Blog do Flavio Gomes
Sem categoria

As avós são sempre velhinhas, desde que a gente nasce. Por isso, quando elas se vão, a gente não sabe direito o que pensar. Eu penso na minha infância, nos domingos na sua casa, no meu avô falando palavrões e rindo com seus olhos azuis, cuidando dos passarinhos, fumando Continental sem filtro, falando dos sapatos […]

As avós são sempre velhinhas, desde que a gente nasce. Por isso, quando elas se vão, a gente não sabe direito o que pensar. Eu penso na minha infância, nos domingos na sua casa, no meu avô falando palavrões e rindo com seus olhos azuis, cuidando dos passarinhos, fumando Continental sem filtro, falando dos sapatos de cromo alemão que ele fazia e consertava, meu avô era sapateiro, e escutando os páreos no rádio, meu avô também vendia pules no Jóquei. E penso na minha avó cozinhando, dando bronca no meu avô, cuidando dele, dos passarinhos dele, dos filhos, dos netos, da macarronada, das pizzas, do fogãozinho.

Aí o avô se vai, a avó fica sozinha na mesma casa de sempre, aquela em que a gente ficava sentado na grade da janela com os pezinhos pendurados, olhando o horizonte lá longe, aquela onde a gente jogava bola no corredor e derrubava os vasos, e a casa se esvazia, os netos crescem e viram gente grande e começam a trabalhar e se casam e vão para a vida, e a avó fica doente, e a gente usa a desculpa de não ter tempo, e é tudo muito triste.

Minha avó se foi hoje, aos 92 anos. Uma das defesas dos que ficam é tentar se convencer que foi melhor assim, parou de sofrer, a doença fere e dói.

Mas não é melhor nada, as avós e os avôs não deveriam partir, deveriam ficar aqui para sempre, velhinhas e velhinhos, porque eles fazem muita falta, e a gente não faz falta nenhuma, avôs e avós são muito melhores do que nós.

Tchau, vó.