Blog do Flavio Gomes
Automobilismo brasileiro

Castelinhos desabando

SÃO PAULO (vou correr no parque, mas antes…) – Quem milita no automobilismo paulista não pode deixar de ler a coluna de Fábio Seixas, da “Folha”, que reproduzo abaixo. Não vou nem comentar muito. Mais claro do que isso, só se eu der uma polidinha. Vejam que linda historinha de cartel e desrespeito com esportistas. […]

SÃO PAULO (vou correr no parque, mas antes…) – Quem milita no automobilismo paulista não pode deixar de ler a coluna de Fábio Seixas, da “Folha”, que reproduzo abaixo. Não vou nem comentar muito. Mais claro do que isso, só se eu der uma polidinha. Vejam que linda historinha de cartel e desrespeito com esportistas. A frase de Élcio São Tiago sobre as mazelas da concorrência é lapidar. Vocês que vão tirar carteira de piloto no clube dele deveriam levar um recorte do jornal para ele autografar.

CLUBE DOS ESPERTOS
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Havia tempo não ouvia falar de um ardil – especialmente um tão malfeito – no automobilismo caseiro. Acompanhe, principalmente se mora em São Paulo. Desfalcou sua prefeitura.

A lebre foi levantada quando os clubes que organizam o Campeonato Paulista de Automobilismo anunciaram um aumento de 40% no valor da taxa de inscrição. No ano passado, cada piloto pagava R$ 550 por rodada. Em 2006, o preço foi alçado a R$ 770.

Os pilotos chiaram. Procurados, os clubes justificaram o novo valor como um “repasse do aumento praticado pela prefeitura”, que teria elevado em 85,7%, de R$ 7.000 para R$ 13 mil, o aluguel do autódromo por final de semana.

Seguiu-se um motim. Nesta semana, chegou-se a um acordo e a taxa acabará saindo por R$ 605.

Ué, mas como que alguém que alega uma elevação de 85,7% nos custos se satisfaz com 10% de aumento na venda do seu produto?

Pois é, o silêncio teria sido melhor para os clubes. Porque, fuçando, descobre-se a esperteza.

Em 2005, a tabela publicada pela Prefeitura de São Paulo para o aluguel de Interlagos fixava dois preços para eventos como o Paulista. O primeiro, para treinos na sexta e corridas no sábado e no domingo, era R$ 11.727,15. O segundo, para treinos na sexta e no sábado com provas exclusivamente no domingo, R$ 7.381,50.

No momento em que reclamam do aumento de R$ 7.000 para R$ 13 mil, os clubes estão admitindo sonegação. Porque eu acompanhei, a imprensa especializada cobriu e mais de 120 pilotos são testemunhas: em 2005, todas as 11 rodadas do campeonato realizaram provas aos sábados.

Ou seja, a cada fim de semana do Paulista, os clubes escondiam R$ 4.345,65 da prefeitura. Isso aconteceu em 9 das 11 etapas. O tamanho do buraco, cru, sem computar juros, é de R$ 39.110,85.

A prefeitura recebeu o valor correto em apenas duas etapas. O motivo das exceções? Fala Élcio de São Tiago, que comanda o Interlagos Motor Clube, o mais forte do Estado: “Nesses dois finais de semana, houve corridas de Porsche. E, quando os Porsches entraram na pista, abriu o olho, né?”.

É, abriu o olho. Tanto que a prefeitura, exatamente para barrar o golpe, instituiu neste ano o valor único de R$ 13 mil. Acabou com a festa, e, por isso, os clubes tentaram repassar a conta aos pilotos.

Atitude reprovável, mas que não surpreende. Todo ano, os pilotos precisam renovar suas carteiras de competição. O valor cobrado em São Paulo é o mais alto do país, R$ 960. Desse montante, R$ 240 seguem para a CBA e R$ 480 para a federação paulista. Os clubes ficam com outros R$ 240.

Mas, se há diferentes clubes em São Paulo, por que todos cobram o mesmo preço? Não seria mais interessante a concorrência? Fala de novo Élcio de São Tiago: “Seria bom para quem pratica o esporte, mas não para quem tem clube”.

Nada mais claro. Os clubes, em cartel, trabalham para eles. Azar dos pilotos, que deveriam estar pensando na formação de ligas.

Mas isso é para eles. Eu não piloto, só pago impostos. E gostaria de saber quando a prefeitura cobrará os “atrasados” dos clubes.