Blog do Flavio Gomes
Sem categoria

Paulista, 18h22

SÃO PAULO (meu retrovisor é minha TV) – Avenida Paulista, agora há pouco. O sinal fecha, mas consigo cruzar a Pamplona, direção Paraíso. Ando de vidro aberto, apesar do frio e da paranóia da cidade grande. Olho no espelho, estou na segunda faixa. Na da esquerda, encostada à ilha que divide as duas pistas da […]

SÃO PAULO (meu retrovisor é minha TV) – Avenida Paulista, agora há pouco. O sinal fecha, mas consigo cruzar a Pamplona, direção Paraíso. Ando de vidro aberto, apesar do frio e da paranóia da cidade grande. Olho no espelho, estou na segunda faixa. Na da esquerda, encostada à ilha que divide as duas pistas da grande artéria financeira, uma perua Versailles caindo aos pedaços.

Ela morreu. O farol ainda não abriu para quem vem da travessa para entrar na Paulista, há escassos segundos para resolver aquela situação. Se alguém encostar atrás da Versailles, será o caos. A cidade vai parar. Faixa da esquerda, na Paulista, às 18h22, não pode parar.

O motorista abre a porta, empurra a Versailles pela coluna, o carro pega um pequeno impulso, se move, ele salta dentro, tenta pegar no tranco. Bateria velha, alternador que não funciona direito. A Versailles não pega.

O sinal da travessa vai abrir, ela será engolida por um mar de carros, a cidade vai parar, tenho certeza. Aí o cara que caminhava pela calçada do meio, na ilha que divide a grande artéria financeira, dá meia-volta e empurra a Versailles. O carro engasga, dá um tranco e funciona. O cara que caminhava pela calçada do meio, na ilha que divide a grande artéria financeira, vira as costas e vai embora. O motorista da Versailles tenta agradecer, mas nem dá tempo, abriu o farol.

Pela tela do meu retrovisor, tenho a impressão que o cara que caminhava na ilha abre asas e parte para salvar a cidade em algum outro lugar.