Blog do Flavio Gomes
Pequim 2008

“O MELHOR DA VOLTA É VOLTAR”

PEQUIM (daqui a pouco) – A seleção olímpica dúnguica estréia hoje contra a Bélgica em Shenyang às 17h daqui, 6h da madruga aí no Brasil. Não há olhos para mais nada nesse time, só para Ronaldinho Gaúcho. Que ninguém se iluda: mais importante do que a inédita medalha de ouro é a recuperação do rapaz […]

PEQUIM (daqui a pouco) – A seleção olímpica dúnguica estréia hoje contra a Bélgica em Shenyang às 17h daqui, 6h da madruga aí no Brasil. Não há olhos para mais nada nesse time, só para Ronaldinho Gaúcho. Que ninguém se iluda: mais importante do que a inédita medalha de ouro é a recuperação do rapaz dentuço que há dois anos era um novo Pelé e hoje não passa de um futuro Garrincha em fim de carreira.

Não haverá comoção nenhuma se o Brasil sair daqui sem medalha. Olimpicamente falando, já estamos acostumados aos fracassos. Já aconteceu antes, e ninguém chorou por isso. Seleção olímpica nunca foi levada muito a sério pelos dirigentes brasileiros, nem pelos jogadores, nem pelos torcedores, e essa não é muito diferente. A preparação, como sempre, foi ridícula, embora haja uma razoável chance de vitória porque o time não é ruim.

Mas Ronaldinho é tudo que importa a partir de hoje, porque ninguém consegue compreender por quê, de um dia para o outro, ele parou de jogar. Não de jogar bem; de jogar, mesmo. Contusões mal-explicadas, boatos sobre problemas médicos graves, saída pelos fundos do Barcelona, que só não pode reclamar de prejuízo porque nos anos em que ele esteve lá o clube ganhou títulos e muito dinheiro… Tudo é um enigma na vida recente desse rapaz que mantém a timidez e o olhar perdido no chão quando conversa com a imprensa e quando fala com os outros.

Ontem, na última entrevista antes do jogo, Ronaldinho disse que “o melhor da volta é voltar”. Verdade. Voltar a jogar bola, com alegria e picardia, como sempre fez. No último amistoso, contra o Vietnã (teste duríssimo), em dois lances com Alexandre Pato Ronaldinho deu a impressão de que não esqueceu como se faz. A torcida do Milan gostou.

A recuperação do astro, pois, é tudo que importa a partir de hoje. O ouro, se vier, será o ouro de Ronaldinho. Uma eventual vitória brasileira será tratada como a redenção do dentuço. Uma eventual derrota não será tragédia nenhuma, mas se ele não jogar nada, será. O Milan vai se arrepender. O Brasil não vai mais acreditar na sua volta.

Em resumo, o torneio olímpico, para quem ninguém dá muita bola (sejamos honestos: o são-paulino hoje está muito mais preocupado com a derrota para o Fluminense e eu, com a Portuguesa que só perde), vai servir para recolocar Ronaldinho no futebol.

Ou acabar com ele de vez.