou-se à liderança como se fosse uma garrafa de Evian gelada no deserto. Gasly tentou uma freada tardia e quase arrastou meia dúzia de carros com ele. Não bateu em ninguém. Piastri e Leclerc foram para o corpo a corpo e prometeram se pegar de porrada na hora do recreio. E, um pouco mais atrás, Pérez rodou e Hülkenberg foi parar na brita. Os dois se enterraram sozinhos. Uma vergonha. O mexicano, definitivamente, não merece mais a F-1. Safety-car de novo.

A relargada veio na volta 42. Dessa vez, Max foi mais esperto e atento, impedindo um ataque de Norris. Deu uma brecadinha antes de acelerar, ganhando espaço valioso em relação ao #4 da McLaren. Que, por sua vez, teve de se defender de Leclerc.

Nessa hora, surgiu nas telas uma mensagem indicando a punição de 10s com stop & go para Norris. Motivo: não reduziu a velocidade sob bandeira amarela. Tinha duas voltas para pagar o pênalti. Sua corrida acabou. Mais atrás o pau comia com três pilotos que arriscaram colocar pneus macios para as últimas voltas: Alexander Albon, Tsunoda e Liam Lawson.

Leclerc e Sainz: pontos importantes para a Ferrari

Norris parou para pagar a multa na volta 46. Tentou argumentar com o cara da CET — “isso aqui está virando uma verdadeira indústria de multas!”, reclamou –, mas não teve jeito. Voltou em último, acabando com as chances da McLaren de fechar a conta no Mundial de Construtores hoje. Verstappen, Leclerc, Piastri, Russell, Gasly, Sainz, Alonso, Zhou, Albon e Magnussen eram os dez primeiros. Hamilton também foi punido, por excesso de velocidade nos boxes. “Foi a única vez que fui rápido na corrida…”, teria dito depois a alguns amigos. Não tenho confirmação sobre a veracidade da informação. O piloto, para não passar mais vexame, chamou a equipe pelo rádio e pediu para ir para o hotel. “Negativo”, respondeu Bono Vox, seu engenheiro. “Vai ficar aí até o fim, senão a gente desconta o dia.” Ele ficou na pista.

O agito proporcionado pelo espelhinho arrancado pelo motoboy imaginário de Albon durou dez voltas. Na 50ª, as posições se estabilizaram novamente com Verstappen bem à frente de Leclerc. Mais para trás, porém, a coisa seguia movimentada. Magnussen, por exemplo, partiu para cima de Albon e ganhou a nona posição. Nos boxes da Sauber, a aflição era visível: Zhou, em oitavo, estava perto de fazer os primeiros pontos da equipe no ano. Em 11º, Bottas mirava Albon e podia, também ele, se colocar entre os dez primeiros. Gasly, em quinto, era outro destaque da prova, marcando pontos importantíssimos para a Alpine.

Bottas efetivamente passou Albon, cujos pneus macios já tinham acabado, na volta 53. Não teria, no entanto, como segurar Norris. O inglês voltou à zona de pontos ao passar o finlandês. Tudo bem. O time verde e preto, cores inspiradas na camisa do América Mineiro, seguia na zona de pontuação com seu simpático piloto chinês. Que foi recompensado com o título de “Piloto do Dia” pelo amigo internauta. Merecido.

Resultado final em Lusail: cinco abandonos

Ao final das 57 voltas, Verstappen, Leclerc e Piastri foram para o pódio. Russell, o quarto colocado, tomou um pênalti de 5s por infração sob o safety-car, mas não perdeu a posição. Gasly, Sainz, Alonso, Zhou, Magnussen e Norris foram os dez primeiros.

O piloto da Red Bull não vencia uma corrida no seco desde a Espanha, em junho. Subiu a 429 pontos, contra 152 de seu patético companheiro de equipe, Pérez. Que não terá como mudar mais de posição na tabela e vai terminar o ano em oitavo. É a maior diferença entre um campeão e seu companheiro de equipe desde 1994. Naquele ano, Michael Schumacher ganhou seu primeiro título pela Benetton, com seu parceiro em décimo.

Seu nome? Jos Verstappen, o pai de Max.

O mundo dá voltas. E essa história de DNA, sei não…

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VAI TE CATAR (3)

Max comemora: pole cassada no começo da madrugada

SÃO PAULO (o cara não é brincadeira) – Foram 11 corridas de jejum de poles. E Max Verstappen voltou à primeira posição do grid com uma classificação espetacular hoje no Catar. Mas não levou. Algumas horas depois da sessão, foi punido com a perda de uma posição no grid porque, segundo os comissários, atrapalhou George Russell. Isso numa volta em que o inglês não estava buscando tempo, mas sim preparando sua volta rápida. Um pênalti estapafúrdio. Com isso, ele troca de posição com o piloto da Mercedes e larga em segundo.

Seria a nona pole de Verstappen neste ano — a última foi na Áustria exatos cinco meses atrás. Com a inversão entre os dois da primeira fila, Russell agora soma cinco poles na carreira, quatro nesta temporada. A segunda fila terá Lando Norris e Oscar Piastri, da McLaren.

O piloto da Red Bull não precisava se esforçar tanto. Afinal, conquistou o título no último fim de semana, em Las Vegas. Mas o rapaz não dá sinal de acomodação. Mesmo com um carro inferior, e que começou mal as atividades em Lusail, se recuperou e foi buscar a posição de honra. Terminara a Sprint em oitavo, se arrastando. Ele e a equipe buscaram soluções e encontraram. Mesmo tendo perdido a pole, passou a ser um dos favoritos à vitória amanhã.

Foi uma classificação legal, a desta tarde no Catar, com quatro equipes podendo fazer a pole. Ninguém vinha dominando os treinos e mesmo a dobradinha da McLaren na Sprint não foi daquelas de arrasar. Os primeiros colocados chegaram colados na quadriculada na minicorrida. Assim, apesar do caráter quase amistoso do GP do Catar, até que a expectativa para a definição do grid era boa.

Com frio, temperatura na casa dos 19°C, a sessão começou com uma surpresa no Q1: Hülkenberg eliminado, ele que vem sendo presença constante nas fases decisivas de classificações. E, fato raríssimo, a Sauber avançou para o Q2 com seus dois pilotos. Ficaram fora Albon, Lawson, o já citado Hulk, Colapinto e Ocon. Está dando dó de Ocon, que tem andado com um Clio 2001 enquanto Gasly, seu companheiro, tem todas as atualizações da Alpine. Esteban será piloto da Haas no ano que vem. Lawson, que é bom mas parece ser um chato de galochas, reclamou de Alonso: “Ele me atrapalhou deliberadamente!”, reclamou, pelo rádio. Não tinha acontecido nada.

