Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

ENQUANTO ISSO, NA OSSÉTIA…

PEQUIM (choveu, mas nem molhou) – Começou uma nova guerra, que se não for estancada rapidamente, pode se transformar no maior conflito europeu desde a guerra civil na Bósnia, entre 1992 e 1995, que deixou mais de 200 mil mortos na antiga Iugoslávia. Na sexta-feira, tropas da Geórgia ocuparam a Ossétia do Sul, uma região […]

PEQUIM (choveu, mas nem molhou) – Começou uma nova guerra, que se não for estancada rapidamente, pode se transformar no maior conflito europeu desde a guerra civil na Bósnia, entre 1992 e 1995, que deixou mais de 200 mil mortos na antiga Iugoslávia.

Na sexta-feira, tropas da Geórgia ocuparam a Ossétia do Sul, uma região que faz fronteira com a Rússia e que em 1992, logo depois da dissolução da URSS, deu um pé nela, a Geórgia. Isso porque seus 70 mil habitantes são de outra etnia, muito mais próximos aos russos, têm o rublo como moeda, usam passaportes russos e falam uma língua semelhante ao persa. Em resumo, querem que os georgianos vão à merda.

Mas, legalmente, a Ossétia do Sul pertence à Geórgia. É um pedaço de terra no Cáucaso de quatro mil quilômetros quadrados que fica a 100 km de Tblisi, a capital georgiana. Sua independência nunca foi reconhecida por país algum, nem pelos russos. A Ossétia não é um país. É uma região que goza de alguma autonomia e que, se pudesse, seria anexada pela Rússia e se juntaria à Ossétia do Norte, já incorporada pelo país.

Aí a Geórgia resolveu retomar o controle sobre a Ossétia do Sul e a Rússia reagiu. Com a delicadeza de sempre. Mandou aviões e tanques e os primeiros relatos dão conta de quase dois mil mortos, já. Em dois dias. Mas ainda não são relatos muito confiáveis.

O presidente da Geórgia, Mikheil Saakashvili, declarou estado de guerra contra a Rússia, chegou a pedir para os atletas georgianos abandonarem os Jogos Olímpicos (depois voltou atrás)  e agora conta com o apoio dos EUA para expulsar os invasores. Apoio diplomático, claro. Os EUA têm interesse na região, que é estrategicamente importante, e são aliados de Saakashvili.

Os ossétios não querem ficar sob a tutela da Geórgia, se acham russos, têm cidadania russa. A Rússia, por sua vez, não tem direito algum a esse território. Não pretende anexá-lo, nem tomá-lo à força, mas está reagindo ao que considera um ataque a cidadãos de seu país — que vivem em outro. Sim, é confuso. Toda essa região do planeta é muito confusa, todos têm razão, e ninguém tem.

E quando é assim, se resolve tudo na bomba.

Enquanto isso, por aqui, o Michael Phelps vai começando sua caminhada para se tornar o maior atleta olímpico de todos os tempos. E nessas horas eu fico sempre me perguntando: e daí?