Blog do Flavio Gomes
Colunas Warm Up

Denis

SÃO PAULO (lembrar é bom) – Hoje faz 12 anos que Dener morreu. Vi no “Lance!”, e me lembrei de uma de minhas últimas colunas na “Folha”, que resolvi procurar no arquivo eletrônico do jornal. Achei. Foi uma longa busca, e graças a ela passeei por matéria do jornal em 1994. Meus colegas na época. […]

SÃO PAULO (lembrar é bom) – Hoje faz 12 anos que Dener morreu. Vi no “Lance!”, e me lembrei de uma de minhas últimas colunas na “Folha”, que resolvi procurar no arquivo eletrônico do jornal.

Achei. Foi uma longa busca, e graças a ela passeei por matéria do jornal em 1994. Meus colegas na época. Marco Chiaretti, Ricardo Feltrin, Fernando Molica, Sérgio Dávila. Rapaz, como eu gostava de trabalhar na “Folha”.

Bom, deixa isso pra lá, vem pra cá, eu não tô fazendo nada, você também, a coluna é essa aí embaixo. Soube da morte de Dener ao voltar de Aida, no Japão. Era só o começo de um ano bem complicado.

Denis
FLAVIO GOMES

Foi a primeira notícia que eu recebi assim que coloquei os pés no Brasil, na madrugada de quarta-feira. Antes mesmo de tomar meu tradicional cafezinho expresso em Cumbica. Antes mesmo de tirar dinheiro no caixa eletrônico para pegar um táxi. Eram cinco da manhã. Aquele menino da Portuguesa, o Denis, morreu, disse alguém.
Você pode se perguntar: que diabo esse cara tá falando numa coluna de automobilismo? Quem é o Denis?

O Denis morreu. Nesses momentos, os sentimentos são confusos. Emoção, curiosidade, raiva, impotência, choque. Tristeza talvez seja o mais próximo da realidade. Acho que a Fórmula 1 não vai se importar de ficar fora destas linhas hoje. O Denis morreu.

Nós, as duas mil testemunhas fixas que acompanham a Portuguesa em jogos noturnos e melancólicos no Canindé, tínhamos uma boa e secreta razão para ir ver a pobre lusinha jogar mesmo sabendo que ser campeão era uma ficção, que ganhar era acaso. A gente ia ver o Denis.

Não importa que o nome dele seja outro. Para milhares de pessoas que nesses últimos dias gritaram seu nome, aplaudindo minuto de silêncio em estádios de todos os cantos, ele era o Denis, o Dêni, variações sobre o mesmo tema.

Ele era o Craque. O Elo Perdido entre o futebol que o Brasil já teve um dia e essa coisa que eu vi quarta-feira pela TV.

Nós, as duas mil testemunhas, não sabíamos que as pessoas normais também sabiam quem era o Dener. Ele era nosso patrimônio. Aquele talismã que quanto menos for conhecido, melhor.

Já escreveram tudo que se podia sobre o Dener nestes últimos quatro ou cinco dias. Mas só nós, as testemunhas, sabemos exatamente o que era Dener. Quem viu o gol contra a Inter de Limeira num meio de semana escuro na zona norte? Quem estava lá para ver o Gol, o Gol Essencial? Eu estava. Eu vi o Gol, o Drible, o Arranque. E não consegui comemorar. Só aplaudi.

Dener foi menos aplaudido do que merecia. Brincando, quando Dener era apenas um lampejo de brilho com a camisa dez de um time obscuro e burro, que deveria programar seu futuro em função dele, eu dizia aos amigos que seu nome inteiro era Dener Arantes do Nascimento.

Não é heresia, nem pretensão. Dener não podia ter morrido. Esperem cem anos pelo próximo.