SÃO PAULO (quanto tempo) – Certamente um dos melhores “Álbuns” enviados, por um daqueles blogueiros silenciosos que raramente se manifestam. O autor é o Ibsen Otoni Pereira, que esteve no último farnel em Interlagos. A história da barata tem até título: “Deco e a Pecadora”.
Deliciem-se.
“José Luiz Pereira, o Deco, nasceu em 1911. Nos anos 20, adolescente, veio para Belo Horizonte para se tornar aprendiz de mecânico. Após alguns anos, já mecânico experiente e extremamente habilidoso, voltou a sua terra natal, Nova Era (MG), e lá montou sua oficina.
Foi aí que, nos anos 30, construiu a ‘Pecadora’, sua companheira das farras com os amigos e de muitas conquistas amorosas. Carroceria em chapa batida a mão, roadster, dois lugares mais banco da sogra, sobre chassi e motor de um Chevrolet 1928, rodas de madeira substituídas mais tarde por rodas raiadas, e quando finalizada, pintada em vermelho com detalhes azuis e com o nome ‘Pecadora’ escrito na longarina do chassi.
Após a Segunda Guerra, mudou-se para Teófilo Otoni, transferindo para lá a sua oficina, que prosperou com clientela grande e satisfeita. Foi nessa época que um mecânico, codinome Malhador, bateu a ‘Pecadora’. Os estragos foram leves, mas Deco, desgostoso, encostou o carro num canto.
Quando pequeno, nos anos 60, passei muitas horas sentado atrás do grande volante deste carro abandonado, dirigindo pelas estradas da imaginação, sonhando em vê-lo restaurado.
Numa tarde Deco veio para casa (durão e trabalhador incansável nunca vinha para casa durante o dia). Arrependido, disse que num arroubo de loucura tinha vendido o carro para um ferro-velho como sucata.
Pela primeira vez vi o meu pai chorar. Ele nunca se perdoou por ter se desfeito do carro.
Quem sabe aconteceu um milagre e o carro não foi destruído. Se alguém tiver alguma notícia dele, por favor, entre em contato.”
Na foto da esquerda, Deco ao volante da “Pecadora”, ainda sem acabamento; na da direita,
uma das namoradas (ainda não identificada) de Deco, sobre a ponte velha de Nova Era (MG)