Blog do Flavio Gomes
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Superclassic: o canto do cisne

SÃO PAULO (é assim) – A Superclassic foi extinta pela FASP no sábado, informação passada aos 38 pilotos que largaram para sua última corrida durante o briefing que antecedeu a prova. Rubens Carpinelli, que vem a ser o presidente da federação, pediu a palavra para avisar que a categoria não existe mais e que uma […]

SÃO PAULO (é assim) – A Superclassic foi extinta pela FASP no sábado, informação passada aos 38 pilotos que largaram para sua última corrida durante o briefing que antecedeu a prova.

Rubens Carpinelli, que vem a ser o presidente da federação, pediu a palavra para avisar que a categoria não existe mais e que uma nova será criada em 2008, com outro regulamento e outro nome.

Não foi possível compreender com exatidão o novo regulamento apenas pelo informe oral do presidente da FASP. Aparentemente, serão duas divisões: uma para “carros originais”, com painel, forrações etc, e outra para “carros originais preparados”. Sem painel, forrações etc. Pára-choques poderão ser removidos dos “originais”. Os carros antigos que usam motorização não-original serão deslocados para a categoria Força Livre do Paulista, que hoje tem Gols, Voyages, protótipos, Ômegas que corriam na Stock etc.

Assim, todos os carros da Superclassic que não usam motores originais (os AP, basicamente), se quiserem continuar correndo, terão de fazê-lo numa categoria que não é de carros antigos.

O presidente da FASP não soube dizer nada sobre cilindros e cilindradas (“Se quiser fazer um motor 3.5, pode, mas vai na Força Livre”, falou, genericamente), nem sobre pesos, nem sobre divisões dentro dos “originais” e “originais preparados”. Nem se todos largarão juntos. “Isso depois a gente vê”, declarou diante dos 38 pilotos naturalmente curiosos. O novo nome? “Isso depois a gente vê”, disse.

Não houve nenhuma explicação do dirigente para a extinção da categoria. Nenhum piloto — e, por supuesto, nossa associação — foi consultado sobre mudança das regras. Tenho a impressão que não agradamos, por algumas razões, a saber: 1) porque fomos correr em Londrina numa prova extra-campeonato praticamente sem custo algum, enquanto Interlagos estava em obras; 2) porque contestamos todos os anos os altíssimos valores das inscrições; 3) porque reclamamos bastante de ter de fazer vistoria às 7h30 para classificar às 8h e correr às 13h (sábado teve gente que não conseguiu treinar porque ainda estava na fila da vistoria e do abastecimento); 4) porque a maioria dos pilotos não quis correr as etapas do Rio e de Londrina do Paulista neste ano, enquanto Interlagos estava fechada, já que os custos eram altos demais; 5) porque somos considerados “radicais”, já que queremos “mandar na categoria” (que nós criamos, diga-se); 6) porque alguns de nós se recusaram a correr na penúltima etapa já que não teríamos treinos (por causa da missa do pároco Marcelo Rossi), nem boxes.

E deve haver algumas outras. Eu, por exemplo, sou considerado um “líder” pelos senhores da FASP e dos clubes que, bem, organizam as corridas. Creio que ir à TV semanalmente para dizer que o automobilismo paulista e brasileiro é uma merda, que os clubes são obras de ficção e loteiam as corridas para ganhar dinheiro fácil e que o presidente da CBA (que controla alguns desses clubes) faz uma gestão desastrosa certamente não ajuda muito. Mas seria pretensão de minha parte imaginar que tenho alguma importância nesse processo. Resolveram acabar, acabaram. Não deram explicações, porque nunca dão.

Voltando à nova categoria, há uma outra curiosidade, que pode ter sido apenas fruto de algum engano do veterano dirigente Carpinelli: a definição dos anos de fabricação dos carros que dela poderão participar. “Nacionais até 77, importados até 87”, falou o vetusto mandatário. Perguntado sobre quais modelos exatamente, porque a permissão de importados mais novos que os nacionais pareceu um tanto quanto exótica, respondeu: “Isso depois a gente vê”.

A Superclassic é extinta pela FASP depois de cinco anos de existência, nascida como Historic Racing Cars (2003), depois rebatizada como Copa São Paulo de Autos Antigos (2004 e 2005) e, finalmente, assumindo o nome atual a partir de 2006. O regulamento vigente, homologado pela FASP, tinha três anos de validade. Ainda não havia expirado.

Nesses cinco anos, a categoria se transformou na maior do Estado, a ponto de encerrar sua curta história de vida com 38 carros no grid e mais dois nos boxes, que quebraram nos treinos. E pelo menos uma dezena sendo preparados para ingressar no campeonato de 2008. A FASP, com a decisão de extingui-la, espera se apropriar dessa massa de participantes, pelo que pude compreender. Acredita que os não-originais se alojarão na Força Livre e que os demais se encaixarão nesse regulamento que “depois a gente vê”, cuja publicação, segundo boatos, dar-se-á na terça-feira.

Para os registros, informo que Ricardo Malanga venceu a última prova da categoria na geral, sábado, sendo também o vencedor da Divisão 3, de Puma. Outro Puma, de Neto Carloni, ganhou a D2. E meu brother Marcelo Giordano, com seu Fiat 147 e uma atuação irrepreensível, ganhou na D1, sua primeira vitória — o que deixou todos na nossa equipe, a LF, muito felizes.

O #96 não se despediu mal das pistas, não, apesar de não ter chegado ao fim da corrida. Virou 2min35s377 na classificação, sua “best lap ever”, graças ao ótimo asfalto de Interlagos. Só de piso vieram uns dois segundos. Forçando um pouco, daria para entrar na casa de 2min34s. Na corrida, fez 2min35s729 na melhor passagem.

Pena que na altura da sexta volta começou a falhar um cilindro. Meus mecas trocaram uma vela, voltei, continuou a falhar, box de novo, vela trocada, motor ainda falhando e abandonei na oitava volta. Acho que o cabo de vela estava com problema, ou uma bobina.

Eu queria que o carrinho encerrasse sua trajetória vendo uma quadriculada, por isso tentei voltar à pista duas vezes, apesar dos problemas. Não foi possível.

Em cinco anos de carreira, o #96 disputou quase 50 corridas. Não tenho os dados precisos, mas foi mais ou menos isso, dez eventos por ano. Teve uns cinco motores diferentes, quase capotou uma vez, deu um pancão no fim da Reta Oposta, melhorou seu tempo de volta em Interlagos em quase 30s da primeira à última aparição, usou dois Weber, dois Solex, consumiu três jogos de pneus, usou os números 17, 12, 6 e 99, além do quase mítico #96, nascido neste blog no início de 2006, correu em Interlagos, Londrina, Piracicaba e Águas de Lindóia e deve ter chegado ao fim de pelo menos 70% das provas em que largou. Ganhou plataforma particular, carinha para tirar o pó, camiseta, adesivo, história em quadrinho, caricatura, torcida organizada, fã-clube, comunidade no orkut…

Não sei dizer quem, dos que correram neste ano na Superclassic, vai se manter em atividade em 2008, seja em corridas de antigos, seja em outras categorias.

Eu não vou e não tenho, evidentemente, a menor intenção de vender meu carro de corrida por dinheiro algum a ninguém. Ele será guardado em algum lugar discreto e arejado, com uma bela e confortável capa que pretendo comprar esta semana, e seu motor funcionará de vez em quando, só para não estragar.

E quando eu ouvir seu ronquinho, vou sentir saudades.