Blog do Flavio Gomes
Turismo

BABACOLÂNDIA

RIO (não me espanta) – Foi o Denis Souza quem mandou o link com esta notícia sobre um episódio ocorrido domingo em Balneário Camboriú. Resumidamente, uma porção de donos e/ou usuários de carrões resolveu se exibir na avenida Atlântica, fechando o tráfego e dando até zerinhos, diante do olhar admirado de retardados de todos os […]

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RIO (não me espanta) – Foi o Denis Souza quem mandou o link com esta notícia sobre um episódio ocorrido domingo em Balneário Camboriú. Resumidamente, uma porção de donos e/ou usuários de carrões resolveu se exibir na avenida Atlântica, fechando o tráfego e dando até zerinhos, diante do olhar admirado de retardados de todos os tipos, espécies, gêneros, idades e classes sociais. Até que alguém chamou a polícia, que conseguiu apreender apenas dois carros — um deles dirigido por um cara aparentemente embriagado, outro com carteira vencida.

Parece que essa demonstração de virilidade automotiva não é incomum na cidade, e se for assim tendo a acreditar que as autoridades sabiam que ela iria acontecer, mas acharam por bem não incomodar os cidadãos de bem que dela participariam.

Balneário Camboriú é uma cidade bastante peculiar. Conheci a praia nos anos 70, numa longa viagem que fizemos, num Opala, de São Paulo a Porto Alegre. Como todo o litoral de Santa Catarina, era praticamente virgem, com um ou outro hotel e longas faixas de areia. Belíssimo vilarejo, uma graça mesmo.

Hoje, me parece o local com maior concentração de babacas por metro quadrado do país. A começar por seus prédios. Eles são tão altos que já não bate mais sol na praia — passou alguma coisa na TV domingo, lembro de ter escutado algo no aparelho ligado na cozinha para distrair meu cachorro, acho que o prefeito exaltava a pujança da orla, sua beleza e riqueza, alguma coisa assim.

Os locais, ao que parece, se orgulham desses espigões de arquitetura horrorosa que ostentam no topo, como se fossem esculturas, os nomes das construtoras que os levantaram — uma espécie de grife do imóvel. Compradores disputam a tapa coberturas e andares bem altos, porque quem tem apartamento abaixo do 20º andar não é muito levado em consideração. Creio ter ouvido, no mesmo programa de TV, uma conversa sobre o pai de Neymar ter comprado uma, ou algum cantor sertanejo conhecido, ou vários, sei lá.

Desfiles de carrões também fazem parte da rotina do balneário, onde a única regra a seguir é a do hedonismo-jeca: mostrar que tem grana, seja ao volante de um automóvel, ou pela roupa que veste, relógio que usa, prédio onde dorme empilhado. É a elite branca brasileira em sua essência, concentrada numa pequena faixa de terra que um dia foi uma linda praia, onde a beleza da natureza foi substituída pela idiotice humana.

Se um dia for a Santa Catarina, passe direto. Dá para ver essa aberração da estrada, à esquerda de quem desce a BR 101. Já é o suficiente para se assustar. Se não quiser nem chegar perto, pare antes, em São Chico, e divirta-se. Caso contrário, siga em frente e vá conhecer Bombinhas, Guarda do Embaú, Garopaba, Ibiraquera, Imbituba…

A não ser que tenha uma Ferrari, ou um Lamborghini. Nesse caso, procure saber quando tem outro desfile na babacolândia, para aproveitar bem a estadia.