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SÃO PAULO (sou o mesmo) – Eu tinha 16 anos e costumava discotecar nas festinhas de garagem no bairro. Desde os 15. Meu pai ia de vez em quando para os Estados Unidos e trazia os discos antes de chegarem aqui. Quando chegou “Spirits Having Flown” dos Bee Gees virei um dos moleques mais populares […]

SÃO PAULO (sou o mesmo) – Eu tinha 16 anos e costumava discotecar nas festinhas de garagem no bairro. Desde os 15. Meu pai ia de vez em quando para os Estados Unidos e trazia os discos antes de chegarem aqui. Quando chegou “Spirits Having Flown” dos Bee Gees virei um dos moleques mais populares do bairro.

Além do mais, tínhamos um som Technics que meu pai comprou não sei onde, acho que no Japão (meu pai já foi para o Japão? Preciso perguntar), e eu torrava minha mesada em fitas Memorex para gravar tudo, ou então qualquer uma “chrome”, ou “metal”, ou “ferro”. TDK era aceitável. Basf, só se a grana estivesse curta. Quase sempre. Por isso mesmo, Memorex era para gravarr discos especiais.

[bannergoogle] Um deles foi “Double Fantasy”, lançado em novembro e desembrulhado em casa poucos dias antes de John Lennon morrer, num 8 de dezembro, na porta de seu prédio, exatamente 35 anos atrás.

Aprendi inglês de verdade traduzindo músicas dos Beatles e adaptando algumas frases para fazer bonito com as meninas, e hoje quero crer que era algo além do meu tempo — afinal, não funcionou quase nunca; ou porque as traduções eram ruins, ou porque as letras talvez não fossem grande coisa, provavelmente porque as meninas não entendiam nada e só queriam saber dos caras de 18 que já tinham Chevette e Passat.

Não, estou falando bobagem. As letras eram todas excepcionais, mesmo infantilidades como “O-bla-di O-bla-da” têm conteúdo e alegria, não há nada dos Beatles que eu não adore incondicionalmente.

E é claro que para um adolescente permanentemente apaixonado, John era o maior.

Assim, “Double Fantasy” foi o disco da minha vida, mais ainda depois do assassinato no Edifício Dakota, e “Watching the Wheels”, a música que eu escutava sozinho em casa, quando todo mundo tinha saído, bem alto, cantando junto, lendo cada verso e entendendo perfeitamente o que John queria dizer quando falava em ficar olhando as sombras na parede.

E a todos que sempre me acharam um adolescente estranho, fechado no meu mundo de fitas Memorex, cadernos com recortes sobre a Portuguesa, miniaturas da Revell, well, eu não dizia nada, mas se pudesse, diria o que John escreveu.

Ah, people asks me questions lost in confusion
Well, I tell them there’s no problem, only solutions
Well, they shake their heads and they look at me as if I’ve lost my mind
I tell them there’s no hurry
I’m just sitting here doing time

I’m just sitting here watching the wheels go round and round
I really love to watch them roll
No longer riding on the merry-go-round
I just had to let it go