Blog do Flavio Gomes
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Galvão e eu

SÃO PAULO (para encerrar o assunto) – O post de ontem (sim, ontem, passamos da meia-noite e eu estou aqui, ainda!) sob o GP da Malásia deve ter sido um dos recordistas de audiência deste blog. Vai perder, em breve, para algum dirigido e monitorado via satélite sobre Ladas, claro, mas chamou a atenção pela […]

SÃO PAULO (para encerrar o assunto) – O post de ontem (sim, ontem, passamos da meia-noite e eu estou aqui, ainda!) sob o GP da Malásia deve ter sido um dos recordistas de audiência deste blog. Vai perder, em breve, para algum dirigido e monitorado via satélite sobre Ladas, claro, mas chamou a atenção pela quantidade de comentários.

No fim, quase todo mundo falando mais da transmissão da Globo do que da corrida em si. E muita gente desancando meu amigo Carlos Eduardo. Que, para quem não sabe, é o nome de Galvão Bueno.

Falo muito de TV aqui, e da Globo em especial. Não tenho o menor problema em soltar o verbo, porque tudo isso, e muito mais, já falei pessoalmente a todos meus colegas globais desde que comecei a cobrir F-1, 19 anos atrás.

Vamos ver se lembro da legião dos que já me aturaram (e ainda aturam), além dos cativos Galvão e Reginaldo: Cléber Machado, Luis Roberto, Luiz Alfredo, Luiz Fernando Lima, Roberto Cabrini, João Pedro Paes Leme, Marcos Uchôa, Pedro Bassan, além da turma de retaguarda, Jayme Brito, Claudinei Graminho, Baiano, Bruce, Alê, Kaká, Claudinho, Dentinho, Armand, e deve ter alguém que esqueci. Pessoas com quem convivi por muito tempo e ainda convivo.

Somos colegas e amigos de muitas aventuras pelo mundo afora. Discutimos tudo, o tempo todo. Mulheres, futebol, política, religião, jornalismo, música, casamentos, separações, fofocas, e até Fórmula 1. Defendemos nossas idéias, aceitamos as dos outros, jantamos juntos, bebemos juntos, viajamos juntos.

Uma das mais divertidas de todas foi, não lembro o ano, depois de uma corrida em Zeltweg. Fomos de Kombi para Viena, Galvão falando sem parar, e fiz o velho lorde pular a catraca do metrô e comer em fast-food na aristocrática capital austríaca. Isso depois de destruí-lo jogando dardos no restaurante do Spelunckerhoff, o hotel onde ficávamos, com meu estilo de arremesso gálio-irlandês-em-elipse-contínua.

Sempre que nos encontramos é uma festa, em resumo.

Minhas críticas são, por assim dizer, universais. A um estilo da emissora que não só me desagrada — isso, por si, seria pouco para sair espinafrando todo mundo —, como também considero nocivo. Em tudo. Não estou falando só do esporte. O esporte, no fundo, é o de menos. Seria totalmente inofensivo se não fizesse parte de uma engrenagem que tenta empurrar aos brasileiros um Brasil que não existe.

Jamais tive atritos pessoais com nenhum de meus colegas globais. Muito pelo contrário. Vocês, de fora, devem imaginar que nós jornalistas somos adversários ferrenhos, que levamos para a vida profissional e pessoal as divergências e a concorrência entre os veículos de comunicação para quem trabalhamos.

Enganam-se. Se nossos patrões soubessem como tratamos essas “rivalidades”, acho que demitiriam todos. Portanto, não interpretem o que escrevi ontem como um ataque pessoal ao Galvão, Reginaldo & cia. Nem ao Burti, de quem tiro um barato o tempo todo porque acho que ele fala muito “ou seja” e “porém”. Conheço essa cambada há muito tempo, e eles a mim, para ter a liberdade de dizer e escrever o que digo e escrevo.

O Galvão defende a tese de que todo mundo fala mal dele porque dá ibope. E cita as colunas do José Simão, na “Folha”, que não perde uma chance de zoar com o primeiro-narrador. Tem toda razão. Mas não critiquei o tom da transmissão da Globo na corrida da Malásia para aumentar o ibope do blog. Escrevi porque é tema do meu interesse e até o fim de 2005 eu havia passado simplesmente 14 anos sem ver nenhuma transmissão da Globo. Sabia o que meus colegas pensavam, mas não o que diziam no ar. Como parei de viajar no ano passado, observei tudo com muita atenção durante uma temporada inteira. Até resolver tocar no assunto, porque ontem foi um exagero. E porque considero relevante a discussão, principalmente se um deles ler.

Porém, nenhum se manifestou até agora. Ou seja, ninguém leu!


Galvão me pentelhando na Austrália, acho que em 2004. Foi ótima, essa noite,
porque fomos jantar num restaurante chique, ele começou a pedir vinhos caros e não
tínhamos grana para pagar a conta. Aí eu disse pra ele que o Luciano do Valle
estava ficando rico, e que morava numa casa na praia e não precisava ficar narrando
jogo dia sim, dia não. O Galvão se mordeu, disse que não ligava para dinheiro e
acabou pagando a conta. Economizamos um bocado, todos que estávamos à mesa.