Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

EXPORTAR É O QUE IMPORTA

PEQUIM (nem paga IPI) – Está vendo a moça da direita aí na foto? Seu nome é Jun Gao, tem 39 anos, e em 1992, nos Jogos de Barcelona, ganhou uma medalha de prata. Para a China. Hoje, defende a equipe americana. Crystal Xi Huang é a outra garota, esta americana, descendente de chineses, claro. […]

PEQUIM (nem paga IPI) – Está vendo a moça da direita aí na foto? Seu nome é Jun Gao, tem 39 anos, e em 1992, nos Jogos de Barcelona, ganhou uma medalha de prata. Para a China. Hoje, defende a equipe americana. Crystal Xi Huang é a outra garota, esta americana, descendente de chineses, claro.

A história de Jun Gao é curiosa. Ela não gosta de jogar ping… digo, tênis de mesa. “Meus pais me mandaram para uma escola em Pequim, e na China não se diz ‘não’ aos pais”, declarou ao “USA Today” no ano passado (não, não tenho o recorte guardado, está na biografia dela). Depois da medalha de Barcelona, parou de jogar. Casou-se com um programador de computadores americano, Frank Chang, ganhou cidadania nova, foi convidada pelos EUA para jogar pelo país em 1997 e está aqui, de volta à China, mas com outra bandeira no peito. O detalhe é que o uniforme que enverga é chinês: a equipe americana de tênis de mesa, vejam como são as coisas, é patrocinada pela marca esportiva Li Ning, que pertence ao ex-ginasta chinês que acendeu a pira no Ninho de Pássaro sexta-feira passada (a Nara Alves escreveu sobre a marca, uma mistura de Nike com adidas; leia aqui).

A China tem um zilhão de praticantes de ping… digo, tênis de mesa, e a equipe nacional, apenas seis representantes. Sobram chineses e chinesas boas de raquetinha, então o negócio é exportar. Como as regras olímpicas de nacionalidade não são lá muito rigorosas — basta lembrar que a Geórgia disputou o vôlei de praia, no feminino e no masculino, com duplas brasileiras que não têm a menor idéia do que seja a Ossétia do Sul — , muitos países vieram buscar gente aqui para representá-los na modalidade.

Bati o olho na lista de inscritos para as provas individuais de tênis de mesa. Há chineses e chinesas vestindo as camisas da Austrália, Áustria, Canadá, Congo, República Dominicana, Espanha, França, Alemanha, Luxemburgo, Holanda, Polônia, Estados Unidos, Argentina e Ucrânia.

Me parece uma esculhambação uma chinesa na delegação do Congo.