Blog do Flavio Gomes
Futebol

CRIME

SÃO PAULO (luto absoluto) – Recebo pelo Twitter a notícia trágica do leitor Adriano. A WMW Rigesa, empresa onde meu pai trabalhou por mais de 20 anos, vai encerrar as atividades de seus times de futebol. O antigo Rigesa Esporte Clube, fundado em 1943, e que depois mudou de nome para ADC Rigesa (Associação Desportiva […]

fimrigesaSÃO PAULO (luto absoluto) – Recebo pelo Twitter a notícia trágica do leitor Adriano. A WMW Rigesa, empresa onde meu pai trabalhou por mais de 20 anos, vai encerrar as atividades de seus times de futebol.

O antigo Rigesa Esporte Clube, fundado em 1943, e que depois mudou de nome para ADC Rigesa (Associação Desportiva Classista), foi onde joguei por quatro anos, de 1978 a 1981. Éramos uma das melhores equipes da região de Campinas. Enfrentar a gente no nosso campo, em Valinhos, era de meter medo em todo mundo. Por um motivo único, e que nada tem a ver com pressão de torcida, caldeirão, violência, essas coisas: é que nossos times sempre foram muito bons.

Toninho Evangelista, nosso técnico, era um amante do bom futebol e defensor xiita da esportividade, lealdade, fair play. Nunca conheci ninguém que entendesse de futebol como ele. Ex-goleiro da Ferroviária, tinha um carinho especial com os jogadores da posição. Me fazia treinar com colete de areia para ganhar impulsão e compensar minha altura. Treinávamos feito malucos, duas vezes por semana. Jogávamos aos domingos pela manhã em Campinas, Valinhos, Louveira, Vinhedo, Sousas, toda a região.

Conquistei muitos títulos pelo Rigesa. Era filho de funcionário, mas isso nunca teve importância na minha breve carreira. Eu era escalado porque era um bom goleiro. E fiquei muito tempo na reserva porque o Gilmar, goleiro titular até mudar de categoria por causa da idade, era melhor que eu.

Eu era baixinho, sim, sempre fui. Mas, na época, nenhum menino de 14 anos precisava ter 1,80 m para jogar no gol. Éramos crianças, algumas mais altas, outras menos. Mas como a foto mostra, nada que me impedisse de envergar o glorioso manto da equipe tricolor.

Tive lá umas atuações memoráveis. Como numa vitória por 4 x 1 sobre o Guarani em casa, depois de perdermos o jogo de ida, no Brinco (numa preliminar de um jogo entre o Bugre e o São Paulo), por 3 x 0. Também joguei mal muitas vezes, como numa preliminar de Ponte x Taubaté, em que perdemos para a Macaca por 5 x 1 e fiz questão de usar uma camisa verde para provocar a torcida. Me fodi. Em compensação, em outra preliminar no Moisés Lucarelli, à noite, empatamos em 0 x 0 com a Ponte, num jogo em que entrei no segundo tempo e fechei o gol. Empatar com a Ponte no Majestoso era quase um milagre, ainda mais quando o juiz era um negão gordo que, dizia a lenda, nunca tinha apitado uma única derrota da Ponte em casa. Vocês podem imaginar o que era enfrentar os caras com ele apitando…

Pelo que diz a reportagem do link acima, a Rigesa vai desativar seus times para reduzir custos. A empresa, que atua principalmente no segmento de embalagens de papelão, fatura cerca de 10 bilhões de dólares por ano, tem 2.700 funcionários no Brasil, está em mais de 30 países e resolve cortar custos encerrando as atividades de um clube que tem mais de 70 anos.

Salve o capitalismo.