Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

DÓI MENOS

PEQUIM (e é do jogo) – Perder lutando machuca menos. Escrevo ainda do Workers Stadium, o pódio sendo montado para a premiação em instantes. Ouro para os EUA, prata para o Brasil e bronze para as loironas e loirinhas alemãs, que ganharam do Japão na preliminar. Não dá para analisar um jogo de futebol feminino […]

PEQUIM (e é do jogo) – Perder lutando machuca menos. Escrevo ainda do Workers Stadium, o pódio sendo montado para a premiação em instantes. Ouro para os EUA, prata para o Brasil e bronze para as loironas e loirinhas alemãs, que ganharam do Japão na preliminar.

Não dá para analisar um jogo de futebol feminino com o mesmo rigor que um de futebol masculino. Como já disse outro dia, é muito mais correria e coração do que qualquer outra coisa. E isso deve ser dito: não vi uma garota, em time algum, fazer corpo-mole. Todas dão a alma pela vitória e isso é legal de ver em qualquer esporte.

As brasileiras não jogaram mal. Perderam alguns gols, criaram chances, esbarraram numa goleira boa, Hope Solo, e deram o azar de levar um gol quando estavam melhor no jogo. A Bárbara, goleira do Brasil, mulata de olhos verdes, me deu a impressão de que escorregou e poderia ter defendido. O campo estava molhado, choveu e parou o dia todo em Pequim.

Mas é justo apontar o dedo e dizer para uma que falhou no gol ou para outra que deveria ter passado quando chutou, ou chutado quando passou?

No futebol feminino, não. As meninas, de todos os países, não só do Brasil, enfrentam dificuldades para viver do esporte, que não arrasta multidões em canto algum.

Foi uma final dramática, repetição da de Atenas, e as americanas levaram de novo. As meninas jogam bola em massa nos EUA, as universidades têm campos e equipes ativas (todas elas, pela lista que recebi aqui, são vinculadas a universidades: Washington, Flórida, Monmouth, Notre Dame, North Carolina, Rutgers, Virgínia, South California, Stanford, Hawaii, Santa Clara, UCLA e Portland), e assim fica mais fácil montar uma seleção.

No Brasil, como se sabe, o futebol feminino vive à míngua, são raros os clubes que investem alguns trocados nas garotas, as universidades não têm nada de esporte (isso é uma coisa que o governo deveria fazer: já que montar uma universidade é a coisa mais fácil do mundo, e todas são fábricas de dinheiro e diplomas, o governo deveria obrigar cada uma a manter um puta departamento esportivo, de alto rendimento, coisa de gente grande; isso mudaria a cara do esporte brasileiro em cinco anos). Os campeonatos, quando existem, não têm público e é assim e pronto. Por isso, algumas vão jogar fora do país.

Elas vão choramingar bastante hoje, reclamar da vida e da falta de apoio, e toda aquela ladainha que seria ouvida também se tivessem vencido (foi assim no Pan). Respeitemos. Mas está ficando um pouco cansativo ouvir esse papo. As pessoas que vivem do futebol feminino no Brasil precisam começar a ter idéias e fazer com que elas funcionem. Senão, vai ser a mesma coisa a cada quatro anos. E o resto do mundo esportivo não se preocupa muito com os problemas dos outros.