Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

BRASIL COM “S”

PEQUIM (bum) – Ele se diz “80% dentista e 20% atleta”. E, na delegação brasileira, é uma espécie de vovô: 47 anos completados em 24 de junho, o atleta mais velho do grupo. Está na sua primeira Olimpíada. Nada mal para quem resolveu começar no tiro esportivo há apenas nove anos, em 1999, numa idade […]

PEQUIM (bum) – Ele se diz “80% dentista e 20% atleta”. E, na delegação brasileira, é uma espécie de vovô: 47 anos completados em 24 de junho, o atleta mais velho do grupo. Está na sua primeira Olimpíada. Nada mal para quem resolveu começar no tiro esportivo há apenas nove anos, em 1999, numa idade em que a maioria das pessoas consegue, quando muito, fazer esteira na academia do prédio para, quem sabe, disputar uma corridinha de 5 km em volta do Ibirapuera.

Inaugurando a seção “Brasil de A a Z”, randomizando o alfabeto, vamos ao nosso Brasil com “S”. “S” de Stenio Akira Yamamoto, dentista, casado, duas filhas e palmeirense que não sabe nem que o goleiro do time é o Marcos (“Eu lembro do Ademir da Guia e do Leão”, brinca). Ele já estreou hoje, não foi bem na pistola de ar/10 metros, e volta a atirar dia 12, na prova de 50 metros.

Você começou a atirar com 38 anos de idade. Nunca é tarde para nada?

Nunca. Mas, no esporte, só o tiro dá essa possibilidade. Porque não tem idade para começar, nem para terminar. Tem um cara aqui de 60 anos que continua muito competitivo e é um exemplo disso. Quando eu comecei, me disseram para treinar bastante porque levava jeito. Me empolguei e no ano seguinte já estava na equipe brasileira.

Qual é o seu sonho olímpico?

Beliscar uma medalha seria um sonho. Mas eu comecei a realizar meu sonho no ano passado na Copa do Mundo em Munique. Fui vice-campeão e consegui a vaga olímpica. Agora estou aqui. Estou em plena realização do meu sonho olímpico.

Você é um atirador-dentista ou um dentista-atirador?

Ah, ser dentista ajuda muito. Ajuda a ter paciência. E ajuda a controlar os movimentos, a ser delicado, preciso. Um técnico russo disse uma vez que dentistas, artesãos e artistas dão ótimos atiradores. Mas para ser um bom atirador é preciso ter cabeça. É 90% cabeça e 10% treino. Porque todo mundo que atira pela primeira vez vai acabar acertando no 10. Mas é só treinando que você acerta mais que os outros.

Você é a favor do porte de arma no Brasil?

Sou a favor de quem quiser ter, que tenha. Eu nunca tive porte de arma. Já fui assaltado dezenas de vezes, sofri sequestro-relâmpago, mas nunca quis ter, nunca pensei em reagir. É muito melhor estar vivo.

Se tivesse de começar de novo, em outro esporte, qual seria?

Bom, na minha idade, não dá para pensar em começar nada daquilo que eu gostava quando era mais novo. Eu adorava ginástica olímpica, atletismo, fiz arremesso de peso. Eu frequentava os cursos no Ibirapuera, e acho importantíssimo para qualquer criança conhecer um esporte, poder praticar. Eu só não seria jogador de futebol, porque tenho os dois pés esquerdos…