Blog do Flavio Gomes
Arquitetura & urbanismo

DELÍCIA DE VER

SÃO PAULO (dá vontade de bater palmas) – Quem é de SP certamente já passou pelo Copan, uma das obras mais queridas de Niemeyer. Esse “queridas” é por minha conta. Melhor assim: uma das minhas mais queridas obras de Niemeyer. Porque em que pese a beleza arrebatadora de coisas como o Alvorada, a Marquise do […]

SÃO PAULO (dá vontade de bater palmas) – Quem é de SP certamente já passou pelo Copan, uma das obras mais queridas de Niemeyer. Esse “queridas” é por minha conta. Melhor assim: uma das minhas mais queridas obras de Niemeyer. Porque em que pese a beleza arrebatadora de coisas como o Alvorada, a Marquise do Ibirapuera, a Catedral de Brasília e o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, é no Copan que se encontra a essência de Oscar.

Projetado no início dos anos 50, ele deveria ter ficado pronto para as festividades do IV Centenário, mas o banco que financiava a obra faliu, a coisa toda atrasou e teve de entrar o Bradesco na parada para assumir a construção, que salvo engano só terminou lá por 1966.

Copan vem de Companhia Pan-americana de Hotéis e Turismo, que encomendou o complexo. Um mundo, mesmo: na placa que ficava na rua, a obra era anunciada como “maciço turístico”. Contemplava 900 apartamentos, um hotel com 600 quartos, cinema para 3.500 pessoas, teatro e, como se vê nesse delicioso anúncio enviado pelo blogueiro Luciano Marino, garagem para 600 carros, dois andares de “lojas para fino comércio”, restaurante, “boite”, piscina, “boulevard” e jardins.

Coloquei “boite” e “boulevard” entre aspas porque são as únicas palavras estrangeiras do anúncio. Hoje, é só folhear as páginas dos jornais. Os apartamentos têm “espaço gourmet”, “fitness center”, “spa”, “deck” e essas merdas todas. Se alguém lembrar de algum outro termo ridículo, mande. Morro de rir com essas propagandas.

Mas voltando ao Copan, de tudo que tinha sido projetado originalmente só não saíram o teatro e o hotel, que seria administrado por uma subsidiária da PanAm. O apelo de venda das lojas é interessantíssimo. Elas teriam “uma seleta e consistente clientela”, formada pelos hóspedes do hotel “de alto poder aquisitivo”, pelos moradores “de reconhecida posição social e econômica” e pelos frequentadores do restaurante, da “boite”, do cinema e do teatro. Além da galera que transitaria pelo “boulevard”, com a facilidade extra da “formidável garagem subterrânea” e o “conforto oferecido pela escada rolante”.

É a essência de Niemeyer porque os apartamentos (no fim foram reconfigurados e são 1.160 hoje, com mas de duas mil pessoas morando neles) eram de todos os tamanhos, para todos tipos de gente: quitinetes, médios, grandes, que abrigariam solteiros, jovens casais, famílias, ricos e remediados, podendo fazer tudo ali, um verdadeiro centro de convivência onde todos seriam iguais. A preocupação do arquiteto com a vida, para além da arquitetura, estava cravada no conceito do prédio — que, de quebra, é lindíssimo, deslumbrante.

Vou ao centro de vez em quando. Passo pelo Copan. Paro, tomo um café e fico admirando aquilo tudo. A fauna que nele habita e que por ele passa, as ruas vizinhas, as putas, os mendigos, os drogados, os malandros, os office-boys, a vida, enfim.

ATUALIZANDO…

Não poderia deixar de passar a vocês o comentário do blogueiro Walter. Ele encontrou um prédio no Brooklin chamado “Home Boutique” que tem:

Party Place e Party Place Garden • Bike atelier • Aqua deck • Sundeck • Children for Fun Place • Friends square • Sculpture garden • Body fit • Lounge piscina • Boutique pool (com raia de 25 metros) • Relax deck • Cyber laundry • Wi-fi lounge • Meeting room • Sky sauna • Sky SPA e Body Relax • Lounge view • Deck view & Observatory.

Olha, com todo respeito, vão todos tomar no cu.