Blog do Flavio Gomes
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Meu calhambeque

SÃO PAULO (hoje tem Limite na ESPN Brasil) – Nosso colaborador Jason Vôngoli, que se mudou para Rondônia, manda o retrato de seu brinquedinho, que descreve assim: Segue a foto do meu simpático e querido Prefect 1947. Alguns detalhes: Prefect era um Ford inglês baratinho, que, em seu país de origem, ganhou o apelido de […]

SÃO PAULO (hoje tem Limite na ESPN Brasil) – Nosso colaborador Jason Vôngoli, que se mudou para Rondônia, manda o retrato de seu brinquedinho, que descreve assim:

Segue a foto do meu simpático e querido Prefect 1947.

Alguns detalhes: Prefect era um Ford inglês baratinho, que, em seu país de origem, ganhou o apelido de “sit up and beg” (algo como “faça pose e peça esmola”).

O chassi é quase uma réplica em escala menor dos Ford Modelo A americanos (1928-1931). O motorzinho de quatro cilindros cabeça-chata e 1.172cm³ de cilindrada rendia uns 28 pôneis de potência. O interior é incrívelmente bem acabado para um modelo popular, com apliques de madeira, opção de couro na forração e um completíssimo painel com moldura de baquelite.

O modelo foi lançado em 1938 e permaneceu sem grandes modificações até 1948, quando ganhou uma plástica na grade e os faróis passaram a ser embutidos nos pára-lamas. Tanto o Prefect quanto seu irmão Anglia (de duas portas) foram bem populares no Brasil do pós-guerra. Essa geração de Prefect durou até 1953.

Aí entra minha história: por volta de 1962 (tempo em que todo mundo “bem” queria comprar um carro nacional), os Prefect eram vendidos a preço de banana, cada vez mais longe dos bairros chiques. Ninguém queria mais aqueles carrinhos de aparência obsoleta e desempenho pífio. O pior: as peças já começavam a rarear.

Os Prefect, então, eram o que havia de mais barato no mercado de usados – e, assim, foi o primeiro carro que meu avô pôde comprar para a família (quem dirigia era meu tio caçula). Anos depois, esse Prefect foi vendido, sumiu de cena, mas sempre continuou a ser lembrado com carinho nas conversas familiares.

Em 2004, passando por uma estrada perto de onde nosso carro fora vendido 30 anos antes, vi um Prefect idêntico, totalmente detonado, com capim crescendo dentro. Soube que o último proprietário fora um palhaço que se mudara do país, abandonando o carrinho à propria sorte.

Por pena, comprei a charanguinha, botei pra andar, cuidei e dei um banho de tinta nele. Deu um trabalho danado e, na busca das peças, me diverti um bocado. Em dezembro passado, deixei o carrinho como presente-surpresa de aniversário para meu tio – aquele mesmo que dirigia o Prefect décadas atrás. Por conta de alguns detalhes (forração verde, capô meio torto, marca de solda na grade, etc), ele acredita que é o mesmo carro que tivemos no passado.

Chego a pensar que o carrinho tem alma. Parece um bocado grato por eu tê-lo salvado – imagine que nas primeiras voltas que demos após a “restauração”, ele se recusava a desligar o motor quando chegávamos em casa… O Prefect tem a humanidade de um vira-lata!

Como escreve, esse Vôngoli… Escreve bem, quero dizer.