Blog do Flavio Gomes
Sem categoria

Difícil é hoje

SÃO PAULO (vai lá e faz igual) – Aqueles que sempre acham que a F-1 de antigamente é que era boa, e que os pilotos de antigamente é que eram bons, sustentam-se normalmente no argumento mais à mão: hoje os carros fazem tudo sozinho. Ou: dirigir esses carros de F-1, qualquer um (Lauda disse que […]

SÃO PAULO (vai lá e faz igual) – Aqueles que sempre acham que a F-1 de antigamente é que era boa, e que os pilotos de antigamente é que eram bons, sustentam-se normalmente no argumento mais à mão: hoje os carros fazem tudo sozinho. Ou: dirigir esses carros de F-1, qualquer um (Lauda disse que até um macaco).

E exemplificam: naquela época, o cara tinha de trocar de marcha!

Oh, que dificuldade. Faço isso o dia todo.

As voltas voadoras de Schumacher em Imola ensejaram algumas teorias. Como a de que ele faz ajustes especiais no carro naquele momento específico, mexe no mapa do motor, nos freios, nas barras, no controle de tração.

Ora, é claro que ele faz isso. Aliás, esses são os recursos que todos os carros da F-1 moderna têm. A questão é saber usar. O que é mais difícil? Trocar marchas (e só) ou lidar com essa botoeira abaixo?

Vamos, sejam sinceros. Saber o que cada botão faz, para que serve, quando mexer neles. É fácil? Imagine quantas combinações de acerto o piloto tem a seu dispor com esse monte de botões. Imagine como isso pode alterar o tempo de uma volta. E agora você entendeu porque o piloto A é mais rápido que o B, mesmo com carros iguais. Apesar dos clamores do tipo “é impossível o Rubens ser um segundo mais lento que o Michael!”, que se ouviram durante os últimos seis anos.

Claro que é possível. Ninguém guia igual.

E garanto: hoje é bem mais difícil ser rápido na F-1 do que antigamente. Pode até ser mais fácil guiar o carro, sair da garagem e dar uma volta. Mas ser rápido, usar tudo aquilo de que se dispõe, é bem mais difícil. Vejam o manche da McLaren. É fácil compreender esse negócio?

Por fim, ilustro com historinha que me foi contada por Rubens Barrichello em 2001. Imola, sábado. Rubens fez uma volta muito boa na classificação e saiu do carro achando impossível ser batido por Schumacher. Michael foi lá e fez a pole. Palavras dele:

“Fui ver a telemetria, porque não acreditava que o cara tinha conseguido uma volta daquela. Aí eu vi que ele mexeu no set up do carro oito vezes. Durante a volta! Isso eu não consigo fazer.”

A cada curva, a cada freada, a cada retomada, Schumacher apertou um ou mais botões. Sabendo suas funções, para ganhar um pentelhésimo aqui, outro ali. Mudou seu carro oito vezes numa volta de um minuto e meio.

Antigamente era trocar marcha (oh!) e acelerar. Hoje é bem mais difícil, cqd.