Russell foi o mais rápido na primeira parte do “qualy” (quanta intimidade…) com 1min21s241. Leclerc, Sainz, Norris, Verstappen e Alonso ficaram nas seis primeiras posições. No Q2, Russell começou bem e fez 1min21s161. Chamava a atenção sua boa forma, contrastando com a apatia de Hamilton no cronômetro. Ontem, ele chegou a dizer que “não consegue mais ser rápido”. Falava de classificações — tem levado tempo de Jorginho toda hora.

Verstappen chegou a superar o inglês da Mercedes com 1min21s085, acordando a Red Bull. Mas logo foi superado de novo por Russell, com 1min21s084. Diferença: 0s001. E depois Max voltou à ponta com 1min20s687. Caíram Gasly, Bottas, Zhou, Tsunoda e Stroll. Alonso passou ao Q3 e comemorou como se fosse um título de Copa do Mundo. Ele e Magnussen se juntaram às duplas de Red Bull, Mercedes, McLaren e Ferrari na fase final da classificação.

Com Ferrari, McLaren, Red Bull e Mercedes mais ou menos no mesmo nível, o Q3 começou totalmente indefinido. Russell foi o primeiro a fazer uma volta muito boa, em 1min20s575. Verstappen foi à luta e virou 0s045 mais lento. Ou menos rápido. Faltando dois minutos para o encerramento, quem estava na pista preparava a volta rápida aquecendo pneus, carregando baterias, trocando o óleo e verificando as pastilhas. E os dez abriram voltas em busca de um lugar à lua.

O grid em Lusail: inverta Verstappen e Russell

No fim das contas, Verstappen, que é um gênio e não adianta nada ficar torcendo o nariz para ele, acabou fazendo 1min20s520 com seus pneus já usados — foi a sacada da Red Bull, os pneus usados. Russell ficou a 0s055 dele. Norris, Piastri, Leclerc, Hamilton, Sainz, Alonso, Pérez e Magnussen fecharam a turma dos dez primeiros. Depois, como já mencionado, George foi promovido à pole.

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VAI TE CATAR (2)

SÃO PAULO (hoje é Liberta!) – Oscar Piastri foi o vencedor da Sprint do Catar agora pela manhã. Uma provinha mequetrefe que teve como cereja do bolo a primeira posição entregue nos metros finais por Lando Norris, que liderou 18 das 19 voltas. A McLaren não pediu. O inglês fez por conta, para devolver a gentileza do Brasil – quando ainda lutava pelo título e qualquer ponto importava. Lá, Piastri trocou de posição com Norris. “Estava pensando nisso desde Interlagos. Não estou aqui para ganhar Sprints. A equipe nem queria, mas resolvi fazer.”

E fez, e está tudo bem. Para a equipe, importante era fazer uma dobradinha, o que acabou acontecendo. Com a Ferrari em quarto e quinto, o time papaia aumentou sua diferença na briga pela taça de Construtores para 30: 623 x 593.

Norris, que ontem fizera a pole para a Sprint, largou bem, pulou na frente, e Piastri deu o bote rapidinho sobre George Russell para ficar em segundo. Dos ponteiros, Max Verstappen foi o pior, caindo de sexto para nono. Liam Lawson foi um desastre, de décimo para 17º.

Na quarta volta, sem asa móvel, Piastri teve de cortar um dobrado para segurar a Mercedes de Russell, fechando a porta na cara do inglês com alguma veemência. George, claro, reclamou: “Vejam bem, amigos. Com o uso do dispositivo conhecido como DRS, pude aproximar-me de meu adversário oriundo de terras australianas e logrei êxito ao iniciar a manobra. Outrossim, no momento de concluí-la o rude colega…”, e foi aí que Toto Wolff pediu para desligarem o rádio.

Na nona volta Norris percebeu que o companheiro estava em apuros e tirou um pouco o pé para permitir que Oscar pudesse abrir a asa para se defender de Russell. Carlos Sainz também vinha perto em quarto, com Lewis Hamilton em quinto.

O melhor momento da corrida foi a ultrapassagem de Charles Leclerc sobre Hamilton na 13ª volta. Com asa aberta, o monegasco assumiu o quinto lugar em cima de seu futuro companheiro de equipe. Lewis jogou duro, mas limpo. Foi daquelas ultrapassagens milimétricas, negociadas com precisão.

Norris voltou a ajudar Piastri trazendo o parceiro para perto para abrir a bendita asa móvel, porque sem ela Russell acabaria ganhando sua posição. E foi assim até o fim da corridinha, com os quatro primeiros muito próximos, mas sem conseguir ultrapassar.

Os três primeiros recebem seus prêmios de Khaby Lame, “tiktoker” senegalês naturalizado italiano 

Norris saiu da frente de Piastri poucos metros antes da linha de chegada e o australiano venceu uma Sprint pela segunda vez – a outra foi lá mesmo, no Catar, no ano passado. Russell, Sainz, Leclerc, Hamilton, Nico Hülkenberg e Verstappen foram os oito primeiros colocados, que marcaram pontos. Oscar não parecia muito feliz com o presente do companheiro e disse apenas que “foi um bom trabalho de equipe”. Zak Brown, o chefe, foi até o meio da pista para aplaudir seus pupilos e tirar uma foto com eles.

E foram todos jantar e se preparar para a classificação da corrida principal, que começa às 15h. O GP do Catar, amanhã, tem largada prevista para as 13h de Brasília.

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VAI TE CATAR (1)

SÃO PAULO (cumprindo tabela) – Sendo bem franco, a conquista do título de Verstappen em Las Vegas deixou nos fãs da F-1 aquela sensação de “precisa mesmo?”, no que diz respeito às duas últimas etapas do ano. Hoje começaram as atividades em Lusail, no Catar. Acho a pista sem graça, sem sal, sem alma, sem nada. E se eu disser que a definição do Mundial de Construtores me empolga amiúde, estarei mentindo descaradamente. McLaren e Ferrari estão na briga.

Mas vamos lá. Hoje teve um treino livre e a definição do grid da Sprint, minicorrida que será disputada amanhã às 11h pelo horário de Brasília. Norris fez a pole e Russell larga em segundo. Piastri, Sainz, Leclerc, Verstappen, Hamilton, Gasly, Hülkenberg e Lawson ficaram com as dez primeiras posições.

