Blog do Flavio Gomes
Gomes

CINQUENTINHA

SÃO PAULO (de volta e ainda me organizando, então tenham paciência que o blog vai voltar ao normal aos poucos!) – Hoje acordei cedo, fiz meu café, li meu jornal, comi duas torradas (era o que tinha, a geladeira ficou vazia nestes 51 dias de Rio), estendi a roupa que deixei para lavar de madrugada, […]

SÃO PAULO (de volta e ainda me organizando, então tenham paciência que o blog vai voltar ao normal aos poucos!) – Hoje acordei cedo, fiz meu café, li meu jornal, comi duas torradas (era o que tinha, a geladeira ficou vazia nestes 51 dias de Rio), estendi a roupa que deixei para lavar de madrugada, tomei banho, fiz a barba.

E fiz 50 anos. Ou vou fazer, ainda, porque segundo consta nasci no fim da tarde, minha mãe teve de ir para o hospital de táxi porque meu pai estava trabalhando e saiu correndo do escritório para encontrá-la na Maternidade São Paulo, na Frei Caneca, que está lamentavelmente fechada. Era um 15 de julho, 1964, e gosto de imaginar que o táxi era um DKW, porque minha mãe vive dizendo que nasci praticamente no carro, meio apressado que sou desde que me foi dada a opção de nascer e viver.

Pressa é algo que me acompanha mesmo desde cedo, tenho sempre, o tempo todo, a impressão de que estou atrasado para fazer alguma coisa, e a sensação de que o dia acaba e deixei de fazer muitas coisas. Não devo ser muito diferente de ninguém nisso. Não sou diferente de ninguém.

Nestes tempos, não sei direito qual a etiqueta para agradecer cada mensagem que chega pelo celular que apita e pelas redes sociais que, goste-se ou não, passaram a fazer parte do nosso cotidiano. Acho que tenho de dar “curtir” no Facebook, favoritar as tuitadas, responder os e-mails e atender o telefone, que toca cada vez menos porque as pessoas têm pouco tempo para conversar. No meu caso, acho isso bom porque não tenho muita paciência para dizer obrigado, tô ficando velho, cinco ponto zero, corpinho de quarenta e nove, essas coisas. Também não sou de festa, prefiro tocar a vida e meus planos, hoje, não vão muito além de pegar os moleques, a estrada, ir para Campinas e ver a Portuguesa. Antes, um sanduba de pernil — nossa pequena tradição nos jogos contra a Ponte lá.

E o que fiz em 50 anos? Ah, sei lá. O homem que diz sou não é, porque quem é mesmo é, foi algo que aprendi recentemente, “Canto de Ossanha”, de Vinicius, e é exatamente isso. Não esperem de mim loas a mim mesmo. Talvez o que mais tenha feito na vida até agora tenham sido erros, para depois consertar. Um eterno consertador, e também nisso acho que não sou diferente de ninguém. Escrevo e falo, esta tem sido minha vida. Sou apenas um cinquentinha. Nada más. E se quiserem me dar um presente, uma dessas serve.