Blog do Flavio Gomes
Brasil

Alguém castiga

SÃO PAULO (sem comentários) – Morreu no fim da semana o Athayde Patreze. Para quem não lembra, aquele cara da TV que tinha como bordão “simplesmente um luxo” e usava um microfone dourado. Até alguns dias atrás, eu o tinha apenas na conta dos folclóricos sujeitos que sabe-se lá como arrumam espaço na TV. No […]

SÃO PAULO (sem comentários) – Morreu no fim da semana o Athayde Patreze. Para quem não lembra, aquele cara da TV que tinha como bordão “simplesmente um luxo” e usava um microfone dourado.

Até alguns dias atrás, eu o tinha apenas na conta dos folclóricos sujeitos que sabe-se lá como arrumam espaço na TV. No caso dele, um cara meio tonto que ficava bajulando milionários. Seu programa se chamava “Ricos & Famosos”, se não me engano.

Era tão trash que tinha audiência. Tinha patrocinadores fortes, os mesmos caras que ele bajulava no ar. Fazia mal a alguém? Acho que particularmente não, embora picaretas de todas as espécies sejam um mal em si. Imagino quanta grana não foi lavada por picaretas similares patrocinando aquela merda.

Nos últimos tempos o cara andava sumido, ficou doente, e passou a ser entrevistado por programas jovens de rádio e TV. Esteve no “Pânico”, fazendo papel de palhaço e repetindo que odiava pobres. OK, tudo engraçado, um pateta a mais em decadência, tudo acaba.

Aí, como eu dizia, alguns dias atrás ouvi uma entrevista do Patrese na 89 FM, uma emissora de SP que se intitula “a rádio do rock”. Como é das poucas que meu rádio na Paulista sintoniza, por causa das interferências das antenas, fiquei escutando.

Estava interessante. O cara era um escroto que de tão escroto ficava gozado. Peguei o carro para ir para a TV e continuei ouvindo e me divertindo com seu discurso escroto sobre pobres, Lula e Brasil em geral. Até a hora em que uma menina perguntou sobre o rim que ele doou ao filho alguns anos atrás.

“Foi a maior cagada que fiz na minha vida”, ele disse, com essas palavras. E jogou no ar um discurso contra a doação de órgãos, sendo bem claro num ponto: ele se arrependeu amargamente de ter doado seu rim ao filho. Se arrependeu de ter salvo a vida do filho.

O que era apenas escroto passou dos limites. Patreze passou a fazer hemodiálise não sei quantas vezes por semana, mas seu egoísmo foi muito maior que a alegria de ter salvo um filho, e se pudesse voltar no tempo deixaria o filho morrer para ficar com seu rim, suas viagens para Miami e Punta del Este, sua vida babaca.

Patreze simplesmente morreu depois de uma sessão de hemodiálise na semana passada. Sou um ateu convicto, e não vou atribuir a nenhum deus o castigo divino. Mas que ele veio, veio.

Um PS: mais do que lamentar a estupidez do discurso de Patreze contra doação de órgãos, fiquei chocado com a estupidez dos entrevistadores. Jovens de não mais do que 30 anos rindo das atrocidades que ele dizia, incapazes de contestá-lo e de se indignar. Quando ele chamou uma fiscal da Fazenda de “vagabunda” porque estava investigando a compra de três BMWs que Patreze fizera, os entrevistadores riram com gosto. Como se fosse lindo sonegar, pregar a desonestidade, propagar o mau-caratismo.

Patreze morreu, mas boa parte das gerações que vêm por aí são como ele. É o que mais dói. Elis cantou isso.