Blog do Flavio Gomes
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GIRA MONDO, GIRA

SÃO PAULO (quero descer) – Acabei de vir da Fotoptica. Por conta de umas compras passadas, me empurraram há alguns muitos meses uns cartões que dão direito a “revelar” fotos digitais. Entre aspas mesmo, porque foto digital não se revela, ela revela-se aos seus olhos no momento mesmo em que você bate. Não sei, tecnicamente, […]

SÃO PAULO (quero descer) – Acabei de vir da Fotoptica. Por conta de umas compras passadas, me empurraram há alguns muitos meses uns cartões que dão direito a “revelar” fotos digitais. Entre aspas mesmo, porque foto digital não se revela, ela revela-se aos seus olhos no momento mesmo em que você bate. Não sei, tecnicamente, o que é mandar um pendrive numa loja, ou um CD, e pedir para que passem aquelas imagens para o papel fotográfico. Revelar é que não é. Revelar é outra coisa.

Bem, estou zerando algumas pastas, por assim dizer, e como tenho 1.750 “revelações” franqueadas na Fotoptica, levei algumas para fazer isso agora mesmo, aqui em frente. Essa loja da Fotoptica é bem antiga, existe desde que me conheço por frequentador da avenida Paulista. Queria aproveitar para comprar alguns filmes, já que assumi inapelavelmente o caminho de volta e vou começar a fotografar com filme de novo, para lembrar como é.

Aí a mocinha da Fotoptica me diz que as “revelações” estão levando até sete dias úteis, porque os novos donos da Fotoptica estão tirando as máquinas das lojas, já que pretendem “focar”, termo dela, mais em óptica do que em foto.

Eu nem sabia que a Fotoptica tinha novos donos. Para mim, a Fotoptica era de algum grande retratista do passado que vivia num castelo com vista para o Danúbio, zelando por nossas memórias visuais como Willy Wonka sempre zelou pelo sabor do nosso chocolate. Mas isso tudo é bobagem, a Fotoptica, como qualquer outra empresa, tem CNPJ, razão social, acionistas, talvez, deve ser de algum fundo de pensão ou de algum grupo de investidores que não zelam por porra nenhuma. E seus atendentes nao são Oopa-Loompas misteriosos, mas mocinhas que perguntam se eu quero nota fiscal paulista.

Disse que não tinha problema, não tem pressa, são fotos de 2007 e 2008, já esperaram tanto, esperam mais sete dias úteis, quando eu levava filmes para revelar era isso que demorava, mais ou menos, até o advento da revelação em 24 horas, que era um estrondo, reduzia nossa ansiedade em seis dias úteis.

Aí fiquei pensando, bela merda a foto digital, leva mais tempo para “revelá-las” hoje na Fotoptica do que há 15 anos, quando eu levava meus filmes na mesma loja. E enquanto pensava nessas coisas sem importância, aproveitei para pedir uns filmes para minha Lomo, mas não tem mais filmes para vender na Fotoptica. É possível que não tenha faz tempo, mas como só soube disso hoje, fiquei sinceramente chocado e perdido, onde compro filmes de máquina fotográfica se não tem na Fotoptica?

Do outro lado da avenida tem uma enorme Fnac cheia de TVs de LCD e computadores, lá deve ter, mas antes de atravessar a avenida fui tomar um café na Starbucks, abriu uma em frente à Fotoptica (e fechou um quiosque da Kopenhagen que tinha 200 anos), era o café mais à mão, e eu queria apenas um café com chantili, mas acho que isso não existe mais hoje, ao menos não na Starbucks, que tem uma fila enorme de gente querendo saber o que é um Mocha, ou um Ice Caramel, ou um Frapuccino Cream e outras coisas com nomes semelhantes, tudo muito confuso, e as meninas do Starbucks também não sabem direito dizer o quê é o quê.

Pedem meu nome para entregar o café, algo que me deixa meio encabulado, não vejo necessidade de ser chamado pelo nome em voz alta no meio de um monte de gente quando meu café fica pronto, tomei rápido e atravessei a avenida para ir à Fnac, onde com alguma cautela perguntei a um vendedor se eles tinham filmes para fotografia de verdade, e para meu espanto eles tinham, sim. E revelam filmes, e em 24 horas, informação que obtive depois de falar com três ou quatro vendedores diferentes. Não tive muitas opções, o único filme à venda era o Kodak Gold de 36 poses e ASA 100. Peguei dois, meio envergonhado, com medo de ser olhado com estranheza pelos outros fregueses da loja, paguei e vim embora.

Devo confessar que me senti meio esquisito, hoje, comprando filmes para minha máquina fotográfica.