Blog do Flavio Gomes
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Ao mestre, com carinho

SÃO PAULO (e amigo, acima de tudo) – Seja lá o que acontecer com o #96 amanhã em Interlagos, é a Miguel Crispim que devo minhas primeiras aceleradas num DKW. Nos idos de 1989, depois de conhecer o Negão através de um amigo em comum da “Folha”, eu comprei um DKW velho e, junto com […]

SÃO PAULO (e amigo, acima de tudo) – Seja lá o que acontecer com o #96 amanhã em Interlagos, é a Miguel Crispim que devo minhas primeiras aceleradas num DKW. Nos idos de 1989, depois de conhecer o Negão através de um amigo em comum da “Folha”, eu comprei um DKW velho e, junto com o Salomão, fomos à sua oficina na Vila Mariana.

Eu já tinha feito umas três corridas com meu 62 de rua, mas resolvi profissionalizar a coisa. Desmontamos o Belcar (acho que era 61), pintamos de branco, metemos um número 11 numa bolota preta e o Crispim, coitado, fez o motor.

Faz muito tempo, não sei dizer se o motor era bom ou não. O carro era uma tranca, rodas de Variant II, pneus e suspensões errados, totalmente sem noção de nada. Mas era bonitão. Logo depois o autódromo foi fechado para as reformas que trouxeram a F-1 de volta, o carro ficou encostado na casa da minha avó, apodrecendo, um dia arranquei o motor e dei a carcaça para um vizinho. Como a gente faz merda na vida…

Mas o Crispim é um cara a quem nós, que gostamos do automobilismo, devemos reverência. E esta pode ser prestada lendo a matéria especial do Paulo Peralta no Bandeira Quadriculada.

Depois de alguns anos me expulsando de sua oficina cada vez que eu chegava fazendo fumaça e pó-pó-pó, o Miguel voltou às pistas no Trofeo Maserati, e que arrebente a boca do balão!

Eu fico com minhas lembranças de 1988 e 1989, as primeiras corridas com o verdinho, o macacão emprestado pelo Osvaldo Negri Jr., eu magrinho, cheio de cabelos e de sonhos. E com o #96, claro!

E como amanhã é dia de corrida, e é evidente que terei tudo, menos tempo para postar no blog neste sábado (mereço uma folguinha semanal), fiquem com a pequena saga fotográfica deste escriba nas pistas. E até domingo (isso se eu não resolver contar amanhã mesmo como foi o dia em Interlagos, nunca se sabe…).


De cima para baixo, primeiro a coluna da esquerda: a “equipe” pronta nos boxes,
os colegas da “Folha” George Alonso e Cristina Zahar com a bandeira, meu pai
um pouco atrás, eu de costas com minha namorada, atual consorte. Com esforço, nota-se
uma Vemaguet bege 1964 que era nosso carro de apoio e levava sanduíches de atum
feitos pela minha mãe. O dia: 7 de setembro de 1988. No centro, o duelo épico com o
Míni de Janos Wessel. Na última foto, o bravo 62 no grid, esperando pela luz
verde. Na coluna da direita, também de cima para baixo, cenas da batalha com Wessel
(que já morreu) no velho traçado de Interlagos: primeiro na Curva do Sol, depois no
Pinheirinho e, finalmente, no Laranja. As fotos estão meio escuras, mas foram
dias luminosos, aqueles. Para correr, eu jogava o escapamento de lado e o Salomão
arrancava os pára-choques lá no autódromo mesmo. Depois ia para o meio da pista
me fazer sinal para acelerar. Nesse duelo com o Wessel me saí bem. Corria com o #11.


A primeira de todas as corridas: 28 de maio de 1988, Interlagos, evento do
Auto Union-DKW Clube. Corri com o #75. Apenas arranquei as calotas. No mais, foi
de pára-choques, placa amarela (AE-1998, de Porto Alegre), calibragem mais alta
e pé na tábua. Se bem me lembro, estourou a correia do meu carro e abandonei com o motor
fervendo. A partir daquela derrota acachapante, meu manager Salomão resolveu
que devíamos profissionalizar a coisa. Pelo menos correndo sem pára-choques!


E assim foi. Sem pára-choques, já com o #11, escapamento de lado e capacete
próprio, vermelho, branco e preto. Nesse dia, 7 de setembro de 1988, cheguei em
terceiro na prova “Stirling Moss” do MG Clube, e tenho o troféu, um prato de prata
guardado com carinho na estante. Também já tinha macacão próprio, cinza e verde, cheio
de emblemas da Vemag bordados por todos os lados, que uso até hoje para correr de kart.


Salomão sempre foi um chefe de equipe exigente. Mas resumia suas instruções a
uma única frase: “Acelera essa merda, porra”. Passaram-se 18 anos, e ele evoluiu muito
na filosofia de trabalho. À sentença imperativa, prefere agora uma estratégia que não
impõe muita pressão ao piloto, e costuma passar as últimas orientações quando
está apertando meu cinto de segurança. Em voz baixa, diz apenas “vê se
acelera essa merda direito, caralho”, o que é muito mais tranquilizador.


Resumindo, essa é minha pequena história nas pistas. Pobrezinha, é
verdade, quando se olha de fora. Riquíssima para quem a viveu e ainda vive, porque
os amigos são os mesmos, outros novos se apresentaram, veio este blog, que na próxima
terça-feira completa um ano no ar (velinha e bolo, por favor), que deu origem aos
farnéis, às pizzas de sexta à noite no Speranza, ao encontro dos Matuzas e dos
Mat-Boys, à ascensão à fama daquele carrinho branco que tem fã-clube, torcida
organizada, um cara para tirar o pó e comunidades no Orkut, que aparece na TV
e que se recusa a deixar as pistas, porque ele tem uma missão a cumprir, e cumprirá.