Norris na pole: agora não adianta mais

Agora, no entanto, Inês é morta para Landinho. O inglês da McLaren, pode-se dizer, reagiu tarde. E ainda corre o risco de perder o vice para Leclerc, embora eu considere meio difícil descontar 21 pontos em duas etapas. São 60 em jogo, OK, mas o monegasco da Ferrari não anda lá muito animado.

A classificação para a Sprint escancarou mais uma vez as deficiências de Pérez, apenas 16º no grid, e teve como destaque o 13º de Bottas, da Sauber. Para quem tem andado o ano inteiro em último ou penúltimo, um 13º acaba sendo quase um milagre. Sauber que foi notícia com a confirmação de que o QIA, fundo soberano de investimento do Catar, comprou parte da equipe que já é de propriedade da Audi. Uma grana boa, forte, que diz mais sobre o pé no breque que o Grupo Volkswagen meteu no projeto de F-1 do que propriamente sobre as perspectivas do novo time. Audi e QIA (Qatar Investment Authority) serão sócios na equipe. A participação do fundo é, de acordo com as informações oficiais, “minoritária e significativa”.

Um alemão e um catari: novos chefes de Bortoleto

A gente conhece esse fundo mais por ser dono do Paris Saint-Germain do que por qualquer outra coisa, mas os caras têm participações na Volkswagen, na Porsche, em empreendimentos imobiliários de Londres e Nova York, aeroportos como Heathrow, bancos espalhados pelo mundo e sabe-se lá mais o quê. É dinheiro infinito.

O acordo significa que Gabriel Bortoleto terá sheiks como patrões, a exemplo do que já acontece com Neymar, Jorge Jesus e Cristiano Ronaldo. Boa sorte a todos. A F-1 está empolgadíssima com o dinheiro árabe. Tem corridas no Bahrein, em Abu Dhabi, no Catar e na Arábia Saudita — de onde vem igualmente um de seus maiores patrocinadores, a petroleira Aramco, que por sua vez também é dona de parte da Aston Martin.

Que sejam muito felizes e que Alá abençoe seus negócios. Inshalá.

Depois de vencer o GP de Las Vegas, Russell acabou sendo a surpresa da noite desta sexta em Lusail, andando muito perto da favorita McLaren. “Queremos uma dobradinha!”, vibrou Norris, o pole. Uma animação um pouco fora de hora, mas é o que temos para hoje.

Na Red Bull, além de mais um fracasso de Pérez, chamou a atenção o modelito “sou tetra” de Max, com estrelinhas em profusão nas sapatilhas e no capacete.

Por fim, notícia que vem da Mercedes: Mick Schumacher será dispensado da função de piloto reserva e vai ficar só na Alpine no WEC. Foram dois anos ao lado de Toto Wolff nos boxes, aparecendo na TV. Ninguém se interessou.

Seu lugar deverá ser ocupado por Bottas, que não tem emprego para o ano que vem.

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AGENDINHA

Depois de uma corrida de madrugada, um GP com horários mais civilizados… Anotem na agenda a programação do GP do Catar!

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SOBRE ONTEM DE MADRUGADA

A IMAGEM DA CORRIDA

Max saúda o público: quatro títulos seguidos

SÃO PAULO (repensem seus conceitos) – Max Verstappen já pode ser colocado, fácil, na lista dos três maiores de todos os tempos. Ao menos na minha. Cada um tem a sua, e não vou discutir isso aqui. Meus outros dois são Michael Schumacher e Lewis Hamilton. Pela ordem? OK, sem muro: Schumacher, Verstappen e Hamilton. Por quê? Porque sim, poderia dizer para abreviar a conversa. Mas se os números não bastarem, pensem em tudo que esses três já fizeram na F-1 (ganhar campeonato de Benetton, tirar a Ferrari da fila, conquistar cinco títulos seguidos, bater recordes de vitórias e poles, estrear aos 17 anos, ganhar corrida aos 18, vencer 19 num ano…) e depois ponderem com as grandes façanhas de seus preferidos, e façam a lista que quiserem.

A minha tem Verstappen.

Entre outros motivos, porque também gosto do estilo mais “cool”, menos afetado, distante de querer fazer da Fórmula 1 algo maior do que é — um campeonato de corridas de automóveis, não uma odisseia de heróis vestindo armaduras que enfrentam demônios e dragões. Uma competição de altíssimo nível em todos os níveis, se é que me entendem. Um esporte que exige talento, alguma coragem, força mental e física. Ganha o mais rápido, e quando não der para ser mais rápido, que seja o mais esperto e inteligente.

Verstappen reúne todas essas qualidades. E a que mais encanta é o jeito de pilotar: preciso, rápido, decidido, criativo quando precisa. Max é um rapaz que gosta de carros que sejam como ele, velozes e eficientes. É um competidor puro-sangue que não tem inimigos imaginários.

O tetra é merecidíssimo. Não foi com o melhor carro do ano, mas quando teve alguma vantagem técnica, no início da temporada, fez o que tinha de fazer: ganhou 70% das dez primeiras corridas. Aí foi só esperar o momento de comemorar. E, de presente, ainda deu aos fãs da F-1 uma das mais lindas vitórias de qualquer piloto em todos os tempos, a de Interlagos.

Acho que não dá para pedir muito mais.

A temporada de 2024 tem sido muito boa. Tem sido, porque ainda não acabou. Há uma boa disputa pelo título de construtores, que está abertíssimo: McLaren com 608, Ferrari com 584. São apenas 24 pontos de vantagem para o time papaia, que anda meio cabisbaixo depois do que aconteceu em São Paulo. As atuações de Norris e Piastri em Las Vegas foram muito discretas, opacas, apagadas. Fizeram, juntos, 15 pontos — contra 27 da Ferrari e 43 da Mercedes.

Faltam duas etapas, no Catar, neste fim de semana (com Sprint), e em Abu Dhabi. E com a vitória de Russell ontem de madrugada, pela primeira vez na história sete pilotos diferentes venceram mais de um GP na mesma temporada: Verstappen (oito), Norris e Leclerc (três cada), Piastri, Sainz, Hamilton e Russell (dois cada). Claro que a fartura do calendário, com suas 24 corridas, ajuda. Mas considerando que no ano passado foram só três vencedores (Max com 19 vitórias, Pérez com duas e Sainz com uma), não dá para reclamar.

