Blog do Flavio Gomes
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#96, #69, 2009

GUARUJÁ (até) – Acabou. Pelo calendário gregoriano, encerra-se daqui a pouco o ano da graça de 2008 depois do suposto nascimento de Jesus Cristo, figura histórica bem documentada, de cuja existência poucos duvidam, alçado à condição de líder religioso anos depois de sua morte. Figura inegavelmente importante, assim como Maomé, o profeta do Islã, e […]

GUARUJÁ (até) – Acabou. Pelo calendário gregoriano, encerra-se daqui a pouco o ano da graça de 2008 depois do suposto nascimento de Jesus Cristo, figura histórica bem documentada, de cuja existência poucos duvidam, alçado à condição de líder religioso anos depois de sua morte. Figura inegavelmente importante, assim como Maomé, o profeta do Islã, e todos aqueles que de alguma forma se transformaram em ícones de algum credo neste planeta de deuses e de Deus, com maiúscula, em respeito àqueles que consideram a existência de apenas um, onipresente, infalível e etc.

Foi o papa Gregório 13 quem implementou o calendário que leva seu nome em 15 de outubro de 1582. Ficou com a fama de “papa-folhinha” merecidamente, afinal colocou ordem na zona que era a contagem dos dias, semanas, meses e anos até o final do século 16.

Ao contrário do que muita gente acredita, não foi o sabichão Gregório que inventou os meses de julho e agosto, criados muito tempo antes para homenagear os imperadores romanos Júlio Cesar e um desses Augustos da vida. Ambos os meses com 31 dias, explica-se, para que suas almas penadas não ficassem iradas com quem ousasse instituir um Júlio menor que um Augusto, ou vice-versa. Por via das dúvidas, e para não levar um raio no meio da testa enviado dos céus ou das tumbas imperiais, Gregório 13 mandou que os dois meses ficassem com seus 31 dias e mandou a foice em fevereiro, que não era de imperador algum, nem mesmo pertencia a algum senador ou supervisor.

Dividir o ano em 365 dias e uns quebrados era algo que os egípcios já haviam feito, mas tornaram-se necessárias algumas adaptações justamente por conta dos quebrados. É o que Gregório fez, e foi outra zona, porque no dia em que ele baixou a bula Finis Zonus Calendarius, uma quinta-feira, 4 de outubro, foi seguida de uma sexta, 15 de outubro.

Dez dias desapareceram no ar, e quem fazia aniversário num deles, em Portugal, Itália e Espanha, ficou sem presente. Outros países foram, aos poucos, se adaptando e limando dias de suas histórias, como a Dinamarca, que foi dormir num 18 de fevereiro e acordou num 1º de março em 1700 — por isso que o Carnaval nunca pegou na Escandinávia. Se a gente tinha medo do bug do milênio, imaginem o que foi essa mudança de calendário, do juliano para o gregoriano. Demorou, claro. Séculos. O último país a aceitar a bula Finis Zonus… foi a Turquia, em 1927.

(Um amigo meu, que tem loja na 25, disse que o jeito de convencer seus desconfiados conterrâneos foi garantir a eles que, se topassem, neguinho ia quitar o carnê antes de dar 30 dias do último pagamento. Toparam na hora.)

O ano que acaba e o outro que começa são apenas convenções numéricas que fazem algum sentido graças à sabedoria da Finis Zonus… do 13º Gregório a assumir um papado na Igreja Católica. Números já são em si uma convenção, abstrações que traduzem a mais exata e sensata das ciências, a matemática, a grande invenção do ser humano. Este blog mesmo é uma abstração, formado por trilhões de conjuntos de 1 e 0 que, dispostos em formações de combate e ataque, revelam textos e imagens que podem dizer muito ou pouco — depende, sempre, de quem os lê e vê.

Encerremos, pois, o ano com outros números. Cada um que escolha o seu. Eu fico com dois singelos: o 96 do carrinho que se foi, o 69 do carrinho que está chegando. E assim vamos, rumo a mais um. Mais um ano. Mais uma temporada. Mais um campeonato. Mais uma corrida. Mais uma volta.

O importante é viver cada segundo desses tempos todos como se fosse o último. Porque às vezes é mesmo — e se for, que seja vivido com a reverência e solenidade que cada segundo merece.