Blog do Flavio Gomes
Classic Cup

VAI NA PAZ, TROVÃO

SÃO PAULO (e valeu) – Ele nunca foi propriamente um adversário direto. Talvez tenhamos corrido na mesma categoria, quando a Superclassic era uma sopa de letrinhas, em meia-dúzia de corridas. Mas com motor AP 1.6, receita conhecida, andaria sempre mais do que o Meianov. No início, é possível que tenha sofrido um pouquinho. Pode ser […]

trovaofim44

SÃO PAULO (e valeu) – Ele nunca foi propriamente um adversário direto. Talvez tenhamos corrido na mesma categoria, quando a Superclassic era uma sopa de letrinhas, em meia-dúzia de corridas. Mas com motor AP 1.6, receita conhecida, andaria sempre mais do que o Meianov. No início, é possível que tenha sofrido um pouquinho. Pode ser que tenhamos largado perto em uma ou outra prova, trocado tinta em duas ou três curvas de início de corrida, lembro de uma ultrapassagem histórica, mas o normal era ir embora quando as coisas se assentavam.

O Passat #44 do brother Rogério Tranjan estreou em 2008, foi vice-campeão da divisão D1B em 2009, esteve mais de 100 vezes no grid de Interlagos, do Velopark, de Londrina, de Curitiba e do Velo Città, subiu ao pódio aqui e ali, mas algumas semanas atrás, numa das últimas corridas da Classic Cup em Interlagos, foi vítima de um acidente violentíssimo — Tranjan ficou apenas dolorido, felizmente nada de grave.

O carro, fabricado em 1977, já vinha sofrendo havia algum tempo, muita pancada e desgaste, o tempo é implacável, foi ficando torto e meio capenga, mas resistia. Era um automóvel valente e carismático. Trovão Azul. Carro que tem nome merece respeito e reverência, e assim era com o Trovão.

[bannergoogle] Mas a batida de Interlagos colocou um ponto final a sua gloriosa carreira. Não, não falo das glórias mundanas, vitórias e troféus. Falo da glória de existir e carregar, dentro dele, o amor e a paixão de um piloto pela velocidade e pela vida. Viver é correr, e isso o Trovão fez pelo Tranjan, deu a ele a vida que a vida não nos dá quando não estamos num carro de corrida.

Hoje, ele encerrou seus dias na Terra dos Carros e partiu para outra existência. Picotado, será vendido por quilo e reciclado, seu aço será derretido e acabará em alguma siderúrgica, que poderá transformá-lo em parafuso, geladeira, chave de roda, forno de microondas, turbina de avião, quem sabe…

Pode ser, também, que o metal que carregou durante anos os sentimentos, aflições, esperanças e emoções do amigo, por algum bafejo do destino, acabe numa enorme fábrica em São Bernardo do Campo, de onde saiu, para virar carro de novo.

Sim, eu acredito na reencarnação dos carros que foram bons para seus donos, e o Trovão foi.