Acho que já falamos ontem dos agora cinco pilotos da história que conseguiram quatro títulos seguidos. Verstappen se junta a Schumacher (cinco, de 2000 a 2004), Vettel (2010 a 2013), Hamilton (2017 a 2020) e Fangio (1954 a 1957). Uma galeria e tanto. Perguntaram ao holandês se ele, quando corria de kart, imaginava que chegaria a tanto. A resposta foi simples e direita: “Absolutamente não!”. Disse que sonhava em chegar à F-1, quem sabe fazer uns pódios e ganhar umas corridinhas, mas tanto assim, não.

Abaixo, a lista de todos os campeões desde 1950, para recortar e guardar. É modo de dizer, claro. Basta salvar a imagem no computador.

Todos os campeões: cinco com quatro títulos seguidos

O NÚMERO DE LAS VEGAS

…lugar dá título em Las Vegas. Foi em quinto que Verstappen ganhou o tetra, ontem. A cidade recebeu a F-1 em 1981 e 1982 numa pista montada no estacionamento de um hotel. As corridas fecharam aquelas temporadas. Em 1981, Nelson Piquet, de Brabham, terminou em quinto e Carlos Reutemann, da Williams, foi o oitavo. O brasileiro terminou campeão com 50 pontos, contra 49 do argentino. No ano seguinte, Keke Rosberg, da Williams, também terminou em quinto e garantiu seu único título com 44 pontos. O vice-campeão, Didier Pironi (Ferrari), ficou com 39. Mas ele não participou das últimas cinco etapas do Mundial, depois de sofrer grave acidente nos treinos para o GP da Alemanha. John Watson, da McLaren, também fez 39 pontos. Segundo em Las Vegas, o resultado não foi suficiente para bater o finlandês na pontuação. Naqueles tempos, só os seis primeiros pontuavam: 9-6-4-3-2-1. Das quatro corridas disputadas até hoje em Las Vegas, portanto, três decidiram campeonatos.

Algumas notas rápidas agora, que ontem deixamos passar. Começando com Ocon, coitado, que foi fazer um pit stop e ao entrar nos boxes viu que não tinha mecânico nem pneu esperando por ele. Acabou fora da zona de pontos. Já na Haas, Magnussen reclamou que foi o único com estratégia de apenas uma parada. Deu errado, claro.

E teve uma treta na Ferrari. Leclerc não gostou de ter sido ultrapassado por Sainz no início da prova. E disparou…

A FRASE DE LAS VEGAS

“Eu só me fodo por ser bonzinho.”

Charles Leclerc
Leclerc: irritado com a Ferrari

Para terminar, a notícia do dia: a F-1 aceitou a inscrição da GM, com a marca Cadillac, para ser a 11ª equipe da categoria em 2026. Faltam alguns detalhes, mas o básico está feito. Tiraram Michael Andretti da jogada e a montadora americana se associou ao investidor Dan Towriss, que na prática tomou a equipe do ex-piloto. A marca Andretti vai ficar na Indy.

Mas como as coisas são esquisitas no mundo corporativo, o pai de Michael, Mario Andretti, 84 anos, será o diretor do Conselho da equipe, que deve se chamar Cadillac Racing ou Cadillac F-1 Team. O time americano terá sede em Silverstone (que Michael construiu) e deve usar motores Ferrari em 2026 e 2027. Em 2028, a ideia é ter motores próprios. Michael disse no Twitter (ou X, como quiserem chamar essa merda) que vai “torcer” pelo sucesso da empreitada.

GOSTAMOS & NÃO GOSTAMOS

GOSTAMOS da Haas, que com o oitavo lugar de Hülkenberg passou a Alpine e agora está em sexto com 50 pontos. Os franceses têm 49 e a Débito ou Crédito, 46. Briga boa para o final do ano.

NÃO GOSTAMOS da demora para a cerimônia de premiação, com aquele passeio ridículo de Rolls Royce para fazer propaganda de hotel.

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LAS JECAS (3)

Verstappen tetra: um dos maiores de todos os tempos

SÃO PAULO (História com H) – Max Verstappen é tetracampeão mundial de Fórmula 1. A conquista na madrugada deste domingo em Las Vegas coloca o holandês de 27 anos ao lado de Sebastian Vettel e Alain Prost na lista das grandes lendas da categoria. Acima deles estão Juan Manuel Fangio, cinco títulos, e Michael Schumacher e Lewis Hamilton, com sete.

Verstappen, se parar agora de correr, ficará para a história como um dos maiores pilotos de todos os tempos. Seu talento não pode ser discutido. Lando Norris, que em determinado momento desta temporada sonhou com a taça, resumiu bem o rival: “Quando ele tem o melhor carro, domina. Quando não tem, está sempre lá. Max não tem pontos fracos”.

O piloto da Red Bull terminou o GP de Las Vegas, antepenúltima etapa do Mundial, na quinta colocação. A corrida foi vencida por George Russell, da Mercedes, com Lewis Hamilton em segundo. Foi a 60ª dobradinha da equipe alemã, a primeira desde o GP do Brasil de 2022. Carlos Sainz, da Ferrari, completou o pódio. Seu companheiro Charles Leclerc foi o quarto colocado.

Verstappen precisava apenas chegar à frente de Norris para ser campeão. O inglês da McLaren foi o sexto, seguido por Oscar Piastri, Nico Hülkenberg, Yuki Tsunoda e Sergio Pérez na zona de pontuação. Max chegou a 404 pontos, contra 340 de Norris. Faltam duas etapas para o fim do campeonato, no Catar e em Abu Dhabi. Com 60 pontos em jogo, Lando pode atingir o máximo de 400. Se assim desejar, Verstappen pode pegar um avião e tirar férias nos Lençóis Maranhenses, seu cantinho preferido no mundo — ele é namorado de Kelly Piquet, filha de Nelson Piquet, que conquistou seu primeiro título na F-1 em 1981, coincidentemente, na mesma Las Vegas.

Max é o quinto piloto na história a ganhar quatro campeonatos consecutivos. Antes dele, Fangio (1954 a 1957), Schumacher (2000 a 2004, o recordista com cinco), Vettel (2010 a 2013) e Hamilton (2017 a 2020) realizaram a façanha. E não foi tão fácil quanto se imagina, ainda que tenha liquidado a fatura antes do encerramento da temporada. Verstappen, no ano passado, venceu 19 das 22 etapas do Mundial. Mel na chupeta, domínio jamais visto na história da categoria. Neste ano, ganhou sete das dez primeiras. Vislumbrava-se um campeonato parecido. Mas, aí, a maionese da Red Bull desandou. A McLaren começou a ganhar corridas. Ferrari e Mercedes, também. Depois da vitória em Barcelona, o holandês ficou dez provas em jejum, até vencer em Interlagos. Faz tempo que não tem o melhor carro do grid.

