Blog do Flavio Gomes
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Plantão do blog (memória)

SÃO PAULO – Na manhã de 31 de outubro de 1996 começava mais um dia como qualquer outro em casa. Minha mulher tomando banho ouvindo o rádio no chuveiro, eu acordando, quando ela grita: caiu um avião! Aluane Neto, repórter de trânsito da Jovem Pan, onde eu trabalhava na época, sobrevoava a zona sul de […]

SÃO PAULO – Na manhã de 31 de outubro de 1996 começava mais um dia como qualquer outro em casa. Minha mulher tomando banho ouvindo o rádio no chuveiro, eu acordando, quando ela grita: caiu um avião! Aluane Neto, repórter de trânsito da Jovem Pan, onde eu trabalhava na época, sobrevoava a zona sul de helicóptero quando relatou a queda de um avião na cabeceira de Congonhas.

Deu tempo de fazer três coisas: 1) ligar para o Cândido Garcia, que morava numa casa na cabeceira de Congonhas e vivia reclamando do barulho, para saber se não tinha caído na cabeça dele; 2) tomar uma chuveirada; 3) beber uma xícara de café.

Morava mais ou menos perto (essa história está mais ou menos relatada numa coluna que escrevi dias depois) do aeroporto, e imaginei que o trânsito iria travar na região.

Tinha uma moto, acho que era uma Daelim preta estilo “chopper”, que usava pouco. Foi muito útil. No caminho, cruzei com duas viaturas da rádio. Portava um celular e mais nada. Naqueles tempos, estamos falando de dez anos atrás, celular não funcionava direito. O meu era um Fujitsu gigantesco. Funcionou direitinho.

Cheguei à zona de guerra meia hora depois de o avião cair, antes das 9h. O Silvestre Serrano, repórter de geral, já estava lá. Vi corpos carbonizados, água misturada com sangue correndo pelo meio-fio, e o cheiro de carne queimada nunca esqueci. Morreram 99 pessoas na queda do Fokker-100 da TAM, vôo 402.

Fiquei no ar até as 11 da noite. Montamos um estúdio na casa da família de um japonês, que morava na rua de cima. O casal, muito simpático e prestativo, nos serviu esfihas e quibes com guaraná o dia inteiro. A Pan mandou um kit com camisetas, bonés e chaveiros para eles como agradecimento depois, soube.

Era época de eleição, e nós fomos a única emissora que não colocou no ar, naquele dia, o horário eleitoral gratuito. Minutos antes, seu Tuta, o dono da rádio, mandou ligarem para Maluf e Erundina, que disputavam o pleito (acho que eram eles), ou Pitta e Suplicy, sei lá, e ambos “liberaram” seus horários.

Vai fazer dez anos. Me lembro da rua. Voltarei lá no dia 31 de outubro.

As fotos acima, de Ormuzd Alvez, então da “Folha”, mostram um pouco o que foi aquilo.