Hoje, para ser honesto, Mao é uma espécie de Che — um ótimo retrato para estampar camisetas, bonés, pôsteres e relógios. Eu mesmo comprei dois. Um de pulso, que incrivelmente continua funcionando desde as 13h daqui, com o Mao fazendo tchauzinho com a mão, e outro de bolso, que deve quebrar até o fim dos Jogos. Isso, claro, para consumo rápido. A História, maiúscula, é muito mais que uma camiseta do Che ou um relógio de Mao.
O Grande Timoneiro, que morreu em 1976 aos 82 anos, tem biografia controversa. Alguns acham que graças a ele a China deixou de ser um país feudal controlado por grandes proprietários para se transformar na terceira potência mundial; outros se apegam a detalhes escatológicos de sua vida, como a mania de não escovar os dentes que o deixou banguela na velhice e as doenças venéreas que espalhou por centenas de concubinas, para defini-lo como um tirano desprezível. Cada um que escolha o mais fácil de entender.
Eu apenas me impressiono, como me impressionei hoje ao pisar a Tian’anmei pela primeira vez e dar de cara com o retrato de Mao lá no alto, aquele mesmo retrato que vi pela TV nos meus 44 anos de vida, desde quando a China era um enorme mistério para o Ocidente, temível e assustadora, a grande nação vermelha pronta para engolir todos nós.
Hoje não há mistério algum aqui. Não em Pequim. Mas a China continua metendo medo em todo mundo.