Mas, como diz Norris, “está sempre lá”.

A comemoração ao fim da prova: quinto lugar suficiente

Como de bobo não tem nada, quando percebeu que não tinha mais carro para ganhar Verstappen colocou o regulamento debaixo do braço, como se diz, e foi somando seus pontos. Não quis dar uma de herói. Evitou divididas temerárias. Deixou os adversários — no caso, Norris — se enforcarem sozinhos em seus erros e trapalhadas. Chegou a Las Vegas numa situação confortável para assegurar o título. E assim foi.

Claro que o belo e inesperado 1-2 da Mercedes merece aplausos. O time prateado venceu pela quarta vez no ano com estilo e autoridade. Russell dominou a prova. Hamilton largou em décimo e lembrou seus melhores momentos na F-1, com lindas ultrapassagens e uma pilotagem agressiva e determinada, para terminar em segundo.

O abraço de Russell e Lewis: 60 dobradinhas para a Mercedes

Mas o título de Verstappen, ainda que conquistado com uma discreta quinta posição na corrida, é que será lembrado no futuro. A quarta corrida da história de Las Vegas definiu um campeão pela terceira vez. Em 1981, Piquet. Em 1982, Keke Rosberg. Na época, a prova acontecia num circuito ridículo montado no estacionamento do hotel Caesar’s Palace. No ano passado, a pista atual foi inaugurada como a grande cereja do bolo da temporada, organizada pela empresa que é dona da categoria, o Liberty Media Group.

Não foi uma corrida espetacular, como a do ano passado. Mas teve lá seus bons momentos. Nos três dias do evento, 306 mil pessoas ocuparam as arquibancadas que concorreram com os salões barulhentos e iluminados dos cassinos que fizeram de Las Vegas a meca da jogatina no planeta. Russell venceu pela terceira vez na carreira, segunda no ano — a outra nesta temporada foi na Áustria; a primeira na F-1, em Interlagos/2022.

A história do tetra está abaixo. Tetra que, segundo Verstappen, nunca tinha passado por sua cabeça. “Quando cheguei à F-1, achava que um dia talvez conseguisse um pódio, uma vitória. Jamais imaginei ser campeão. Muito menos quatro vezes.”

Sainz passa Leclerc: monegasco não gostou

A noite foi fria em Las Vegas, mas menos que nos dois dias anteriores: 18°C, mesma temperatura do asfalto. Leclerc foi o melhor da largada, saltando de quarto para segundo assim que as luzes vermelhas se apagaram. Russell fez uma partida segura, mantendo a liderança sem ser assediado. E Verstappen também se segurou à frente de Norris, que era seu único objetivo na noite feérica da cidade-roleta.

O bom ritmo de corrida da Ferrari se mostrou logo de cara, com Leclerc partindo para cima de Russell na terceira volta, trazendo junto com ele Sainz. Na quarta, Verstappen passou Pierre Gasly, que largara em terceiro, e assumiu a quarta colocação.

Sem muita paciência, Leclerc passou a atacar Russell nas curvas de alta, de baixa, de média, nas retas e nas redes sociais. O inglês da Mercedes tomou um susto ao se deparar com a volúpia do monegasco. Na sexta volta, percebendo suas más intenções, apertou o pé e conseguiu abrir mais de 1s sobre o piloto da Ferrari. Na sétima, já tinha mais de 2s. Na oitava, quase 4s.

Charlinho, então, bobeou. Perdeu a posição para Sainz e, na sequência, para Verstappen. Caiu para quarto. Max, assim, se livrou de um trenzinho perigoso com Gasly, Norris, Hamilton, Tsunoda e Piastri. A Ferrari, então, chamou Leclerc para os boxes na volta 10. E a McLaren fez o mesmo com Norris. Ambos colocaram pneus duros. Os pit stops muito precoces chamaram a atenção.

Max passou Sainz no final da décima volta e foi para segundo. A Ferrari mandou o espanhol trocar pneus também. Com as primeiras paradas, Russell, Verstappen, Hamilton, Hülkenberg e Ocon eram os cinco primeiros. O holandês foi para os boxes na volta 12, chamado pela Red Bull. Caiu para sexto.

Russell se aproveitou para abrir uma longa distância para seus adversários e parou na volta 13. Voltou em segundo atrás do companheiro de equipe, que teria de fazer seu pit stop logo. A situação era bem confortável. Pérez apareceu em terceiro com seus pneus duros da largada – Bottas e Colapinto, este saindo dos boxes, foram os outros que optaram pelos pneus mais duros na largada; Alonso foi de macios e os demais, de médios.

Quadriculada para George: segunda vitória no ano

A liderança foi de novo para Russell na volta 14, quando Hamilton parou. E na volta 16 o primeiro abandono do dia: o pobre Gasly, que tinha largado em terceiro, gritou pelo rádio que seu motor estava perdendo potência. “Aqui está mostrando que está tudo OK”, respondeu o engenheiro. E então uma fumaceira danada saiu do motor e o francês abandonou. “Aqui onde?”, perguntou Pierre. “Aqui nos dadinhos, acabei de ganhar 200 dólares.”

Na volta 20, com todos de pneus trocados, Russell, Verstappen, Sainz, Leclerc, Hamilton, Norris, Tsunoda, Piastri, Alexander Albon e Fernando Alonso eram os dez primeiros. A Mercedes surpreendia pelo ritmo de corrida fortíssimo, que nem a equipe esperava. George tinha 10s de vantagem para Max. Lewis ensaiava o bote para cima de Leclerc.

Na volta 28, Verstappen fez sua segunda parada, assim como Hamilton. Na mesma hora, Leclerc passava Sainz e, assim, assumia a segunda posição. O espanhol estava entrando nos boxes e a equipe mandou ficar na pista. Foi na volta seguinte, cuspindo marimbondos. “O que aconteceu?” “A gente não estava pronto”, alguém respondeu. “Acordem, cacete!” “Um momento, Carlos. Estou com um full-hand e não posso falar agora.”

Com 30 voltas, Russell, Leclerc, Norris, Verstappen, Hamilton, Sainz, Tsunoda, Hülkenberg, Pérez e Zhou eram os dez primeiros. Mas o pelotão estava embaralhado, com alguns tendo feito só uma parada e outros já com dois pit stops nas costas. As previsões de apenas uma troca foram para o beleléu.

