Blog do Flavio Gomes
Automobilismo brasileiro

Secou a fonte

SÃO PAULO (qual a fórmula?) – Tenho recebido muitos e-mails, especialmente na ESPN, de gente perguntando por que não aparece mais nenhum piloto brasileiro promissor para a F-1. Tenho algumas teses. E tendo a acreditar que, vejam o paradoxo, é o fortalecimento de uma categoria, a Stock, que está acabando com a fonte de bons […]

SÃO PAULO (qual a fórmula?) – Tenho recebido muitos e-mails, especialmente na ESPN, de gente perguntando por que não aparece mais nenhum piloto brasileiro promissor para a F-1.

Tenho algumas teses. E tendo a acreditar que, vejam o paradoxo, é o fortalecimento de uma categoria, a Stock, que está acabando com a fonte de bons moleques.

Há muita grana na Stock. E a molecada já percebeu que é bem mais fácil faturar algum correndo aqui do que tentar a vida lá fora. A Stock monopolizou a receita do automobilismo brasileiro. São 42 carros na principal, mais 40 na Light. Tem dinheiro para todo mundo.

Não há mais nenhuma categoria de monopostos forte no Brasil, essa é a verdade. A F-Renault mingua e a F-3 Sul-americana é fraquíssima. Essas duas não talham ninguém.

Vejam os últimos que chegaram à F-1 ou aos EUA (talvez esqueça um ou outro), e que de alguma forma fizeram algo: Barrichello, Pizzonia, Massa, Burti, Rosset, Fittipaldi, Zonta, Bernoldi, Tarso, Da Matta, Gil, Tony, Helinho.

A maioria correu de F-Ford ou de F-Chevrolet. E numa época em que essas categorias não eram exatamente caça-níqueis para garotada endinheirada. O kart era mais barato. As coisas eram mais simples e o talento se impunha à grana.

Massa foi o último, saiu da F-Chevrolet para a Europa, lá se instalou, e foi parar na Ferrari por uma incrível sequência de coincidências aliada ao seu talento pessoal. Hoje a petizada, mesmo no kart, coloca a Stock como meta, até pela falta de opções em fórmulas que funcionem como estágio pré-Europa. Dez ou 15 anos atrás, os grids de monopostos eram mais cheios e baratos. O rito de passagem entre o kart e a Europa era bem aproveitado no Brasil, com Ford e Chevrolet. Por alguma razão, a Renault não está exercendo esse papel.

Por isso, quando me perguntam quem vem por aí, digo que não vem ninguém. No caminho estão Bruno Senna, Lucas di Grassi e Nelsinho Piquet. Dois, os que têm sobrenomes famosos, só estão na fila por isso mesmo, a descendência. Lucas, de quem eu esperava bastante, começou muito mal a GP2. Por aqui, correndo no eixo Interlagos-Curitiba-Tarumã-Londrina (Goiânia acabou, Jacarepaguá idem, Brasília está meia-boca, Cascavel e Guaporé, também), não há um moleque de quem se possa dizer “é bom ficar de olho”.

Lá fora a coisa não é muito diferente. João Paulo Oliveira, Fábio Carbone, Augusto Farfus, entre outros, tomaram rumos diversos. Nenhum que indique um estouro iminente.

A seca vai continuar por um bom tempo. É tema para a CBA debater. Afinal, deve ser para isso que serve uma confederação.