Acabou sendo a prova mais espetacular dos Jogos, como quase sempre acontece com os 100 m. Pela expectativa, pela nobreza, pela velocidade pura. Mas ontem foi ainda melhor. Porque Bolt parecia ter uma turbina embutida no rabo e, se quisesse, baixava mais ainda a marca de 9s69. A vantagem foi tão grande que nos metros finais ele abriu os braços, olhou para os lados, não viu ninguém, começou a comemorar. Fiquei com a impressão de que se ele corresse de ré, ganharia do mesmo jeito.
Já nas semifinais os jamaicanos davam pinta de que não perderiam o ouro, ainda mais depois que Tyson Gay, considerado um dos favoritos, ficou pelo caminho. Ambos, Usain e Asafa Powell, seu parceiro de bandeira, ganharam muito fácil suas séries, ambos dando as últimas passadas como se estivessem na banguela — engataram a primeira, a segunda, a terceira, e não precisaram nem passar a quarta. Os adversários pareciam correr com pneus de chuva e eles, com slicks.
Um amigo meu brincou que o resultado é a prova concreta de que a erva mais apreciada pelos jamaicanos faz bem, e eu retruquei que só se for para aprender a correr da polícia — já citando Confúcio, que sempre dizia a seu fiel discípulo Gah-Fang-Yotong, de modo a testá-lo: “Corre que é fria!”, e quando Gah-Fang-Yotong saía correndo, tomava uma chinela pra aprender.