Blog do Flavio Gomes
Blog

NOSSOS BLOGUEIROS

SÃO PAULO (vale cada letra) – Por que mantenho este blog no ar há 11 anos se as mídias mudaram, a audiência caiu, as redes sociais tomaram conta de tudo? Por e-mails como esse aqui, que recebi no meio da semana: Olá Flavio, É com grande felicidade que lhe escrevo, pois finalmente realizei meu sonho […]

IMG_1862

SÃO PAULO (vale cada letra) – Por que mantenho este blog no ar há 11 anos se as mídias mudaram, a audiência caiu, as redes sociais tomaram conta de tudo?

Por e-mails como esse aqui, que recebi no meio da semana:

Olá Flavio,

É com grande felicidade que lhe escrevo, pois finalmente realizei meu sonho de correr em Interlagos. E devo dizer que você foi, de certa forma, parte importante nesta conquista, logo mais explico. Neste momento vamos direto ao que interessa: tive o prazer de ser um dos 44 pilotos da Classic (Turismo N) neste sábado, mais precisamente o Gol #84 que largou exatamente à sua frente.

Antes de mais nada, peço desculpas por não ter te procurado antes da corrida; confesso que preferi manter o foco total e absoluto na prova, pois tinha uma grande preocupação em, como estreante, não atrapalhar a corrida de ninguém. Procurei você depois da prova, mas não o encontrei. Quem sabe numa próxima, se houver.

Vou tentar tornar a longa história curta.

Como você já sabe eu sou um apaixonado por automobilismo. As primeiras lembranças que tenho são de assistir na TV às corridas do Piquet com a Brabham azul e branca. A primeira vez que estive em uma corrida foi no GP Brasil de F-1 em 1990; e de lá pra cá já vi pessoalmente Stock, NASCAR, e o Paulista de Automobilismo, em especial a Classic Cup — certamente você se lembra da sua foto com o Bon Voyage na pesagem. É por isso que comecei escrevendo que você é parte importante nesta conquista, porque você foi a fonte de inspiração e de informação para esta empreitada. Nem lembro quando foi que comecei a me informar pelo Grande Prêmio, acompanhar o seu blog, e mais recentemente a contribuir com o blog; o que faço com o maior prazer, é a minha ínfima contribuição para os amantes do esporte. Fato é que foi assim, com os seus posts que eu fui conhecendo melhor a categoria e pouco a pouco “juntando as pontas”: dá pra correr sim!

Comecei então a jornada. Já corro de kart amador, o que é bem bacana, mas para acelerar em Interlagos, e digo acelerar com responsabilidade, seria preciso mais. Foram horas e horas assistindo aos diversos vídeos da cetegoria no YouTube, várias sessões de simulador e coach, finalizando com o curso de pilotagem em Interlagos e a carteirinha de piloto. Outra parte da história foi encontrar um carro, este alugado, mas vou pular esta parte.

E eu tentando ser breve, mas sem muito sucesso…

Bom, chegou o grande dia. Tudo pronto, vamos para a pista: treino. Minha maior preocupação, como disse anteriormente, era, na condição de estreante, não atrapalhar a corrida de ninguém. Queria andar, aprender, sentir, me adaptar. Como calouro meus tempos foram dignos de uma Manor com pneu furado… 2min21s na melhor passagem. Mas numa coisa eu mandei bem: tem que ver eu abrindo passagem para os carros mais rápidos no miolo!

Já na corrida, para atender a minha prioridade — aprender e não atrapalhar –, meu plano era largar em último, o que não seria difícil com os meus tempos. E para minha surpresa o que foi que aconteceu? Justamente você, o grande Flavio Gomes, bem atrás de mim! (PQP) E agora, o que faço? Juro que tentei abrir passagem desde o início: grudei o máximo que pude no canto direito da pista e fiquei aliviado quando vi o Bon Voyage rasgando pela minha esquerda. Creio que ainda vi você passando por cima da grama acho que ali no Sol e na minha frente na reta oposta. Mas não demorou muito e você sumiu. Ainda bem! Fiquei um tempo solitário na pista até que o pelotão me alcançou, fui dando passagem e eis que então veio o safety-car. Eu era o quinto da fila, seria um sufoco para mim na relargada. Não tive dúvidas, cruzei a reta por dentro dos boxes e assim todo o pelotão passou por mim. Depois da relargada, consegui por algum tempo acompanhar um fusca e recebi a quadriculada junto com o vencedor na geral, o Puma #2 que estava me dando mais uma volta. Quando cheguei nos boxes, mesmo tendo feito uma corrida pra lá de conservadora, pra não dizer outra coisa, minha emoção era simplesmente indescritível, não tenho habilidade para descrever em palavras. Ouso dizer que foi experiência mais marcante dos meus 42 anos até hoje.

Agora vou pensar o que fazer em 2017, não sei ao certo se continuo ou não. Talvez experimente a Clássicos de Competição, que me parece mais adequada para quem está começando, se gostar então quem sabe no futuro talvez comprar um carro… Como disse, vou pensar.

Bom, já escrevi mais do que devia. Foi um enorme prazer correr, e também estar na pista com você, a quem admiro por todo o seu trabalho no mundo do automobilismo.

Feliz Natal, e um 2017 em alta velocidade!

Forte Abraço,
Alexandre Neves

Vocês não têm ideia da felicidade que eu sinto ao ler essas coisas, ao saber que este blog, por vias tortas ou retas, mudou a vida de algumas pessoas. E sei que mudou. Tanta gente que se conheceu nestas páginas eletrônicas, na área de comentários, e se reencontrou, e se animou, e sentiu saudades, e voltou ao autódromo… E voltando ao autódromo, gente que pensou em fazer alguma coisa, que outro pensava também, e um negócio nasceu aqui, outro ali, um carro acolá, um campeonato, uma categoria…

Às vezes olho para algumas coisas naqueles boxes e penso, de uma forma um tanto pretensiosa, admito, que várias pessoas estão ali por causa disso aqui. Que se não fosse o blog, talvez elas não se encontrassem, não conhecessem as corridas de carros clássicos, as equipes, os preparadores, talvez as amizades que nasceram nunca tivessem nascido.

Na verdade, menos pelo blog, mais por causa do #96. O carrinho foi um catalisador, o motivo que faltava para essa pequena confraria sair da toca e viver a vida.

Coisas como esse texto escrito pelo Alexandre Neves me fazem ter certeza de que no fim das contas, tudo vale a pena.