Voando, Lewis passou Verstappen na volta 32, quando Leclerc parou. Assim, o heptacampeão assumiu a segunda colocação rascunhando uma dobradinha da Mercedes. Fazia uma grande prova, Hamilton. O líder parou na volta 33 e voltou tranquilo ainda na ponta. Sua vantagem para o companheiro, na hora do pit stop, era superior a 30s. Risco zero.

Lewis era o grande nome da prova. De décimo no grid, apertava o ritmo para tentar chegar em Russell, o líder. Fazia melhor volta em cima de melhor volta, numa de suas melhores atuações no ano. A diferença para o parceiro, que chegara a ser de mais de 10s após a parada do #63, caiu para pouco mais de 6s na volta 40. George, claro, administrava a vantagem. Tinha a vitória nas mãos. Desde o GP do Brasil de 2022 que a Mercedes não fazia um 1-2.

Hamilton dá entrevista ao final da prova: Piloto do Dia para o amigo internauta

O título para Verstappen, terceiro colocado, estava garantido. Afinal, Norris era apenas o sexto, com uma atuação opaca e protocolar. Quem ameaçava o holandês era a Ferrari, com seus dois carros. Na volta 41, Sainz colou nele, com Leclerc junto. Claro que Max queria um trofeuzinho. Mas também não iria dar a vida pelo pódio. Na volta 42, Carlos passou. Leclerc demorou mais e só conseguiu superar o #1 na 47ª. O quinto lugar, para Max, continuava sendo mais do que suficiente para festejar o tetra.

Hamilton não fez questão de aparecer na foto com Russell recebendo a quadriculada, tirou o pé e terminou a prova bem atrás do companheiro. Sainz fechou o pódio, com Leclerc, Verstappen, Norris, Piastri, Hülkenberg, Tsunoda e Pérez nas dez primeiras posições.

Max, pelo rádio, agradeceu à equipe e falou pouco. Parecia emocionado. Enquanto isso, Russell berrava feito um maluco. Devagar na pista, Verstappen era saudado por todos os pilotos que passavam por ele. Numa deferência à conquista, levou o carro até o grid e estacionou diante de uma placa sinalizando a posição do campeão mundial.

Mesmo fora do pódio, Max não foi poupado da papagaiada da cerimônia de premiação concebida para a corrida de Las Vegas. Foi enfiado num Rolls Royce saia & blusa preto e dourado ao lado de seu engenheiro Gianpiero Lambiase. Em outro, Russell, Sainz e Hamilton se apertavam no banco traseiro. Um terceiro completava o cafonérrimo cortejo. Nos boxes, os integrantes da Red Bull vestiam camisetas com a inscrição “M4X”, o 4 no lugar do A.

Em frente ao hotel Bellagio, um monumento ao mau gosto arquitetônico, os quatro pilotos foram entrevistados enquanto ao fundo uma fonte dançava no ritmo das fontes que dançam – água pra lá, água pra cá. Voltaram para os Rolls Royces e foram para o pódio receber os troféus.

O Mundial de Construtores, com o resultado de Las Vegas, segue aberto com a McLaren em primeiro apenas 24 pontos à frente da Ferrari: 608 x 584. A Red Bull tem 555. Briga boa acontece entre Haas (50), Alpine (49) e Aproximação É Aqui Atrás (46).

A próxima etapa do campeonato acontece na semana que vem no Catar, com Sprint. Embora Verstappen já tenha encerrado a contenda entre os pilotos, as duas provas que fecham a temporada valem bastante para as equipes. Cada posição na tabela representa alguns milhões de dólares a mais na conta corrente à guisa de premiação.

E se tem uma coisa que essa turma da F-1 gosta é dinheiro.

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LAS JECAS (2)

Russell na pole: Mercedes supreendente em Las Vegas

SÃO PAULO (já tá de dia!) – George Russell desbancou os protagonistas do Mundial e cravou a pole para o GP de Las Vegas na madrugada de hoje. O inglês da Mercedes fez sua terceira pole no ano (as outras foram no Canadá e na Inglaterra) e quarta na carreira. Uma surpresa para ele mesmo. “Não acreditava nisso e a gente precisa entender por que o carro está tão rápido aqui”, reconheceu. Não há explicações muito claras. Temperaturas baixas, longas retas, talvez. Mas houve outras corridas em pistas parecidas neste ano e nem por isso a Mercedes andou bem. São os mistérios do automobilismo.

Os pilotos que lutam pelo título não brilharam. Max Verstappen larga em quinto com a Red Bull e Lando Norris, da McLaren, ficou em sexto no grid. Russell terá ao seu lado na primeira fila o espanhol Carlos Sainz, da Ferrari. Atrás deles, na segunda fila, o surpreendente Pierre Gasly, da Alpine, e Charles Leclerc, da Ferrari. A prova, que começa às 3h do domingo pelo horário de Brasília, pode decidir o título a favor de Verstappen. O holandês conquista o tetra se, ao final da prova – a 22ª das 24 do campeonato – tiver pelo menos 60 pontos de frente sobre Norris. A diferença, neste momento, é de 62. Para ser campeão, Landinho precisa ir a algum bom terreiro e caprichar nos despachos. Sem garantia nenhuma dos orixás, diga-se. Eles não são bobos de prometer o que não podem cumprir.

A asa recortada de Verstappen: improviso

Las Vegas é um circuito de rua em formato de porco muito veloz. A pista, não o porco. Por isso a Red Bull teve de recortar sua asa traseira antes do terceiro treino livre, no fim da noite de ontem pelo nosso horário, para diminuir o arrasto aerodinâmico do RB20. A equipe levou o aerofólio errado para a corrida. Alguém foi buscar as asas no almoxarifado para colocar na bagagem e estranhou o novo funcionário, um sujeito alto de rosto comprido, cabeleira farta e sotaque alemão. No crachá, um nome esquisito: Pebolim Lobo. “Aqui estão os asas parra Los Vegas”, disse, entregando as peças ao responsável, um asólogo que trabalha na equipe desde os tempos em que ela se chamava Stewart. Ele achou o volume esquisito, mas antes que pudesse perguntar qualquer coisa, o empregado se adiantou: “Son os asas de circuita de rua, non precisa nem tirrar a plástico bolha”.

Já nos EUA, assim que o pacote foi aberto, alguém desconfiou de sabotagem. O asólogo foi demitido. As câmeras de segurança do almoxarifado de Milton Keynes foram desligadas, uma investigação constatou depois. Mas outras câmeras, de um pub nas redondezas, flagraram um gordinho careca e um sujeito espigado de rosto comprido e cabeleira farta brindando com vários pints e gargalhando a noite inteira. Tudo isso aconteceu na semana passada, pelo que pude apurar.

