Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

BA-XI!

PEQUIM (em 15 minutos, esvaziaram o estádio!) – Só agora, meia hora depois de terminado o jogo, me senti num estádio de futebol de verdade. Foi quando um cara à minha esquerda, nas cadeiras amarelas, com uma peruca ridícula, se virou para o gramado, antes de ir embora de vez, e gritou: “Dunga filho da […]

PEQUIM (em 15 minutos, esvaziaram o estádio!) – Só agora, meia hora depois de terminado o jogo, me senti num estádio de futebol de verdade. Foi quando um cara à minha esquerda, nas cadeiras amarelas, com uma peruca ridícula, se virou para o gramado, antes de ir embora de vez, e gritou: “Dunga filho da puta!”. Tornou a se virar e se mandou.

Até então, apesar da presença de brasileiros e argentinos entre as mais de 50 mil pessoas (52.968, para ser preciso) que viram o time do Messi (hoje, do Aguero) golear o time do Ronaldinho por 3 a 0, me senti numa espécie de circo de focas amestradas. Os chineses torcem de um jeito muito particular. Torcem para os dois times. Tanto que mesmo depois de a Argentina confirmar a tunda com o gol de pênalti de Riquelme, eles continuavam gritando “Ba-Xi!”, porque falar Argentina daria um nó em suas línguas (a foto abaixo, a melhor que vi deste jogo, é de Nara Alves, do iG).

“Ba-Xi” é o nosso querido Brasil. Que não jogou nada. Na primeira partida difícil da Olimpíada, levou um coco e ainda teve dois jogadores expulsos. Foi aquilo que os críticos chamarão de “vexame” nos pasquins de amanhã e nas análises de TV e rádio hoje, durante todo o dia.

Aguero foi o nome do jogo, com dois gols e ainda sofrendo o pênalti no terceiro. A Argentina jogou como sempre, comendo grama, como eles costumam fazer em todos os esportes. Argentino tem muito orgulho de seu país.

Já o Brasil… Bem, não nutro grande simpatia pelo técnico da seleção, muito menos por aqueles que comandam o futebol no país, seja nos clubes, seja nas federações. Acho-os todos uns retrógrados, ultrapassados e mal-vestidos. Dunga, para mim, não é técnico. E seria ótimo se deixasse o cargo. Eu, se me perguntassem algo, iniciaria agora mesmo a campanha “Mano Menezes já”, gosto do estilo dele, um discípulo de Felipão — este, um cara que se isolou da CBF para formar sua “família” na Copa de 2002, e conseguiu.

Essa patota da seleção brasileira me é, na verdade, muito antipática. Quase todos jogam fora, não têm identificação com o futebol que se pratica e se vive no Brasil, são meio distantes, dândis da bola, sei lá… Olhando a seleção jogar, não sinto que ela representa o futebol que vejo de quarta e domingo no Canindé, se é que vocês me entendem.

Por isso, esta derrota aqui me doeu menos do que a picada de mosquito que tomei no início do jogo (matei o mosquito, mas não sei se matei o certo; os mosquitos são muito parecidos entre eles, aqui). Espero, apenas, que os jogadores tenham a dignidade de lutar na decisão do bronze contra a Bélgica, porque Olimpíada é um negócio diferente do que eles estão acostumados a disputar. Uma medalha tem valor, cada vitória representa algo, espírito olímpico é algo que existe, embora não pareça a distância.

“Dunga filho da puta!” foi o que gritou o cara que a esta altura já deve estar na rua, à procura de um táxi. Eu também já xinguei muitos técnicos na vida, e juízes e jogadores e torcedores dos outros times, e um de meus orgulhos pessoais é ver meus filhos fazendo a mesma coisa quando os levo ao estádio (só pode no estádio, é o combinado).

Chamar alguém de “filho da puta” é algo que deveria ser obrigatório em qualquer jogo de futebol. Creio que os jogadores da seleção perderam o costume de ouvir essa manifestação específica das arquibancadas, porque andam longe demais do rame-rame de nossas vidinhas, cuidando das suas em Milão ou Barcelona, e talvez por isso não façam mais em campo aquilo que gostaríamos de ver, aquilo que gostamos de ver os nossos times fazerem. Ninguém mais chama jogador da seleção de filho da puta simplesmente porque a seleção não é mais o nosso time.

Por isso foi bom o cara dar uma xingada antes de ir embora. E terá sido melhor ainda se alguém da seleção tiver escutado.