Blog do Flavio Gomes
Dica do dia

DICA DO DIA

SÃO PAULO (que não desista) – Marcelo Tomaz é um publicitário de Ribeirão Preto. Esse cara aí da foto. Também é cartunista, ilustrador, palmeirense, gosta do Piquet e de helicópteros e aviões, curte o Uruguai e a América do Sul inteira, e na semana passada me achou no Facebook. Direto e reto, dispensou maiores apresentações […]

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SÃO PAULO (que não desista) – Marcelo Tomaz é um publicitário de Ribeirão Preto. Esse cara aí da foto. Também é cartunista, ilustrador, palmeirense, gosta do Piquet e de helicópteros e aviões, curte o Uruguai e a América do Sul inteira, e na semana passada me achou no Facebook. Direto e reto, dispensou maiores apresentações e perguntou se eu poderia dar uma olhada num projeto pessoal que está desenvolvendo. Não sei bem por que fui escolhido como destinatário de sua mensagem, mas o fato é que ela chegou a mim.

Na correria desenfreada da minha vida, que preciso frear, inclusive, não respondi de imediato. Mas cliquei no link do tal projeto, porque o tema me interessava, e fiz o que costumo fazer com “coisas que preciso ver assim que possível”: copiei e mandei um e-mail para mim mesmo para não esquecer de dar uma olhada assim que possível.

Hoje fui ver do que se tratava.

É uma das coisas mais bonitas que vi na internet.

Marcelo se impôs uma missão. Amante dos trens e das ferrovias, decidiu visitar e documentar todas as estimadas cinco mil estações ferroviárias existentes no Brasil. A maioria delas, como se sabe, desativada.

Pelos cálculos do Marcelo, no ritmo que lhe é possível serão necessários 25 anos para ver tudo. Não sei sua idade. Também não importa. Certas coisas podem não terminar nunca. Vale a viagem, não o destino.

O que conseguiu até agora pode ser visto no site “Estações Brasileiras”, um trabalho impecável do ponto de vista gráfico, editorial e documental. São 23 páginas de postagens com fotos, textos (muitíssimo bem escritos, aquilo que se chama de jornalismo literário — sim, isso é jornalismo puro) e vídeos das estações que já visitou, a maior parte delas no interior de São Paulo.

Interior que é lindo e desconhecido destes caipiras da capital, como eu.

Todas as imagens e vídeos foram gerados em cada expedição, por mim e pelos meus companheiros de viagem, o que garante um alto grau de exclusividade para cada postagem aqui realizada. A intenção é documentar de forma detalhada e o mais importante de tudo, “in loco” o atual estado de cada estação ferroviária do país. Para isso, no ritmo atual (contando somente com recursos próprios) serão necessários mais de 25 anos de pesquisas, elaboração de roteiros, viagens, captura de imagens, fotos, edições, manutenção diária do site, do canal no YouTube, página do Facebook, Galeria do Flickr, enfim, um árduo trabalho que visa compartilhar informação, resgatar história e contar histórias. Hoje o projeto é totalmente sustentado pelos meus próprios recursos, por enquanto as viagens são curtas, as estações abundantes e o desafio motivante. Espero conseguir apoio para concluir o projeto no menor espaço de tempo possível, mas sem abrir mão deste formato, desta identidade e desta liberdade que são e sempre serão a marca deste projeto.

Reproduzi um trecho da descrição do projeto, que na verdade é mais do que pesquisa, mas sim um projeto de vida. Quem decide viver assim, botando o pé na estrada a cada fim de semana para se encontrar com o mundo que escolheu para conhecer, merece todo o respeito e apoio daqueles que se importam não só com a história de algo muito específico, no caso as estações ferroviárias, mas também com a história de seu país — e a sua própria, pessoal, porque me parece óbvio que o Marcelo tem uma ligação com os trens que vai muito além da curiosidade, digamos, arqueológica ou acadêmica.

Passei horas vendo as fotos e lendo os textos. A cada estação, surgem personagens e relatos de vidas que estavam condenadas ao esquecimento. Ao colocá-las numa tela de computador, Marcelo as eterniza. É algo que poucas pessoas conseguem fazer.

Parabéns, rapaz. A você e aos seus companheiros. O que é viver, senão escolher para si uma missão e buscar cumpri-la do jeito que der, até onde der?

Já escrevi demais. Nos vemos numa próxima estação.