A Red Bull pegou uma serrinha, uma lixa, rabiscou com giz onde a asa deveria ser cortada, e as coisas funcionaram. O carro de Verstappen passou a andar bem. O de Sergio Pérez, não. Mas essa é outra história.

George na classificação: forte em todos os treinos

O Q1 começou com 12°C na capital da jogatina e da cafonice, uma noite gelada com asfalto idem. A Mercedes tinha sido a mais rápida em todos os treinos livres. Na quinta, Lewis Hamilton ficou em primeiro nas duas sessões. Horas antes da classificação, Russell cravou o melhor tempo no terceiro treino livre. Tais resultados autorizavam qualquer um a apostar nos carros prateados para a pole.

E os dois pilotos repetiram o desempenho na abertura da sessão que definiria o grid. Jorginho marcou 1min33s186, com Hamilton em segundo a 0s039 de distância. Verstappen foi o terceiro, seguido por Leclerc, Oscar Piastri, Sainz, Norris, Gasly, Franco Colapinto e Yuki Tsunoda. Foram eliminados o trágico Pérez, o irritado Fernando Alonso, o desafortunado Alexander Albon, o conformado Valtteri Bottas e o amargurado Lance Stroll. O mexicano ficou a 0s8 de seu companheiro de equipe. É um piloto, hoje, indefensável. Se a Red Bull insistir na sua manutenção, com alguém como Colapinto dando sopa, será a maior demonstração de bundamolice de sua história de duas décadas na categoria.

No Q2, Max seguiu tirando leite de pedra de seu carro problemático, enquanto a Mercedes, num improvável fim de semana competitivo – lembro que Hamilton teve ganas de abandonar o campeonato depois do desempenho pífio em Interlagos, ele mesmo contou –, continuava firme e forte na frente. O holandês chegou a se colocar no alto da tabela de tempos com 1min33s085, mas o time prateado voltou à ponta com Russell cravando 1min32s881 seguido por Lewis, 0s084 atrás. Verstappen ainda perdeu o terceiro lugar para a Ferrari de Leclerc, o terceiro. Quem não andava nada era a McLaren, claramente baqueada pela surra que levou de Max em Interlagos, perdendo qualquer possibilidade real de título com Norris. Claro, a perspectiva de ser campeã de Construtores era animadora, continua sendo, mas a verdade é que o sonho de Landinho foi ceifado de forma tão contundente que é impossível não mostrar algum abatimento.

Nos últimos instantes do Q2 a Mercedes melhorou ainda mais, com Hamilton pulando para primeiro (1min32s567). Sainz colocou a Ferrari em segundo e deixou Russell em terceiro. Foi quando Colapinto, a quem acabei de elogiar, deu uma senhora porrada ao tocar a roda esquerda na barreira de proteção da curva 15, arremessando-o ao muro da curva 16. Destruiu o carro completamente. Não se machucou, mas causou um enorme prejuízo para a Williams, equipe que vende o almoço para pagar a janta. Barbeiragem que pode custar sua participação na corrida de amanhã. E, sem exagero, comprometer seu futuro na categoria. Qual será o Colapinto que veremos daqui para a frente? O tempo dirá, diria o outro. Bem, quando o tempo disser, saberemos.

Gasly, Leclerc, Piastri, Verstappen, Tsunoda, Norris e Nico Hülkenberg passaram ao Q3. Esteban Ocon, Kevin Magnussen, Guanyu Zhou, Colapinto e Liam Lawson ficaram fora da fase decisiva da classificação. Que demorou bastante para ser retomada: os fiscais tiveram de limpar a pista, que ficou emporcalhada com restos mortais de carro e espuma, e ainda arrumar o guard-rail e a barreira de proteção.

Depois de tudo limpo e consertado, o Q3 começou com Verstappen sendo o primeiro a ir para a pista, porque precisava de pelo menos duas voltas para aquecer seus pneus antes de partir para a briga com o cronômetro.

O grid em Las Vegas: Mercedes e Ferrari favoritas

A primeira bateria de voltas rápidas colocou Russell em primeiro com 1min32s811. Hamilton errou em sua tentativa, abortou a volta e foi para os boxes. Sainz fez o segundo tempo e Verstappen, o terceiro. Norris e Piastri vinham atrás deles nas cinco primeiras posições.

Pausa para o cafezinho e nova jornada de voltas rápidas para fechar os trabalhos da sexta-feira. Cada um com suas ambições e problemas, sonhos e pesadelos, expectativa e realidade. A Ferrari acordou, mostrou suas garras e chegou a ficar em primeiro e segundo. Mas Russell confirmou o grande momento da Mercedes em Las Vegas e cravou uma linda pole-position com 1min32s312. Sainz ficou em segundo, 0s098 atrás. E o terceiro lugar… Bem, aplausos de pé para Gasly, terceiro no grid com a Alpine. Ficou a 0s352 da pole, mas na frente dos grandões de Red Bull, McLaren e Ferrari. Leclerc foi o quarto, com Verstappen em quinto (a 0s485 de Russell), Norris em sexto, Tsunoda em sétimo, Piastri em oitavo, Hülkenberg em nono e Hamilton em décimo, depois de cometer mais um erro na sua segunda tentativa de volta rápida.

Se o que vale na madrugada do domingo é a luta pelo título, e é, Max larga campeão, já que se chegar à frente de Norris garante o tetra. Mas nenhum dos dois deve brilhar amanhã. Verstappen é capaz de comemorar o tetra longe do pódio, a julgar pelo que estão andando Mercedes e Ferrari, principalmente.

Mas…

Mas a Red Bull andou treinando muito os longos stints, pensando na corrida. Que ninguém se espante se Max acabar fazendo uma de suas mágicas de novo. Seja como for, vale a pena o esforço para a assistir à prova no meio da madrugada. É aquela coisa de ver a História sendo escrita ao vivo e em cores.

Como diria Christian Fittipaldi naquele antigo comercial, eu recomendo.

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LAS JECAS (1)

Hamilton, o mais rápido: surpresa mercêdica

SÃO PAULO (atrasadinho) – Essa corrida de Las Vegas embaralha nosso relógio biológico. Mas teremos de conviver com isso bastante tempo. É a segunda edição. A do ano passado, que começou com o vexame dos bueiros, acabou sendo ótima. A deste fim de semana não teve bueiro voando, mas uma pista suja, empoeirada e sem nenhuma aderência. Para piorar, faz um frio desgraçado: 14°C foi a temperatura média durante a noite na terra da jogatina. O asfalto estava gelado. Mas é capaz de ser ótima, também. Porque, entre outros motivos, pode consagrar Max Verstappen como tetracampeão.

