Blog do Flavio Gomes
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Profissão: vergonha

SÃO PAULO (o jornalismo acabou) – Acho que já disse aqui que há anos deixei de assinar a “Veja”, porque sua careta de classe média babaca me dava nojo (antes que alguém se sinta ofendido: tenho grandes amigos que já passaram ou estão na “Veja”; falo do produto final, que nem sempre é o produto […]

SÃO PAULO (o jornalismo acabou) – Acho que já disse aqui que há anos deixei de assinar a “Veja”, porque sua careta de classe média babaca me dava nojo (antes que alguém se sinta ofendido: tenho grandes amigos que já passaram ou estão na “Veja”; falo do produto final, que nem sempre é o produto entregue à “máquina de transformar reportagens em babaquices para a classe média” pelos repórteres; operam a máquina seus editores; mas dá no mesmo).

Agora abro o Último Segundo e vejo, estarrecido, que na edição de hoje há uma chamada na capa para uma “suposta conta de Lula no exterior”.

Como assim? Como suposta?

Reproduzo trecho do Último Segundo, para quem ficou com preguiça de ver o link:

O nome do presidente Lula aparece ao lado de um saldo de 38,5 mil dólares, mas não constam nome do banco ou número da conta.

Também aparecem os nomes, ao lado de possíveis contas, do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e dos ex-ministros José Dirceu, Antonio Palocci e Luiz Gushiken, entre outros.

A revista informou que tentou comprovar a veracidade dos dados e que o material apresentou inúmeras inconsistências. “Mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos”, disse a reportagem.

Este último parágrafo é de abismar. A revista tentou comprovar a veracidade, não comprovou e publicou? Puta que pariu. Isso é jornalismo? O material apresentou inconsistências, “mas nenhuma suficientemente forte para eliminar completamente a possibilidade de os papéis conterem dados verídicos?” Puta que pariu. Olha, acabei de ver um disco voador com 12 venusianos dentro trajando quimonos e turbantes amarelos. Publique, “Veja”. Não tenho como provar a veracidade de meus venusianos, seus quimonos e turbantes, meu depoimento é inconsistente, mas não o bastante para eliminar completamente a hipótese de que eu tenha visto venusianos de quimonos e turbantes amarelos.

Nunca vi nada igual. Quem escreveu isso, quem publicou isso, quem permitiu que isso fosse impresso, deveria ter vergonha de se considerar jornalista.

Vou assinar a “Veja” de novo. Só para poder cancelar.