Blog do Flavio Gomes
Stock Car

INGO BATE

SÃO PAULO (sem dó) – Assim que eu gosto. Vocês sabem que desde o início do ano o Grande Prêmio publica, depois de cada corrida da Stock, os “Diários de Despedida” assinados por Ingo Hoffmann, o maior piloto de turismo que o Brasil já teve. Os textos são saborosíssimos e é uma grande honra para […]

SÃO PAULO (sem dó) – Assim que eu gosto. Vocês sabem que desde o início do ano o Grande Prêmio publica, depois de cada corrida da Stock, os “Diários de Despedida” assinados por Ingo Hoffmann, o maior piloto de turismo que o Brasil já teve. Os textos são saborosíssimos e é uma grande honra para meu site poder publicá-los. Afinal, trata-se de um cara que ganhou 12 títulos na categoria, que já correu de F-1, que faz rali, que é há algum tempo o grande nome do automobilismo nacional. Uma lenda viva, com o perdão do clichê.

Pois no seu texto pós-Rio, Ingo descasca minha mania de chamar a Stock de “Estoque”, e se pergunta se faz bem em escrever no Grande Prêmio. Reproduzo: “Não sei se estou fazendo bem em estar neste ‘canal aberto’ com vocês, uma vez que neste site a Stock Car ou ESTOQUE CAR, como alguns dizem por aí, parece ser persona non grata. E eu sou sinônimo de Stock Car. Ao ler alguns comentários, percebo que existe uma torcida contra muito grande”.

Ingo não deve confundir o Grande Prêmio com meu blog. São coisas diferentes. O que eu acho da Stock não tem a menor importância para o Grande Prêmio. Se tivesse, eu simplesmente ignoraria a categoria. Um site de automobilismo instalado no Brasil não pode se dar o capricho de ignorar a única categoria de carros que existe no país — ok, acrescente-se a Copa Clio; o resto não existe. Eu não escrevo sobre a Stock no GP. Tenho repórteres que fazem isso e que seguem uma orientação simples: façam apenas jornalismo.

Não somos promotores de eventos e nem temos como função levantar a bola que for. No GP, não existe torcida contra, nem a favor. A gente apenas noticia fatos. As opiniões ficam para os colunistas. Eu, por exemplo, acho a Stock uma porcaria. O Reginaldo Leme, que escreve no GP, acha maravilhosa. E convivemos em total harmonia. Nas minhas colunas, raramente falo da Stock. Quando o faço, é aqui neste blog. Que, repito, nada tem a ver com o Grande Prêmio.

O fato de Ingo ter me dado um soco no estômago só faz aumentar minha admiração por ele. É claro que o Alemão conhece a realidade da Stock muito melhor do que qualquer um. Está lá desde o início, viveu a fase das vacas magras e é compreensível que se sinta realizado ao constatar, de dentro, que sua categoria cresceu, gera receita, tem transmissão pela TV e tudo mais. A diferença é que ele está dentro, e eu estou fora. Por isso não meço palavras. Não vivo da Stock. Vivo de escrever e falar. Só. E me permito ser crítico. Não só em relação a ela, como a qualquer outra. Tenho o direito, e a obrigação, de ser crítico quando falo do automobilismo brasileiro. Meu único patrão, outro clichê, é quem me lê. Tenho de ser crítico, por exemplo, no caso do doping de Paulo Salustiano. Ou quando o assunto é a segurança dos carros. Ou quando comento sobre sua pobreza técnica. Ou quando falo sobre as torcidas de bonezinhos, o desrespeito ao público que paga ingresso e fica nos piores lugares. E todo o resto.

Piloto nenhum precisa falar dessas coisas, se não quiser. Eu preciso.

Espero que o Ingo não desista dos seus “Diários” apenas porque eu chamo a categoria de “Estoque” — que é apenas uma tradução para o português da palavra que a batiza. A Stock não é persona non grata no GP. Muito pelo contrário. Acho difícil encontrar algum outro site que dê tanto espaço a ela quanto o Grande Prêmio. Tenho um repórter e um fotógrafo exclusivo em cada etapa. Isso custa caro. A gente poderia cobrir a distância, se eu não desse a menor bola para as corridas de bolhas. Mas, jornalisticamente, a avaliação da minha equipe é que temos de estar lá. Então OK, vamos lá.

Pode ser que eu leve uma chamada do Ingo um dia desses, quando o encontrar por aí. O que é raro, diga-se. Acho que o vi umas três ou quatro vezes, e devo ter falado com ele apenas em caráter “oficial”, fazendo entrevistas. Em todas elas, sempre foi de uma gentileza ímpar. É uma estrela, mas se comporta com humildade e sensatez sempre que abre a boca para falar qualquer coisa. É um sujeito admirável.

Portanto, Ingo, continue com seus “Diários”. No GP, se possível. Sei que você deve me achar esquisito. Mas não é o único, fique tranquilo.