Antes que perguntem, o holandês, para conquistar o título, precisa sair de Nevada com pelo menos 60 pontos de vantagem para Lando Norris. Ele já tem 62. Depois dessa prova, serão 60 pontos em jogo nas duas etapas finais, no Catar (com Sprint) e em Abu Dhabi. As combinações de resultados que lhe dão o tetra são muitas. Fiquem com a continha básica dos 60 pontos de vantagem — em caso de empate, ele fica com a taça por ter mais vitórias. Seja como for, se não ganhar agora ganha na próxima. O show de Interlagos acabou com qualquer esperança do inglês da McLaren.

Já foram dois treinos livres. Um que começou às 23h30 de ontem e outro que terminou às 4h de hoje. Las Vegas está cinco horas atrás do horário de Brasília. A programação de hoje e amanhã é a mesma: 23h30 treino livre, 3h classificação. A corrida acontece na noite de sábado lá, 22h. Aqui, madrugada do domingo, 3h. Virem-se para assistir.

Os tempos do segundo treino: Red Bull no fundão

Olhando para essa tabela, é de se estranhar a Red Bull em 17º e 19º num fim de semana em que seu piloto pode ser campeão. Bem, há algumas explicações. Primeiro, a equipe se concentrou mais em usar os pneus médios pensando na corrida do que em ralar os macios de olho na classificação. Mas o problema, mesmo, foi outro. A Red Bull errou a asa traseira para Las Vegas. Levou um modelo maior do que deveria. Alguém fez alguma cagada, ou a bobagem só foi percebida na pista. O resultado é que não se deve imaginar um Verstappen protagonista como em São Paulo, onde a chuva ajudou e o holandês conseguiu a vitória mais bonita de sua carreira.

Como a pista vai mudar muito para a classificação, vamos evitar prognósticos definitivos. Ficou claro que a Mercedes começou muito bem, ficando com o melhor tempo nas duas sessões. Nas duas com Lewis Hamilton, que disse no início da semana que chegou a pensar em nem correr até o fim do ano, tamanho o desastre da Mercedes em Interlagos.. A McLaren está perto e a Ferrari, não. A Alpine pode surpreender de novo e brigar por pontos. Nada parecido, claro, com o pódio duplo de Esteban Ocon e Pierre Gasly no Brasil. A Red Bull vai tentar reduzir os danos, como se diz. Sem grandes ambições, sabendo que já não tem o melhor carro do grid faz tempo, jogará com o regulamento debaixo do braço.

Falando em regulamento, tem algumas novidades em Las Vegas e algumas notícias merecem caixinhas. Vamos logo a elas.

DIRETIVA – Ah, as famosas diretivas… A FIA mandou as equipes maneirarem nas placas de titânio que colocam sob o assoalho nos pontos de fixação da prancha que não pode ter um desgaste maior do que 1 mm ao fim da corrida. Alguns times estavam usando essas peças em espessura exagerada, para proteger as tais pranchas. São tábuas de 10 mm que vão se desgastando quando raspam no chão. Se terminarem a prova com menos de 9 mm de espessura nos pontos de medição, o piloto é desclassificado. Aconteceu com Hamilton e Charles Leclerc do GP dos EUA do ano passado. Como os carros, com efeito-solo, precisam andar colados no chão, a tendência é que as pranchas desgastem, mesmo. Com o uso dos suportes de titânio, elas ficam protegidas. Daí o excesso de faíscas que temos visto ultimamente. Quem dedurou os espertinhos, vejam só, foi a Red Bull. Aparentemente, McLaren, Ferrari e Mercedes eram as que estavam abusando do recurso.

NOVO DIRETOR – Suderj informa: sai o alemão Niels Wittich, entra o português Rui Marques. A troca do diretor de prova da F-1 pegou todo mundo de surpresa. Wittich vinha atuando desde 2022, após a demissão do desastroso Michael Masi — que por uma decisão estapafúrdia no GP de Abu Dhabi de 2021 acabou tirando o oitavo título de Hamilton. A FIA disse que Wittich resolveu sair. Ele negou. Alguma treta aconteceu com Mohammed Ben Sulayem, o mala sem alça que preside a entidade. Marques vinha atuando como diretor de provas da F-2 e da F-3. Não se sabe se fica só até o fim do ano ou até o fim dos tempos. Por enquanto, sua escalação está garantida para as três últimas etapas do Mundial.

MARESIA – Para a posteridade: Sergio Pérez e Franco Colapinto reportaram um fortíssimo cheiro de maconha nos boxes de Las Vegas. “Se fizerem antidoping, caímos todos”, brincou o argentino.

Cadillac pode, Andretti não

ERA PESSOAL – E deixei por último a notícia mais importante do dia. A F-1 parece disposta a aceitar, agora, uma 11ª equipe. E já para 2026. Sim, é a Andretti. Mas não pode se chamar Andretti. Cadillac Racing é um nome possível. Michael Andretti, há alguns meses, deixou o comando da Andretti Global. A empresa foi assumida pelo milionário Dan Towriss, um desses caras genericamente chamados de “investidores”. Era sócio de Michael. Papo vai, papo vem, o sujeito convenceu a Liberty e a FOM (empresa que detém os direitos comerciais da F-1 que pertence à Liberty e tem participação das equipes) de que a GM, dona da marca Cadillac, pode ser uma boa para a categoria. Breve retrospecto: a FIA aceitou a inscrição da Andretti em 2023, mas no começo deste ano a Liberty e as dez equipes que disputam o campeonato vetaram sua entrada alegando que ela “não seria competitiva” e “não agregaria valor”. Mas deram uma lambuja: aceitaram a Cadillac, com quem a Andretti havia firmado uma parceria, como fornecedora de motores a partir de 2028. A ideia agora é que o novo time seja oficial de fábrica. Sem Andretti no meio. Parece que a parada era meio pessoal contra Michael, mesmo — não me perguntem por quê. Uma equipe da General Motors, esse é o recado, será bem-vinda. É bom lembrar que a Andretti já construiu uma fábrica em Silverstone, contratou Pat Symonds (que de 2017 até maio deste ano estava trabalhando na Liberty como diretor-técnico da F-1) para chefiar o projeto e fez até um protótipo de chassi usando o túnel de vento da Toyota na Alemanha. Vai rolar, pelo jeito.

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VERSTAPPEN VENCE E VIBRA MAIS QUE NO TETRA! (F-GOMES, GP DO CATAR, DIA #3)

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